Muitos lutaram antes do 25 de Abril para que o regime vigente à altura sucumbisse. A contribuição de cada um para essa revolução nunca foi demasiado relevante, as próprias organizações permanentes da oposição nunca adquiriram dimensão significativa. Também não foi um povo inteiro que se levantou.
A conjugação de factores que determinaram aquela ocorrência não surgiu por acaso, mas os factores imediatos são doutra natureza e são tanto de ordem interna como externa. São o isolamento internacional, as necessidades económicas, são o inimigo principal de Salazar, mas que ele nunca conseguiu identificar com precisão. São, como ele dizia, “os ventos da história”.
Os protagonistas, aqueles que quiseram evitar o suicídio, porque neles o medo suplantou a vergonha, foram os militares, porta-bandeiras de uma causa de que pouco mais conhecimento tinham que o comum dos cidadãos: Umas breves leituras em momentos de desalento, uns contactos com outros militares.
A falta de preparação dos militares para a democracia, a sua incapacidade de separar as suas obrigações como militares e cidadãos, o facto de os valores democráticos não terem o enraizamento necessário na sociedade em geral, levou à tomada de atitudes precipitadas e à colagem dos militares às forças sociais e políticas que foram apresentando maior dinamismo.
Em alguns aspectos salvou-se o resultado, noutros nem por isso. Podemos dizer que os povos das colónias quiseram ser livres, tiveram a liberdade, mas não assumimos a responsabilidade de uma descolonização menos sofrida, que comportasse menos dramas tanto aos “circunstanciais” colonizadores como aos “não preparados” colonizados.
A maior vergonha neste aspecto resultou do abandono daqueles que tinham sido o suporte local da administração e do exército coloniais, porque, ao contrário dos outros, o seu destino era previsível: A morte.
Internamente, embora que por processos tortuosos, chegou-se a uma situação em que as feridas deles resultantes sararam. Acabou-se com o sistema de monopólios, liberalizou-se a actividade económica, alargaram-se a segurança social e as possibilidades de acesso aos patamares mais altos do ensino e às diferentes profissões.
O que se cumpriu, porque comporta em si a Liberdade, porque passou ao lado de um processo ditatorial, sem sentido, mas hasteado como bandeira por alguns, é de tal maneira importante para configurar o nosso futuro que aquilo que muitos dizem faltar cumprir não lhe é comparável.
Porque tudo se tem que fazer com as pessoas que somos, com o País que somos, no sítio em que estamos, todas as culpas por não estarmos numa melhor situação nos têm de ser endereçadas a todos nós em conjunto, sabendo nós que não temos o dom da omnipotência e da ubiquidade.
Quem fez o 25 de Abril poderia tê-lo feito com objectivos diferentes, nunca tão vastos como aqueles que se propalaram, nunca tão míseros como aqueles a que alguns os quiseram reduzir. Mas restituída a soberania ao povo, a este cabe decidir, é o povo que mais ordena.
Só existe democracia quando o povo não renuncia ao seu poder soberano, antes o delega periodicamente em quem o possa exercer em seu nome no dia a dia. Este estado maduro, no qual o povo está seguro que delega o poder mas não renuncia à democracia já o teríamos atingido há anos, creio.
Mas é sempre bom relembrar no que consiste o essencial da democracia, para que as franjas marginais se não tentem a capturar em seu proveito e capricho o poder que ela faculta, mas que deve, tão só, assegurar o bem e a liberdade de todos.
O 25 de Abril foi o despoletar das energias populares que levaram o País a viver esta imensa Liberdade de nos podermos expressar. Cabe-nos a nós não ter vergonha do passado e aprofundar a democracia, desenvolver e melhorar a sociedade para que a herança a transferir seja de valor superior.
Se não havia uma mensagem precisa, detalhada, como os mais fracos estariam à espera, se a mensagem foi sendo usurpada por uns e por outros e deturpada em conformidade com a ideologia de cada um, se só a experiência nos foi avisando dos muitos perigos que qualquer sistema comporta, fomos nós que ficamos a ganhar.
Também a experiência nos vai ensinando que ela mesma, permanecendo como tal, vai sendo esquecida e perdendo os seus efeitos positivos. Há que tornar a experiência em sabedoria e esse é o nosso maior desafio. Qualquer dia, se nos deixarmos andar nesta quietude intelectual, o 25 de Abril tem o mesmo significado popular do 1 de Dezembro ou do 5 de Outubro.
