domingo, 5 de novembro de 2006

Festa Portuguesa em Martres de Veyre

Quando duas vilas se geminam assumem projectos comuns, intercâmbios que proporcionam relacionamentos proveitosos para ambas.
Apesar da diferença de meios, da diferente estruturação do poder local em Portugal e França, Arcoselo e Martres de Veyre prosseguem na sua atitude de fortalecimento dos laços que já as unem.
Com este propósito deslocou-se a Martres de Veyre uma delegação da Vila de Arcoselo, tendo sido assinado, pelas respectivas Associações de Geminação, um protocolo para a área da educação que pretende desenvolver o intercâmbio juvenil.
Estas duas vilas têm uma dimensão territorial e populacional, estruturas sociais e educacionais semelhantes e, como seria de esperar algumas características diferentes.
Se é verdade que em Arcoselo a agricultura nunca foi actividade exclusiva e deixou de ser dominante há uns trinta anos, em Martres de Veyre, estando na zona de influência da industrial Clermont-Ferrand, a viticultura, como sua actividade preponderante, já há muito foi abandonada.
Se é verdade que Arcoselo tem uma zona histórica que integra a Zona Histórico de Ponte de Lima e mais alguns lugares com características urbanas, Martres de Veyre tem uma Zona Histórica própria, muito antiga e concentrada.
Tem uma particular beleza as suas ruas floridas e os seus “impasses”, ruelas sem continuidade que constituem bonitos recantos, aconchegados para o Inverno, acolhedores no Verão.
Os portugueses que demandaram estas paragens, muitos há quatro décadas, estão perfeitamente integrados nesta vila, nesta sociedade tolerante e receptiva às diferenças culturais, característica francesa que tem aqui um expoente dificilmente ultrapassável.
Nota-se que há uma conjugação de esforços para que a comunidade portuguesa, estando bem integrada, não seja assimilada e para que não perca as suas próprias idiossincrasias, antes para que as preserve e valorize.
Esta ligação a Arcoselo é vital para manter aquele vínculo às suas origens, aos usos e costumes que os franceses não rejeitam e até a alguns dos quais, de bom grado, aderem. A sua alegria em participar numa festa dos portugueses, realizada no decorrer desta visita, foi evidente.
Vital também é que as gerações futuras continuem a falar português. Se isso está garantido aqui na segunda geração, já será mais problemático a partir da terceira, sendo esta já, em muito, resultado de ligações matrimoniais entre elementos das duas comunidades. Além do querer será necessário apoio.
Também nas escolas públicas francesas o espanhol já suplantou o português. Há pois que fazer grandes esforços para que comunidades como esta, que tão arreigadamente querem manter os seus laços à terra e usar a sua língua, o possam fazer.
Estas viagens, como a desta delegação da Associação de Geminação Arcoselo - Martres de Veyre, não são um desperdício, mas antes mais um contributo válido para manter viva a chama de portugalidade que os franceses também se empenham em que seja mantida acesa no seu seio.
Martres de Veyre não é Paris mas brilha no coração da França, tão perto do Puy-de-Dôme, nesta região do maciço central francês onde a alma francesa tem a sua manifestação mais profunda. Aqui tão perto, em Gergovie, neste vale do Allier, foi onde, pela primeira vez, os gauleses comandados por Vercingétorix venceram as hostes romanas de Júlio César.
O vale do Allier, afluente do Loire, é de uma beleza surpreendente que se pode desfrutar dos vários montes circundantes, muitos de origem vulcânica, e destaca-se pelo multicolorido dos seus campos de trigo, das suas vinhas e pomares de árvores de fruto, em particular nogueiras, das suas vilas dispersas.
Martres de Veyre, como Arcoselo, não se pode dissociar da beleza que a rodeia. Também neste aspecto, ambas são locais privilegiados, usufrutuários de paisagens magníficas e deslumbrantes, cuja contemplação liberta a alma para a sua verdadeira função: a espiritualidade.
Neste relacionamento entre Arcoselo e Martres de Veyre é a comunhão espiritual que prevalece. Não existe qualquer artificialidade, antes parece que já nos conhecemos há séculos e que esta amizade perdurará enquanto em Martres de Veyre houver algum sangue arcoselense.
E, a avaliar pela determinação e empenho dos que vivem em Martres de Veyre, que também são de Paredes de Coura, Viana do Castelo, Santo Tirso, Póvoa do Lanhoso e doutras terras, o sangue português nesta linda terra de França não se prevê que deixe de existir.
Se estes portugueses são os “ponta de lança” da nossa maneira de ser e da nossa cultura, nós não os podemos nunca atraiçoar, antes temos de constituir para eles um esteio bem forte, a fonte e que mereça continuar a ser o destino dos seus sentimentos mais nobres.