sexta-feira, 9 de maio de 2008

Porque razão a juventude olha de viés para a política?

Na nossa juventude todos funcionamos por cópia e doutro modo não poderia ser. À medida que as nossas capacidades intelectuais se vão fortalecendo também vamos sendo capazes de ter uma actuação independente. Mas como é certificado pela nossa experiência essa actuação não se desenvolve simultaneamente em todos os níveis.
Há ideias que são incutidas nos jovens em tenra idade, mas mais a nível clubista, de modalidades desportivas, da alimentação, etc. Se a nível político isso também pode funcionar, não garante que resulte numa participação política activa em idades mais maduras. De resto a maioria dos pais não se quer comprometer numa atitude em que são muitas as alterações e reviravoltas.
O interesse dos jovens pela política será residual em relação a outros, mas, embora seja um olhar de viés, sempre lhe prestam alguma atenção. E, não raro, integram políticos entre os seus ídolos mais chegados. De resto, como o provou o Maio de 1968, os jovens, pelo menos a partir de certa idade, já tem a argúcia para saber que, se não for a política, ninguém resolverá certas questões.
Se a juventude não integra maior número de políticos entre os seus ídolos é porque, por menor que seja a sua experiência, se não reconhece neles. Mas também não seria necessário que a juventude copiasse os políticos por mais virtuosos que eles se apresentem. Necessário é que vá integrando elementos capazes de lhe dar a possibilidade de uma apreciação independente, isto é, sem influências que possam provir doutras áreas.
À medida que vai adquirindo conhecimentos capazes de sistematizar uma atitude coerente, um jovem sujeita-se a ser uma cópia não integral de uma ou mais pessoas. Isto é, todos nos sujeitamos a isso, sem deixarmos de ambicionar ser um dia melhores que o modelo que escolhemos como referência, eventualmente melhores que todos.
Quando se diz que a juventude se interessa pouco pela política estamos normalmente a falar do seu desinteresse em copiar modelos provenientes desse universo específico. Mas também estamos a dizer que dificilmente encontraremos no futuro quem queira ser melhor do que eles são. É que não progredimos se não soubermos a base de que partimos.
Os períodos de grande intervenção juvenil na política corresponderam a estados de necessidade sentida por ela como forma de resolver os seus problemas específicos, ou que se criaram por força da atracção exercida pela intervenção na política em geral em momentos especiais, como o derrube da ditadura em 25 de Abril, a defesa das liberdades depois.
Foram as circunstâncias de momento que levaram à política muitos jovens que em princípio não teriam apetência para ela. As circunstâncias actuais não são propícias a que isso aconteça. Há muitos outros motivos, existem facilidades a vários níveis da sua vivência e o discurso monocórdico dos adultos acerca da política, sejam eles políticos ou não, não é estímulo para qualquer tentativa de aproximação.
Há uma necessidade de tornar a política mais atractiva para os jovens e em primeiro lugar para garantir que o futuro será melhor que o passado. Mas os conhecimentos que nós já adquirimos sobre a maneira de fazer política devem ser transmitidos de forma a não estarem ligados aos modelos vigentes que, está provado, não entusiasmam os jovens. Porém há que os conhecer.
Há várias receitas que os políticos adoptam na sua actividade discursiva, tenha ela a ver ou não com a actividade decisória propriamente dita. Todas elas são combinações mais ou menos favoráveis ao discurso técnico, ao discurso factual, ao discurso imediatista, ao discurso justicialista, adoptando sempre uma lógica discursiva própria mais fixa ou errante, mais persistente ou fugidia.
Depois cada político adopta o seu estilo próprio, aquela carapaça externa, primeira linha da sua defesa, conjunto de tiques, atitudes e respostas prontas que os adversários têm que saber ultrapassar quando se trata de chegar à discussão daquilo que consubstancia a divergência política. No geral não passa de uma tentativa de aproveitar de modo favorável as circunstâncias existentes.
O estilo é o folclore político, aquilo que alegra muita alma, as estimula a participar nas actividades propagandísticas. Um político sem estilo, apático, cerebral, racional, que não utilize um pouco de perversidade, de acutilância, que não faça acompanhar a coragem física de algum destemor mental, o melhor é arrumar as botas. Mas quando as circunstâncias mudam não raro o político nos parece como algo artificial, vazio, sem consistência, desligado da realidade.
Por incrível que possa parecer a única forma de atrair os jovens para a política é torná-la uma actividade séria, que não viva do ridículo, que não faça da caricatura a forma mais eficaz de quebrar o gelo que afasta a população em geral da política. O facto de a política ter que abordar temas insípidos, com uma linguagem hermética não pode levar ao facilitismo, à cedência ao mais leviano.
O político do futuro tem que saber em profundidade dos temas sobre os quais se tem que pronunciar ou que tem que trabalhar, o que actualmente nem sempre acontece. Mas também tem que ser capaz de ser um professor para não especialistas, de ter uma linguagem atractiva, sem estar desligada da realidade tal qual ela é e tal qual ela é percepcionada por aqueles que a vêm só através dos órgãos de comunicação e pelas suas convicções, nem sempre racionais.
O estilo vai continuar a ter uma grande influência, maior ou menor conforme a tradição de cada País. Em Portugal ainda é muito associado estilo e seriedade por efeito desse sacripanta que nos governou tantos anos, Salazar. Em Portugal não se pode ver a política com a alegria de quem quer construir o futuro. Porém nem a sisudez nem a leviandade tem méritos de valorizar um discurso.

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