Anteriormente ao 25 de Abril a intervenção política estava reservada a uma minoria que era aceite na União Nacional, depois Acção Nacional Popular. A grande maioria da população, mesmo com “boas” intenções, só poderia colaborar com o regime através da sua filiação na Legião Portuguesa ou como denunciantes a mando da P:I.D.E., depois D.G.S.
Por mais que muitos queiram fazer crer, não havia um modo de ser salazarista com uma qualquer forma de lisura, mesmo que nós tenhamos o pressentimento, que nunca podemos ter mais do que isso, que em certas alturas, se fosse a votos, Salazar teria ganho. Porém ganhar um mandato não era ganhar 40 anos de mandato.
Se fazer política na situação era para alguns, fazer política na oposição era um acto heróico. Depois do 25 de Abril a maioria das pessoas sempre manifestaram a vontade de ter uma intervenção positiva na política. Mas por falta de preparação ou razões conjunturais poucos se predispuseram a fazê-lo através dos partidos políticos. Também estes se fecharam demasiado, não possuíam quadros políticos em quantidade e qualidade e exigiram um seguidismo exagerado que levou à criação de um sistema clientelar.
O sistema partidário rapidamente estabilizou à volta de figuras de referência mais do que à volta de ideias. Quando surgiu um novo partido, uma nova corrente de opinião houve sempre uma réstia de esperança que percorreu o espectro político até acabar invariavelmente em desilusão. Para muitos até foi difícil gerir um regresso a uma solução que se havia desprezado. Outros desiludiram-se de vez.
Não é fácil passar de um regime mono partidário para um sistema pluralista. Não é fácil passar da situação em que só se tem que ser do contra ou a favor para a situação em que se tem que se ser crítico quando se é a favor e tolerante quando se é do contra. Não temos hábitos de agir em colectivo. Gostamos mais de ser arregimentados ou de ter ao nosso dispor um exército cordato.
As nossas “boas intenções” encontram sempre quem a elas se oponha, as subestime, as desvalorize. E por aí não serão tão boas assim para não termos forças para lutar por elas. Os partidos novos podem instituir regras inovadoras mas acabam por reproduzir a maioria dos defeitos e erros dos partidos velhos.
A desculpa é sempre a mesma, ou a proximidade do poder ou a simples dimensão diminuem a maleabilidade dos partidos. Só resta a quem se achar no direito a participar activamente na política, e queira usufruir do direito a esse direito, entrar com um escafandro vestido ou que seja com uma capa suficiente num mundo que depressa se descobre ser em tudo semelhante a todos aqueles em que a colaboração/competição são mais difíceis e ferozes.
Quem entra só o pode fazer de peito feito se não houver competição. Pelo contrário, se enfrentar oposição não usa as armas que quer. Quem lá está define o campo, o tempo, as armas, o alcance. Quem entra é vítima dos compadrios já sedimentados, do jogo sujo, baixo e mesmo subterrâneo. Quem lá está quase se pode limitar a gerir a perversidade do sistema que conhece melhor, o estatuto adquirido, o verniz acumulado. Quem entra só vencerá se conseguir partir este verniz com as armas que tem e com as cumplicidades que obtiver.
Quem entra percorre o escuro, tropeça em ligações inesperadas, sujeita-se a dar passos em falso, se tiver sorte alguém lhe deitará a mão. Quem lá está aceita ou repele, avaliza ou desclassifica, instrumentaliza ou repudia o intruso conforme os seus próprios interesses particulares. Enreda-se quem entra nas malhas já tecidas de há muito ou marginaliza-se. Quem lá está atribui-se uma importância desmedida e desvaloriza quem entra se não carregar armas e bagagens capazes.
Quem entra corre o risco de se tornar no cordeiro imolado no fogo dos interesses que se digladiam a outros níveis na mesma estrutura, no mesmo partido. Aproveitará algumas migalhas ou vai bater com a porta do desconsolo. A política é uma actividade cuja nobreza pode rapidamente ser coberta pela mais vil conspurcação. As boas intenções de quem quer participar activamente na política são tão frágeis que podem ruir facilmente.
Quem entra ainda levará com a afirmação de que de boas intenções está o mundo cheio. Porque ninguém lhe vai garantir que das boas intenções derivam sempre bons resultados. A principal razão começa por ser a de que as boas intenções são declaradas a um nível de decisão normalmente muito distante daquele em que se poderiam tomar as tais decisões que conduziriam a um resultado condicente.
Quem entra muitas vezes não tem noção da existência de vários níveis de decisão e alimenta indevidamente expectativas desmedidas. Quem entra não pode no geral pretender ficar logo a um nível de decisão muito superior ao que tinha quando estava fora. A não ser que seja levado à mão para um posição elevada. Chegar lá não é um processo fácil pois exige cumplicidades a vários níveis.
