São já várias as pessoas que chamaram a atenção para o pântano ou lodaçal em que a política se transformou. É verdade que o fizeram só em determinadas ocasiões em que perderam qualquer hipótese de a controlar. Quando ainda pensavam ter algum domínio, pensavam como aqueles que nela estão imersos, eventualmente nunca terão reparado nisso.
O carácter depreciativo que a expressão possa ter não parece porém ser por eles levado a sério. Quase todos voltam a ocupar cargos políticos em qualquer instituição que se mostre a jeito. Talvez tenham encontrado um ambiente em que se movimentam melhor, mais livre de escolhos. Presume-se que as suas razões sejam só de índole pessoal. Espernegando-se e espenicando-se um bocado já ficam bons.
Há pessoas que estão habituadas a vencer sempre e quando lhes acontecem certos percalços disparam em todas as direcções, atribuindo culpas à má vontade de todos os outros. Todos os ressentimentos vêm ao de cima. Não é ingloriamente que acumulam todos os pormenores que lhes possam servir de argumento, que pretensamente provam que todos os outros estão irremediavelmente enlameados.
Não se trata normalmente de uma questão de seriedade. Todas as pessoas combativas memorizam a mais vasta quantidade de informação que podem. Em primeiro lugar para aprenderem e não voltarem a acumular os mesmos erros. Depois para terem uma memória que as reconforte e as armas suficientes para se defenderem dos seus inimigos. Porque essas pessoas têm inimigos, como todos temos, mas procuram antecipá-los e identificá-los com mais precisão do que o comum dos mortais.
Estas pessoas nunca cedem perante os inimigos, mas perante as adversidades. Umas cedem mais depressa do que outras e nem sempre nós nos conseguimos aperceber do cansaço que delas se apodera. À capacidade própria junta-se o nível de adversidade para determinar quando as forças se esgotam, o espírito se satura e perante a sua própria impotência não há outra saída senão abandonar a luta.
Mas também há aqueles que nunca cedem. São os ditadores, que o não são só por terem a força do seu lado. São-no porque a sua estrutura mental já os predispõe para isso. Não há cansaço que os sature, não há adversidade que os demova e infelizmente não há injustiça que os perturbe. Dificilmente aceitam ter cometido erros, não acumulam ressentimentos porque tentam livrar-se logo deles vingando-se dos seus inimigos.
A diferença entre aqueles que dão tudo para vencer mas não entram pelo caminho do desrespeito pelas regras democráticas e aqueles que se perdem por caminhos ínvios está também na capacidade que estes revelam para fazer pagar os outros pelos ressentimentos que lhes provocam sem os acumular e sem acumular eventuais sentimentos de culpa.
As diferentes maneiras de enfrentar as adversidades caracterizam as diferentes perspectivas políticas. Uma coisa é a perseverança, a vontade de persistir em ultrapassar essas adversidades, mas utilizando métodos democráticos. Outra coisa é a obstinação, a vontade de derrotar as adversidades, de passar a falar delas como passado.
O obstinado pode viver em regime democrático, adaptar-se embora de modo constrangido, aos seus regulamentos, ambicionar mais ou menos por uma ditadura. Não quer dizer que o obstinado só refreie os seus ímpetos por não haver condições objectivas e subjectivas para instituir uma ditadura, pode atender a valores democráticos, mas com o andar do tempo cada vez veremos mais gente obstinada na política de que é lícito desconfiar.
O ditador já está mais à vontade. Mesmo que os problemas cresçam geometricamente e mingue o tempo para lhes encontrar soluções nunca se dá por culpado. O ditador convence-se que soube interpretar os interesses dos seus conterrâneos e assumindo-os não permite que alguém ponha em causa a sua capacidade para os gerir. O aspecto pessoal das questões não afecta a sua disponibilidade que transforma em imposição.
Enquanto os ditadores não permitem a procura doutras soluções, os democratas, demitindo-se em condições de cansaço, porque caíram no pântano ou no lodaçal, correm o risco de que as suas atitudes, que resolvem problemas pessoais, não resolvam, antes compliquem, a procura de soluções políticas apropriadas.
