sexta-feira, 30 de maio de 2008

Não é nada fácil fazer política

Anteriormente ao 25 de Abril a intervenção política estava reservada a uma minoria que era aceite na União Nacional, depois Acção Nacional Popular. A grande maioria da população, mesmo com “boas” intenções, só poderia colaborar com o regime através da sua filiação na Legião Portuguesa ou como denunciantes a mando da P:I.D.E., depois D.G.S.
Por mais que muitos queiram fazer crer, não havia um modo de ser salazarista com uma qualquer forma de lisura, mesmo que nós tenhamos o pressentimento, que nunca podemos ter mais do que isso, que em certas alturas, se fosse a votos, Salazar teria ganho. Porém ganhar um mandato não era ganhar 40 anos de mandato.
Se fazer política na situação era para alguns, fazer política na oposição era um acto heróico. Depois do 25 de Abril a maioria das pessoas sempre manifestaram a vontade de ter uma intervenção positiva na política. Mas por falta de preparação ou razões conjunturais poucos se predispuseram a fazê-lo através dos partidos políticos. Também estes se fecharam demasiado, não possuíam quadros políticos em quantidade e qualidade e exigiram um seguidismo exagerado que levou à criação de um sistema clientelar.
O sistema partidário rapidamente estabilizou à volta de figuras de referência mais do que à volta de ideias. Quando surgiu um novo partido, uma nova corrente de opinião houve sempre uma réstia de esperança que percorreu o espectro político até acabar invariavelmente em desilusão. Para muitos até foi difícil gerir um regresso a uma solução que se havia desprezado. Outros desiludiram-se de vez.
Não é fácil passar de um regime mono partidário para um sistema pluralista. Não é fácil passar da situação em que só se tem que ser do contra ou a favor para a situação em que se tem que se ser crítico quando se é a favor e tolerante quando se é do contra. Não temos hábitos de agir em colectivo. Gostamos mais de ser arregimentados ou de ter ao nosso dispor um exército cordato.
As nossas “boas intenções” encontram sempre quem a elas se oponha, as subestime, as desvalorize. E por aí não serão tão boas assim para não termos forças para lutar por elas. Os partidos novos podem instituir regras inovadoras mas acabam por reproduzir a maioria dos defeitos e erros dos partidos velhos.
A desculpa é sempre a mesma, ou a proximidade do poder ou a simples dimensão diminuem a maleabilidade dos partidos. Só resta a quem se achar no direito a participar activamente na política, e queira usufruir do direito a esse direito, entrar com um escafandro vestido ou que seja com uma capa suficiente num mundo que depressa se descobre ser em tudo semelhante a todos aqueles em que a colaboração/competição são mais difíceis e ferozes.
Quem entra só o pode fazer de peito feito se não houver competição. Pelo contrário, se enfrentar oposição não usa as armas que quer. Quem lá está define o campo, o tempo, as armas, o alcance. Quem entra é vítima dos compadrios já sedimentados, do jogo sujo, baixo e mesmo subterrâneo. Quem lá está quase se pode limitar a gerir a perversidade do sistema que conhece melhor, o estatuto adquirido, o verniz acumulado. Quem entra só vencerá se conseguir partir este verniz com as armas que tem e com as cumplicidades que obtiver.
Quem entra percorre o escuro, tropeça em ligações inesperadas, sujeita-se a dar passos em falso, se tiver sorte alguém lhe deitará a mão. Quem lá está aceita ou repele, avaliza ou desclassifica, instrumentaliza ou repudia o intruso conforme os seus próprios interesses particulares. Enreda-se quem entra nas malhas já tecidas de há muito ou marginaliza-se. Quem lá está atribui-se uma importância desmedida e desvaloriza quem entra se não carregar armas e bagagens capazes.
Quem entra corre o risco de se tornar no cordeiro imolado no fogo dos interesses que se digladiam a outros níveis na mesma estrutura, no mesmo partido. Aproveitará algumas migalhas ou vai bater com a porta do desconsolo. A política é uma actividade cuja nobreza pode rapidamente ser coberta pela mais vil conspurcação. As boas intenções de quem quer participar activamente na política são tão frágeis que podem ruir facilmente.
Quem entra ainda levará com a afirmação de que de boas intenções está o mundo cheio. Porque ninguém lhe vai garantir que das boas intenções derivam sempre bons resultados. A principal razão começa por ser a de que as boas intenções são declaradas a um nível de decisão normalmente muito distante daquele em que se poderiam tomar as tais decisões que conduziriam a um resultado condicente.
Quem entra muitas vezes não tem noção da existência de vários níveis de decisão e alimenta indevidamente expectativas desmedidas. Quem entra não pode no geral pretender ficar logo a um nível de decisão muito superior ao que tinha quando estava fora. A não ser que seja levado à mão para um posição elevada. Chegar lá não é um processo fácil pois exige cumplicidades a vários níveis.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Crónica Política - Ainda vamos a tempo de discutir a democracia local?

