sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Como antecipar o futuro sem comprometer o presente?

Os Experts das Finanças, os Magos dos Negócios espatifaram regras elementares da matemática, imaginaram progressões infinitas sem percalços de regressões inevitáveis, iludiram a população crente na infinidade do crescimento, na bem-aventurança do Liberalismo, na magnanimidade dos Banqueiros. Aliás no seguimento de todas as ideias de progresso contínuo, com mais ou menos sobressaltos, que se defendem desde a revolução industrial.
Muito Ilustre Economista agiu e transmitiu a ideia de que o mercado, por se ter globalizado, se tinha tornado infinitamente elástico e sempre se encontraria um lugar onde vender tudo o que fosse imaginável e em particular os produtos virtuais que a Banca criou para dar crédito à sua função de financiamento. Criou a ilusão de que todas as modalidades de financiamento eram convertíveis.
As maiores Estrelas da Gestão, por se ter entrado num mundo de convertibilidade quase absoluta das moedas dos principais países, passaram a ideia da imensa plasticidade da moeda, do seu carácter virtuoso na resolução de todos os processos financeiros, da sua maneabilidade pela sua artificiosa engenharia, por mais rebuscada que fosse.
À maioria da população restou olhar deslumbrada para um Firmamento tão brilhante. Se o dinheiro era tudo, os homens do dinheiro, aqueles que o sabem manusear, seriam os supremos detentores das chaves do futuro. De tal maneira focou ofuscada por tanto esplendor que ainda hoje, já vividos uns bons dias desta crise crescente, ainda argumenta essencialmente com base nos mesmos princípios que levaram a esta falência em escada mas que será global do sistema.
Normalmente os dirigentes que trouxeram a situação até aqui só são acusados de terem sucumbido à ganância pessoal, não atendendo as pessoas ao facto de essa ganância já ser sistémica e de nós próprios já estarmos dela possuídos, mesmo que só através de formas subtis. Muita da nossa inveja deriva de não podermos usufruir dos mesmos artifícios financeiros que permitem a outros mais poderosos que nós que obtenham lucros exagerados.
Mas os mais acusados são sempre os políticos, afinal aqueles que dão a cara, que muitos financeiros e especuladores poucos os conhecerão. No geral, mesmo quando os políticos servem com mais evidência os interesses dessa gente, são por ela mesma acusados de não serem suficientemente permissivos para que eles possam fazer o que lhes aprouver, que será em benefício da população. Têm-se visto! Qualquer regulamentação é para eles um aperto.
O normal para o comum das pessoas é meter tudo no mesmo molho, que eles são gente que se entende, e há uma má vontade da parte do capital e dos dirigentes políticos mundiais quanto à satisfação das solicitações de consumo da parte da população. Essas pessoas pensam que só não há mais casas porque não querem que haja, só não há mais carros porque os poderosos querem ser os exclusivos usufruidores das grandes máquinas que se produzem.
Na realidade há uma perda evidente da noção do que é razoável e daquilo que é perfeitamente supérfluo. Na verdade as casas sobram e os carros são mais que muitos. O sistema revela-se tal como está estruturado perfeitamente ineficiente porque produz bens cuja rentabilidade é absolutamente negativa. Se a crise só existe quando afecta as necessidades básicas de uma larga fatia da população, a verdade é que muita contestação se faz na ausência de satisfação do supérfluo.
A existência de massa monetária cria a ilusão de que todas as necessidades podiam ser satisfeitas, só o custo do dinheiro impede que isso aconteça. Se o dinheiro fosse posto à disposição de toda a gente a um preço razoável, todos poderiam usufruir de imediato de todos os bens de que necessitam. Seríamos todos colocados a trabalhar ou a procurar de qualquer outra forma obter recursos para pagar os empréstimos obtidos.
O problema é que é para estes, para aqueles que já comprometerem anos e anos do seu futuro, que as necessidades estão sempre a crescer, que o aperto se torna cada vez maior, já que não investiram em bens que possam gerar lucro mas aplicaram em bens de puro consumo. E em simultâneo há cada vez maior acumulação do capital em poucas mãos, cada vez há maior usura, cada vez há menos investimento directo e mais especulativo.
A previsibilidade da economia está cada vez mais posta em causa. Isso tem que levar os cientistas da economia a rever as formas de financiamento a longo prazo face à banalidade em que se tornou uma convertibilidade quase imediata entre o crédito a curto, médio e longo prazo. A nossa ambição é antecipar o futuro, na ânsia de também lucrar à sua custa.
Em primeiro lugar o que se pretende é que sejam os outros a correr os riscos e não nós. Mas, e ainda bem, nós estamos num sistema fechado e aquilo que de mau pode acontecer aos outros pode vir a cair-nos em cima. Que seria de nós se o mundo fosse gerido por um imenso fundo de pensões que pretensamente nos garantiria o futuro mas que quando lá chegássemos estivesse sugada pela voracidade do sistema financeiro que o teriam transformado em títulos sem valor?