O carácter depreciativo que a expressão possa ter não parece porém ser por eles levado a sério. Quase todos voltam a ocupar cargos políticos em qualquer instituição que se mostre a jeito. Talvez tenham encontrado um ambiente em que se movimentam melhor, mais livre de escolhos. Presume-se que as suas razões sejam só de índole pessoal. Espernegando-se e espenicando-se um bocado já ficam bons.
Há pessoas que estão habituadas a vencer sempre e quando lhes acontecem certos percalços disparam em todas as direcções, atribuindo culpas à má vontade de todos os outros. Todos os ressentimentos vêm ao de cima. Não é ingloriamente que acumulam todos os pormenores que lhes possam servir de argumento, que pretensamente provam que todos os outros estão irremediavelmente enlameados.
Não se trata normalmente de uma questão de seriedade. Todas as pessoas combativas memorizam a mais vasta quantidade de informação que podem. Em primeiro lugar para aprenderem e não voltarem a acumular os mesmos erros. Depois para terem uma memória que as reconforte e as armas suficientes para se defenderem dos seus inimigos. Porque essas pessoas têm inimigos, como todos temos, mas procuram antecipá-los e identificá-los com mais precisão do que o comum dos mortais.
Estas pessoas nunca cedem perante os inimigos, mas perante as adversidades. Umas cedem mais depressa do que outras e nem sempre nós nos conseguimos aperceber do cansaço que delas se apodera. À capacidade própria junta-se o nível de adversidade para determinar quando as forças se esgotam, o espírito se satura e perante a sua própria impotência não há outra saída senão abandonar a luta.
Mas também há aqueles que nunca cedem. São os ditadores, que o não são só por terem a força do seu lado. São-no porque a sua estrutura mental já os predispõe para isso. Não há cansaço que os sature, não há adversidade que os demova e infelizmente não há injustiça que os perturbe. Dificilmente aceitam ter cometido erros, não acumulam ressentimentos porque tentam livrar-se logo deles vingando-se dos seus inimigos.
A diferença entre aqueles que dão tudo para vencer mas não entram pelo caminho do desrespeito pelas regras democráticas e aqueles que se perdem por caminhos ínvios está também na capacidade que estes revelam para fazer pagar os outros pelos ressentimentos que lhes provocam sem os acumular e sem acumular eventuais sentimentos de culpa.
As diferentes maneiras de enfrentar as adversidades caracterizam as diferentes perspectivas políticas. Uma coisa é a perseverança, a vontade de persistir em ultrapassar essas adversidades, mas utilizando métodos democráticos. Outra coisa é a obstinação, a vontade de derrotar as adversidades, de passar a falar delas como passado.
O obstinado pode viver em regime democrático, adaptar-se embora de modo constrangido, aos seus regulamentos, ambicionar mais ou menos por uma ditadura. Não quer dizer que o obstinado só refreie os seus ímpetos por não haver condições objectivas e subjectivas para instituir uma ditadura, pode atender a valores democráticos, mas com o andar do tempo cada vez veremos mais gente obstinada na política de que é lícito desconfiar.
O ditador já está mais à vontade. Mesmo que os problemas cresçam geometricamente e mingue o tempo para lhes encontrar soluções nunca se dá por culpado. O ditador convence-se que soube interpretar os interesses dos seus conterrâneos e assumindo-os não permite que alguém ponha em causa a sua capacidade para os gerir. O aspecto pessoal das questões não afecta a sua disponibilidade que transforma em imposição.
Enquanto os ditadores não permitem a procura doutras soluções, os democratas, demitindo-se em condições de cansaço, porque caíram no pântano ou no lodaçal, correm o risco de que as suas atitudes, que resolvem problemas pessoais, não resolvam, antes compliquem, a procura de soluções políticas apropriadas.
Os políticos têm sempre voz para falar, para encontrar culpados para os seus falhanços, mas aqueles que são afectados pelos seus actos, que muitas vezes são vítimas efectivas e indefesas, não têm qualquer voz e não se podem furtar aos seus efeitos. Era bom que Cavaco Silva e António Guterres nos explicassem onde está o pântano ou lodaçal político que, em tempos, lhes fez abandonar a política.
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