Por mais que muitos queiram fazer crer, não havia um modo de ser salazarista com uma qualquer forma de lisura, mesmo que nós tenhamos o pressentimento, que nunca podemos ter mais do que isso, que em certas alturas, se fosse a votos, Salazar teria ganho. Porém ganhar um mandato não era ganhar 40 anos de mandato.
Se fazer política na situação era para alguns, fazer política na oposição era um acto heróico. Depois do 25 de Abril a maioria das pessoas sempre manifestaram a vontade de ter uma intervenção positiva na política. Mas por falta de preparação ou razões conjunturais poucos se predispuseram a fazê-lo através dos partidos políticos. Também estes se fecharam demasiado, não possuíam quadros políticos em quantidade e qualidade e exigiram um seguidismo exagerado que levou à criação de um sistema clientelar.
O sistema partidário rapidamente estabilizou à volta de figuras de referência mais do que à volta de ideias. Quando surgiu um novo partido, uma nova corrente de opinião houve sempre uma réstia de esperança que percorreu o espectro político até acabar invariavelmente em desilusão. Para muitos até foi difícil gerir um regresso a uma solução que se havia desprezado. Outros desiludiram-se de vez.
Não é fácil passar de um regime mono partidário para um sistema pluralista. Não é fácil passar da situação em que só se tem que ser do contra ou a favor para a situação em que se tem que se ser crítico quando se é a favor e tolerante quando se é do contra. Não temos hábitos de agir em colectivo. Gostamos mais de ser arregimentados ou de ter ao nosso dispor um exército cordato.
As nossas “boas intenções” encontram sempre quem a elas se oponha, as subestime, as desvalorize. E por aí não serão tão boas assim para não termos forças para lutar por elas. Os partidos novos podem instituir regras inovadoras mas acabam por reproduzir a maioria dos defeitos e erros dos partidos velhos.
A desculpa é sempre a mesma, ou a proximidade do poder ou a simples dimensão diminuem a maleabilidade dos partidos. Só resta a quem se achar no direito a participar activamente na política, e queira usufruir do direito a esse direito, entrar com um escafandro vestido ou que seja com uma capa suficiente num mundo que depressa se descobre ser em tudo semelhante a todos aqueles em que a colaboração/competição são mais difíceis e ferozes.
Quem entra só o pode fazer de peito feito se não houver competição. Pelo contrário, se enfrentar oposição não usa as armas que quer. Quem lá está define o campo, o tempo, as armas, o alcance. Quem entra é vítima dos compadrios já sedimentados, do jogo sujo, baixo e mesmo subterrâneo. Quem lá está quase se pode limitar a gerir a perversidade do sistema que conhece melhor, o estatuto adquirido, o verniz acumulado. Quem entra só vencerá se conseguir partir este verniz com as armas que tem e com as cumplicidades que obtiver.
Quem entra percorre o escuro, tropeça em ligações inesperadas, sujeita-se a dar passos em falso, se tiver sorte alguém lhe deitará a mão. Quem lá está aceita ou repele, avaliza ou desclassifica, instrumentaliza ou repudia o intruso conforme os seus próprios interesses particulares. Enreda-se quem entra nas malhas já tecidas de há muito ou marginaliza-se. Quem lá está atribui-se uma importância desmedida e desvaloriza quem entra se não carregar armas e bagagens capazes.
Quem entra corre o risco de se tornar no cordeiro imolado no fogo dos interesses que se digladiam a outros níveis na mesma estrutura, no mesmo partido. Aproveitará algumas migalhas ou vai bater com a porta do desconsolo. A política é uma actividade cuja nobreza pode rapidamente ser coberta pela mais vil conspurcação. As boas intenções de quem quer participar activamente na política são tão frágeis que podem ruir facilmente.
Quem entra ainda levará com a afirmação de que de boas intenções está o mundo cheio. Porque ninguém lhe vai garantir que das boas intenções derivam sempre bons resultados. A principal razão começa por ser a de que as boas intenções são declaradas a um nível de decisão normalmente muito distante daquele em que se poderiam tomar as tais decisões que conduziriam a um resultado condicente.
Quem entra muitas vezes não tem noção da existência de vários níveis de decisão e alimenta indevidamente expectativas desmedidas. Quem entra não pode no geral pretender ficar logo a um nível de decisão muito superior ao que tinha quando estava fora. A não ser que seja levado à mão para um posição elevada. Chegar lá não é um processo fácil pois exige cumplicidades a vários níveis.