O essencial da reconversão a fazer é transformar o sistema financeiro num conjunto de organismos capazes de assegurar os meios de intermediação nos negócios e os meios de financiamento da produção e de forma limitada do consumo. O sistema financeiro não pode estar focado no saque da economia, na alta remuneração dos seus homens e no imediatismo dos seus processos. A política tem que reassumir a credibilidade que esta gente delapidou.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Do Areal ao Tribunal de Haia

Enquanto olhamos expectantes para a crise que se desenrola no mundo, na qual, à primeira vista, nos parece que é dinheiro que devora dinheiro, mas no fim da qual alguém há-de ficar mais rico, entreguemo-nos à vivência das nossas crises caseiras, locais e regionais, que aqui, se não há ameaças de que homens comam homens, há um clima doentio, vá lá aberto, em que as congeminações de gabinete parece já não surtirem efeito.
Defensor Moura já não sabe aliás para onde há-de apelar, se Sócrates lhe não deitar a mão, e é bom que lhe não deite. Ora chama o povo a votar, dizendo que ele vai decidir, ora ameaça com tribunais, seja cá, seja em Haia, na rua ou no gabinete, em algum lado, este homem cada vez mais só, pensa ganhar. Mas quem pagará depois os prejuízos?
A nível da Comunidade Minho-Lima houve a eleição da Presidência e, contra todas as expectativas, Daniel Campelo não assumiu uma vice-presidência. No entanto a alternativa é bem melhor e Daniel Campelo não acrescentaria nada ao seu singelo voto. O lugar que lhe é mais apropriado parece ser mesmo este de uma espécie de oposição interna, dado que à semelhança de Defensor Moura vê mais competição que complementaridade em relação aos restantes municípios do Alto Minho. Daniel Campelo não está lá de coração, está de máquina registadora.
Por cá temos o Gaspar Martins, vereador e velho companheiro de Daniel Campelo, a botar na imprensa as suas angústias existenciais. Depois de anos de fiel apoio a uma política de que nem sempre se mostrou adepto, anda agora um pouco à deriva perante a tradicional reserva daquele quanto à sua candidatura à Presidência da Câmara de Ponte de Lima. Pelo sim, pelo não, há que avançar e tentar consolidar espaços de influência, garantir algum naco da herança.
Não há afloramentos de ideologia, que a ocasião não é propícia para isso, não se prevê que Paulo Portas perca as próximas directas que convocou na sequência da pequena vitória dos Açores. Porém, à semelhança do que aconteceu nas últimas eleições centristas, era neste domínio que Gaspar Martins nos poderia apresentar ideias mais inovadores e que podiam ajudar Daniel Campelo a projectar-se mais como político de âmbito nacional.
Perante o esgotamento da ambição nacional de Daniel Campelo, do fracasso da sua última tentativa para ser ouvido para além do Neiva, do esvaziamento do efeito Queijo Limiano, que se ficou pelo lado hilariante do caso e pela repercussão negativa junto do empresariado, Gaspar Martins virou-se para o seu pelouro favorito, o do Trânsito, que o das Feiras já se foi à muito quando Daniel Campelo, velho amigo, o apunhalou ou antes deixou sem apoio.
Com tempo para estudar agora melhor as suas propostas, Gaspar Martins fala do futuro que ambicionava para Ponte de Lima e para aquilo que fará se lhe derem tempo para tal. Uma clara melhoria é a sua proposta para a jóia do nosso património, que não sendo edificado, é mais importante que qualquer outro, o areal, como parte mais espectacular da nossa marginal ribeirinha. Depois do alcatroamento ou cimentação agora só se propõe uma compactação com uma gramíneas a disfarçar. E os carros que lá continuem.
O nosso areal, em terreal transformado, vai por este andar estar sujeito às mais maquiavélicas ideias que possam existir. Não se estuda o que é primordial, como a circunvalação do Centro Histórico, a localização e delimitação da Feira, os espaços de estacionamento que garantam a habitabilidade do Centro Histórico e antes vemo-nos sujeitos à voracidade dos fotógrafos de ocasião.
Cultivar o gosto da fotografia bonita pode ser uma faceta de qualquer um, mas querer montar cenários para o fazer à custa dos outros é irracional. Desertificar o Centro Histórico para encher de Gondomarense no domingo à tarde é loucura. Destes nos livrem.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

A moeda na economia, na riqueza e na crise

Em crises passadas houve corridas ao ouro, aos bens de consumo, aos bens imóveis, em especial à posse da terra, mas nunca à moeda, isso era coisa que se rasgava, sem valor. O Estado usava mesmo a desvalorização da moeda para retirar valor à moeda possuída pelos particulares, aumentando assim a cotação dos outros bens e permitindo que o Estado fizesse a emissão de nova moeda temporariamente com mais valor. A economia asfixiava por falta de moeda de troca.
