A situação de “pobre” não é a melhor para se ter uma perspectiva abrangente da realidade, que permita o melhor conhecimento das linhas de força que a fazem mover num sentido ou noutro. O pobre não é aquele que “vê” obrigatoriamente mais ou menos que o “rico”: Está pior posicionado. È o que tem menos conhecimento e menos possibilidades de acesso ao saber.
Pobre era aquele que no tempo em que a principal fonte da riqueza era a terra só tinha de seu a força para a trabalhar a mando dos outros, só tinha direito ao mínimo para a sua subsistência e muitas vezes nem isso. Não tendo acesso a outras fontes de riqueza, só os detentores da terra lhe podiam facultar o seu amanho, embora às vezes sob condições de quase escravatura.
Pobre era aquele que com a industrialização deixou de precisar de retirar da terra o seu sustento. Contra a prestação de um trabalho insano, passou a ser pago para viver, para poder comprar os bens alimentares que a melhoria da produtividade agrícola facultou. Mas pago apenas com o suficiente para não morrer à fome, para eventualmente poder ter filhos que viessem a constituir a força do trabalho que o haveria de substituir.
Pobre era aquele que com o mercantilismo se tornou pau para toda a obra, carregador de mercadorias, mensageiro de ordens, motorista de barcos, comboios ou camiões. O pobre passou a ser a força disponível para servente de todos os poderosos, continuou a ser incapaz de impor condições humanas à forma como prestava o seu trabalho, era pago muitas vezes de maneira irregular, conforme as disponibilidades que o patrão dizia possuir.
O pobre de hoje será o mesmo do passado? Claro que não o é, mas, como mudou o tipo, há quem diga que há mais pobres. Neste complexo mundo de hoje o pobre é todo aquele que na teia social continua a não ser proprietário de qualquer dos circuitos que lhe dão vida. Se neste sentido há mais pobres, o pobre faz mais falta do que nunca e contraditoriamente o seu papel é cada vez mais subalterno.
O pobre é imprescindível na medida em que é ele que põe a máquina a trabalhar. Além disso é determinante para que ela execute o seu papel com eficácia. Vigilante ou manipulador dos interruptores automáticos ou manuais que hoje existem, é ele que determina o sentido da sua produção. Porém não tem a liberdade para a condicionar a máquina de modo diferente daquele que lhe está estipulado, é um escravo de manuais e normas de conduta.
O pobre de hoje é aquele que muitas vezes não encontra sentido para aquilo que faz. A estrutura social suplanta-o, ultrapassa a suas possibilidades de intervenção, quando não mesmo de compreensão. A irracionalidade de muitos aspectos da organização social salta permanentemente à sua vista, muitas vezes tão só porque não consegue entender os seus contextos. Cada vez o poder é mais ostensivo e está menos à sua disposição.
O pobre pode ainda ter problemas de sustento, mas essencialmente não são estes que o apoquentam. A sua insatisfação permanente deriva de tudo ver, de saber onde gastar todo o dinheiro que possa imaginar, mas que tem a consciência que o que tem não dá para fazer o que lhe agradaria. É tão fraco o seu ângulo de visão que a única coisa que lhe possa pela cabeça é destruir todos os circuitos, ao menos fechar os interruptores, subverter toda a sua lógica.
Esperar do pobre que ele dê uma ideia capaz para criar circuitos mais lógicos, para reverter o sentido da actividade executada pelo sistema, têm-se visto que é esforço vão. O pobre é aquele que não tem tempo, nem conhecimentos para repensar a estrutura, quando muito tenta evitar os seus aspectos mais gravosos do mercantilismo, sonha em que um dia o sistema lhe possa ser favorável.
Os sonhos do pobre raramente têm outro objectivo que não ele próprio. Provavelmente porque se o pobre chega a rico, isto é, se chega a ter algum poder para manipular de tal modo os interruptores que a corrente o favoreça, deixa atrás de si uma legião de pobres que passarão a desempenhar o papel que ele desempenhou até aí. O pobre sabe que o seu lugar está sempre garantido.
Até porque o pobre também sabe que depois de ser pobre o pior que há é ser rico, é ter um poder, que pode ser imenso, mas não o poder exercer na sua plenitude. O rico está sempre num mundo que, por não ter sido construído à sua maneira, ele ambiciona modelar à sua imagem. Razões nunca lhe faltam para protestar, para manifestar a sua mórbida insatisfação.
O rico procura todas as oportunidades, a facilidade do político, a vantagem do corrupto, a vitória do manhoso. Mas quer que o considerem como não querendo mais que o pobre quer, até tudo faz para lhe parecer igual. Na realidade o rico está num posto melhor para observar as linhas de força, os movimentos, sejam sub-reptícios, sejam aqueles que são às claras e toda a gente julga ver e na realidade não vê com a precisão devida. Ao contrário do pobre tenta acompanhar, não olha só para ver os protagonistas.
O pobre é aquele que se engana mas que não erra tanto como se julga porque desconfia. Não é este o melhor critério mas à falta de outro todos o utilizam, os políticos em primeiro lugar. Lançar a desconfiança, o descrédito é praticamente a única arma usada juntamente com a promessa de facilidades para todos. Na verdade hoje o político tanto indispõe o pobre como o rico, sendo que nunca ninguém está totalmente satisfeito.
Hoje o pobre é aquele que não compreende a sociedade e espera que os outros não se fiquem pela vontade de o apoiar mas cheguem a acordo sobre as modalidades que devem ser adoptadas para isso. Ser pobre é uma chatice mas grave é ele se auto-marginalizar ao perder as esperanças de ser “rico”. Não haverá melhor destino para este “pobre” do que ser este “rico”?
