Não temos muitas razões para supor que os outros raciocinem de modo muito diverso do nosso, no que se refere a interesses económicos e políticos. No geral vamos formulando uma série de expectativas que nós gostaríamos de ver concretizados com diferente grau de exigência. Além de já nascerem nesses diferentes graus, as expectativas também se transformam, sendo que o normal é que aumente o grau da sua exigência.
As nossas expectativas são influenciadas pela sociedade, pelos amigos, pelos vizinhos, pelos cúmplices, e a natureza de muitas pessoas leva-as mesmo a pensar que qualquer afrouxamento das suas expectativas é uma derrota que há que evitar a todos o custo, pelas implicações que presumivelmente têm na sua imagem, na sua vida.
Tudo o que contraria o percurso normal e linear de criação e realização das expectativas que o indivíduo no seu isolamento ou na sua exuberância vai encrostando em si próprio é visto como um sério obstáculo à nossa realização. Aquilo que é, aos nossos olhos, uma expectativa simples pode na realidade ter-se tornado uma lacuna grave na nossa vida.
No mar agitado em que as nossas expectativas se podem tornar, aquilo que nós conseguimos, aquilo que somos, aquilo que temos é perfeitamente relativo em relação ao carácter absoluto, urgente delas próprias. O normal será que quem mais tem mais quer, que o que se quer seja proporcional àquilo que já se obteve, mas só cada um sabe a importância que dá às lacunas que detecta na sua vida. Se ela se transformou numa expectativa, ela é absolutamente importante.
Nem todas as pessoas são transparentes, no sentido de transmitirem o desenrolar normal das suas expectativas, por uma questão de preservação da imagem e mesmo de auto-controlo. Haverá porém muitos que, antevendo o falhanço de uma expectativa, a não abandonam, por a acharem importante, mas estão totalmente preparados para que ela, se não realizada, se não torne numa frustração, isto é, não continue a pesar na sua vida.
Nada nos permite supor que haja seres que se consigam libertar das suas e das expectativas que os outros criam a seu respeito e ultrapassem de modo completo esta lógica quase determinista. Em especial que se não deixem arrastar pelas expectativas mais “materialistas” e que não se sintam frustrados perante si e perante os outros. Pior que não ter expectativas é ter expectativas exageradas.
Sendo certo que muitos não o conseguem fazer, há uma certa classe de políticos que se querem mostrar desligados de objectivos “mesquinhos”. Na realidade, pretendendo-se intérpretes da vontade colectiva, os políticos têm de entender toda a espécie de expectativas que detectam na população em geral. Fazer a mediana, definir os objectivos gerais a atingir, conciliar os dois é o trabalho propriamente político.
Aquilo que os que não são, não querem ou não têm condições para ser políticos têm que perceber é que não se pode exigir que os políticos se auto-limitem a ocupar a tal mediana quando a interesses e expectativas a ter. Os políticos podem ser em termos pessoais mais ambiciosos do que o são em termos de interesses colectivos mas aqueles que o quiserem ser devem declará-lo.
O que tem que estar claro é que os políticos não beneficiem, enquanto no exercício da sua actividade, da sua própria acção política e não garantam o seu futuro através da sua preparação com a influência de que no presente usufruem. Isto tem que ser considerado um princípio geral embora a população desculpabilize alguns de cuja acção terão beneficiado, embora o não respeitem.
Não se pode ser exigente em relação a todos e permissivo em relação a alguns. É necessário ser exigente em relação a tudo o que seja exigível e permissivo em relação a tudo o que não afecte o resultado colectivo. O político não pode ser particularmente prejudicado em relação àqueles que exercem actividades privadas. Mas também não tem que ser particularmente beneficiado por possíveis restrições em relação às suas ambições pessoais.
Convivemos mal com o sucesso dos políticos porque eles têm a visibilidade que outros mais bem sucedidos não têm. Acima de tudo porque eles crescem mais do que a média de nós todos. Mas numa sociedade não igualitária seria anormal isto não acontecer. Hoje é impossível que para gerir a sociedade estejamos à espera daqueles que o poderiam fazer por gosto e sem grande custo.
Hoje sujeitamos em demasia a nossa vida pessoal em relação à vida social. Somos mais exuberantes, mais exigentes, mais imitativos, menos tolerantes. Com as novas aberturas ao social, se não formos nós a acrescentar, são os outros que nos vão apontando lacunas, que nós inconscientemente vamos aceitando na nossa vida, que nos vão amargurando, que a vão tornando negra.
Devemos ter a modéstia de pôr a questão de eventualmente termos errado, de que em vez de os outros, os políticos em particular, constituírem um obstáculo à realização das nossas expectativas, fomos nós que enveredamos pela sua formulação exagerada e agora, perante os amigos, a sociedade, nos vemos mal a ter que as rever e reformular.
Tal como os políticos não devemos ceder à demagogia. O trabalho deles não é fácil mas também nós temos agora a nossa parte. Antigamente agíamos em função da fé. Hoje temos de agir em função da maneira como nos relacionamos com a mediana social, com os objectivos que o poder institui, quer concordemos com ele ou não. Temos de definir objectivos pessoais para, no final, termos dados sobre quem terá falhado, ou quem terá contribuído para o seu sucesso.