Hoje tudo se parece passar ao contrário, não há qualquer corrida aos bens e a moeda é entendida como o alicerce de toda a actividade económica. É o bem que todos desejam ter, os mais ignorantes em papel-moeda, os mais modernos aceitam-na em moeda escriturada, qualquer registo informático que subsista lá por algum banco que nos atribua o direito a uma conversão num qualquer outro bem. A riqueza é moeda ou tudo aquilo que nela se possa converter.
A moeda, como todos os outros bens, está sujeita a variações no seu valor. A moeda é o referencial das trocas, mas, podendo ser amealhada, pode ter outras utilizações que a podem fazer apreciar-se ou depreciar-se. Também as moedas dos vários países alteram o seu valor conforme o valor da economia em que se inserem e a especulação que à sua volta se faça.
Hoje a nossa moeda, o Euro, é das mais fortes do mundo. No tempo do nosso escudo este poderia ser desvalorizado em qualquer altura em relação às outras moedas. E era-o quando isso poderia favorecer a economia. Hoje o Euro não é passível desse tipo de operações. Só o mercado determina o seu valor. Normalmente as pessoas só o trocam se houver outras moedas que se tenham por mais seguras. De momento parece não haver.
Mesmo sujeita a flutuações, a moeda, sendo controlada pelo Estado (Banco Central) e não estando dependente de nenhum outro bem em particular, é a base referencial de toda a economia. Normalmente guardamo-la quando não achamos oportuno gastá-la, em particular quando se está a desenvolver uma crise de consequências imprevisíveis. É certo que também podemos ter outros bens, porém, como o seu valor é determinado em moeda, parece mais seguro ter esta.
Para guardar a nossa riqueza poderíamos apostar noutros bens que não a moeda. Poderá haver bens cujo valor aumentará sempre, nada impede que acreditemos nisso. Porém será problemático apostar num bem que nós não sabemos se virá um dia a ser substituído na sua função por outro muito mais barato. No entanto até lá poderá haver flutuações de valor que os especuladores e os produtores de bens derivados poderão ou não aproveitar.
A moeda desempenha pois uma função primordial na economia. À medida que toda a actividade humana e os bens naturais existentes no universo vão sendo integrados na economia mercantil mais meios de pagamento são necessários e mais central é o seu papel. A economia mercantil para se desenvolver necessita da existência de moeda disponível em quantidade razoável.
Nenhum outro bem é tão valioso como a moeda porque nenhum outro assegura a mesma liquidez e a mesma mobilidade e sustentabilidade, não garante um valor tão fixo e mais: uma rentabilidade semelhante. Além do mais, além de estar garantida pelo Estado, a moeda tem por único referencial o constituído pelas expectativas de lucro que o seu empréstimo pode proporcionar.
É a moeda que permite que haja empréstimos para serem utilizados em transacções que em princípio proporcionarão um retorno que integre algum excedente de lucro. Ou para ter os meios de pagamento suficientes para garantir a junção de vários meios de produção de modo a colocá-los a executar a sua função e obter desta maneira algum lucro. Ou para antecipar um consumo, isto é consumir agora aquilo que só estará assegurado por um rendimento futuro. A não ser que tenhamos intenção de não pagar os empréstimos contraídos.
Quando a sociedade consegue acumular moeda o normal seria guardá-la para gastar no futuro. E porque não gastá-la já? Isto é, obter algum proveito próprio e emprestá-la para incentivar a economia. Porém o que poderá acontecer se aqueles a quem emprestamos não são capazes de satisfazer as suas obrigações de pagar os juros respectivos ou proceder à sua remissão? Podemos sempre esperar reaver os nossos valores a não ser que o empréstimo tenha sido feito a um intermediador que vá à falência.
O sistema bancário, por onde transita a grande maioria da massa monetária, incentiva a sua mínima retenção fora do sistema e a sua utilização preferencial como empréstimo. O sistema bancário tudo faz para dar uma aplicação a essa moeda. Mas só uma diminuição dessa massa monetária permitiria o seu melhor controle e aplicação, diminuindo a especulação.
Se a moeda fosse somente utilizada como instrumento de troca não necessitaria de sair do sistema para produzir os seus efeitos, mas manter-se-ia sempre disponível. Mudaria de proprietário e/ou de Banco, mas pronta a ser reutilizada de imediato na mesma função. Mas depois duma troca o novo proprietário pode não estar disposto a gastá-la. A única saída é o empréstimo ou aplicação em meios de produção.Na realidade nem com o empréstimo nem com a participação em negócio a moeda sai do sistema. Em relação a quem a cede é que a sua reversibilidade pode ser a tempo definido ou sem momento previamente determinado. O certo é que, pela mesma mão ou por outra, a moeda voltará ao sistema a qualquer momento. Actualmente entre a liquidez a disponibilidade efectiva há uma curta distância.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Falta argumentação a Defensor Moura

Em política raramente a argumentação vem em primeiro lugar. O normal é alguém que detém o poder fazer tudo para o alargar, sem se preocupar com justificações estruturais. Fá-lo por entender haver merecimento para isso, sem se preocupar com o patamar a que esse ambicionado poder deve ser exercido, sem se perguntar se terá estaleca para isso.