Academicamente as lideranças são classificadas à semelhança dos regimes políticos, o que não há nada mais inapropriado. Os regimes assentam numa base constitucional específica, mas só revelam verdadeiramente as suas características ao fim de um período suficientemente longo, de modo a ver-se como ele reage em várias situações, como ela se adapta ás mais variadas circunstâncias.
Um regime pode ser moldado de modo a se adaptar o mais possível à figura duma pessoa. Uma pessoa pode estar convencida do seu papel transitório e portanto da transitoriedade do regime, mas esses casos são raros e sinónimos de subdesenvolvimento. A característica principal dum regime é a sua perdurabilidade.
Um regime pode comportar vários estilos de liderança, utilizando as mesmas leis e obtendo resultados diferentes. O actual poder local é tido por democrático a até como um dos sustentáculos do nosso actual regime. No entanto, se fossemos a classificar o tipo de liderança que se pratica nas autarquias, facilmente concluiríamos que estaria muito longe de corresponder ao tipo de regime que temos, que não sendo perfeito, é satisfatório.
Se um diferente tipo de liderança dificilmente poderá vingar ao mais alto nível de um dado regime, já a níveis inferiores isso é possível. Ou, por outro lado, é aqui que se vê quando as lideranças têm muitos cambiantes para além daqueles que são utilizados na definição dos regimes. O grande problema é que o que aqui é transitório facilmente se torna em definitivo.
Nas autarquias o perfil do líder é tido por decisivo na sua escolha, procura-se uma combinação adequada entre qualidades e defeitos que cada um acha importante para o exercício do poder. Um novo líder de um partido já votado anteriormente tem sempre dificuldade de afirmação. Se o líder da oposição for claramente pior, vence, senão corre riscos evidentes.
Os líderes autárquicos raramente perdem à segunda votação. Então já todas as pessoas conhecem suficientemente os seus defeitos para que até já passem como qualidades. Efectivamente, as pessoas, mesmo que detectem espírito vingativo, maldade, teimosia, até obstinação, não raro consideram que isso nunca as atingirá e é uma boa maneira de alguém pôr os outros na linha.
Os líderes autárquicos não se distinguem pela forma como impõem a sua vontade, que é invariavelmente igual, mas pela forma como formam a sua vontade. Esta formação foge ao imediatismo e por isso hoje em dia é subestimada em detrimento do espectáculo mediático em que pequenas nuanças sem significado são elevadas a factos marcantes da governação.
Quando o líder sabe ler a vontade popular, adoptar mesmo os seus gostos pessoais aos desejos colectivos, esquecer os seus caprichos e aceitar as soluções mais consensuais, está no auge do seu aprendizado. Só que cá os líderes não aprendem, antes estão sempre prontos a ensinar, sem que ensinem a forma como chegaram a líderes.
Na verdade não há líder democrático que não diga que o mais importante é saber ouvir, já que também hoje é impossível que alguém saiba tudo. O problema é terem o espírito preparado para ouvirem. Tanto para utilizar o conhecimento recebido, como também para se não deixarem manipular por ideias enroupadas numa vestuário vistoso.
É neste sentido que eu adopto as minhas opiniões. Abomino todos os manipuladores porque estão na antecâmara dos corruptores. Reconheço a dificuldade de transmitir conhecimentos, sabendo-se que só há honestidade intelectual se nós fizermos as nossas asserções num enquadramento correcto, legível e interpretável por quem tem que decidir.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

As dificuldades da acção política para os jovens

Os jovens, perante a complexidade do mundo, na sua generalidade acham que é melhor desfrutá-lo que compreendê-lo. No entanto é normal dizer-se que os jovens acreditam cada vez mais em si mesmo, estão cada vez mais preparados para enfrentar o futuro. Se isso é verdade na esfera individual, no que se refere à acção colectiva há porém muitas dúvidas e algumas certezas.
As dúvidas referem-se à incapacidade de assumir responsabilidades por novas iniciativas embora não se possa pôr em causa a sua capacidade de integrar tarefas conjuntas quando por iniciativa e patrocínio de organizações já existentes. Uma certeza é que não será fácil assumir novas iniciativas numa sociedade conservadora, defensiva, que não fornece meios a quem a quer pôr em causa.
Os jovens têm uma grande relutância em partilhar iniciativas de natureza política, mesmo que o âmbito em que se pretende actuar seja somente de política geral e não de politica partidária. Mas haverá razões pelas quais a actividade política até globalmente é mal vista. Não chega, mas é importante, constatar que o actual ciclo histórico não é favorável.
Existe um pessimismo generalizado, embora que nem sempre explicável pelas mesmas razões, mas cujos efeito é negativo na conjuntura geral que se vive. É um pessimismo que nos arrasta a todos para um terreno lodoso em que tudo parece ser igual, pegajoso. É um pessimismo anestesiante, que nos imobiliza e nos impede de ter uma reacção inteligente, de ir lutando contra os obstáculos que se nos deparam de uma forma sistemática e gradual.
Também não falta quem tente propagar uma aversão à política, ou pelo menos a mais generalizada apatia. As organizações existentes são pouco motivadoras, tratam mal com as circunstâncias adversas que historicamente são inevitáveis. Sendo os jovens mais inclinados a viver as circunstâncias do que seguir o perfil civilizacional profundo da sociedade em que se integram, não criam as resistências necessárias os pregadores de desgraças.
Os jovens são capazes de atitudes extremas, mas que só assumem em condições de clara saturação da situação política, quando esta cria limitações insuportáveis para a desabrochar de novas formas de viver. As pessoas dizem mal mas, incapazes de inovar, mantêm-se presas a todos os pressupostos do passado. Como se verifica no actual contexto, quantas vezes propõem soluções gastas. Mas vai havendo quem ache ser possível e/ou conveniente construir o futuro sobre ruínas e estão prontos a abdicar de partilhar o passado dos mais velhos.
Mais do que nunca parece razoável não descambar para os extremos, embora haja contradições insanáveis entre progresso e a manutenção de níveis de vida numa escala previsível. Há um grande afã na obtenção do progresso técnico-científico e uma grande incerteza quando ao seu efeito nas estruturas sociais que tanto custam a levantar, para logo estarem desactualizadas.
Se este processo já é difícil para quem acompanha de perto aquele progresso, para nós, que estávamos a décadas de distância do progresso de ponta, é dramático termos que vencer este hiato e suportar as dificuldades de mutações mais amplas. E ainda por cima o futuro é um desafio de que não suspeitamos os contornos. Isto traz preocupações acrescidas para um presente, que assim se pode tornar demasiado provisório.
Os jovens gostam da modernidade e não se pode querer que eles se entusiasmem com esta zona sombria e movediça em que nos encontramos e de que se não vê saída. Todos os aparelhos partidários existentes não promovem a inovação na sua acção e enredam-se a discutir argumentos, que talvez justifiquem o presente, mas são inválidos para construir o futuro.
A dificuldade dos jovens para entrar na actividade política começa em ter que compreender os partidos na sua lógica e na sua história, porque qualquer iniciação à política se não fará por outra via, isto é, com base num grupo fechado de pessoas de uma só geração e a partir duma virtual estaca zero.
Existem lacunas entre os conteúdos programáticos de uns e de outros, diferenças entre esses conteúdos e as suas práticas, só compreensíveis pela sua génese. Quem queira iniciar uma actividade política ou simplesmente compreender as opções que se colocam, é importante que saiba que não há uma economia estável nem uma demarcação política claramente estabelecida.
Normalmente as ideias são divididas por famílias políticas e cada uma procura defender um sistema coerente e abrangente, defendendo uma maior ou menor interferência em aspectos da vida pessoal e social. Liberais distinguem-se de conservadores, sociais-democratas de socialistas, reformadores de radicais. E todos costumam ter organizações representativas e defensores óbvios.
O nosso regime derivou de uma ditadura “atípica”, a sua formação desenvolveu-se em circunstâncias específicas que levaram a uma diferenciação muito ténue, que por vezes se ficou por pormenores e pelo estilo. Aqueles que, mesmo provindos de sectores diversos, se souberam juntar resistiram e solidificaram a sua organização. Sacrificaram as suas diferenças à necessária coesão.
Esta génese deu origem a que nos partidos políticos se alberguem leques políticos muito alargados que por essa via se sobrepuseram e criaram problemas complexos. Por exemplo a ala direita do PS entra pelo PSD dentro e a ala esquerda deste pelo PS do mesmo modo. Por vezes as práticas governativas, por força das circunstâncias, levaram os partidos a terem que seguir políticas que em princípio não patrocinariam e a suscitar adesões de sectores que estariam longe da sua política de base. Este passado condiciona ainda as opções actuais.
O labirinto partidário que se formou, sujeito a enviusamentos vários no seu percurso temporal faz com que, para qualquer pessoa menos avisada, a variedade seja excessiva, criando assim uma vulgaridade e promiscuidade que dificultam as opções claras. Sendo impossível escolher tendo em conta as ideias, a adesão a um partido tomando como referência as pessoas que nele militam tornou-se ainda mais problemático para quem não aceite ser orientado por razões pessoais.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Crónica Política - Uma lição de urbanismo para uma assistência a pensar em política

