quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Um vencedor e um mundo de vencidos

Defensor Moura venceu um plebiscito, perdeu um referendo. Os outros perderam a votação seja qual for a perspectiva pela qual a mesma seja vista. E o próprio referendo perdeu também. Esta ocasião só provou que os autarcas só promovem os referendos que lhes interessam e que podem personalizar.
Ninguém está interessado em discutir o fundo de uma questão, em a isolar do nevoeiro abrangente. O que conta é a força do apelo que está subjacente à questão nuclear. Não é este núcleo que erradia atracção, é sempre uma outra questão que serve de atractivo para o chamamento ao voto neste ou naquele sentido. Defensor pôs em causa o seu lugar para apimentar o voto.
Só esta questão levou alguns a ir votar. Tal se revelou em todas as entrevistas que se viram na televisão em que as pessoas, por norma, diziam saber bem porque iam votar, mas quando interrogadas sobre o que sabiam da Comunidade Intermunicipal de Minho Lima abriam os olhos como se lhes estivessem a falar de fantasmas.
No fundo foram votar as pessoas que dão mais importância ao apelo pessoal, isto é, se submetem à chantagem emocional. Claro que aqui podemos fazer um interregno e perguntar se há alguma ilicitude nisto. Não há porque são as pessoas que se deixam prender, são as pessoas que sentem mesmo a necessidade de se ligarem a alguém e os políticos, por mais mal que deles se diga, estão aí à mão, são parceiros com quem se tem certa intimidade.
Sendo todos, excepto um, os derrotados, há sempre uns mais derrotados que outros. António Martins está em primeiro lugar porque sendo ele a propor o referendo não deu mais qualquer passo significativo de empenho na sua vitória. Derrotado foi o CDS que com o caminho deixado aberto pelo PSD quis açambarcar a liderança para que não tinha arcaboiço.
Derrotados foram os socialistas vianenses. Parte deles arrastados para o reforço de um poder pessoal e para uma estratégia suicida e anti-socialista. Outra parte revelou a sua impotência e falta de visão política para criarem uma verdadeira alternativa a Defensor Moura, assente na defesa de princípios ideológicos e organizativos democráticos. É nisto que dão os Messias.
Perdeu a clareza do debate político, sempre enredada nestas questões que afinal, pela importância que lhes foi dada, todos acharam menores, pouco dignas de referendo. Em democracia convoca-se o povo para votar como um método de decisão primordial. Depois cabe aos eleitos tomar as decisões que se impunham. O que não pode é um decisor menor pôr em causa e numa parcela diminuta do território nacional a forma como participa na tomada de decisões.
Esta clara vitória de Defensor Moura não pode deixar de ser a prazo uma clamorosa derrota porque a democracia, com regras tão difíceis de criar, que exige o empenho de todas as pessoas, não pode estar ao dispor deste tipo de gente que a seu belo prazer quer aferir da simpatia que o eleitorado possa nutrir por ele, sem que daí mais alguém tire qualquer ganho visível.
A organização política e administrativa do País não é perfeita, bem longe disso. Mas há quem queira baralhar permanentemente os dados para dar razão àqueles saudosistas de Salazar e aos outros que defendem que, a não haver um ditador, cada qual faça as coisas como bem entende. Em Portugal há esta espécie de gente, tipo ditadores anarquistas, que são feios e falsos moralistas.
A regionalização vai ganhando novos adeptos, mas na prática há cada vez mais gente a sabotar esse processo. Em Portugal em toda a parte falta organização, na escola, nos centros de saúde, nas empresas, na estrutura administrativa. Qualquer tentativa de avanço tem logo sabotadores a todos os níveis e entre os mais responsáveis. Este referendo é uma clara sabotagem.

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