Defensor Moura acha que se valorizou o suficiente para ambicionar outros voos. Mas não procura em si a razão do seu falhanço na expansão do seu poder. Ora essa razão está somente na maneira abrupta, intempestiva, agressiva que adopta para fazer valer as suas razões puramente pessoais. Defensor Moura manifesta-se incapaz de assumir responsabilidades regionais.
Defensor Moura está agora numa procura ansiosa de argumentos para se justificar, para se armar em vítima, que é sempre aquela imagem que maior aceitação tem. Mas, à falta de argumentos válidos, é o lado ridículo que vem ao de cima, quando se afirma líder de uma comissão de apoio a si memo. No entanto uma comissão de apoio ajuda sempre ao folclore.
A implantação de uma plataforma logística em Valença merece-lhe agora uma contestação a destempo, despropositada. Mais uma vez a dificuldade de partilha com o restante Alto Minho dos benefícios que se podem obter pela simples existência de Viana do Castelo e do seu porto de mar. A estreiteza de vistas dificulta-lhe a análise da questão.
Defensor Moura apoquenta-se porque só lhe querem dar um em dez votos e quereriam que ele pagasse um terço das despesas mas isso é falso. No que se refere a encargos da Comunidade Intermunicipal do Minho-Lima com pessoal, se estipula no seu artigo 26º que “As despesas efectuadas com o pessoal da Comunidade são assumidas em partes iguais pelos Municípios associados e relevam de igual modo para efeitos do limite estabelecido na lei para as despesas com pessoal do quadro desses Municípios.”
Só no que se refere a endividamento os estatutos da Comunidade estipulam na alínea 4 do artigo 35º que “Os Municípios são subsidiariamente responsáveis pelo pagamento das dívidas contraídas pela Comunidade, na proporção da população residente.” Este subsidiário quer tão só dizer que não são responsáveis directamente mas apenas em última instância, no caso de não ser possível atribuir a responsabilidade da dívida doutra forma.
Para dar brilho às suas teses, Defensor Moura apresentou à sua volta um conjunto de pessoas que o apoiam. Todos os políticos têm na sua órbita quem se prontifique a estas causas e se mostre mesmo disposto a comprometer os seus próprios méritos. Mas os políticos deveriam ter maior escrúpulo em utilizar as pessoas quando estas estão numa situação de dependência.
Esta dependência assume muitos aspectos, mas é o económico que mais chama a atenção. Quando há dependência funcional depressa se chega à dependência intelectual e política e à suspeita sobre a possibilidade de o apoio só ser dado pela existência de um poder disciplinar, o que tira todo o valor a estas manifestações.
E Defensor Moura sabe disto? Claro que sabe, ninguém põe em causa a sua capacidade de entendimento. O que está em causa é a perversidade do seu raciocínio, o mau emprego das suas energias, que podiam ser utilizadas a favor do Alto Minho e do engrandecimento de Viana.
A pergunta que com mais insistência fazemos é como é possível este homem se deixar enredar em interesses tão mesquinhos, tão limitados, vistos de um ângulo tão reduzido, quando o miradouro de Santa Luzia até permite ver mais além.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Como nos podemos defender da crise

“Andamos por aí” há anos, talvez há décadas a falar de crise. A voz “popular” falava em crise porque entendia que as suas necessidades e eventualmente muitos dos seus caprichos não estavam satisfeitos. Mas eis senão quanto uma crise verdadeira, daquelas que nos tira a voz, nos bate à porta.
Ela aí está, corrosiva tanto quanto uma crise que se preze deve ser. Uma autêntica crise tira-nos algo daquilo que já foi nosso e não nos tira aquilo que afinal nunca tivemos. Uma mudança que nos faz diminuir as expectativas não é uma crise mas tão só um reajuste provocado pelo cair de algumas ilusões.
Há séculos uma crise ficava-se pela fome e pela miséria, que isso de expectativas era para pitonisas, corroía-nos a carne e até nos levava os ossos. Uma peste, uma chacina, faziam a limpeza do excesso demográfico para o grau civilizacional da altura e tudo se reajustava durante mais um tempo em que haveria um sábio equilíbrio entre o trabalho e o ócio. Os poderosos continuavam poderosos, ninguém lhes tirava a riqueza a não ser que:
Houvesse uma invasão, uma revolução em que de qualquer forma os papeis se invertessem e aqueles que vinham de pé descalço rapidamente encontravam calçado para o seu pé. Os que já não tinham lugar como poderosos, mas também não serviam como trabalhadores, eram chacinados e pronto…por uns anos havia uma acalmia social. Se havia moeda escriturada era ignorada. A má moeda era eliminada.