A conjugação de factores que determinaram aquela ocorrência não surgiu por acaso, mas os factores imediatos são doutra natureza e são tanto de ordem interna como externa. São o isolamento internacional, as necessidades económicas, são o inimigo principal de Salazar, mas que ele nunca conseguiu identificar com precisão. São, como ele dizia, “os ventos da história”.
Os protagonistas, aqueles que quiseram evitar o suicídio, porque neles o medo suplantou a vergonha, foram os militares, porta-bandeiras de uma causa de que pouco mais conhecimento tinham que o comum dos cidadãos: Umas breves leituras em momentos de desalento, uns contactos com outros militares.
A falta de preparação dos militares para a democracia, a sua incapacidade de separar as suas obrigações como militares e cidadãos, o facto de os valores democráticos não terem o enraizamento necessário na sociedade em geral, levou à tomada de atitudes precipitadas e à colagem dos militares às forças sociais e políticas que foram apresentando maior dinamismo.
Em alguns aspectos salvou-se o resultado, noutros nem por isso. Podemos dizer que os povos das colónias quiseram ser livres, tiveram a liberdade, mas não assumimos a responsabilidade de uma descolonização menos sofrida, que comportasse menos dramas tanto aos “circunstanciais” colonizadores como aos “não preparados” colonizados.
A maior vergonha neste aspecto resultou do abandono daqueles que tinham sido o suporte local da administração e do exército coloniais, porque, ao contrário dos outros, o seu destino era previsível: A morte.
Internamente, embora que por processos tortuosos, chegou-se a uma situação em que as feridas deles resultantes sararam. Acabou-se com o sistema de monopólios, liberalizou-se a actividade económica, alargaram-se a segurança social e as possibilidades de acesso aos patamares mais altos do ensino e às diferentes profissões.
O que se cumpriu, porque comporta em si a Liberdade, porque passou ao lado de um processo ditatorial, sem sentido, mas hasteado como bandeira por alguns, é de tal maneira importante para configurar o nosso futuro que aquilo que muitos dizem faltar cumprir não lhe é comparável.
Porque tudo se tem que fazer com as pessoas que somos, com o País que somos, no sítio em que estamos, todas as culpas por não estarmos numa melhor situação nos têm de ser endereçadas a todos nós em conjunto, sabendo nós que não temos o dom da omnipotência e da ubiquidade.
Quem fez o 25 de Abril poderia tê-lo feito com objectivos diferentes, nunca tão vastos como aqueles que se propalaram, nunca tão míseros como aqueles a que alguns os quiseram reduzir. Mas restituída a soberania ao povo, a este cabe decidir, é o povo que mais ordena.
Só existe democracia quando o povo não renuncia ao seu poder soberano, antes o delega periodicamente em quem o possa exercer em seu nome no dia a dia. Este estado maduro, no qual o povo está seguro que delega o poder mas não renuncia à democracia já o teríamos atingido há anos, creio.
Mas é sempre bom relembrar no que consiste o essencial da democracia, para que as franjas marginais se não tentem a capturar em seu proveito e capricho o poder que ela faculta, mas que deve, tão só, assegurar o bem e a liberdade de todos.
O 25 de Abril foi o despoletar das energias populares que levaram o País a viver esta imensa Liberdade de nos podermos expressar. Cabe-nos a nós não ter vergonha do passado e aprofundar a democracia, desenvolver e melhorar a sociedade para que a herança a transferir seja de valor superior.
Se não havia uma mensagem precisa, detalhada, como os mais fracos estariam à espera, se a mensagem foi sendo usurpada por uns e por outros e deturpada em conformidade com a ideologia de cada um, se só a experiência nos foi avisando dos muitos perigos que qualquer sistema comporta, fomos nós que ficamos a ganhar.
Também a experiência nos vai ensinando que ela mesma, permanecendo como tal, vai sendo esquecida e perdendo os seus efeitos positivos. Há que tornar a experiência em sabedoria e esse é o nosso maior desafio. Qualquer dia, se nos deixarmos andar nesta quietude intelectual, o 25 de Abril tem o mesmo significado popular do 1 de Dezembro ou do 5 de Outubro.