As nossas expectativas são influenciadas pela sociedade, pelos amigos, pelos vizinhos, pelos cúmplices, e a natureza de muitas pessoas leva-as mesmo a pensar que qualquer afrouxamento das suas expectativas é uma derrota que há que evitar a todos o custo, pelas implicações que presumivelmente têm na sua imagem, na sua vida.
Tudo o que contraria o percurso normal e linear de criação e realização das expectativas que o indivíduo no seu isolamento ou na sua exuberância vai encrostando em si próprio é visto como um sério obstáculo à nossa realização. Aquilo que é, aos nossos olhos, uma expectativa simples pode na realidade ter-se tornado uma lacuna grave na nossa vida.
No mar agitado em que as nossas expectativas se podem tornar, aquilo que nós conseguimos, aquilo que somos, aquilo que temos é perfeitamente relativo em relação ao carácter absoluto, urgente delas próprias. O normal será que quem mais tem mais quer, que o que se quer seja proporcional àquilo que já se obteve, mas só cada um sabe a importância que dá às lacunas que detecta na sua vida. Se ela se transformou numa expectativa, ela é absolutamente importante.
Nem todas as pessoas são transparentes, no sentido de transmitirem o desenrolar normal das suas expectativas, por uma questão de preservação da imagem e mesmo de auto-controlo. Haverá porém muitos que, antevendo o falhanço de uma expectativa, a não abandonam, por a acharem importante, mas estão totalmente preparados para que ela, se não realizada, se não torne numa frustração, isto é, não continue a pesar na sua vida.
Nada nos permite supor que haja seres que se consigam libertar das suas e das expectativas que os outros criam a seu respeito e ultrapassem de modo completo esta lógica quase determinista. Em especial que se não deixem arrastar pelas expectativas mais “materialistas” e que não se sintam frustrados perante si e perante os outros. Pior que não ter expectativas é ter expectativas exageradas.
Sendo certo que muitos não o conseguem fazer, há uma certa classe de políticos que se querem mostrar desligados de objectivos “mesquinhos”. Na realidade, pretendendo-se intérpretes da vontade colectiva, os políticos têm de entender toda a espécie de expectativas que detectam na população em geral. Fazer a mediana, definir os objectivos gerais a atingir, conciliar os dois é o trabalho propriamente político.
Aquilo que os que não são, não querem ou não têm condições para ser políticos têm que perceber é que não se pode exigir que os políticos se auto-limitem a ocupar a tal mediana quando a interesses e expectativas a ter. Os políticos podem ser em termos pessoais mais ambiciosos do que o são em termos de interesses colectivos mas aqueles que o quiserem ser devem declará-lo.
O que tem que estar claro é que os políticos não beneficiem, enquanto no exercício da sua actividade, da sua própria acção política e não garantam o seu futuro através da sua preparação com a influência de que no presente usufruem. Isto tem que ser considerado um princípio geral embora a população desculpabilize alguns de cuja acção terão beneficiado, embora o não respeitem.
Não se pode ser exigente em relação a todos e permissivo em relação a alguns. É necessário ser exigente em relação a tudo o que seja exigível e permissivo em relação a tudo o que não afecte o resultado colectivo. O político não pode ser particularmente prejudicado em relação àqueles que exercem actividades privadas. Mas também não tem que ser particularmente beneficiado por possíveis restrições em relação às suas ambições pessoais.
Convivemos mal com o sucesso dos políticos porque eles têm a visibilidade que outros mais bem sucedidos não têm. Acima de tudo porque eles crescem mais do que a média de nós todos. Mas numa sociedade não igualitária seria anormal isto não acontecer. Hoje é impossível que para gerir a sociedade estejamos à espera daqueles que o poderiam fazer por gosto e sem grande custo.
Hoje sujeitamos em demasia a nossa vida pessoal em relação à vida social. Somos mais exuberantes, mais exigentes, mais imitativos, menos tolerantes. Com as novas aberturas ao social, se não formos nós a acrescentar, são os outros que nos vão apontando lacunas, que nós inconscientemente vamos aceitando na nossa vida, que nos vão amargurando, que a vão tornando negra.
Devemos ter a modéstia de pôr a questão de eventualmente termos errado, de que em vez de os outros, os políticos em particular, constituírem um obstáculo à realização das nossas expectativas, fomos nós que enveredamos pela sua formulação exagerada e agora, perante os amigos, a sociedade, nos vemos mal a ter que as rever e reformular.
Tal como os políticos não devemos ceder à demagogia. O trabalho deles não é fácil mas também nós temos agora a nossa parte. Antigamente agíamos em função da fé. Hoje temos de agir em função da maneira como nos relacionamos com a mediana social, com os objectivos que o poder institui, quer concordemos com ele ou não. Temos de definir objectivos pessoais para, no final, termos dados sobre quem terá falhado, ou quem terá contribuído para o seu sucesso.
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