A crise de hoje é bem outra até porque a estas soluções já não recorreríamos. Neste caso a mudança de mãos da riqueza já é anterior à crise e afinal esta vai atingir aqueles que julgavam ser ricos e ficaram com um saco de “papéis” sem valor. Hoje o que está em causa é a perca de valor do que se tem e não mais a perca do que se tem. Como tal é uma verdadeira crise corrosiva quanto baste. Já não só crise nas expectativas, mas a que se pode repercutir de imediato nos bolsos e na moeda que se não irá escriturar a nosso favor.
O dinheiro vai continuar a valer dinheiro porque é necessário que alguma coisa se mantenha no seu valor para que as outras coisas o ganhem ou percam. Bens de subsistência também vão continuar a haver porque não é isso que está em causa. A fome já não é aqui motivo de crise. A crise já não nos corrói a carne, mas decerto vai corroer a prosápia de muitos.
O mercado não estava cheio de má moeda, mas de balões cheios de ar tóxico, de bens fraudulentos, de falso valor. O sistema bancário e afins promoveram o conto do vigário na sua forma mais modernaça. Pacotes de lindo invólucro e fita a condizer eram vendidos como se contivessem ouro do puro e prata da melhor qualidade. Tudo feito de modo a iludir o mais cauto.
O sistema bancário, promotor ou intermediário, captou muito dinheiro dessa forma e perguntar-se-á qual o paradeiro de tanto dinheiro assim obtido. Na realidade ele está seguro, o problema é de quem ficou com o embrulho nos braços. Isto é, de quem tenha emprestado na boa fé de correr um risco acrescido de modo a obter uma rentabilidade maior.
Boa fé ou ganância há aí uma pequena margem para distinguir comportamentos de pessoas e instituições. Mas talvez possamos colocar os intermediários financeiros como os únicos e exclusivos responsáveis desta situação de crise. Tudo fizeram para aumentar o seu negócio, incentivaram o consumo a níveis incomportáveis de hipoteca do futuro. Ao esticar o crédito concedido e o débito criado retiraram qualquer flexibilidade ao sistema necessária para aguentar os inevitáveis abalos.
Se pelo dinheiro, mesmo que só escriturado, alguém pode responder, o Estado, já os títulos representativos que a finança criou e que assentavam tão só na sua credibilidade, não têm qualquer valor se a empresa falir. No entanto há que distinguir entre os títulos primários, como acções, representantes directos do capital de uma empresa cujo valor é o do seu lugar na economia real e os títulos compostos que a banca elaborou com base em carteiras de outros títulos cujas raízes por vezes se desconhecem.
Normalmente a Banca só terá problemas se garantir a estes títulos compostos um valor que depois não consiga obter e devia creditar aos seus clientes. Já as acções que as pessoas possuem depositadas nos bancos não correm qualquer perigo. Temporariamente porém todos os que acreditaram na pujança da economia estão mais pobres. No entanto alguém lucrou com isso e todo esse dinheiro surgirá em tempo à luz do dia para fazer a riqueza dos crápulas.
Todos deveríamos desconfiar daqueles que nos pedem dinheiro para financiar empréstimos. Mas esse é o trabalho da Banca e é uma função necessária para a economia. No entanto a Banca tem que ser mais desconfiada do que nós próprios. Têm de emprestar somente a quem dá garantias de poder vir a pagar. Ora a Banca tem-se metido nos últimos anos no crédito ao consumo e não é nesta qualidade que as pessoas podem vir a obter receita suficiente para suportar as obrigações que a contracção de uma dívida implica.
A sociedade é capaz de pagar a ineficiência do sistema, de levar aos seus custos a implosão dos produtos tóxicos que proliferam no mercado sem valor definido. É um favor aos banqueiros prestado pelos políticos que não têm outra saída. Mas este facto não os deve impedir de aplicar alterações drásticas na operação bancária, algo que só funciona se houver confiança.
Para nos defendermos teremos que defender aqueles que nos causaram problemas. Estamos todos irremediavelmente solidários pelo menos até ao dia em que os banqueiros possam cantar outra vez de galo, se é que eles alguma vez vão suster a sua ganância. Afinal toda a gente fala dela, esta malvada, mas não estará ela alojada onde menos se espera?

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Um novo Génio na política limiana

Uma entrevista de verdadeiro Génio é aquela que o AltoMinho conseguiu de uma personalidade jovem mas afinal já altamente experimentada no domínio da mais pura política, com conspirações, promessas e traições, como convém para endurecer o carácter destes candidatos a nossos governantes.
Uma análise política a esta entrevista esbarra desde logo na dúvida de saber verdadeiramente o que nela se discute, porque não se consegue vislumbrar numa página inteira deste jornal qualquer ideia política merecedora de apoio ou, vá lá, ao menos de rejeição.