A palestra do Prof. Paulo Morais, ex-vereador da Câmara do Porto responsável pelo urbanismo, foi de uma grande oportunidade. Com um senão: É que o PSD nos dias de hoje está muito mais preocupado em discutir lideranças capazes de assumir o seu partido e em obter o poder a quaisquer custo, do que a exercê-lo condignamente.
Isto aplica-se a Ponte de Lima, Vila onde esta questão do urbanismo está longe de constituir qualquer preocupação para a população em geral e para os políticos em particular. Parece que ninguém está interessado em afrontar interesses há muito instalados, o que poderia dar origem à fuga de patrocínios e a campanhas do lobby da construção.
Em todos os partidos há gente ligada a este lobby, que inclui especuladores de terrenos, vendedores de imobiliário, promotores e construtores propriamente ditos. Não se trata de pôr em causa a honestidade de ninguém, mas há um excessivo peso deste lobby no cômputo geral dos interesses a considerar. É uma nuvem que obscurece todo o panorama da gestão autárquica.
No fundo este lobby limita-se a utilizar uma nossa característica, a cultura instalada de facilitação. É interessante verificar como as pessoas se dirigem aos “políticos” da oposição: O senhor podia falar disto, olhe que está ali um grande mamarracho. E a forma como se dirigem aos “políticos da situação: Estes fulanos da oposição só sabem deitar abaixo, o que é necessário é que haja quem construa.
Como disse o Prof. Paulo Morais, se naquele momento a lista de Rui Rio pensasse ganhar a Câmara do Porto, não o teriam convidado a ele para vereador. Convidaram-no apenas para ser crítico, possivelmente bota abaixo, nunca pensaram ganhar e portanto na necessidade de incluir nas suas listas um facilitador, o que ele se não prestou a ser.
A cultura da facilitação começa no pequeno lavrador que quer construir um simples anexo à sua casa, e que quer a vida facilitada, ao grande construtor que quer pôr mais uns andares a mais no seu prédio e precisa que fechem os olhos ao que já está construído, meio metido na terra. Todos gostamos de dizer mal, mas na ocasião de votar é isto que vem ao de cima. Até há quem incentive a colocar “mauzões” nas listas da oposição para que as pessoas não votem neles.
Na política local, sendo poucas as pessoas interessadas nessa actividade, é muito fácil controlar os seus movimentos. Estamos sempre à espera de uma nova geração que consiga ser imune a interesses e consiga ser capaz de dizer aquilo que pensa, além de ter preparação para pensar, aquilo que falta a muitos de nós. O que nós queremos é que cada um se porte bem, sendo que os seus papéis são diferentes e na realidade não deviam ser.
Seria bom que todos tivéssemos ideias claras sobre aquilo que queremos, aquilo que nos espera, se deixarmos que as coisas continuem no mesmo caminho, e aquilo que nos poderia esperar se fossemos capazes de investir no nosso futuro, de dispensar algum tempo para que no futuro possamos viver menos pressionados pelos problemas que se vão acumulando.
Até porque nós vamos pagar tudo, incluindo a ineficiência daquilo que hoje se fizer. A água, o saneamento, o tratamento dos resíduos líquidos e sólidos irão facilmente ultrapassar o custo da energia que gastamos. Ninguém se preocupa, mas era bom que começássemos a pensar nisso.
A Câmara de Ponte de Lima é das que se porta melhor em termos de endividamento porque não tem tido necessidade de ir por esse caminho, antes pelo contrário. O problema está naquilo que falta fazer e na imputação que nos já é feita dos custos, quando só uma parte diminuta do concelho os paga.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Como vamos atrair jovens para a política?

