sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

Crónicas de um tempo que é outro

Como já vem sendo habitual, demonstrativo do apreço que os seus leitores/espectadores vem manifestando pela obra de José Ernesto Costa, a apresentação de mais um número, o III, da sua “Crónica de um Outro Tempo” teve lugar na noite do dia 24 de Novembro, num Teatro Diogo Bernardes que os seus amigos encheram plenamente.
Não faltou uma forte presença institucional representada pelo Vice-Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima, o Eng. Vítor Mendes e pelo Vereador da Cultura, o Filósofo Franklim Castro e Sousa. Não faltaram muitos Homens de Letras, como o poeta Cláudio Lima, que apresentou a obra.
Realcemos em especial que não faltou o povo anónimo, se nos é permitido dizê-lo, daquele que preferencialmente constitui o objecto das fotos por si recolhidas e das suas estórias, episódios da vida real, muitos dos quais até aqui só pertenciam à memória oral.
Aqui reside muito do seu mérito, na transcrição fidedigna, tanto fotográfica como escrita, do ambiente social, linguístico, dos aspectos lúdicos e preferencialmente alegres da existência. Que, como nos parece evidente, naqueles tempos só se utilizava a fotografia para retratar aspectos festivos e só se memorizava e recordavam aqueles episódios que davam muito mais colorido ao convívio de todos os dias.
José Ernesto Costa transmite-nos nestas Crónicas a vida no seu estado de pureza, tal qual era realmente “vivida”, os aspectos pessoais, familiares e de convívio, que raras são as fotografias ou referências a cerimónia oficiais ou intervenções do poder.
O pitoresco, a alacridade na qual os padres Laranjo e Passarinha têm um papel preponderante, não resultam do ridículo ou da má formação, antes constituam uma maneira natural e saudável de abordar a vida, que, por estar irremediavelmente perdida, pode parecer às gerações de hoje caricata e artificial.
José Ernesto Costa tem lutado por preservar este legado, apresentando-o numa contextualização familiar, coloquial, cúmplice, em que o agrado e a amizade que transmite em relação às suas “personagens” são uma imagem fiel daquilo que num outro tempo efectivamente se passava entre todos os de cá e os de lá da Ponte, sem artificialismos e distinções.
Haveria, claro, outras contextualizações para apresentar este espólio magnífico, mas será sempre possível a outros fazê-lo. Mas todos lamentarão que esta obra, constituída já por três volumes, vá ser agora suspensa, mesmo que temporariamente, segundo a intenção do autor.
Como soi dizer-se, as Crónicas de um Outro Tempo valem o que valem mas valem muito para a nossa identidade. Valem a pena, é imprescindível continuá-las.