Talvez que a ideia do entrevistado seja tão só passar por inocente, vítima afinal dos tubarões da política mais sabidos do que ele e que se não deitam tão levianamente como ele com a primeira estrela que aparece, seja ela Daniel Campelo ou outra.
Este político em formação numa das rampas de lançamento dos políticos do futuro que são as juventudes partidárias chegou afinal à conclusão que já tem arcabouço para se lançar a outros voos, que a sala de aulas já é pequena para ele e os parceiros de estudo parecem não ser muito melhores.
Na verdade não nos podemos pronunciar sobre isto, seria perfeitamente abusivo, não porque nos fosse proibido fazer, mas porque não temos referência a ideias, opiniões, correntes políticas, sequer grupos regionais de interesse que façam mover esta gente, aparentemente em lutas suicidas.
Até são mesmo referidos somente uns três actores políticos, cujas vestes se conhecem mas como verdadeiro papel e objectivos não são revelados. Só se sabe que não devem ser pessoas estúpidas porque descobriram a tempo que o nosso geniozinho era afinal um submarino, velho adepto incondicional da genialidade contagiosa de Daniel Campelo.
Não há nada de novo, de surpreendente neste tipo de comportamento. Afinal Ponte de Lima está cheio, podemos mesmo dizer “prenho de génios”, uns que se revelam mais à opinião pública, outros mais recatados, que só se mostram na sua rua ou lugar, na sua aldeia ou tertúlia. Qualquer bicho careta que dê um pio, se tiver banda orquestrada, é logo entronizado.
Este novo génio andava escondido, rodeado por um grupo de outros jovens igualmente ambiciosos e promissores mas que lhe tapavam a visibilidade. Não há nada como dar uma entrevista desta e aparecer à luz do dia, se não com ideias, pelo menos pronto a contribuir para o folclore político, que talvez Daniel Campelo o aproveite para figurante nos próximos cartazes de campanha.
Há também uma certa culpa dos mais velhos, que não dão a esta juventude o papel que ela pode desempenhar na preparação do seu próprio futuro. Com estes jovens tão afoitos na resolução dos seus problemas, se os puséssemos a desempenhar papéis mais activos para aplicar as suas forças, e talvez não tivéssemos agora às costas os problemas do Sub prime e outros que andam por aí.
Os velhos dão maus exemplos e depois é o que vemos. Ou, por outro lado, aposto com alguém que diga ver aqui alguma ideia com substância, que não seja o velho jogo do poder de alianças e encostos, de traições e empurrões. Por isso fez muito bem este jovem, antes que o empurrassem pela porta fora, que seria o seu destino mais certo, atirou-se ele para o abismo.
Mas ele revela-se inteligente e avisado. Afinal não é um suicida qualquer daqueles que desesperam à primeira. Como não tinha ideias para lançar para o futuro, como parece que amigos não deixa para traz, lançou aquilo que parece estar mais à mão. Com o elogio a Daniel Campelo espera que haja uma almofada amiga a amparar-lhe a queda.
Sugeria ao Daniel Campelo que lhe deite a mão, se ele não quiser voar demais e se se não estatelar de todo. Nos jardins há boas instalações.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A natureza das crises na economia de hoje

Qualquer bem só existe para a economia se for vendável, se houver alguém pronto a atribuir-lhe valor. A economia começou pela troca directa de bens assente na base de que alguém estava disposto a prescindir de alguns deles para adquirir outros que lhe faziam mais falta. Depois começou-se a produzir propositadamente mais do que aquilo de que se necessitava com o objectivo de que o excedente pudesse assim ser trocado.
Mas o aumento do tamanho do negócio e o desfasamento temporal de cada um dos seus actos deu origem à necessidade de uma intermediação, de haver alguém disposto a tomar nas suas mãos o bem vendável até que fosse possível vendê-lo a um ou dispersá-lo por vários compradores em lugares e tempos distintos. A economia tornou-se mercantil e passou a preocupar-se com todos os aspectos que têm a ver com a produção e comercialização dos bens vendáveis.
O Estado criou um novo bem, a moeda, que fornece às pessoas, como subsídio ou como pagamento de serviços que lhe são prestados, para que elas o possam utilizar como crédito imediato no acto de uma transacção sem estar à espera de que outra transacção compensatória se realize. A moeda pode vir a ser usada só no futuro ou então emprestada para ser utilizada por outros enquanto o próprio não necessita dela. A moeda substituiu qualquer outro bem que pudesse ter um valor universal como o ouro ou o sal.
O produtor utiliza aquela moeda emprestada para ir pagando os bens e o trabalho que incorpora nos bens que produz e pretende vir a vender. O distribuidor procurará noutra origem moeda emprestada para comprar bens ao produtor ou a outro distribuidor mais forte para ir satisfazendo o interesse de consumidores mais ou menos apressados. O caminho seguido levou do financiamento da produção ao da distribuição e chegou recentemente ao domínio do consumo.