Os jovens e a política é um tema que se enquadra perfeitamente no estudo das perspectivas para o futuro de todos nós. Primeiro porque os jovens têm os seus olhos virados para o futuro. Depois porque a política é parte determinante desse futuro, seja qual for o grau de satisfação ou insatisfação que ela possa dar no círculo restrito de cada um.
Porém os jovens não têm os olhos virados para a política. Em primeiro lugar porque no geral essa política não satisfaz os mais velhos ou pelo menos é essa a mensagem que eles continuamente transmitem. Depois porque aos olhos dos jovens faltar-lhe-á sempre alguma coisa, na sua irreverência nunca estão satisfeitos e não vêm que seja a política a dar-lhes um sucesso fácil.
O ambiente reinante não é favorável à política. Antes todos se querem desresponsabilizar e todos vão sentindo vontade de atirar para cima dela todas as culpas. Entrar na política é assumir afinal uma culpa que vem de séculos, que abrange todos os domínios, que se partilha com todos. A política é o domínio em que se não pode fugir à culpa. Ser político é ser responsável por tudo, tendo muito pouco por onde assumir responsabilidade directa.
Por isto muitos vão para a política para atribuir a culpa a uma só pessoa, a um só grupo. Esta lógica, esta espécie de pensamento único tem tomado conta das mentes mais insuspeitas. Como entrar na política é perder toda a razão, submeter-se a uma suspeição colectiva, a maioria passa a vida a defender-se, atacando e não fazendo aquilo que seria pressuposto ser feito, submeter-se ao escrutínio popular, tomar decisões e executar.
A culpa cristã ou agnóstica, devota ou ateia, é um conceito redutor, apelativo e sedutor mas perfeitamente desnecessário e mesmo prejudicial para interpretar a razão por que as coisas acontecem como acontecem. A culpa é uma espada cega pronta a cair sobre as cabeças indefesas e manejada pelos seres mais perversos. A política aceita de bom grado no seu seio a culpa, sendo o domínio de tudo aquilo que a sociedade não consegue resolver e porque gosta de a utilizar.
Quem atribui culpas, quem dá razão imediata a alguém, não procura as razões que estarão por trás do que acontece, que estão para além do óbvio. Uma das razões é que a política necessita de estímulos que só se obtém quando as coisas vêm a acontecer segundo a maneira em que se apostou que acontecesse e principalmente quando se contribui de algum modo para isso. Para isso seria inglório discutir exaustivamente as razões sendo melhor realçar os resultados.
O facto de haver uma insatisfação tão grande, mesmo que relativa na maioria dos casos, mesmo que desmontável se tivermos tempo e autoridade para utilizar uma dialéctica adequada, leva-nos a constatar que a razão corre efectivamente perto de pouca gente, mas de alguma correrá. Não podemos é dizer que nós temos sempre razão só porque sempre dissemos mal do que existe.
À incompreensão que os jovens manifestam em relação à realidade, junta-se a incompreensão dos velhos perante a realidade que criaram e em que vivem. Esta conjugação leva a um sentimento de impotência quanto às possibilidades de transformar a realidade tendo em vista um futuro mais perto do ideal. Noutros tempos um jovem emergia num mundo cujos parâmetros estavam mais ou menos controlados. Hoje o jovem emerge num mundo global, sem barreiras.
Perante um mundo em que aparentemente está tudo por resolver, em que perdura ainda a visão maniqueísta, o primeiro sentimento a alicerçar-se num jovem será o de estranheza, por na verdade o que lhe é imposto é o seguir deste o início todo um percurso já percorrido pela humanidade para poder compreender o local em que estamos e ainda por cima lhe são deixados problemas cada vez mais complexos à espera de solução.
Daqui deriva o virar as costas à política, o descrédito da política, o desprestígio dos políticos, a aversão pela política. Se a estranheza é normalmente seguida pela curiosidade, neste caso não há nada que desperte este feliz sentimento. Quando muito a atracção é sentida por aqueles que vêm o dinheiro a correr pelo meio dos políticos, facto ocasional e limitado e não genérico e excessivo como, por desdém, os anti-democratas sugerem.
Não é a riqueza, nem tão pouco o poder, que podem atrair à política as pessoas capazes. Riqueza e poder existem em demasia noutras áreas de actividade. Mas há sempre duas qualidades de pessoas atraídas pela política que são os aventureiros, mas também quem queira ser consciente e responsável, ter uma voz autorizada para promover políticas justas e solidárias.
Um político não pode ter sempre razão e não pode procurar ter sempre razão. Se o fizer estará muito mais próximo de ser um oportunista do que de um verdadeiro condutor, definidor de um rumo. Um político tem que saber que haverá momentos de verdade, ocasiões em que terá que ter razão sob pena de ser derrotado e afastado. Mas também tem que saber que há derrotas que não desprestigiam e que há mais vida para além da política. Quando a sociedade não entende uma política, não é o ressentimento permanente que resolve a questão.
Cada regime político vai definindo com a precisão possível aqueles momentos, sem que quem esteja na oposição não vá procurando criar outros. E esta possibilidade dirá muito da solidez de cada regime, da maneira como ele está enraizado na sociedade. Neste aspecto o nosso regime político ainda permite uma certa anarquia, pelo menos uma crença em que será possível subvertê-lo a qualquer momento, até de dentro do partido do governo.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Crónica Política - Um inquérito fatal para alguns Presidentes de Câmara

