Sobe e desce por penhascos e rabinas na sua irracionalidade “alegre” o fogo vai devorando aquilo de que tanto gostamos. Empenhamo-nos em encontrar razões, em achar remédios, em arquitectar soluções.
Tudo fazemos para descobrir as motivações, a génese das aberrações que se formam nos espíritos humanos para justificarem o abominável. Até os criminosos já vão dando a sua contribuição para a ciência da alma.
Fala-se do tédio em zonas depauperadas, no clímax do movimento de bombeiros, das sirenes, da azáfama nos momentos de pânico, nas imagens televisivas aterradoras mas esplendorosamente frenéticas.
Não descuramos as velhas invejas, antigas vinganças com destino certo e novas vinganças para destinatários desconhecidos e virtuais. Não podemos esquecer o espírito destruidor e autofágico que se instala nas mentes pervertidas.
Como lidar com esta situação que nos traz todos os Verões esta calamidade, mas em relação à qual, aparentemente, já estamos imunizados e conformados. Enfim, será o aproveitamento da biomassa a solução salvadora?
Será a responsabilização dos proprietários, muitos desconhecidos e desconhecedores de que na sua relação de bens consta mais uma bouça algures sabe-se lá onde?
Que fazer se o maior proprietário é o Estado e este tão mal se comporta nas suas terras e nas terras que, de qualquer forma, tutela?
Todos sabemos que as alterações ocorridas no mundo rural, em muitos aspectos com carácter definitivo, são de molde a que se tenha que pensar o seu ordenamento de uma outra maneira, de certo diversificada conforme o local e as suas particularidades.
Também o Estado terá que repensar a sua intervenção directa na gestão de espaços naturais. A sua responsabilidade é maior, a sua forma de proceder tem de ser exemplar.
O Parque Nacional da Peneda-Gerês é um pulmão quase virgem, uma reserva única de espécies vegetais e animais, de água, não fosse a zona do País em que há mais pluviosidade.
3.000 hectares da área do Parque foram vítimas da incursão de um fogo que, pasme-se, nasceu a 4 quilómetros do seu limite. Malgrado a larga mobilização de meios e pessoas, ninguém o susteve.
Aqui o contraditório está à visita. A função do Parque não é estar limpo, despido de vegetação baixa, privado de arbustos, estruturado e acessível a toda a espécie de jipes, tractores e tractoretas.
Mas hoje o mundo não é o mesmo de quando o Parque foi criado. As pessoas residentes no Parque foram menosprezadas, tudo lhes era interdito e severamente punido, mas eram conhecidas, aguentaram e nunca constituíram qualquer perigo.
Hoje os visitantes e interessados vêm de todos os lados. O perigo vem de longe, da força trituradora dos subúrbios das cidades, de gente de que se lhes não conhece o cerne, de pessoas sem ligação à terra, sem a alma dos bosques e sem valores.
Hoje o perigo vem dos promotores turísticos, uns interessados no turismo de massas e outros no de gente com massa, exigentes de espaços reservados, do usufruto privado de reservas dentro da reserva natural.
Hoje o perigo vem das empresas de energia eólica, do aliciamento das populações sobrantes, das tentativas de corrupção dos autarcas a quem querem fazer crer que podem fazer seu aquilo que é da humanidade.
O Parque Nacional da Peneda-Gerês tem um potencial de fornecimento de energia eólica descomunal que cria apetites às almas mais ávidas de lucro e às ambientalmente mais ingénuas, contraditoriamente pressionadas.
Esta questão tem de ser analisada friamente, sem os fundamentalismos que inquinaram a discussão sobre o caso das gravuras de Foz Côa. Nem o Parque da Peneda-Gerês pode ser uma reserva integral, nem o podemos deixar converter num gigantesco bolo de aniversário repleto de velas e foguetes no ar.
Se o Parque deve ter no seu seio zonas de fácil acesso, abertas ao lazer, para usufruto de todos, também é verdade que não se pode tolerar, nem turismo selvagem, nem turismo de condomínio fechado.
Não podemos prejudicar as populações que a custo lá se vão conservando e que precisam dalguma fonte de rendimento, mas não podemos deixar que conluios bem urdidos façam do Parque um mealheiro para mais uns tantos Chico-Espertos, de quem nem o Diabo quer a alma.