Por mais oleado que estivesse esta máquina comercial, ela está cheia de ineficiência, atritos, desvios, pelo que a insatisfação social se faz sentir pelos motivos mais variados e movendo as suas culpas para direcções distintas. Os marxistas pensaram que se o Estado se colocasse no início do ciclo económico dos bens e não perdesse os fios à meada, eles depressa chegariam em estado puro a solicitação livre dos consumidores.
O Estado marxista financiaria todos os processos e o consumo seria assegurado por si próprio ou pelos meios colocados à disposição dos trabalhadores em troca da sua colaboração no funcionamento da máquina estatal. Só que controlando o Estado todo o ciclo económico, substituindo-se a todos os seus agentes e actores, também assume o papel do mercado e em última instância definiria a vontades dos consumidores.
O Estado tem muitas outras funções a desempenhar e neste aspecto limita-se à satisfação de um perfil médio do consumidor que lhe permite libertar financiamento e trabalho com outros objectivos. Num Estado marxista o papel da moeda está perfeitamente definido não conferindo a sua posse qualquer função de interferência na estrutura económica. Por não poder ser livremente utilizada, nem é a posse de moeda que permite dar um sinal de satisfação dos consumidores.
O facto de não haver intermediação independente na troca de bens não retira o papel referencial, indicativo da moeda. O importante em qualquer economia é a capacidade de produção e a capacidade de, com um consumo mínimo satisfazer as exigências qualitativas e quantitativas do consumo. Mas para saber da eficiência da economia fará sempre falta determinar o valor monetário destas de modo a incorporar todos os seus custos directos e indirectos.
Por outro lado numa economia liberal os consumidores são determinados nas suas opções por aquele valor, e não havendo um perfil uniforme de consumidor, não sendo possível obter um nível médio de necessidades a satisfazer, o mais importante é conhecer as tendências que se hão-de aplicar na produção. Embora se incentivem todo o tipo de consumos, o distribuidor e o produtor logo correm a tentar saber se é possível satisfazer todas as necessidades que nascem em catadupa a valor próximo do que o consumidor lhes dá.
Como referência no liberalismo económico costuma ser tomado o consumo das classes mais poderosas, não só pelo que representam mas também porque todos as ambicionam atingir. A ambição suprema de todas as classes é a antecipação do futuro, a possibilidade de consumir agora aquilo que só mais tarde se terá obrigação de pagar, sendo que este compromisso é universalmente aceite. O liberalismo económico cultiva a insatisfação permanente dos consumidores.
No liberalismo é entregue à iniciativa privada todo o financiamento da produção ao consumo dependendo da perspectiva de lucro o sentido do seu encaminhamento. A parte do processo económico mais perto das pessoas pelo seu lado mais volátil é o consumo pelo que este constitui para o financiamento a parte mais apetecível, mais lucrativa, com maior capacidade de crescimento. Mas também a que comporta maior risco pela falta de garantia real dos empréstimos concedidos ou pelo menos pela sua depreciação mais ou menos rápida.
Os Estados marxistas falharam quando se acentuou o desfasamento entre a produção e o consumo. As crises nos Estados de economia de mercado derivaram sempre dum excesso de produção desfasada das necessidades e capacidades do consumo, então viradas noutra direcção. O capitalismo como o conhecemos hoje, de financiamento ao consumo, poderia acentuar as crises se reforçasse aquela discrepância ignorando as tendências.
Mas acontece o contrário. Nunca como hoje o consumo determinou a produção e isto assegura que não haverá a velha crise. O problema de hoje assenta na intermediação, na sua desregulamentação, nos seus desvios. A excessiva acumulação de capital determinou o congestionamento dos capitalistas e a asfixia dos consumidores. A natureza desta crise é financeira mas tem por base uma grave distorção da economia.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A ganância institucionalizada

Um amigo meu, professor de profissão, trabalhou sempre no Estado, mas nunca em regime de exclusividade e era adepto fervoroso da iniciativa privada, essencialmente porque para ele só esta garantiria o vencimento da meritocracia. Não dava ao Estado qualquer valor como garantia de emprego que na realidade, à altura, era para a maioria e para si também e não só para os fracos.
Qualificando o Estado como esbanjador de recursos, sejam humanos, sejam financeiros, também não se importaria de que ele o fosse em relação a si mesmo, o que, afianço, não era ao certo o caso. O dinheiro gasto no seu salário não era deitado fora. Mesmo assim era adepto de quanto mais liberalismo económico pudesse haver, que tanta mais eficácia económica haveria e mais premiado seria o mérito.
O liberalismo permitiria que o capital pudesse ser melhor aplicado e melhor remunerado. Dinheiro entregue ao Estado seria mal gasto porque não haveria concorrência no sentido de o gastar melhor, isto é de o pôr a produzir. No sector privado, além da concorrência entre as empresas, é possível haver um processo correlativo de concorrência entre os trabalhadores de cada uma e assim os mais aptos teriam possibilidades acrescidas de serem melhor remunerados.
