sexta-feira, 16 de maio de 2008

Como vamos atrair jovens para a política?

Os jovens e a política é um tema que se enquadra perfeitamente no estudo das perspectivas para o futuro de todos nós. Primeiro porque os jovens têm os seus olhos virados para o futuro. Depois porque a política é parte determinante desse futuro, seja qual for o grau de satisfação ou insatisfação que ela possa dar no círculo restrito de cada um.
Porém os jovens não têm os olhos virados para a política. Em primeiro lugar porque no geral essa política não satisfaz os mais velhos ou pelo menos é essa a mensagem que eles continuamente transmitem. Depois porque aos olhos dos jovens faltar-lhe-á sempre alguma coisa, na sua irreverência nunca estão satisfeitos e não vêm que seja a política a dar-lhes um sucesso fácil.
O ambiente reinante não é favorável à política. Antes todos se querem desresponsabilizar e todos vão sentindo vontade de atirar para cima dela todas as culpas. Entrar na política é assumir afinal uma culpa que vem de séculos, que abrange todos os domínios, que se partilha com todos. A política é o domínio em que se não pode fugir à culpa. Ser político é ser responsável por tudo, tendo muito pouco por onde assumir responsabilidade directa.
Por isto muitos vão para a política para atribuir a culpa a uma só pessoa, a um só grupo. Esta lógica, esta espécie de pensamento único tem tomado conta das mentes mais insuspeitas. Como entrar na política é perder toda a razão, submeter-se a uma suspeição colectiva, a maioria passa a vida a defender-se, atacando e não fazendo aquilo que seria pressuposto ser feito, submeter-se ao escrutínio popular, tomar decisões e executar.
A culpa cristã ou agnóstica, devota ou ateia, é um conceito redutor, apelativo e sedutor mas perfeitamente desnecessário e mesmo prejudicial para interpretar a razão por que as coisas acontecem como acontecem. A culpa é uma espada cega pronta a cair sobre as cabeças indefesas e manejada pelos seres mais perversos. A política aceita de bom grado no seu seio a culpa, sendo o domínio de tudo aquilo que a sociedade não consegue resolver e porque gosta de a utilizar.
Quem atribui culpas, quem dá razão imediata a alguém, não procura as razões que estarão por trás do que acontece, que estão para além do óbvio. Uma das razões é que a política necessita de estímulos que só se obtém quando as coisas vêm a acontecer segundo a maneira em que se apostou que acontecesse e principalmente quando se contribui de algum modo para isso. Para isso seria inglório discutir exaustivamente as razões sendo melhor realçar os resultados.
O facto de haver uma insatisfação tão grande, mesmo que relativa na maioria dos casos, mesmo que desmontável se tivermos tempo e autoridade para utilizar uma dialéctica adequada, leva-nos a constatar que a razão corre efectivamente perto de pouca gente, mas de alguma correrá. Não podemos é dizer que nós temos sempre razão só porque sempre dissemos mal do que existe.
À incompreensão que os jovens manifestam em relação à realidade, junta-se a incompreensão dos velhos perante a realidade que criaram e em que vivem. Esta conjugação leva a um sentimento de impotência quanto às possibilidades de transformar a realidade tendo em vista um futuro mais perto do ideal. Noutros tempos um jovem emergia num mundo cujos parâmetros estavam mais ou menos controlados. Hoje o jovem emerge num mundo global, sem barreiras.
Perante um mundo em que aparentemente está tudo por resolver, em que perdura ainda a visão maniqueísta, o primeiro sentimento a alicerçar-se num jovem será o de estranheza, por na verdade o que lhe é imposto é o seguir deste o início todo um percurso já percorrido pela humanidade para poder compreender o local em que estamos e ainda por cima lhe são deixados problemas cada vez mais complexos à espera de solução.
Daqui deriva o virar as costas à política, o descrédito da política, o desprestígio dos políticos, a aversão pela política. Se a estranheza é normalmente seguida pela curiosidade, neste caso não há nada que desperte este feliz sentimento. Quando muito a atracção é sentida por aqueles que vêm o dinheiro a correr pelo meio dos políticos, facto ocasional e limitado e não genérico e excessivo como, por desdém, os anti-democratas sugerem.
Não é a riqueza, nem tão pouco o poder, que podem atrair à política as pessoas capazes. Riqueza e poder existem em demasia noutras áreas de actividade. Mas há sempre duas qualidades de pessoas atraídas pela política que são os aventureiros, mas também quem queira ser consciente e responsável, ter uma voz autorizada para promover políticas justas e solidárias.
Um político não pode ter sempre razão e não pode procurar ter sempre razão. Se o fizer estará muito mais próximo de ser um oportunista do que de um verdadeiro condutor, definidor de um rumo. Um político tem que saber que haverá momentos de verdade, ocasiões em que terá que ter razão sob pena de ser derrotado e afastado. Mas também tem que saber que há derrotas que não desprestigiam e que há mais vida para além da política. Quando a sociedade não entende uma política, não é o ressentimento permanente que resolve a questão.
Cada regime político vai definindo com a precisão possível aqueles momentos, sem que quem esteja na oposição não vá procurando criar outros. E esta possibilidade dirá muito da solidez de cada regime, da maneira como ele está enraizado na sociedade. Neste aspecto o nosso regime político ainda permite uma certa anarquia, pelo menos uma crença em que será possível subvertê-lo a qualquer momento, até de dentro do partido do governo.