quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Crónica Política - Os gostos pessoais não são critério justo em política

Comparar o trabalho de dois autarcas não é tarefa fácil. A arrecadação de receitas já vai servindo para os referenciar porque as novas leis lhes permitem aplicar critérios mais ou menos favoráveis às pessoas. È o caso do IRS em que é possível que se pague menos 5% e do IMI em que a variação pode ser de 150% entre a taxa máxima de 0,5 % e a mínima de 0,2 % do valor tributável dos prédios.
Mas é essencialmente na aplicação que é feita das suas receitas que se destacam as maiores divergências entre os nossos autarcas. Podemos destacar quais as verbas que cada um vai consagrar ao investimento, em infraestruturas, na instalação, abastecimento, mobilidade, educação, desporto, etc., e qual a sua rentabilidade. Podemos destacar aquilo que se refere ao investimento directo no bem-estar das pessoas.
Podemos dar um realce especial àquilo que se faz em termos de bens de usufruição colectiva, como jardins, parques, pistas, etc. ou então à promoção de eventos, de imagens com o objectivo de aumentar a atractividade do local. Trazer figuras destacadas, apoiar a comunicação, criar nova formas de divertimento, subsidiar manifestações culturais podem ser investimento ou desperdício.
A escolha de uma destas opções passa muito por factores exteriores, por particularidades que muitas vezes passam despercebidas a quem não está vocacionado para as aproveitar, mas também pelo gosto pessoal de quem lidera. Só em relação àquilo que é mais imperioso e não depende da sua localização é que não há lugar para muita subjectividade, há já padrões estabelecidos.
As opções a gosto dos presidentes são um aspecto importante da gestão autárquica que deve ser cada vez melhor analisado. Ele é mais valorizado quando há uma folga orçamental que permita uma escolha mais pessoal. Há mesmo o faça propositadamente, quem poupe muito para ter folga suficiente para uns floreados em sectores que enchem mais o olho de quem se quer impressionar.
O que se passa em Ponte de Lima é bem elucidativo neste domínio. Fazer-se escolas sem instalações desportivas capazes para gastar o dinheiro em equitação, rainforest ou música semi-pimba não é uma boa gestão de prioridades. Não é impressionando que se agrada. Gastar o menos possível em pessoal para não pagar a profissionais capazes de fazer boa obra é investir na mediocridade.
A Câmara de Ponte de Lima não terá quem saiba assentar umas pedras no Largo de Camões, daquelas que se deslocam ao menor peso e que é necessário repor na sua posição certa? O gosto destas pessoas pelo Centro Histórico leva a que as saliências sejam tratadas à martelada mutiladora e as reentrâncias com umas mascarras de cimento.
A folga orçamental que a Câmara de Ponte de Lima possui pode não ser sinal de boa gestão, mas tão só de uma gestão ao gosto de quem ainda não suplantou o mundo das vacas e da lavoura em geral, dos estreitos caminhos de aldeia e da calçada à portuguesa. A malha viária das freguesias vizinhas da Vila de Ponte é uma vergonha, a da sua expansão na Vila é uma lástima.
Se se deixa tudo ao critério dos construtores civis, mesmo com a desculpa no argumento de que são eles que pagam as infraestruturas, e como eles se estão marimbando para uma visão global, fazem tudo a pensar na rentabilidade e não revelam qualquer gosto mais elaborado. E aqui sim, as coisas deveriam ser feitas com algum gosto que resistisse à crítica do futuro.
Utilizar o poder para fazer aquilo que se gosta quando esse gosto pode ser duvidoso e acima de tudo não corresponder àquilo que se imponha para usufruto dos grupos maioritários da comunidade, fazer e gerir as autarquias subestimando aspectos prioritários pode dar imagens na televisão mas não é sério, é aproveitar a ignorância alheia.

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