Não há dúvida que tem sido um sucesso o inquérito que este jornal começou a fazer há cerca de um mês para saber a opinião dos seus leitores sobre qual o melhor Presidente da Câmara do Distrito. A votação tem decorrido no seu site na Internet “www.altominho.pt”.
Um comentário sobre os seus resultados impõe-se, partindo do pressuposto de que alguma leitura os números poderão ter, para além do seu natural impacto que a nitidez, para não dizer brutalidade, dos números possa ter. Terá algum significado, será real ou aparente esta inversão de valores?
Como destacado vencedor encontra-se o José Manuel Carpinteira, Presidente da Câmara de Vila Nova de Cerveira. A surpresa não resiste decerto a uma análise mesmo que breve. J M Carpinteira tem desempenhado o seu cargo com uma probidade digna de realce, tal deve querer ser assinalado por quem nele votou.
Normalmente estes inquéritos na Internet têm uma maior adesão de quem quer assinalar algum facto ou alguém que julga merecer a sua aprovação. Também quem quer manifestar a sua repulsa, a sua reprovação em relação a alguém votará no seu oposto, mas aqui os competidores são nove. Não se trata pois de um voto negativo. Este é um voto nitidamente positivo, que se não destina a achincalhar ninguém, antes pelo contrário.
Uma gestão equilibrada, tendo em atenção os vários aspectos em que nos dias de hoje se deve basear, tem sido seguida por J M Carpinteira, dando ao seu concelho uma rara harmonia entre o desenvolvimento económico, a ecologia, o ambiente em geral, a cultura, o desporto. Carpinteira soube dar continuidade e engrandecer a Bienal de Arte e recebeu na sua zona industrial empresas que não só dão emprego aos seus conterrâneos como aos dos concelhos vizinhos.
É natural que os seus votos não sejam só dos seus eleitores mas de muitas outras pessoas que têm beneficiado do progresso de Vila Nova de Cerveira e daquelas que simplesmente acham que a sua obra merece o devido destaque. É natural que participem mais activamente aqueles que se sentem satisfeitos quando se realça o trabalho de quem não tem por hábito pôr-se em bicos de pé, antes cultiva uma genuína humildade.
Em segundo lugar está um talvez esperado vencedor, Rui Solheiro, não só pelo relevante papel desempenhado em 25 anos de mandato local, como pelo empenho que tem posto na unidade alto-minhota, como dirigente da Valminho, presidente da direcção do PS distrital e dos autarcas socialista do País e vice-presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses.
Sendo Presidente da Câmara do concelho mais a Norte do País, com características acentuadamente montanhosas, não tem descurado a defesa do ambiente e da monumentalidade de Melgaço, tem promovido com rara oportunidade o sector museológico, tem contribuído para a promoção dos produtos locais, como o alvarinho e os enchidos, e para a atracção da actividade desportiva.
Tratando-se de um dinossauro do poder local, não consta que a sua influência tenha sido perniciosa, antes pelo contrário, tem sempre apoiado os colegas mais jovens, mas tem encontrado resistências inesperadas da parte de outros intervenientes na política regional, em especial do seu correligionário Defensor Moura, que se não tem fartado de esforços, sabe-se lá com que propósitos, para o relegar para uma posição secundária.
Este facto pode ter contribuído para este segundo lugar, dado que sempre há quem lhe atribua culpas pelo atraso do Alto Minho. Efectivamente não tem conseguido vencer a intransigência dos seus adversários, sem que se prove que uma eventual cedência aos seus propósitos à margem da Lei, pudesse ter trazido algum benefício à Região.
Num prestigioso terceiro lugar encontra-se José Luís Serra, Presidente da Câmara de Valença, talvez pelo seu papel na luta inglória por uma Unidade Básica de Saúde no seu concelho, dado que os estudos para aí a indicavam e tal não veio a acontecer. Com um concelho estratégico, uma das principais entradas no País, virá decerto a beneficiar desse facto via TGV e Plataforma Logística de Transportes. Mas hoje não são fáceis de descortinar as razões desta votação em quem se tem limitado a ver as suas centenária muralhas a cair aos bocados.
O grupo dos quatro mais destacados dirigentes locais encerra com Vassalo Abreu, o mais novato, que não em idade, de todos, de certo modo também inesperado nesta posição. Tanto mais que é pela primeira vez Presidente da Câmara de um concelho pequeno, que ainda por cima tem metade do território integrado no Parque Nacional da Peneda Gerez, o que limita sobremaneira as suas possibilidades de desenvolvimento.
Ter-se-á destacado na sua luta pelos benefícios a que deveria ter direito por ter a mais potente barragem do País. Não só vê passar a preciosa energia que lá se produz, como vê o vento agreste perder-se nas serranias do seu concelho, em especial na Serra Amarela. As reservas integrais, a defesa do ambiente tem destas incongruências que não permitem proporcionar-nos os benefícios da energia mais limpa de todas, a eólica. Afinal uma paisagem natural parece ser mais importante que um ambiente protegido.
Este voto em Vassalo também terá algo a ver com a sua ousadia. Quando a integração de concelhos, o repensar da divisão administrativa do País, levemente afloradas em períodos de menor atribulação política, mas abandonadas em tempos de maior atenção ao deficit, teve a coragem de sugerir uma ligação mais estrita aos Arcos de Valdevez, concelho com os mesmos problemas da Ponte da Barca.
Para os restantes dois terços dos Presidentes de Câmara só restaram um oitavo dos votos. É uma surpresa de que decerto não encontraremos todas as razões. Ainda podemos destacar um grupo de dois Presidentes que se destacam um pouco dos outros quatro. O quinto é Francisco Araújo, um Presidente activo e dinamizador da economia local, que tudo tem feito para atrair investimentos.
Sendo os Arcos de Valdevez um concelho que tem uma vastidão imensa gerida pelo Parque Nacional da Peneda Gerez, ainda lhe chega território para valorizar as margens do belo Rio Vez, para um Parque Desportivo espectacular, para zonas industriais que não ofendem o equilíbrio necessário com uma paisagem sempre surpreendente.
O sexto é uma decepção. Daniel Campelo, Presidente da Câmara de Ponte de Lima, o mais mediático de todos, com um dos mais belos concelhos em mão, parece não merecer esta desvalorização que por esta via se faz. No entanto talvez descubramos uma saturação com os seus métodos, a sua gestão desligada da população, dando primazia às suas paixões particulares como os cavalos ou as vacas e transformando as margens do fantástico Rio Lima em pouco mais que uma casa de banho das gentes de Gondomar.
Ponte de Lima continua a ser muito visitado, como ponto de passagem obrigatório, mas sem actividade turística que faça que os seus visitantes não conspurquem só, mas deixam uns cobres para quem já não consegue ter rendimentos para aguentar uma paisagem em manifesto declínio. Uns jardins são lindos mas a sua configuração e exploração enquadram-se numa perspectiva desactualizada e desenquadrada do meio rural dominante.
Quase se podia dizer que dos últimos não reza a história, tal a pequenez dos números que lhe são atribuídos. O sétimo bem merecia melhor sorte. António Pereira Júnior, Presidente da Câmara de Paredes de Coura sofre talvez pela frieza e incaracterística do seu concelho. Mas é de realçar o seu empenho no combate à desertificação, na defesa da sua área protegida do Corno do Bico, na construção dum excelente Parque Desportivo e de toda a estrutura urbana da Vila.
Pereira Júnior dá o seu suporte ao maior Festival de Música de Verão na Praia Fluvial do Tabuão que atrai em Agosto dezenas de milhares de jovens a conhecer o Minho. Mas o facto de a auto-estrada passar nos limites poentes do seu concelho marginalizou bastante esta bacia do Alto Coura que decerto Júnior, com a sua “coragem e visão”, se dispusesse de meios, faria progredir ainda mais.
Defensor Moura, Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo é um oitavo lugar inexplicável, porque a sua obra na cidade tem decerto muitos apreciadores, que não tiveram porém aquela força a empurrá-los para participar nesta votação. O que quererá dizer que Defensor não passa um bom momento e só pode ser pela sua birra anti Alto Minho, pela sua teimosia em querer caminhar sozinho ou então na companhia de quem o bajule.
Júlia Paula, Presidente da Câmara de Caminha, relegada para um nono lugar, não tem sido efectivamente bafejada pela sorte ou por outro qualquer mérito positivo. Senhora de uma belíssimo concelho, com praia, campo e serra, rios, vias de comunicação, porto de pesca, não tem sabido aproveitar este potencial e para cúmulo perdeu o já celebre Festival de Vilar de Mouros.
Em último lugar, que não o último em trabalhos temos José Emílio Moreira, Presidente da Câmara de Monção, que tem na recuperação do Centro Histórico, das Termas de Monção, na ecopista, obras de grande valor. E outro merecimento parece que devia ter a sua conquista de uma Unidade de Saúde Básica para o seu concelho, ou acaso deram esse mérito a quem efectivamente para lá levou essa Unidade, Rui Solheiro.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Porque razão a juventude olha de viés para a política?

