Nos dias de hoje, de forma mais evidente do que sempre aconteceu, as pessoas não se diferenciam pelas posses que têm, pela “classe social” a que pertencem, mas sim pelas expectativas que transportam.
Quem tiver as expectativas conformes à sua condição sócio-económica é visto como um retrógrado, quando muito um conformista. Na realidade essa conformidade deve ser combatida no sentido de que ninguém pode, à nascença, ficar agarrado a uma condição eterna.
A mais importante das lutas, a luta pela liberdade só tem sentido quando se coloca como princípio basilar uma igualdade que dê a todos as mesmas “possibilidades” de acesso a melhores condições económicas e sociais.
Esta constatação levou muita intelectualidade, muitos jovens a optar pelo comunismo como única forma viável de atingir este desiderato. Nisto, como noutras epopeias em que o pensamento humano se meteu, só a experiência veio a provar quanto a mente humana é “perversa” e relapsa a determinismos.
O corporativismo salazarista tudo fez para conter as expectativas das pessoas dentro de parâmetros que o sistema pudesse controlar. Para tal o regime utilizou todas as artimanhas, umas legais, outras menos ilegais, outras claramente ilegais e reprováveis. Cortava à nascença todas as possibilidades.
O regime haveria de cair por efeito do isolamento internacional, pelas dificuldades próprias da guerra, pelo imperativo de acabar com o condicionamento industrial e promover o crescimento económico e por efeito de um golpe de misericórdia dado por um grupo “vencido” de militares. Os grandes valores invocados não escondem as razões mais triviais, mas louvemos muitos efeitos positivos, lamentemos alguns.
Se a igualdade de possibilidades deve ser colocada como objectivo, nem à partida, nem à chegada, nem em nenhuma fase da evolução são passíveis de assumir carácter absoluto. A sua graduação depende das próprias condições da sociedade no seu todo. Quem está na defesa do progresso deve pugnar pela sua evolução no sentido dessas possibilidades serem cada vez menos teóricas e mais práticas, não descurando a implacável realidade.
O desenvolvimento natural da sociedade coloca à pretensão de uma igualdade de possibilidades um pesado obstáculo. Os sectores de topo criam constantemente novas expectativas, incentivam com a imaginação e espalham com a publicidade novas formas de “gozar a vida”, novas ambições, “novos prazeres”, novas formas de estar melhor com cada vez menos trabalho.
Vai-se assim criando um maior afastamento entre quem está na base da pirâmide social e quem está no topo. Como as expectativas se espalham e os meios de as satisfazer não, antes pelo contrário, há cada vez uma maior diferenciação e por esse efeito uma maior dificuldade para quem está na base poder subir alguns degraus.
A nossa entrada na Comunidade Europeia desligou-nos definitivamente da herança salazarista e criou um efeito perversíssimo a que os governos se não tem conseguido opor com eficácia. Nunca nenhum foi além das boas intenções e então o de A. Guterres foi um desastre. Porque nisto sabe-se como as expectativas se geram mas não se sabe como elas se devam abrandar.
As pessoas levam a mal serem chamadas à atenção para reduzirem as suas ambições, muito mais para serem realistas, pior ainda para fazerem sacrifícios e voltarem a uma condição que parece lhes não pertencer já, porque nunca pensaram ter que lá voltar.
Normalmente só uma hecatombe social fará com que as pessoas aceitem isto, porque neste caso a imersão é global e o nível final se mantém sensivelmente idêntico. A consciencialização de largas camadas sociais de que estamos numa situação com este cariz é o grande mérito de Sócrates.
Mas este é só um primeiro passo para quem quer lutar para que a sociedade seja mais solidária e humana. Até aqui só se conseguiu uma certa neutralização dos sentimentos que nesta perspectiva são mais negativos: o egoísmo, a inveja e a vaidade.
O segundo passo é conseguir que o leque de expectativas sociais se não continue a expandir ao mesmo ritmo do crescimento económico. A necessidade de mais expansão económica não deve ser conseguida utilizando só as velhas fórmulas, próprias do capitalismo selvagem, de apelo aos sentimentos mais ferozes, que agravam os problemas sociais.
Normalmente só copiamos os aspectos mais primários dos manuais de empreendorismo. É necessário que tenhamos em consideração aquilo que no aspecto social as análises de muitos gestores de topo já comportam. E que os agentes sociais não contribuam para o exacerbar de expectativas desmedidas, que agravam os problemas sociais e incentivam as agressões ambientais.
