Por esta ser uma época de uma natural tristeza, seja ao nível da temperatura, da paisagem e até da cara das pessoas. Por ser altura de algum recolhimento, que até pode ser de meditação, arrependimento ou exaltação, é hábito fazer agora o balanço de um ano que acaba.
Não é meu costume fazer balanços deste género que, como todos, temos de fazer muitos outros mais importantes e mais amiudadas vezes. O balanço da semana, do mês, e o mais trabalhoso de todos, no quinquénio. Quanto ao ano prefiro de longe o ciclo das colheitas.
Mas, que até há uma grande aversão pelo que é americano e eles o adoptam, de Outubro a Setembro, vamos respeitar o nosso, como tudo nesta coisa de dividir o tempo, um pouco arbitrário, de Janeiro a Dezembro.
Politicamente foi um ano frustrante. Tal talvez se deva, não há mesmo dúvida, a ser o primeiro de uma série de anos sem eleições, o que só por si representaria normalmente um alívio para o eleitor, mas que representa efectivamente uma carga de trabalhos por um lado e uma falta deles por outro.
Efectivamente há dois poderes que olham para o primeiro ano com olhos diferentes. Se o governo nacional faz agora o pior para aliviar um pouco a pressão lá mais para o fim da legislatura, o governo local nada faz para deixar os seus projectos e o respectivo dinheiro lá mais para o fim do seu mandato.
Mas se o governo nacional apoquenta alguns e mexe com todos, o governo local põe um pouco de calmaria na festa. E nós, sem outros apriorismos, sem revelar os nossos amores, estamos para analisar o pouco que se fez por cá.
A E.T.A.R. está, enfim, acabada e em funcionamento, de forma eficiente, o que é de aplaudir. Só se lamente que labore muito abaixo da sua capacidade, que só sirva uma pequena rede de saneamento, face à dimensão do concelho. A própria rede na Vila apresenta lacunas evidentes. Quando há muita pluviosidade nota-se que muitas ligações, decerto antigas, estão a alimentar as condutas de águas pluviais e não as condutas que vão para a E.T.A.R. e que até acontece o contrário, o que devia ir directo para o Rio vai encarecer o tratamento na E.T.A.R..
A colocação dos adutores de água que a hão de levar da E.T.A. de S. Jorge, junto à barragem de Touvêdo, a quase todo o Vale do Lima e não só, tem causado tais e tão injustificados transtornos que não há memória doutra obra assim. E ninguém se digna explicar seriamente porque tem que ser assim, que se não tem então estão a fazer de nós parvos.
O Festival dos Jardins deste ano teve algumas ideias interessantes. Dividi-me, perdoe-me o Director, entre o Jardim Português Integrado, que só peca pelo nome e o Sonho Meu, Sonho Meu. A ideia mais forte deste jardim vencedor era a de um barco de papel que nos levaria a um mundo de fantasia. Ora o seu papel era impresso e transportava precisamente as ideias deste jornal, o Alto Minho. Foi pois um prémio para o autor, os votantes e para os que colaboram neste Jornal.
Salientemos a inoperacionalidade do canil, a desordem da feira, a anarquia do nosso Verão. Muitos virão ao sarrabulho e a banhos em Agosto, mas a maioria não vem cá deixar os tostões e os de cá vão pô-los a render lá fora. È evidente que quem cá vem não quer qualidade, incapazes que somos de a oferecer nestas condições. Nós e os nossos imigrantes já nos sentimos cá a mais.
As nossas velhas festas estão a sofrer alterações que não controlamos. Os estereótipos impõe-se de tal forma que o poder municipal e de freguesia vão a reboque. Impingem-se festivais de folclore repetitivos como símbolos de originalidade e naturalidade. Copiam-se formatos para jovens sectários. Salvam-se as bandas de música que inovam e tentam remar contra a maré.
Um excelente Festival Folclórico da Confederação Internacional realizado em 1 de Agosto foi o que de melhor ocorreu neste domínio em Ponte de Lima. Grupos formados por arménios, chilenos, chineses, filipinas, hawaianos, sérvios e venezuelanos deram um espectáculo admirável, de classe mundial, que, no meio da trivialidade reinante, passou despercebido a muita gente que não esperaria tal qualidade e até diria que era mais um. Aqui o “folclore” enganou muita gente.
Tanto se cantam loas a coisas tão fracas que quando o Bom, o Excelente ou mesmo o Sublime nos chega, já ninguém acredita. Esperemos que se continuem a aproveitar estas oportunidades, já que está fora do nosso alcance organizá-las.
As Feiras Novas continuaram a revelar a sua imensa atractividade e a mostrar quão difícil é fazer a sua reconversão. A falha na iluminação, no fogo de artifício, nas condições higiénicas, se tornaram a festa menos esplendorosa, não foram de molde a toldar a sua grandiosidade, que as pessoas ficam cegas só pelo ambiente em que elas são vividas.
