A ligação da maioria de nós ao mundo dos negócios só se faz enquanto elementos estáticos de uma qualquer força produtiva e principalmente como consumidores, que haveremos que existam dois de nós e necessitemos de repartir recursos. Se porém já precisarmos de trocar bens, esforços, quiçá estímulos e recompensas estamos fazendo negócio.
Poder-se-á dizer ainda que, mesmo condescendendo em considerar negócio certos actos que não estamos habituados a ver como tal, ainda haveríamos de aceitar a diferença que se estabelece entre um acto formal de negócio e um acto de todo informal. Aceitar-se-á que assim se possam ver as coisas e mesmo que se reconheça que muitos de nós só entramos na economia mercantilista há poucos séculos e alguns só há décadas. Em certas zonas do terceiro mundo ainda lá não chegaram.
A própria noção da venda da força de trabalho, não se aplicava a muitos de nós, quando se é incapaz de lhe definir um preço. O trabalho escravo e mesmo o trabalho servil não se integram no domínio da economia mercantil embora, como é evidente, contribuem, e de que maneira, para ela. Também a economia de subsistência, em que muitos de nós estivemos integrados até há bem pouco tempo, não faz parte dessa economia mercantil, não necessita do negócio.
De qualquer modo não é por se praticarem alguns actos de negócio, qualquer que seja a acepção que adoptemos, que se vive no mundo dos negócios, como erradamente se espalhou. Muito de nós sempre fizemos e vamos continuar a fazer actos de que não medimos o valor económico, embora seja evidente que eles o têm. Mas se nós pensássemos só nisso estávamos muitas vezes quietos. A vida não se reduz à economia e muitos menos ao mundo dos negócios.
Criou-se uma estranha noção de que todos podemos e devemos fazer negócio, obter lucros em relação não se sabe bem a quê, medir bem aquilo que fazemos de modo a valorizá-lo devidamente. O mundo dos negócios tornou-se absorvente, quem dele não souber falar é hoje apelidado de ignorante, desconhecedor de um aspecto da realidade que tudo condiciona. Mesmo que a relação com ele seja esporádica e superficial. A atenção tornou-se obsessiva.
Puseram-nos a viver as dificuldades que se colocam no mundo dos negócios. Identificamo-nos, não sabemos bem porquê, com todos os que sofrem entraves na sua acção, venham eles do governo, do estrangeiro, seja de quem for. Sofremos as dores dos outros. De súbito estamos a condenar todos por nos não facilitarem o acesso a todos os bens de consumo, a todos os prazeres da vida, a todas as facilidades imaginárias e outras que já lá vêm.
Sempre nos pareceu positivo que o homem se não deixasse explorar e, perante a sofreguidão de muitos dos outros, tivesse uma percepção económica do mundo, um conhecimento dos mecanismos que levam à acumulação do capital e, mesmo que considerasse isso inevitável, pudesse contribuir com a sua força política para que o Estado moderasse os exageros que se cometem. O perigo é que a atracção que o mundo capitalista exerce se possa tornar definitiva.
Por isso muitas pessoas, e entre elas uma dada classe de intelectuais, fustiga quanto pode, invectiva essa “malvado” mundo como a fonte de todos os males e a razão das nossas desgraças. Na verdade, se analisarmos o passado, verificamos que o negócio, fosse estatal ou privado, não beneficiou toda a população que seria pressuposto atingir. Portugal é o mais claro exemplo dum aproveitamento perfeitamente sectorial dos benefícios do mercantilismo.
Negócios das descobertas, do ouro, dos escravos, do açúcar, todo o negócio colonial serviu sempre para engrossar os haveres das mesmas famílias e pouco mais. Gastava-se em Lisboa, fazia-se um solar na aldeia para passar o mês de Setembro. O povo continuava a vegetar. Ainda é esta imagem que perdura e com razão. Mas é claro que uma imagem não deve ser suficiente para reduzirmos a ela o nosso pensamento. Antes deve ser a razão para que tentemos mudar as coisas, o que se pode fazer quando houver forças políticas menos imediatistas.
A ilusão com o capitalismo popular derivou da generalização do sucesso de alguns empresários, gestores, negociantes e artistas que beneficiaram do fim do condicionamento que o antigo regime impôs às actividades económicas, das oportunidades fáceis que então surgiram. Enquanto o Estado andava preocupado com as grandes empresas e os antigos proprietários em as reaver, criou-se um largo espaço que permitiu a inovação e a reconversão.
Hoje o tempo é outro, há maior exigência, necessidade de ideias cada vez mais alicerçadas na realidade, de mais financiamento em capital, de mais risco na obtenção de mercado para produtos inovadores, até porque dos tradicionais existe há muito uma saturação do mercado. Não que nós produzamos tudo, mas porque é demasiado fácil conseguir esses produtos nos mercados externos.
Desiludamo-nos quanto há repetição do nosso passado de mercadores. O mundo de hoje é muito mais complexo que o velho mundo dos negócios em que a esperteza de alguns chegava para que todos tivessem a ilusão de serem ricos. Mesmo que aceitemos que tudo tem um preço é melhor não nos sobrevalorizarmos. Será necessário um grande esforço, e intelectual, que não estamos habituados a fazer, para vencer os desafios do futuro.