Quem tiver as expectativas conformes à sua condição sócio-económica é visto como um retrógrado, quando muito um conformista. Na realidade essa conformidade deve ser combatida no sentido de que ninguém pode, à nascença, ficar agarrado a uma condição eterna.
A mais importante das lutas, a luta pela liberdade só tem sentido quando se coloca como princípio basilar uma igualdade que dê a todos as mesmas “possibilidades” de acesso a melhores condições económicas e sociais.
Esta constatação levou muita intelectualidade, muitos jovens a optar pelo comunismo como única forma viável de atingir este desiderato. Nisto, como noutras epopeias em que o pensamento humano se meteu, só a experiência veio a provar quanto a mente humana é “perversa” e relapsa a determinismos.
O corporativismo salazarista tudo fez para conter as expectativas das pessoas dentro de parâmetros que o sistema pudesse controlar. Para tal o regime utilizou todas as artimanhas, umas legais, outras menos ilegais, outras claramente ilegais e reprováveis. Cortava à nascença todas as possibilidades.
O regime haveria de cair por efeito do isolamento internacional, pelas dificuldades próprias da guerra, pelo imperativo de acabar com o condicionamento industrial e promover o crescimento económico e por efeito de um golpe de misericórdia dado por um grupo “vencido” de militares. Os grandes valores invocados não escondem as razões mais triviais, mas louvemos muitos efeitos positivos, lamentemos alguns.
Se a igualdade de possibilidades deve ser colocada como objectivo, nem à partida, nem à chegada, nem em nenhuma fase da evolução são passíveis de assumir carácter absoluto. A sua graduação depende das próprias condições da sociedade no seu todo. Quem está na defesa do progresso deve pugnar pela sua evolução no sentido dessas possibilidades serem cada vez menos teóricas e mais práticas, não descurando a implacável realidade.
O desenvolvimento natural da sociedade coloca à pretensão de uma igualdade de possibilidades um pesado obstáculo. Os sectores de topo criam constantemente novas expectativas, incentivam com a imaginação e espalham com a publicidade novas formas de “gozar a vida”, novas ambições, “novos prazeres”, novas formas de estar melhor com cada vez menos trabalho.
Vai-se assim criando um maior afastamento entre quem está na base da pirâmide social e quem está no topo. Como as expectativas se espalham e os meios de as satisfazer não, antes pelo contrário, há cada vez uma maior diferenciação e por esse efeito uma maior dificuldade para quem está na base poder subir alguns degraus.
A nossa entrada na Comunidade Europeia desligou-nos definitivamente da herança salazarista e criou um efeito perversíssimo a que os governos se não tem conseguido opor com eficácia. Nunca nenhum foi além das boas intenções e então o de A. Guterres foi um desastre. Porque nisto sabe-se como as expectativas se geram mas não se sabe como elas se devam abrandar.
As pessoas levam a mal serem chamadas à atenção para reduzirem as suas ambições, muito mais para serem realistas, pior ainda para fazerem sacrifícios e voltarem a uma condição que parece lhes não pertencer já, porque nunca pensaram ter que lá voltar.
Normalmente só uma hecatombe social fará com que as pessoas aceitem isto, porque neste caso a imersão é global e o nível final se mantém sensivelmente idêntico. A consciencialização de largas camadas sociais de que estamos numa situação com este cariz é o grande mérito de Sócrates.
Mas este é só um primeiro passo para quem quer lutar para que a sociedade seja mais solidária e humana. Até aqui só se conseguiu uma certa neutralização dos sentimentos que nesta perspectiva são mais negativos: o egoísmo, a inveja e a vaidade.
O segundo passo é conseguir que o leque de expectativas sociais se não continue a expandir ao mesmo ritmo do crescimento económico. A necessidade de mais expansão económica não deve ser conseguida utilizando só as velhas fórmulas, próprias do capitalismo selvagem, de apelo aos sentimentos mais ferozes, que agravam os problemas sociais.
Normalmente só copiamos os aspectos mais primários dos manuais de empreendorismo. É necessário que tenhamos em consideração aquilo que no aspecto social as análises de muitos gestores de topo já comportam. E que os agentes sociais não contribuam para o exacerbar de expectativas desmedidas, que agravam os problemas sociais e incentivam as agressões ambientais.