Tudo fazemos para descobrir as motivações, a génese das aberrações que se formam nos espíritos humanos para justificarem o abominável. Até os criminosos já vão dando a sua contribuição para a ciência da alma.
Fala-se do tédio em zonas depauperadas, no clímax do movimento de bombeiros, das sirenes, da azáfama nos momentos de pânico, nas imagens televisivas aterradoras mas esplendorosamente frenéticas.
Não descuramos as velhas invejas, antigas vinganças com destino certo e novas vinganças para destinatários desconhecidos e virtuais. Não podemos esquecer o espírito destruidor e autofágico que se instala nas mentes pervertidas.
Como lidar com esta situação que nos traz todos os Verões esta calamidade, mas em relação à qual, aparentemente, já estamos imunizados e conformados. Enfim, será o aproveitamento da biomassa a solução salvadora?
Será a responsabilização dos proprietários, muitos desconhecidos e desconhecedores de que na sua relação de bens consta mais uma bouça algures sabe-se lá onde?
Que fazer se o maior proprietário é o Estado e este tão mal se comporta nas suas terras e nas terras que, de qualquer forma, tutela?
Todos sabemos que as alterações ocorridas no mundo rural, em muitos aspectos com carácter definitivo, são de molde a que se tenha que pensar o seu ordenamento de uma outra maneira, de certo diversificada conforme o local e as suas particularidades.
Também o Estado terá que repensar a sua intervenção directa na gestão de espaços naturais. A sua responsabilidade é maior, a sua forma de proceder tem de ser exemplar.
O Parque Nacional da Peneda-Gerês é um pulmão quase virgem, uma reserva única de espécies vegetais e animais, de água, não fosse a zona do País em que há mais pluviosidade.
3.000 hectares da área do Parque foram vítimas da incursão de um fogo que, pasme-se, nasceu a 4 quilómetros do seu limite. Malgrado a larga mobilização de meios e pessoas, ninguém o susteve.
Aqui o contraditório está à visita. A função do Parque não é estar limpo, despido de vegetação baixa, privado de arbustos, estruturado e acessível a toda a espécie de jipes, tractores e tractoretas.
Mas hoje o mundo não é o mesmo de quando o Parque foi criado. As pessoas residentes no Parque foram menosprezadas, tudo lhes era interdito e severamente punido, mas eram conhecidas, aguentaram e nunca constituíram qualquer perigo.
Hoje os visitantes e interessados vêm de todos os lados. O perigo vem de longe, da força trituradora dos subúrbios das cidades, de gente de que se lhes não conhece o cerne, de pessoas sem ligação à terra, sem a alma dos bosques e sem valores.
Hoje o perigo vem dos promotores turísticos, uns interessados no turismo de massas e outros no de gente com massa, exigentes de espaços reservados, do usufruto privado de reservas dentro da reserva natural.
Hoje o perigo vem das empresas de energia eólica, do aliciamento das populações sobrantes, das tentativas de corrupção dos autarcas a quem querem fazer crer que podem fazer seu aquilo que é da humanidade.
O Parque Nacional da Peneda-Gerês tem um potencial de fornecimento de energia eólica descomunal que cria apetites às almas mais ávidas de lucro e às ambientalmente mais ingénuas, contraditoriamente pressionadas.
Esta questão tem de ser analisada friamente, sem os fundamentalismos que inquinaram a discussão sobre o caso das gravuras de Foz Côa. Nem o Parque da Peneda-Gerês pode ser uma reserva integral, nem o podemos deixar converter num gigantesco bolo de aniversário repleto de velas e foguetes no ar.
Se o Parque deve ter no seu seio zonas de fácil acesso, abertas ao lazer, para usufruto de todos, também é verdade que não se pode tolerar, nem turismo selvagem, nem turismo de condomínio fechado.
Não podemos prejudicar as populações que a custo lá se vão conservando e que precisam dalguma fonte de rendimento, mas não podemos deixar que conluios bem urdidos façam do Parque um mealheiro para mais uns tantos Chico-Espertos, de quem nem o Diabo quer a alma.