Por pior que ele seja, se conhecêssemos bem o nosso passado e compreendêssemos as suas razões poderíamos estar certos que seríamos capazes de construir um melhor futuro. O simples conhecimento não chega porque aquilo que de passado virá a ter o nosso futuro é desde logo a garantia de que nem tudo serão surpresas, mas não de que estas venham a ser aquilo que nós quereríamos que o futuro fosse.
O problema reside em que o passado que todos temos nem sempre é facilmente compreensível e em vez de projectar luz, projecta sombras sobre o futuro. Muitas vezes aquilo a que chamamos passado, o que está mais presente na nossa memória não é todo o nosso passado e engloba passado que não é nosso. Entretanto nós já descartamos muito passado e deixamos espaço para aquilo que nos agrada mas nunca vivemos.
Primeiro porque nós escondemos de nós mesmos partes do passado mais incómodas ou que julgamos mais incoerentes com o rumo que seria nosso desejo seguir. Depois porque o nosso passado não é coisa morta, está em permanente reformulação e abrimo-lo até a experiências alheias, fazemos o seu alargamento virtual para que afinal tenhamos um passado que se veja. Só que assim é nosso e não é, é mas já não é só nosso.
Nunca tem sucesso garantido o esforço para reintroduzir no nosso passado as tais partes que não gostaríamos de ter vivido. Primeiro porque não gostamos de ser culpados ou que a culpa nos seja atribuída e esse é o primeiro aspecto que nos surge. Depois porque já desistimos de encontrar justificações em nós próprios, nos outros, na natureza, na organização social, no azar, na contingência e torna-se insuportável tanta tentativa para compreender a realidade ao nosso nível.
Discernir claramente no nosso passado aquilo que foi por nós directamente vivido daquilo que o foi por interposta pessoa ou daquilo que só tem existência virtual por mais verosímil que possa ser, também é tarefa que normalmente nos não agrada pelo receio de tornarmos ainda mais graves as nossas lacunas. Depois porque do passado o que mais nos interessa é dele podermos tirar ensinamentos e neste aspecto não temos particular interesse em nos enganarmos a nós próprios.
O passado pode ser o que for que a sua influência na nossa vida sempre se exercerá, mas se assumirmos relações especiais com alguns dos seus aspectos particulares estamos a mantê-los exageradamente na nossa vida presente. Porém há aspectos que são irrepetíveis e temos preconceitos porque achamos que neles havia virtualidades cuja perca nos entristece. Na realidade há coisas que só foram realizáveis nesse passado, nessas condições e que não mais serão possíveis, nem melhor nem pior, qualquer que seja a nossa vontade.
O passado é o que nós vivemos, como o vivemos, mas também aquilo que nós não conseguimos viver, porque não estava ao nosso alcance, porque dele desistimos por não ser compensatório em relação ao esforço necessário para o atingir, porque enveredamos deliberada ou forçosamente por outros caminhos. O mais normal, mas menos sentido faz, é lamentarmo-nos de que não tivemos sorte por não termos conseguido o que ambicionávamos.
O que também não faz qualquer sentido é colocarmos permanentemente em causa as nossas capacidades intrínsecas e as possibilidades de êxito que tínhamos à partida. Mas também não podemos estar sempre a fazer aquele exercício mental de que, já que não obtivemos em dado momento o alcance do objectivo que perseguíamos, podemos convencermo-nos de que prescindimos dele. Por vezes temos mesmo de enfrentar as nossas fraquezas.
É necessário que o passado nos não ensombre o futuro. Mas também que não nos iludamos que, se as coisas nos correram bem, não é garantido que os mesmos argumentos produzam agora os mesmos efeitos. O ideal seria mesmo que nós compreendêssemos o passado, que soubéssemos as forças que então e agora mais interferem no percurso individual das pessoas.
No geral é-nos dito que devemos aprender com quem consegue realizar os seus objectivos mas é evidente que esses são uma minoria, embora a maioria se conforme com o que vai tendo. Normalmente dir-se-á que quando nós aprendemos já chegamos tarde, se não formos rápidos já tudo está explorado, mas o facto é que estamos perante uma nova realidade que nos exige outros conhecimentos.
Nem sempre o melhor estudioso do passado é aquele que o viveu com sucessivos sucessos. O problema é que a maioria de nós se sente derrotado e assume facilmente quem são os culpados. Esta postura leva-nos a bloquearmos as nossas próprias perspectivas de entendimento do que falhou.
Pessoalmente poderia atribuir todas as culpas de não ter realizado muito do que acharia natural ter feito a Salazar. É evidente que a influência de Salazar se fez exercer em cada recanto deste País, mas se ficar só por aqui, se não conseguir perceber como a mensagem musculada de Salazar atravessava tão facilmente todo o éter não chego a entender nada do que se passou.