Na nossa juventude todos funcionamos por cópia e doutro modo não poderia ser. À medida que as nossas capacidades intelectuais se vão fortalecendo também vamos sendo capazes de ter uma actuação independente. Mas como é certificado pela nossa experiência essa actuação não se desenvolve simultaneamente em todos os níveis.
Há ideias que são incutidas nos jovens em tenra idade, mas mais a nível clubista, de modalidades desportivas, da alimentação, etc. Se a nível político isso também pode funcionar, não garante que resulte numa participação política activa em idades mais maduras. De resto a maioria dos pais não se quer comprometer numa atitude em que são muitas as alterações e reviravoltas.
O interesse dos jovens pela política será residual em relação a outros, mas, embora seja um olhar de viés, sempre lhe prestam alguma atenção. E, não raro, integram políticos entre os seus ídolos mais chegados. De resto, como o provou o Maio de 1968, os jovens, pelo menos a partir de certa idade, já tem a argúcia para saber que, se não for a política, ninguém resolverá certas questões.
Se a juventude não integra maior número de políticos entre os seus ídolos é porque, por menor que seja a sua experiência, se não reconhece neles. Mas também não seria necessário que a juventude copiasse os políticos por mais virtuosos que eles se apresentem. Necessário é que vá integrando elementos capazes de lhe dar a possibilidade de uma apreciação independente, isto é, sem influências que possam provir doutras áreas.
À medida que vai adquirindo conhecimentos capazes de sistematizar uma atitude coerente, um jovem sujeita-se a ser uma cópia não integral de uma ou mais pessoas. Isto é, todos nos sujeitamos a isso, sem deixarmos de ambicionar ser um dia melhores que o modelo que escolhemos como referência, eventualmente melhores que todos.
Quando se diz que a juventude se interessa pouco pela política estamos normalmente a falar do seu desinteresse em copiar modelos provenientes desse universo específico. Mas também estamos a dizer que dificilmente encontraremos no futuro quem queira ser melhor do que eles são. É que não progredimos se não soubermos a base de que partimos.
Os períodos de grande intervenção juvenil na política corresponderam a estados de necessidade sentida por ela como forma de resolver os seus problemas específicos, ou que se criaram por força da atracção exercida pela intervenção na política em geral em momentos especiais, como o derrube da ditadura em 25 de Abril, a defesa das liberdades depois.
Foram as circunstâncias de momento que levaram à política muitos jovens que em princípio não teriam apetência para ela. As circunstâncias actuais não são propícias a que isso aconteça. Há muitos outros motivos, existem facilidades a vários níveis da sua vivência e o discurso monocórdico dos adultos acerca da política, sejam eles políticos ou não, não é estímulo para qualquer tentativa de aproximação.
Há uma necessidade de tornar a política mais atractiva para os jovens e em primeiro lugar para garantir que o futuro será melhor que o passado. Mas os conhecimentos que nós já adquirimos sobre a maneira de fazer política devem ser transmitidos de forma a não estarem ligados aos modelos vigentes que, está provado, não entusiasmam os jovens. Porém há que os conhecer.
Há várias receitas que os políticos adoptam na sua actividade discursiva, tenha ela a ver ou não com a actividade decisória propriamente dita. Todas elas são combinações mais ou menos favoráveis ao discurso técnico, ao discurso factual, ao discurso imediatista, ao discurso justicialista, adoptando sempre uma lógica discursiva própria mais fixa ou errante, mais persistente ou fugidia.
Depois cada político adopta o seu estilo próprio, aquela carapaça externa, primeira linha da sua defesa, conjunto de tiques, atitudes e respostas prontas que os adversários têm que saber ultrapassar quando se trata de chegar à discussão daquilo que consubstancia a divergência política. No geral não passa de uma tentativa de aproveitar de modo favorável as circunstâncias existentes.
O estilo é o folclore político, aquilo que alegra muita alma, as estimula a participar nas actividades propagandísticas. Um político sem estilo, apático, cerebral, racional, que não utilize um pouco de perversidade, de acutilância, que não faça acompanhar a coragem física de algum destemor mental, o melhor é arrumar as botas. Mas quando as circunstâncias mudam não raro o político nos parece como algo artificial, vazio, sem consistência, desligado da realidade.
Por incrível que possa parecer a única forma de atrair os jovens para a política é torná-la uma actividade séria, que não viva do ridículo, que não faça da caricatura a forma mais eficaz de quebrar o gelo que afasta a população em geral da política. O facto de a política ter que abordar temas insípidos, com uma linguagem hermética não pode levar ao facilitismo, à cedência ao mais leviano.
O político do futuro tem que saber em profundidade dos temas sobre os quais se tem que pronunciar ou que tem que trabalhar, o que actualmente nem sempre acontece. Mas também tem que ser capaz de ser um professor para não especialistas, de ter uma linguagem atractiva, sem estar desligada da realidade tal qual ela é e tal qual ela é percepcionada por aqueles que a vêm só através dos órgãos de comunicação e pelas suas convicções, nem sempre racionais.
O estilo vai continuar a ter uma grande influência, maior ou menor conforme a tradição de cada País. Em Portugal ainda é muito associado estilo e seriedade por efeito desse sacripanta que nos governou tantos anos, Salazar. Em Portugal não se pode ver a política com a alegria de quem quer construir o futuro. Porém nem a sisudez nem a leviandade tem méritos de valorizar um discurso.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Crónica Política - Com prejuízo de todos mantém-se o braço de ferro Defensor-Solheiro

As actuais Associações de Municípios do Alto Minho nasceram mediante uma Lei permissiva que deixou ao livre critério dos municípios a sua organização territorial. Isto deu origem a uma insuportável dispersão do associativismo municipal que em muitos casos, como o do Alto Minho, não ganhou a dimensão necessário para levar a cabo alguns projectos necessários à população.
O Governo percebeu isso e criou uma base mínima de organização do território designada por NUT III, que permite o nível mais baixo de programação dos investimentos públicos e do apoio à actividade económica. Dois outros níveis superiores permitem programar iniciativas que pressupõe uma base regional mais alargada. O abastecimento de água, o saneamento, o turismo são exemplos de actividades que têm que ser vistas a uma maior dimensão que os NUT III.
A Valminho e a Valimar são heranças da anterior Lei do Associativismo Municipal que sempre foram criticadas pela sua dimensão minimalista, pela cedência que na sua constituição se fez a bairrismos e egoísmo municipais mas também pessoais. Fala-se de um ódio intransponível que afasta dois dirigentes socialistas que afinal revelam pouco espírito fraterno, pouco desprendimento e utilizam todos os argumento para justificar o que se não admite.
A ambição desmedida de Defensor Moura e a desconfiança manifestada num homem como Rui Solheiro, que não manifestou qualquer problema de falta de equidade na gestão de qualquer organismo público, leva a manter um impasse cujas consequências ainda estão verdadeiramente por determinar. Embora o Governo permita que as candidaturas ao apoio do QREN possam avançar sem uma unidade formal, os problemas são surgir a seguir.
Mas vejamos o que está em causa na aplicação da proposta de Lei do Associativismo Municipal na Nut III Minho Lima:
- Seis municípios são suficientes para constituir a Comunidade Intermunicipal e para ter maioria absoluta no Conselho Executivo.