Poder-se-á dizer ainda que, mesmo condescendendo em considerar negócio certos actos que não estamos habituados a ver como tal, ainda haveríamos de aceitar a diferença que se estabelece entre um acto formal de negócio e um acto de todo informal. Aceitar-se-á que assim se possam ver as coisas e mesmo que se reconheça que muitos de nós só entramos na economia mercantilista há poucos séculos e alguns só há décadas. Em certas zonas do terceiro mundo ainda lá não chegaram.
A própria noção da venda da força de trabalho, não se aplicava a muitos de nós, quando se é incapaz de lhe definir um preço. O trabalho escravo e mesmo o trabalho servil não se integram no domínio da economia mercantil embora, como é evidente, contribuem, e de que maneira, para ela. Também a economia de subsistência, em que muitos de nós estivemos integrados até há bem pouco tempo, não faz parte dessa economia mercantil, não necessita do negócio.
De qualquer modo não é por se praticarem alguns actos de negócio, qualquer que seja a acepção que adoptemos, que se vive no mundo dos negócios, como erradamente se espalhou. Muito de nós sempre fizemos e vamos continuar a fazer actos de que não medimos o valor económico, embora seja evidente que eles o têm. Mas se nós pensássemos só nisso estávamos muitas vezes quietos. A vida não se reduz à economia e muitos menos ao mundo dos negócios.
Criou-se uma estranha noção de que todos podemos e devemos fazer negócio, obter lucros em relação não se sabe bem a quê, medir bem aquilo que fazemos de modo a valorizá-lo devidamente. O mundo dos negócios tornou-se absorvente, quem dele não souber falar é hoje apelidado de ignorante, desconhecedor de um aspecto da realidade que tudo condiciona. Mesmo que a relação com ele seja esporádica e superficial. A atenção tornou-se obsessiva.
Puseram-nos a viver as dificuldades que se colocam no mundo dos negócios. Identificamo-nos, não sabemos bem porquê, com todos os que sofrem entraves na sua acção, venham eles do governo, do estrangeiro, seja de quem for. Sofremos as dores dos outros. De súbito estamos a condenar todos por nos não facilitarem o acesso a todos os bens de consumo, a todos os prazeres da vida, a todas as facilidades imaginárias e outras que já lá vêm.
Sempre nos pareceu positivo que o homem se não deixasse explorar e, perante a sofreguidão de muitos dos outros, tivesse uma percepção económica do mundo, um conhecimento dos mecanismos que levam à acumulação do capital e, mesmo que considerasse isso inevitável, pudesse contribuir com a sua força política para que o Estado moderasse os exageros que se cometem. O perigo é que a atracção que o mundo capitalista exerce se possa tornar definitiva.
Por isso muitas pessoas, e entre elas uma dada classe de intelectuais, fustiga quanto pode, invectiva essa “malvado” mundo como a fonte de todos os males e a razão das nossas desgraças. Na verdade, se analisarmos o passado, verificamos que o negócio, fosse estatal ou privado, não beneficiou toda a população que seria pressuposto atingir. Portugal é o mais claro exemplo dum aproveitamento perfeitamente sectorial dos benefícios do mercantilismo.
Negócios das descobertas, do ouro, dos escravos, do açúcar, todo o negócio colonial serviu sempre para engrossar os haveres das mesmas famílias e pouco mais. Gastava-se em Lisboa, fazia-se um solar na aldeia para passar o mês de Setembro. O povo continuava a vegetar. Ainda é esta imagem que perdura e com razão. Mas é claro que uma imagem não deve ser suficiente para reduzirmos a ela o nosso pensamento. Antes deve ser a razão para que tentemos mudar as coisas, o que se pode fazer quando houver forças políticas menos imediatistas.
A ilusão com o capitalismo popular derivou da generalização do sucesso de alguns empresários, gestores, negociantes e artistas que beneficiaram do fim do condicionamento que o antigo regime impôs às actividades económicas, das oportunidades fáceis que então surgiram. Enquanto o Estado andava preocupado com as grandes empresas e os antigos proprietários em as reaver, criou-se um largo espaço que permitiu a inovação e a reconversão.
Hoje o tempo é outro, há maior exigência, necessidade de ideias cada vez mais alicerçadas na realidade, de mais financiamento em capital, de mais risco na obtenção de mercado para produtos inovadores, até porque dos tradicionais existe há muito uma saturação do mercado. Não que nós produzamos tudo, mas porque é demasiado fácil conseguir esses produtos nos mercados externos.
Desiludamo-nos quanto há repetição do nosso passado de mercadores. O mundo de hoje é muito mais complexo que o velho mundo dos negócios em que a esperteza de alguns chegava para que todos tivessem a ilusão de serem ricos. Mesmo que aceitemos que tudo tem um preço é melhor não nos sobrevalorizarmos. Será necessário um grande esforço, e intelectual, que não estamos habituados a fazer, para vencer os desafios do futuro.
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