terça-feira, 24 de abril de 2007

Por cortesia … Senhor Engenheiro! Não … Senhor!

À imprensa cabe ser incisiva. Ao jornalista cabe elaborar a notícia com o maior rigor e independência, sob pena de se estar a desacreditar. Ou então arrisca-se a falar e a escrever só para um público restrito, cujos ouvidos já estarão programados para certas leituras.
Reconheçamos que do lado do jornalista nem sempre tudo funciona bem Muitos jornalistas fazem hoje uma afirmação como comentário, como juízo de valor, e estão no seu direito, não podem ser penalizados por isso, mas logo amanhã transformam o comentário em afirmação infalível e objectiva, como não precisasse de ser provada.
No caso de José Sócrates enredou-se muito comentário com muito informação, de tantas proveniências e com diferentes graus de fiabilidade. Se não fora o próprio a dar um fio condutor, dificilmente desembrulharíamos o novelo.
José Sócrates, como qualquer português médio, tirou um curso de engenharia técnica de construção civil em Coimbra, talvez o que lhe estava mais a jeito, empregou-se na Câmara da Covilhã e toda a gente o tratava, com o máximo de naturalidade, por engenheiro. Por cortesia, por respeito, como se diz, que mais não é que subserviência e temor, pouco interessa.
Não ia o homem engolir uma cassete que repetisse a todos que lhe falavam, olhe que não sou engenheiro sou engenheiro técnico e não estou inscrito na Ordem dos ditos. Todos conhecemos casos semelhantes. Engenheiro chegava, era económico, rápido. Contrariamente, tenho para mim que o máximo respeito que se pode manifestar por outra pessoa é tratá-lo por Senhor.
Enveredando pela política e como deputado, todos, por cortesia, por hábito, à falta de outro qualificativo mais apropriado, continuou a ser tratado como engenheiro, que lá nisso a Capital na saloiada não é diferente da província. E sabemos que nisto o hábito até faz o monge.
Inscrito num Curso que lhe daria um Diploma de Ensino Superior Especializado lá tirou várias cadeiras, talvez até ao dia em que um professor lhe tenha dito e a outros alunos, porque não vêm comigo para a Universidade Independente, que tem uma licenciatura.
E lá foram, alegres e contentes para um Curso que, no essencial, muito pouco mais valeria que o D.E.S.E. original. Já chegados a um Universidade em que os poderes paralelos, pelos vistos, existiram sempre, Arouca não era à altura Reitor, mas era quem mandava, verificaram que o curso só tinha começado há dois anos e as cadeiras que lhes faltavam eram das últimas.
Vai daí criaram uma turma especial com dois professores, um para a área técnica e outro, o Arouca, para o Inglês e vá de acabar o curso. Para mim o problema só reside na legalidade ou não de a Universidade, que havia começado um curso dois anos antes, poder emitir diplomas de final de curso, embora à base do plano curricular necessariamente já previamente definido.
O que se não pode ver é uma questão de favorecimento e muito menos pessoal, já que envolveu outros alunos. O que se poder ver é um facilitismo e uma desregulamentação, que aliás é comum a muitos Universidades a operar nesse tempo, de que teria resultado algum favorecimento, não terão os interessados disso tomado consciência. Porque se outros interessados aparecessem nas mesmas ou em condições parecidas seriam bem recebidos.
Se a emissão do diploma era ilegítima por incapacidade legal de naquele momento a Universidade o fazer, não é o destinatário que se pode penalizar mas sim o emissor.
Facilitemos as coisas. Tratemo-nos todos por Senhor, que é a mais digna e elevada maneira de tratar os outros, embora muitos o não mereçam, mas sejamos também condescendentes.