Mas tudo tem limites e cada vez mais se tem de pensar se é vantajoso manter tanta grandiosidade com tão pouca qualidade. Muitos dirão que, fosse tudo muito bem limpinho e organizado, e não viria cá tanta gente, a esta “nossa” pretendida Terra Rica da Humanidade.
Enfim fez-se um seminário sobre este tema no qual se desvendaram alguns propósitos. De entre estes, destaque-se o ridículo de pretender colocar a valia desta Terra ao nível do sarrabulho. Mesmo que saibamos que o Português dá a máxima importância à “mandioca”, por mais que queiramos reduzir a cultura à gastronomia, saibamos medir as proporções.
A Confraria do Sarrabulho, essa talvez enredada pelas desavenças entre o gastrónomo-mor Jorge Sampaio e o neo-hoteleiro Daniel Campelo, não sai da cepa torta, depois de um início já periclitante, que a aposta no bízaro já deu o que tinha a dar. O porco de Famalicão é o que está a dar e continuará assim por muitos anos.
Mas, voltando à Terra Rica, o seminário teve muita qualidade, tanto pelas intervenções de alguns portugueses, como dos três espanhóis que cá nos vieram transmitir a sua sabedoria. O contra foi que se saiu pouco da pedraria, da urbanística, da paisagem e falou-se menos da tal imaterialidade, que, lenta, se esvai com o que de mais genuíno se poderia preservar.
Que valeu, valeu. Já se vamos aproveitar alguma coisa, disso não sabemos. Uma intervenção profunda no Centro Histórico será dispendiosa e tem que ter em atenção os objectivos últimos que se querem atingir e que estão por definir. Há exemplos de sucesso mas também de muita desilusão. Encontrar um projecto consistente, auto sustentável e perdurável ainda vai dar muito que fazer.
Aquilo que poderia ser o grande momento do ano foi desperdiçado por inépcia da Câmara. A Carta Educativa é uma manta de retalhos, que devia ser estruturante mas promove a indefinição, que devia ser precisa mas é vaga, que deveria constituir uma mola de arranque para o futuro mas não sai da utilização dos velhos paradigmas de soluções pontuais e capelistas.
Na literatura o concelho mexeu, tendo sido apresentadas algumas obras de valor, em particular a nível da poesia, que o nosso ambiente é propício a esta maneira mais pessoal de abordar a realidade ou de “fugir” a ela.Em 2007 esperemos colher alguns frutos dos investimentos em projectos, da aplicação dos conhecimentos e da experiência obtidos, da correcção dos erros detectados mas não ambicionemos demasiado. É que ainda vamos estar na primeira metade dos mandatos locais e só para o ano seguinte se vai investir mais.
Não é meu costume fazer balanços deste género que, como todos, temos de fazer muitos outros mais importantes e mais amiudadas vezes. O balanço da semana, do mês, e o mais trabalhoso de todos, no quinquénio. Quanto ao ano prefiro de longe o ciclo das colheitas.
Mas, que até há uma grande aversão pelo que é americano e eles o adoptam, de Outubro a Setembro, vamos respeitar o nosso, como tudo nesta coisa de dividir o tempo, um pouco arbitrário, de Janeiro a Dezembro.
Politicamente foi um ano frustrante. Tal talvez se deva, não há mesmo dúvida, a ser o primeiro de uma série de anos sem eleições, o que só por si representaria normalmente um alívio para o eleitor, mas que representa efectivamente uma carga de trabalhos por um lado e uma falta deles por outro.
Efectivamente há dois poderes que olham para o primeiro ano com olhos diferentes. Se o governo nacional faz agora o pior para aliviar um pouco a pressão lá mais para o fim da legislatura, o governo local nada faz para deixar os seus projectos e o respectivo dinheiro lá mais para o fim do seu mandato.
Mas se o governo nacional apoquenta alguns e mexe com todos, o governo local põe um pouco de calmaria na festa. E nós, sem outros apriorismos, sem revelar os nossos amores, estamos para analisar o pouco que se fez por cá.
A E.T.A.R. está, enfim, acabada e em funcionamento, de forma eficiente, o que é de aplaudir. Só se lamente que labore muito abaixo da sua capacidade, que só sirva uma pequena rede de saneamento, face à dimensão do concelho. A própria rede na Vila apresenta lacunas evidentes. Quando há muita pluviosidade nota-se que muitas ligações, decerto antigas, estão a alimentar as condutas de águas pluviais e não as condutas que vão para a E.T.A.R. e que até acontece o contrário, o que devia ir directo para o Rio vai encarecer o tratamento na E.T.A.R..
A colocação dos adutores de água que a hão de levar da E.T.A. de S. Jorge, junto à barragem de Touvêdo, a quase todo o Vale do Lima e não só, tem causado tais e tão injustificados transtornos que não há memória doutra obra assim. E ninguém se digna explicar seriamente porque tem que ser assim, que se não tem então estão a fazer de nós parvos.
