sexta-feira, 11 de agosto de 2006

A Feira das Vaidades

Toda a obra humana é efémera. No entanto os políticos, e em particular os autarcas, têm a pretensão de que o seu trabalho seja perene. Por isso se agarram tanto ao cimento e do alcatrão na esperança que eles perdurem.
Quando se vêm ruínas maravilhosas ficamos extasiados pela ciência, pelo trabalho que aí está depositado, mas também nos interrogamos sobre a civilização, o modo de viver, o sustentáculo humano que deu origem a tão grandiosas obras.
A importância que damos a essas obras depende em última instância do valor que, em conclusão deste interrogatório, atribuímos à vida que esteve por trás, que os rodeou e aos benefícios usufruídos com essas construções.
Se elas foram sumptuárias, despropositadas, inúteis, facilmente concluímos que o modo de viver das pessoas que as puseram em pé era desequilibrado, desajustado, imprevidente. A nossa ideia sobre elas passa a ser negativa.
Civilização que não consegue manter os seus monumentos intactos, úteis, com significado, mesmo que só religioso, é civilização que perdeu ou vai perder também o restante da sua herança.
Mas também quando se fazem “edificações” à revelia dos melhores critérios vigentes, do mais informado bom senso, acaba-se por cair no descrédito da comunidade e até no ridículo. Fazem-se coisas que, mesmo que a civilização perdure, estão condenadas ao camartelo.
Só quando uma sociedade vê as suas exigências mais básicas ficarem satisfeitas, que nunca estão, aliás, é que se pode dar ao luxo de investir na ostentação e na espectacularidade. Mas mesmo estas têm de ser sustentadas num gosto que perdure.
Mas nem as necessidades estão alguma vez plenamente preenchidas, nem o nosso sonho de beleza consegue atingir o pleno gozo. Pelo que, havendo sempre algo para fazer, na “sábia” opinião de Daniel Campelo nunca serei Presidente da Câmara de Ponte de Lima (A.M. 07/07/2006).
Descanse, não é essa a minha ambição. Mas como não vou ser puramente contemplativo. Como sei que na política nada é perfeito mas é necessário fazer com que a satisfação das necessidades esteja sempre mais perto do crescendo das exigências. Como sei graduar essas necessidades e avaliar a sua importância relativa.
E como tenho o direito de ter o meu gosto e de achar duvidoso o gosto dos outros, porque nós ainda não somos a imagem uns dos outros, pelo menos enquanto a civilização for aquilo que me parece ser.
Estou no direito de me pronunciar sobre todos os assuntos de interesse municipal, assim como sobre o ambiente físico, humano e social em que vivo. E, acima de tudo, quero ter uma opinião sobre quem deve ser o próximo Presidente da Câmara de Ponte de Lima.
E, quer os meus argumentos sejam válidos ou não, aceites ou não, não me vou paralisar, nem muito menos diminuir pelas afirmações gratuitas que o Senhor possa produzir sobre as minhas capacidades para exercer qualquer função.
A minha afirmação é contra a sacralização e o diabolismo com que se quer inquinar a discussão pública dos assuntos de interesse municipal. E a minha opinião manifestá-la-ei sempre, seja qual for o impacto que ela possa ter.
Se puder contribuir para que cada vez uma maior número de pessoas saiba ver como deve ser conduzida a coisa pública, analisar correctamente a conta corrente da gestão municipal, em termos de benefícios públicos, argumentar em termos dignos e apropriados em relação ao que está em causa, ficarei satisfeito.
Se puder contribuir para que das ideias que fervilham nas cabeças limianas, se não construam só ditirambos e apologéticas, aleivosias e “bota abaixo”, discursos anacrónicos e absurdos, retóricas balofas e inconsequentes, ficarei satisfeito.
Se em Ponte de Lima se puder vir a confrontar a utilidade das coisas com a vaidade das placas inauguradoras, os custos suportados com os benefícios recebidos, o presente com o que nos espera no futuro, ficarei satisfeito.
Se Ponte de Lima puder conhecer melhor o seu património humano e se a partir dele se puder construir algo válido para o futuro, se puder fazer com que resulte uma mais valia, uma base cultural sólida em que se possa beber a sabedoria dos construtores de ideias, ficarei satisfeito.
Sem estratégia está-se a construir um edifício assente em areia, sem conexão com o passado e sem ligação ao futuro, uma manta de retalhos a que, infelizmente alguma comunicação social dispensa os maiores encómios, porque vive de imagens passageiras e superficiais.