quinta-feira, 22 de maio de 2008

Crónica Política - Uma lição de urbanismo para uma assistência a pensar em política

A palestra do Prof. Paulo Morais, ex-vereador da Câmara do Porto responsável pelo urbanismo, foi de uma grande oportunidade. Com um senão: É que o PSD nos dias de hoje está muito mais preocupado em discutir lideranças capazes de assumir o seu partido e em obter o poder a quaisquer custo, do que a exercê-lo condignamente.
Isto aplica-se a Ponte de Lima, Vila onde esta questão do urbanismo está longe de constituir qualquer preocupação para a população em geral e para os políticos em particular. Parece que ninguém está interessado em afrontar interesses há muito instalados, o que poderia dar origem à fuga de patrocínios e a campanhas do lobby da construção.
Em todos os partidos há gente ligada a este lobby, que inclui especuladores de terrenos, vendedores de imobiliário, promotores e construtores propriamente ditos. Não se trata de pôr em causa a honestidade de ninguém, mas há um excessivo peso deste lobby no cômputo geral dos interesses a considerar. É uma nuvem que obscurece todo o panorama da gestão autárquica.
No fundo este lobby limita-se a utilizar uma nossa característica, a cultura instalada de facilitação. É interessante verificar como as pessoas se dirigem aos “políticos” da oposição: O senhor podia falar disto, olhe que está ali um grande mamarracho. E a forma como se dirigem aos “políticos da situação: Estes fulanos da oposição só sabem deitar abaixo, o que é necessário é que haja quem construa.
Como disse o Prof. Paulo Morais, se naquele momento a lista de Rui Rio pensasse ganhar a Câmara do Porto, não o teriam convidado a ele para vereador. Convidaram-no apenas para ser crítico, possivelmente bota abaixo, nunca pensaram ganhar e portanto na necessidade de incluir nas suas listas um facilitador, o que ele se não prestou a ser.
A cultura da facilitação começa no pequeno lavrador que quer construir um simples anexo à sua casa, e que quer a vida facilitada, ao grande construtor que quer pôr mais uns andares a mais no seu prédio e precisa que fechem os olhos ao que já está construído, meio metido na terra. Todos gostamos de dizer mal, mas na ocasião de votar é isto que vem ao de cima. Até há quem incentive a colocar “mauzões” nas listas da oposição para que as pessoas não votem neles.
Na política local, sendo poucas as pessoas interessadas nessa actividade, é muito fácil controlar os seus movimentos. Estamos sempre à espera de uma nova geração que consiga ser imune a interesses e consiga ser capaz de dizer aquilo que pensa, além de ter preparação para pensar, aquilo que falta a muitos de nós. O que nós queremos é que cada um se porte bem, sendo que os seus papéis são diferentes e na realidade não deviam ser.
Seria bom que todos tivéssemos ideias claras sobre aquilo que queremos, aquilo que nos espera, se deixarmos que as coisas continuem no mesmo caminho, e aquilo que nos poderia esperar se fossemos capazes de investir no nosso futuro, de dispensar algum tempo para que no futuro possamos viver menos pressionados pelos problemas que se vão acumulando.
Até porque nós vamos pagar tudo, incluindo a ineficiência daquilo que hoje se fizer. A água, o saneamento, o tratamento dos resíduos líquidos e sólidos irão facilmente ultrapassar o custo da energia que gastamos. Ninguém se preocupa, mas era bom que começássemos a pensar nisso.
A Câmara de Ponte de Lima é das que se porta melhor em termos de endividamento porque não tem tido necessidade de ir por esse caminho, antes pelo contrário. O problema está naquilo que falta fazer e na imputação que nos já é feita dos custos, quando só uma parte diminuta do concelho os paga.