O Festival dos Jardins deste ano teve algumas ideias interessantes. Dividi-me, perdoe-me o Director, entre o Jardim Português Integrado, que só peca pelo nome e o Sonho Meu, Sonho Meu. A ideia mais forte deste jardim vencedor era a de um barco de papel que nos levaria a um mundo de fantasia. Ora o seu papel era impresso e transportava precisamente as ideias deste jornal, o Alto Minho. Foi pois um prémio para o autor, os votantes e para os que colaboram neste Jornal.
Salientemos a inoperacionalidade do canil, a desordem da feira, a anarquia do nosso Verão. Muitos virão ao sarrabulho e a banhos em Agosto, mas a maioria não vem cá deixar os tostões e os de cá vão pô-los a render lá fora. È evidente que quem cá vem não quer qualidade, incapazes que somos de a oferecer nestas condições. Nós e os nossos imigrantes já nos sentimos cá a mais.
As nossas velhas festas estão a sofrer alterações que não controlamos. Os estereótipos impõe-se de tal forma que o poder municipal e de freguesia vão a reboque. Impingem-se festivais de folclore repetitivos como símbolos de originalidade e naturalidade. Copiam-se formatos para jovens sectários. Salvam-se as bandas de música que inovam e tentam remar contra a maré.
Um excelente Festival Folclórico da Confederação Internacional realizado em 1 de Agosto foi o que de melhor ocorreu neste domínio em Ponte de Lima. Grupos formados por arménios, chilenos, chineses, filipinas, hawaianos, sérvios e venezuelanos deram um espectáculo admirável, de classe mundial, que, no meio da trivialidade reinante, passou despercebido a muita gente que não esperaria tal qualidade e até diria que era mais um. Aqui o “folclore” enganou muita gente.
Tanto se cantam loas a coisas tão fracas que quando o Bom, o Excelente ou mesmo o Sublime nos chega, já ninguém acredita. Esperemos que se continuem a aproveitar estas oportunidades, já que está fora do nosso alcance organizá-las.
As Feiras Novas continuaram a revelar a sua imensa atractividade e a mostrar quão difícil é fazer a sua reconversão. A falha na iluminação, no fogo de artifício, nas condições higiénicas, se tornaram a festa menos esplendorosa, não foram de molde a toldar a sua grandiosidade, que as pessoas ficam cegas só pelo ambiente em que elas são vividas.
Mas tudo tem limites e cada vez mais se tem de pensar se é vantajoso manter tanta grandiosidade com tão pouca qualidade. Muitos dirão que, fosse tudo muito bem limpinho e organizado, e não viria cá tanta gente, a esta “nossa” pretendida Terra Rica da Humanidade.
Enfim fez-se um seminário sobre este tema no qual se desvendaram alguns propósitos. De entre estes, destaque-se o ridículo de pretender colocar a valia desta Terra ao nível do sarrabulho. Mesmo que saibamos que o Português dá a máxima importância à “mandioca”, por mais que queiramos reduzir a cultura à gastronomia, saibamos medir as proporções.
A Confraria do Sarrabulho, essa talvez enredada pelas desavenças entre o gastrónomo-mor Jorge Sampaio e o neo-hoteleiro Daniel Campelo, não sai da cepa torta, depois de um início já periclitante, que a aposta no bízaro já deu o que tinha a dar. O porco de Famalicão é o que está a dar e continuará assim por muitos anos.
Mas, voltando à Terra Rica, o seminário teve muita qualidade, tanto pelas intervenções de alguns portugueses, como dos três espanhóis que cá nos vieram transmitir a sua sabedoria. O contra foi que se saiu pouco da pedraria, da urbanística, da paisagem e falou-se menos da tal imaterialidade, que, lenta, se esvai com o que de mais genuíno se poderia preservar.
Que valeu, valeu. Já se vamos aproveitar alguma coisa, disso não sabemos. Uma intervenção profunda no Centro Histórico será dispendiosa e tem que ter em atenção os objectivos últimos que se querem atingir e que estão por definir. Há exemplos de sucesso mas também de muita desilusão. Encontrar um projecto consistente, auto sustentável e perdurável ainda vai dar muito que fazer.
Aquilo que poderia ser o grande momento do ano foi desperdiçado por inépcia da Câmara. A Carta Educativa é uma manta de retalhos, que devia ser estruturante mas promove a indefinição, que devia ser precisa mas é vaga, que deveria constituir uma mola de arranque para o futuro mas não sai da utilização dos velhos paradigmas de soluções pontuais e capelistas.
Na literatura o concelho mexeu, tendo sido apresentadas algumas obras de valor, em particular a nível da poesia, que o nosso ambiente é propício a esta maneira mais pessoal de abordar a realidade ou de “fugir” a ela.Em 2007 esperemos colher alguns frutos dos investimentos em projectos, da aplicação dos conhecimentos e da experiência obtidos, da correcção dos erros detectados mas não ambicionemos demasiado. É que ainda vamos estar na primeira metade dos mandatos locais e só para o ano seguinte se vai investir mais.