Esta teoria, que reforça o papel do sector privado, levaria no extremo a que se achasse justo “roubar” o Estado, até porque se lhe não conhece a cara, e também roubar os trabalhadores, porque o mérito pode adquirir uma elasticidade imensa e é fácil penalizar o trabalho. Quando por qualquer destas vias ou pelas duas em simultâneo o possuidor do capital fica com a grande fatia do lucro está-se no capitalismo selvagem e na concorrência desleal.
Claro que o meu amigo não chegaria a tanto. No entanto, se o seu liberalismo não ia a este extremo de todo irresponsável e suicida, ia a um outro potenciador de graves problemas financeiros mas também sociais. Defendia que o Estado deveria intervir o mínimo possível, arrecadar o mínimo possível em impostos, e os órgãos sociais das empresas deveriam ter o máximo de liberdade para se auto-remunerarem.
Este modelo corresponderia ao sistema americano de economia de mercado em que este é na prática autogestionário. Por exemplo, os gestores atribuem-se todas as benesses possíveis e imaginárias, dizem que para executarem com prazer as suas “altas” funções e, com o objectivo de desviar a atenção, distribuem umas sobras pelos empregados. Se ainda por cima conseguirem colocar os concorrentes no negócio a fazer o seu jogo está o sistema completo.
Há aqui uma injustiça de base determinada pela justiça natural que faz com que caem por terra todos os edifícios que não respeitam o equilíbrio necessário do sistema. Na economia haverá fundos para alimentar uma fraude esporádica, uma fraude contínua mas moderada, mas não uma fraude permanente e insaciável. A facilidade com certos edifícios financeiros se criam leva a uma perca da noção dos limites e à procura de nova áreas de especulação.
Porém todos estes processos, que por norma exploram os limites da legalidade e as suas lacunas, são passíveis de existirem um certo tempo mas não o tempo inteiro, toda a vida. Quando esses processos, essas instituições se encadeiam, estabelecer relações entre si, quando cada uma já detectou em si algumas mazelas, pode provocar um efeito de contágio, isto é, podem vir a serem todas vítimas de sinergias negativas.
Quando se dá um abalo em todo um sistema ele afecta de modo desigual cada um dos seus elementos porque naturalmente os seus alicerces são diferentes. O abalo pode ser mais ou menos violento ou mais menos ancorável, mais ou menos delimitável. Num sistema pouco transparente há sempre um período de grande expectativa, de ansiedade, de espera por que a tempestade passe se possível ao lado.
O que aconteceu no complexo sistema americano é um tremor de terra de consequências imprevisíveis. É um sistema vasto, quiçá completo, de que se sobrevalorizou de certo as virtualidades, mas que pode apanhar desprevenida muita gente que não seria suposto estar. É um sistema em que entra a gestão normal de bens, mas também a gestão de valores virtuais, de expectativas, de previsibilidades.
Há quem defenda que no final escaparão as empresas sãs e os gestores conscientes. Mas também há quem sugira que aqueles que introduziram o sangue venenoso no sistema têm muitas possibilidades de escapar ilesos e até altamente beneficiados. E parece serem estes que tal sugerem que mais razões têm. Afinal os relacionamentos são tão vastos e os caminhos tão longos que o rasto de negócios com o grau de virtualidade que estes têm é difícil de seguir.
Aqui até está longe de interessar saber se são os bons ou os maus os mais penalizados. A questão principal é saber se há-de o Estado alimentar os comportamentos fraudulentos, que não se vê virem a terminar. O que mais interessaria era detectar o erro e não permitir que ele se repita, seja qual for a intenção de quem persistir em o promover.
No entanto tudo nos parece manifestamente simples e linear, tudo se parece resumir a não permitir que seja vendido algo indefinido como portador de um valor real. Como é possível vender algo que não seja representativo de um bem mensurável num tempo e num local e que não tenha em si capacidade para se auto-valorizar? Afinal há fundos suficientes de origem suspeita e que necessitam de se aplicar em algo que não há na realidade mas se cria virtualmente.
O sistema bancário e de seguros deixou-se enredar pelo dinheiro fácil. No balanço das suas contas assumiu compromissos sérios e aceitou garantias dúbias. Foi apanhado nas ratoeiras que ele próprio criou. Aquilo que numa primeira fase é uma venda torna-se uma obrigação paralisante. Todo o sistema tem criado afinal expectativas que não consegue suportar e ele é o primeiro a asfixiar.
Aqueles que se deixam enganar pelas virtualidades do liberalismo económico exacerbado, puro e não conspurcado por regulamentos “espartilhantes” e “imobilistas” tem decerto direito a viver nessa ilusão mas prestam um mau serviço à humanidade ao defender a ganância mais inescrupulosa.