quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Crónica Política - Porque morreu um rapaz no Rio Lima que deveria estar na escola?

A nossa adesão quase simultânea à democracia e simultânea à Comunidade Europeia levou a pensar que poderíamos, Portugal e Espanha, seguir enfim um trilho comum. A realidade veio mostrar que não é assim tão fácil colocarmo-nos nos mesmos carris. Os nossos ritmos são diferentes.
Quando aderimos à Comunidade já nos encontrávamos em patamares de desenvolvimento diferente. Tendo sido as ajudas recebidas pelos dois países semelhantes, é natural que a diferença se mantivesse. Mas na realidade os espanhóis terão aproveitado melhor essas ajudas e dado um arranque significativo à sua economia, que nós, em especial nas zonas fronteiriças, não demos.
Quanto mais se desenvolvessem as zonas fronteiriças mais se atenuaria um efeito desertificador que a sua existência durante séculos criou. Não é este o caso do Vale do Minho que neste aspecto se diferencia do resto do País. Aqui estava o cordão umbilical por onde a Galiza e o Condado Portucalense se separaram. Em nenhuma outra zona do País há uma tão longa e tão apertada proximidade entre os dois países e aí está um factor a aproveitar.
Se esta região se não desertificou a verdade é que os dois lados da fronteira se desenvolveram de costas voltados um para o outro. Este facto tornou durante anos vantajoso o contrabando, única forma efectiva de contacto entre as economias dos dois lados da fronteira. Com a queda desta eram necessário reconverter esses laços antigos e colaborar no desenvolvimento económico.
A Comunidade Intermunicipal do Vale do Minho tem feito tudo o que pode para suavizar as diferenças. Para isso fez do Rio Minho um eixo dinamizador do desenvolvimento. Alguma dessa colaboração transfronteiriça tem chegado ao Vale do Lima, mas era necessário fazer mais por uma aproximação que, aliás, tem tudo para ser vista como natural. Um dos factores que tem contribuído para este atraso passa pela nossa falta de dimensão.
O Eixo Atlântico, como associação das cidades de maior dimensão do noroeste ibérico compreendeu que esta colaboração tem que ser feita a um nível mais vasto. Mas o certo é que a sua acção não tem tido o resultado que se esperava. Os nossos interesses podem ser beneficiados com esta associação, mas muitos deles não passam por aí.
Por exemplo o TGV poderá vir a ser vantajoso para o Porto e para Vigo mas para Ponte de Lima pode vir a ser prejudicial. Quando se trata de avaliar as vantagens e desvantagens dum empreendimento deste tipo também nós deveríamos ser tidos em consideração. Mas não, passam-nos por cima, seremos um dia confrontados com ele, esperamos que ao menos o TGV nos passe por baixo. Porque em túneis seria a solução mais adequada, que correntes de ar já cá as temos que cheguem.
A ligação que nos interessa à Galiza e à restante Espanha, dos que cá estamos neste reduto transfronteiriço, tem que ser mais terra a terra, há infra-estruturas que não são para a nossa dimensão. Seria bom que os nossos economistas, os nossos planeadores, os nossos prospectores do futuro fossem capazes de trabalhar a vários níveis, o desenvolvimento não se faz só com grandes projectos. Já vem sendo natural que os pequenos passos tenham maior sucesso que estes grandes gestos.
Se há sectores que beneficiam com a centralização, a concentração, outros há que só perdem por esse efeito. Não podemos ser megalómanos, antes temos que desenvolver as estruturas, as produções, os serviços à nossa dimensão, sem descurar embora as oportunidades que o mercado global nos possa dar. Mas também para isso é preciso estar preparado e a qualificação séria não está a passar por aqui. Porque morreu um rapaz no Rio Lima que deveria estar na escola?

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