O problema reside em que o passado que todos temos nem sempre é facilmente compreensível e em vez de projectar luz, projecta sombras sobre o futuro. Muitas vezes aquilo a que chamamos passado, o que está mais presente na nossa memória não é todo o nosso passado e engloba passado que não é nosso. Entretanto nós já descartamos muito passado e deixamos espaço para aquilo que nos agrada mas nunca vivemos.
Primeiro porque nós escondemos de nós mesmos partes do passado mais incómodas ou que julgamos mais incoerentes com o rumo que seria nosso desejo seguir. Depois porque o nosso passado não é coisa morta, está em permanente reformulação e abrimo-lo até a experiências alheias, fazemos o seu alargamento virtual para que afinal tenhamos um passado que se veja. Só que assim é nosso e não é, é mas já não é só nosso.
Nunca tem sucesso garantido o esforço para reintroduzir no nosso passado as tais partes que não gostaríamos de ter vivido. Primeiro porque não gostamos de ser culpados ou que a culpa nos seja atribuída e esse é o primeiro aspecto que nos surge. Depois porque já desistimos de encontrar justificações em nós próprios, nos outros, na natureza, na organização social, no azar, na contingência e torna-se insuportável tanta tentativa para compreender a realidade ao nosso nível.
Discernir claramente no nosso passado aquilo que foi por nós directamente vivido daquilo que o foi por interposta pessoa ou daquilo que só tem existência virtual por mais verosímil que possa ser, também é tarefa que normalmente nos não agrada pelo receio de tornarmos ainda mais graves as nossas lacunas. Depois porque do passado o que mais nos interessa é dele podermos tirar ensinamentos e neste aspecto não temos particular interesse em nos enganarmos a nós próprios.
O passado pode ser o que for que a sua influência na nossa vida sempre se exercerá, mas se assumirmos relações especiais com alguns dos seus aspectos particulares estamos a mantê-los exageradamente na nossa vida presente. Porém há aspectos que são irrepetíveis e temos preconceitos porque achamos que neles havia virtualidades cuja perca nos entristece. Na realidade há coisas que só foram realizáveis nesse passado, nessas condições e que não mais serão possíveis, nem melhor nem pior, qualquer que seja a nossa vontade.
O passado é o que nós vivemos, como o vivemos, mas também aquilo que nós não conseguimos viver, porque não estava ao nosso alcance, porque dele desistimos por não ser compensatório em relação ao esforço necessário para o atingir, porque enveredamos deliberada ou forçosamente por outros caminhos. O mais normal, mas menos sentido faz, é lamentarmo-nos de que não tivemos sorte por não termos conseguido o que ambicionávamos.
O que também não faz qualquer sentido é colocarmos permanentemente em causa as nossas capacidades intrínsecas e as possibilidades de êxito que tínhamos à partida. Mas também não podemos estar sempre a fazer aquele exercício mental de que, já que não obtivemos em dado momento o alcance do objectivo que perseguíamos, podemos convencermo-nos de que prescindimos dele. Por vezes temos mesmo de enfrentar as nossas fraquezas.
É necessário que o passado nos não ensombre o futuro. Mas também que não nos iludamos que, se as coisas nos correram bem, não é garantido que os mesmos argumentos produzam agora os mesmos efeitos. O ideal seria mesmo que nós compreendêssemos o passado, que soubéssemos as forças que então e agora mais interferem no percurso individual das pessoas.
No geral é-nos dito que devemos aprender com quem consegue realizar os seus objectivos mas é evidente que esses são uma minoria, embora a maioria se conforme com o que vai tendo. Normalmente dir-se-á que quando nós aprendemos já chegamos tarde, se não formos rápidos já tudo está explorado, mas o facto é que estamos perante uma nova realidade que nos exige outros conhecimentos.
Nem sempre o melhor estudioso do passado é aquele que o viveu com sucessivos sucessos. O problema é que a maioria de nós se sente derrotado e assume facilmente quem são os culpados. Esta postura leva-nos a bloquearmos as nossas próprias perspectivas de entendimento do que falhou.
Pessoalmente poderia atribuir todas as culpas de não ter realizado muito do que acharia natural ter feito a Salazar. É evidente que a influência de Salazar se fez exercer em cada recanto deste País, mas se ficar só por aqui, se não conseguir perceber como a mensagem musculada de Salazar atravessava tão facilmente todo o éter não chego a entender nada do que se passou.
O acabrunhamento, a apatia que se apoderaram de toda uma sociedade, que influenciavam todos, que faziam que quase se não distinguisse entre os poderosos e os outros, os remediados e os efectivamente pobres, os que tinham algo de seu e aqueles que não sabiam se no dia seguinte teriam algo para comer, também impregnaram o meu ser, por mais valente que pudesse ser, até porque a dificuldade maior estava mesmo em identificar o nosso inimigo.
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