- Há seis municípios que, embora em conjunto tenham apenas 31,6 % dos eleitores da NUT III (Melgaço, Monção, Paredes de Coura, Valença, Cerveira e Ponte da Barca) têm maioria suficiente para eleger o Presidente e Vice-Presidentes do Conselho Executivo e, consequentemente, maioria para tomar todas as decisões e para representar a Comunidade Intermunicipal em todas as instâncias.

- Na Assembleia Intermunicipal, os mesmos seis municípios apesar de terem menos de um terço (31,6%) do total de eleitores da NUT III, elegem 26 dos 48 deputados (54,2%), mais do que suficientes para terem maioria em todas as deliberações da Assembleia Intermunicipal.

- Aliás, esses seis municípios tendo em conjunto apenas 74 mil eleitores elegem 26 deputados para a Assembleia da CIM, enquanto Viana do Castelo que tem 79 mil eleitores só elege 7.

- Para as despesas de pessoal e para as responsabilidades das dívidas da CIM (referidas nos artº 21 e 26), Viana do Castelo contribui com 33,7%, enquanto esses seis municípios em conjunto contribuem com apenas 31,6%.

Vaidade e calculismo

Mediante estes dados, Defensor Moura conclui abusivamente que Rui Solheiro conseguirá juntar Ponte da Barca ao círculo dos seus defensores e se tornará o senhor absoluto e que sendo assim não serão defendidos os princípios democráticos. Esta presunção de Defensor Moura não tem qualquer base de sustentação porque só os políticos obstinados agiriam dessa maneira.
Na própria Valimar, tal como ainda existe, a forma de representação é semelhante e mesmo assim Defensor Moura, distribuindo uns rebuçados a Daniel Campelo e Francisco Araújo, consegue ter um domínio absoluto sobre a organização. Entregou a Presidência a um, a sede operacional a outro, satisfez umas vaidades pessoais, mas nada se resolve sem o seu aval.
Querendo continuar o seu reinado Defensor Moura propôs, contra o que estará determinado na actual e provavelmente na futura Lei, que houvesse um critério populacional que determinasse que as decisões teriam que ser aprovadas pelos representantes de 2/3 da população o que daria poder absoluto mesmo nas questões que pudessem só dizer respeito aos outros nove municípios.
Defensor Moura não fala em critérios de dimensão geográfica, de problemas ambientais, de combate à desertificação. Só lhe interessa o engrandecimento da sua urbe. Todos gostamos que Viana do Castelo esteja bonita, brilhe, mas não podemos deixar que juntamente com toda a água que para lá corre e para a restante costa litoral corram todos os recursos, todos os poderes.
Enalteça-se nesta ocasião a atitude de Francisco Araújo, Presidente da Valimar e fazendo parte da direcção da CCRN, que até talvez deva alguma projecção que tem tido a Defensor Moura, mas que se não deixou enredar por calculismo cínico dos que actualmente estorvam um acordo para uma organização adequada do Alto Minho: Defensor Moura e Daniel Campelo.

Posição estratégica

Esperemos que não ponha entraves, falsas condições, que não manifeste da mesma triste maneira as desconfianças que minam o poder autárquico e lhe retiram muita da credibilidade.
Daniel Campelo gosta muito dos acordos paralelos, feitos à margem das regras e dos procedimentos adequados. É necessário que a política tenha cada vez menos este elemento de influência pessoal, mas é sintomático que das suas mais estranhas manifestações ainda ocorram no Alto Minho. Por esta razão Daniel Campelo que ainda é jovem, mas representa uma geração em declínio, quererá negociar antes de dizer sim. Mas decerto que não encontrará com quem.
Ponte de Lima nunca conseguiu fazer valer a sua posição estratégica que realmente tem. Mas para isso era necessário que Ponte de Lima até defendesse uma região maior, porque há realidades como o turismo, que hoje se já não compadecem com a nossa dimensão minúscula para esse fim.
A Comunidade Intermunicipal Minho-Lima é para nós um mal menor, para o qual devemos trabalhar lealmente, exigindo lealdade de todos os outros, trabalhar para atingir todos os seus objectivos, exigindo cedências de parte a parte mas não humilhando ninguém. Nem podemos querer ter aquilo que os outros não têm, nem querer ter tudo aquilo que os outros têm. O que se faça aqui por vaidade pode faltar acolá e era necessário. Sejamos solidários.

Ninguém vai chorar pela Valimar…


Os autarcas devem contribuir para alargar a visão das populações para além do seu lugarejo. Todos devemos ficar satisfeitos em que as pessoas vivam bem e que nós ao passear possamos ver pessoas satisfeitas e um ambiente cuidado, com cidades limpas e aldeias pelo menos cuidadas. Cada vez mais os autarcas só olham para a sua sala de visitas e ignoram quaisquer intervenções mais complexas noutras zonas do seu concelho e marimbam-se para o vizinho, o inimigo.
Com esta política temos perdido muito da nossa identidade como minhotos, estas divisões, que aparentemente só são políticas, trazem consequências nefastas a vários níveis. Estes enquadramentos políticos falsos, que não correspondem a uma unidade geográfica de dimensão apropriada, que deixam de fora pessoas que têm um passado comum, ajudam a adulterar relações, a criar roturas nefastas para o nosso futuro. Ninguém vai chorar pela Valimar.
È necessário que Defensor Moura fique isolado neste seu propósito de manter um sistema anacrónico. É necessário que caia antes que caia o prédio do Coutinho. Já estamos habituados a que de Viana do Castelo nos surjam Presidentes megalómanos, que só tem olho para a sua cidade, mas nós também temos de defender os nossos direitos que não derivam só do número.
Defensor Moura ameaça recorrer aos tribunais, aqui e na Europa. Devemos ter com ele o procedimento que o futebol tem para aqueles que não confiam que os seus órgãos próprios resolvam os seus problemas. Rua com ele. Este homem não merece da parte dos minhotos qualquer respeito e consideração. Talvez o nome tenha a ver alguma coisa com a questão.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Crónica Política - O plano Valimar não defende os interesses de Ponte de Lima