Pobre era aquele que no tempo em que a principal fonte da riqueza era a terra só tinha de seu a força para a trabalhar a mando dos outros, só tinha direito ao mínimo para a sua subsistência e muitas vezes nem isso. Não tendo acesso a outras fontes de riqueza, só os detentores da terra lhe podiam facultar o seu amanho, embora às vezes sob condições de quase escravatura.
Pobre era aquele que com a industrialização deixou de precisar de retirar da terra o seu sustento. Contra a prestação de um trabalho insano, passou a ser pago para viver, para poder comprar os bens alimentares que a melhoria da produtividade agrícola facultou. Mas pago apenas com o suficiente para não morrer à fome, para eventualmente poder ter filhos que viessem a constituir a força do trabalho que o haveria de substituir.
Pobre era aquele que com o mercantilismo se tornou pau para toda a obra, carregador de mercadorias, mensageiro de ordens, motorista de barcos, comboios ou camiões. O pobre passou a ser a força disponível para servente de todos os poderosos, continuou a ser incapaz de impor condições humanas à forma como prestava o seu trabalho, era pago muitas vezes de maneira irregular, conforme as disponibilidades que o patrão dizia possuir.
O pobre de hoje será o mesmo do passado? Claro que não o é, mas, como mudou o tipo, há quem diga que há mais pobres. Neste complexo mundo de hoje o pobre é todo aquele que na teia social continua a não ser proprietário de qualquer dos circuitos que lhe dão vida. Se neste sentido há mais pobres, o pobre faz mais falta do que nunca e contraditoriamente o seu papel é cada vez mais subalterno.
O pobre é imprescindível na medida em que é ele que põe a máquina a trabalhar. Além disso é determinante para que ela execute o seu papel com eficácia. Vigilante ou manipulador dos interruptores automáticos ou manuais que hoje existem, é ele que determina o sentido da sua produção. Porém não tem a liberdade para a condicionar a máquina de modo diferente daquele que lhe está estipulado, é um escravo de manuais e normas de conduta.
O pobre de hoje é aquele que muitas vezes não encontra sentido para aquilo que faz. A estrutura social suplanta-o, ultrapassa a suas possibilidades de intervenção, quando não mesmo de compreensão. A irracionalidade de muitos aspectos da organização social salta permanentemente à sua vista, muitas vezes tão só porque não consegue entender os seus contextos. Cada vez o poder é mais ostensivo e está menos à sua disposição.
O pobre pode ainda ter problemas de sustento, mas essencialmente não são estes que o apoquentam. A sua insatisfação permanente deriva de tudo ver, de saber onde gastar todo o dinheiro que possa imaginar, mas que tem a consciência que o que tem não dá para fazer o que lhe agradaria. É tão fraco o seu ângulo de visão que a única coisa que lhe possa pela cabeça é destruir todos os circuitos, ao menos fechar os interruptores, subverter toda a sua lógica.
Esperar do pobre que ele dê uma ideia capaz para criar circuitos mais lógicos, para reverter o sentido da actividade executada pelo sistema, têm-se visto que é esforço vão. O pobre é aquele que não tem tempo, nem conhecimentos para repensar a estrutura, quando muito tenta evitar os seus aspectos mais gravosos do mercantilismo, sonha em que um dia o sistema lhe possa ser favorável.
Os sonhos do pobre raramente têm outro objectivo que não ele próprio. Provavelmente porque se o pobre chega a rico, isto é, se chega a ter algum poder para manipular de tal modo os interruptores que a corrente o favoreça, deixa atrás de si uma legião de pobres que passarão a desempenhar o papel que ele desempenhou até aí. O pobre sabe que o seu lugar está sempre garantido.
Até porque o pobre também sabe que depois de ser pobre o pior que há é ser rico, é ter um poder, que pode ser imenso, mas não o poder exercer na sua plenitude. O rico está sempre num mundo que, por não ter sido construído à sua maneira, ele ambiciona modelar à sua imagem. Razões nunca lhe faltam para protestar, para manifestar a sua mórbida insatisfação.
O rico procura todas as oportunidades, a facilidade do político, a vantagem do corrupto, a vitória do manhoso. Mas quer que o considerem como não querendo mais que o pobre quer, até tudo faz para lhe parecer igual. Na realidade o rico está num posto melhor para observar as linhas de força, os movimentos, sejam sub-reptícios, sejam aqueles que são às claras e toda a gente julga ver e na realidade não vê com a precisão devida. Ao contrário do pobre tenta acompanhar, não olha só para ver os protagonistas.
O pobre é aquele que se engana mas que não erra tanto como se julga porque desconfia. Não é este o melhor critério mas à falta de outro todos o utilizam, os políticos em primeiro lugar. Lançar a desconfiança, o descrédito é praticamente a única arma usada juntamente com a promessa de facilidades para todos. Na verdade hoje o político tanto indispõe o pobre como o rico, sendo que nunca ninguém está totalmente satisfeito.
Hoje o pobre é aquele que não compreende a sociedade e espera que os outros não se fiquem pela vontade de o apoiar mas cheguem a acordo sobre as modalidades que devem ser adoptadas para isso. Ser pobre é uma chatice mas grave é ele se auto-marginalizar ao perder as esperanças de ser “rico”. Não haverá melhor destino para este “pobre” do que ser este “rico”?