Hoje encomendam-se estudos por tudo e para nada. Os técnicos da administração pública já não conseguem estudar esse tudo. Mas as empresas de consultadoria, planeamento, marketing e quejandos que proliferam por todo o lado, oferecendo os seus serviços a autarquias, supra-autarquias, associações, governo, empresas, etc., não são mais independentes que aqueles.
Até admito uma certa honestidade dessas empresas porque se virem que é de todo impossível chegar ao resultado esperado logo o dirão. Cada um que pede um estudo quer que ele lhe agrade, que seja feito na sua perspectiva. Mas no caso do plano Valimar, como há seis mandantes, seis municípios e os seus interesses são em parte divergentes e concorrenciais não são defendidos de igual maneira.
Pode-se invocar que a estudos destes poucas pessoas lhes ligam, lhes dão importância. Se podem ser um guia para utilizar os dinheiros públicos, não servem de todo para estimular aquilo que seria necessário para criar emprego que é a iniciativa privada. Mas, se não convencem ninguém, ajudam a calar os adversários e desculpabilizar os próprios.
O plano estratégico de desenvolvimento da Valimar, talvez pelo seu pessimismo, mantém-se guardado. Afinal nós já sabíamos quem éramos. Já há muito tempo sabíamos, como lá se afirma, que a principal debilidade endógena do território é a incapacidade de empreendimento e iniciativa privada e colectiva. As ambições são poucas, mas sabe-se que a base de que se parte é frágil.
As premissas valem mais do que quaisquer conclusões. Acha-se que a baixa densidade demográfica e industrial é a adequada para manter a combinação da escala amigável dos seus principais centros urbanos com a valia da sustentabilidade e da excelência ambiental do território. Está tudo dito. É posta de lado qualquer hipótese de desenvolvimento mais agressivo.
É mais um plano para defender o que existe do que para abrir novas perspectivas. Agrade ao Defensor e ao Campelo, duvido que o Francisco Araújo lhe ligue alguma. Foi conjecturado de modo a satisfazer determinados interesses bem alicerçados. O eixo litoral do primeiro é claramente o foco principal do plano. O turismo de casas particulares, depreciado e irrelevante para a grande maioria dos habitantes, ou as segundas habitações são manifestamente favorecidos. Insiste em velhos slogans e superficialidades.

A recuperação dos delinquentes juvenis

A única forma de combater a delinquência juvenil é compreender as suas causas, distinguir as suas formas, diferenciar as suas manifestações. É isso que o nosso espírito sintético normalmente não faz e nada mais sossega certos espíritos do que dizer que não há estratos sociais para a delinquência, que todas as suas manifestações revelam uma tendência pessoal independentemente da forma.
Delinquente é delinquente e nada mais há a fazer, dizem os ignorantes. O problema é que as grandes sínteses são no geral grandes nevoeiros quando o propósito é só apoiar certas soluções massificadas. O facto de a sociedade não estar preparada para encontrar soluções diferenciadas, não ter meios disponíveis, não é razão para sentenças uniformes.
Em certas regiões de alguns países, por motivos muito específicos, há uma delinquência grupal, de jovens auto-suficientes, deliberadamente uns, coagidos outros, para os quais não passa de um meio de sobrevivência, quase ao nível de um modo de vida. São os capitães da areia. Em Portugal, se já aconteceu isto, foi muito esporadicamente, sem muita continuidade.
O que existe muitas vezes é uma associação de jovens com adultos, às vezes com a família, que deriva facilmente da pedincha para a pequena delinquência, ficando-se quase sempre pelos objectivos económicos, de sobrevivência do grupo. Os jovens são usados segundo as conveniências do grupo e não movidos por uma vontade própria.
Esta delinquência forçada pode provocar habituação, mas normalmente tem que ser vista como circunstancial, com possibilidade de reversão se se conseguir que esses jovens se afastem dos adultos e se enquadrem no sistema de ensino e sequencialmente no sistema produtivo normal. Normalmente é impossível conseguir alterar o ambiente familiar antes que os jovens sofram as suas consequências irreversíveis.
Nunca se poderá dizer que haja alguém que enverede deliberadamente pela delinquência, mas também se não pode considerar que alguém empurre deliberadamente outrem para a mesma a não ser aquelas famílias que fazem disso já o seu modo de vida.
Haverá sempre quem inadvertidamente se veja enredado em actividades marginais, quem seja levado por amigos menos recomendáveis, mas também não são esses que constituem o problema principal, porque terão sempre uma oportunidade de sair a tempo, num segundo tempo.
Haverá também aqueles que não são levados pela situação económica a praticar delitos que prejudicam outros, mas sim por um capricho de fazer aquilo que não é legítimo que se faça. É nestes que encontramos mesmo uma preponderância dos estratos mais favorecidos da sociedade. Mas valha a verdade que a satisfação e o capricho também estão ao dispor dos pobres.
Aqueles que se vêm a tornar delinquentes persistentes são independentes desde cedo, convencidos da sua capacidade para serem auto-suficientes, sustentando-se numa vontade já algo complexa, dissociada da vontade colectiva, mas capaz de assumir uma liderança eficaz, renitentes em perder prerrogativas entretanto conseguidas.
Estes não são “rapazes” porque caminham no sentido de já terem convicções arreigadas, “certezas” alicerçadas numa experiência de vida sempre agitada, independência sentimental em relação à própria família, se esta existir, sem que não possam existir afectos fortes mais específicos, uma emotividade afectada pela agressividade do meio.
Mas estes “rapazes” só são capazes de uma leitura simplista do meio. O imediatismo das suas emoções atraiçoa-lhes a visão e faz-lhos caminhar em relação ao abismo. A interiorização dos sentimentos funciona neles como um meio de defesa do mundo. Nem sempre funciona nesse sentido mas pode facilitar o gozo de sentimentos perversos. Apresentam uma dura carapaça que dificulta qualquer aproximação voluntariosa.
Estes rapazes sentem satisfação em difundir as suas crenças, por isso a sua permanência em grupos que não exijam grande acompanhamento é normalmente prejudicial. Por sua vez a formação de grupos de rapazes com aquelas mesmas características pode levar a uma emulação de consequências nefastas ao solidificar e estimular personalidades distorcidas.
Por estas razões só deveriam agrupar rapazes com capacidade de liderança semelhante, para que entretanto se não influenciem. A sua inserção no tecido social, a sua integração plena, só se consegue com técnicos que possam ganhar a sua confiança. Estes rapazes não podem continuar a ver o mundo como um ser amorfo e hostil que não cultiva a alegria. Estes rapazes salvar-se-ão quando se convencerem que a sociedade está pronta a recebê-los de volta e a lhes proporcionar melhores satisfações e mais fraternidade.