sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Que professores haveríamos que ter?

O conflito que opõe actualmente pessoas e estruturas do sector do ensino básico e secundário ao Governo não se insere na típica luta de classes, não é o proletariado a querer tomar o poder, é a luta de um grupo de privilegiados a querer garantir um modo de vida excelente, até porque privado de responsabilidades.
No sector do ensino as condições de trabalho confundem-se com a própria natureza do trabalho em si. Assim os sindicatos arrogam-se o direito de interferir em todos os aspectos que têm a ver com a natureza do trabalho, conteúdos, avaliação, estruturação do tempo, etc., porque eles afectariam as suas condições de trabalho. Ora os sindicatos não se podem opor à evolução do ensino.
Com mais ou menos custo o Governo lá foi pondo em funcionamento horários completos, aulas de substituição, estruturação de carreiras, aumento da idade de reforma, aqueles aspectos que, pela sua evidência, por revelaram uma desigualdade iníqua, tiveram o apoio da opinião pública e a que os sindicatos se tiveram que vergar.
Poder-se-á perguntar porque é que os professores tiveram que ceder em direitos que tinham adquirido depois de desenvolveram lutas com esse fim. Mas também se poderá perguntar porque é que os sindicatos cederam tão facilmente. Com certeza porque então não tinham razão, porque houve Governos que aceitaram ser chantageados, porque houve fraca noção do interesse nacional. E hoje o Governo viu-se num beco sem saída, atentas as suas responsabilidades e vá de tirar regalias que injustamente outros tinham concedido.
Era necessário que o Governo realçasse as extravagantes condições de prestação de trabalho dos professores para puder vir a alterar a própria natureza do ensino, que é aquilo que verdadeiramente interessa, aquilo de que o País já está à espera há décadas. Para um ensino diferente, em que é a sua própria natureza o factor a alterar, a alteração das condições de trabalho é pura consequência.
Perto do fim do ano lectivo de 2007/2008 os sindicatos, perante a união perversa que tinham conseguido no universo dos professores, aceitaram uma trégua e no sentido de consolidar a sua influência e distenderem o clima tenso e adverso gerado na opinião pública, tentaram entretanto reforçar a ligação a outras eventuais lutas ou contestações.
O certo é que, se alguém pensou em apresentar reivindicações na praça pública, estruturadas e com suficiente apoio, nada apareceu de substancial. Estes novos tempos estão para os poderosos, para as grandes corporações de professores, médicos, juízes, etc. Só alguns poucos destes grupos têm poderio e estrutura para se apresentar no palco deste estranho assalto ao poder, não para o exercer, mas para dele se aproveitar.
Sem espanto algum apareceram agora, no início do ano lectivo de 2007/2008, sindicatos plenos de pujança a congregar debaixo da sua capa, não quem compartilhe das ideias dos seus dirigentes, mas que dos comunistas têm aquela visão utilitária de que é para isto que eles servem. Agarraram-se a esta questão da avaliação porque aparentemente é a mais inócua e fácil de passar na opinião pública. Afinal ninguém gosta de prestar contas do que faz.
Cada professor tem o seu pretexto, a sua causa de insatisfação e perante a facilidade com que até aqui tudo lhes era concedido é natural que os mais ingénuos alinhem. Mas alinham também aqueles que um dia se entregaram de alma e coração a uma ideologia de direita e integram esta luta na sua luta mais geral contra a esquerda.
Alinham ainda aqueles cuja retórica não vai além da do populacho, do bota abaixo mesquinho e invejoso. Um amigo meu, professor, dizia-me que as críticas aos seus colegas utilizavam no geral uma linguagem demasiado popular, cheia de lugares comuns. É incrível como eles, pela sua parte, usem o mais reles argumentário político para achincalhar os governantes.
A ganância levou o nosso professorado a vender a sua velha e honesta imagem por um banquete à custa do orçamento e um plano de férias à maneira. Uma professora já disse na televisão que detestava o ambiente de trabalho que imperava agora na escola. É degradante o espectáculo que nos é dado por uma classe social fulcral para o futuro.
Na verdade ela transmite do nosso passado o mais fidedigno dos testemunhos, que nós sempre fomos assim, com um verbo verrinoso sempre pronto a disparar em todas as direcções e sem uma retórica consistente, perdoe-nos Camões e mais uns tantos. Mas esta gente só aprendeu a dividir orações dos Lusíadas e nunca fez um esforço para ir mais além.
Sempre atribuímos à escola do passado um conjunto de erros, mas nunca nos resolvemos a pegar neles a fundo e ainda por cima os problemas aumentaram com a sua mudança para escola inclusiva, que aglutina alunos de todas as origens. Nenhum plano para resolver as questões acumuladas será consistente se não começar pela mudança orgânica e funcional da escola. É importante mas não chega dar de comer aos alunos, dar-lhes transporte e o Magalhães para navegar.
O Governo está a querer implementar condições de trabalho ainda talvez desnecessárias na escola de hoje mas essenciais na escola do futuro. Também é natural que os professores de hoje se não sintam elementos da escola do futuro. Com o nosso passado, que professores haveríamos que ter? Fracos decerto. É certo que homens brilhantes cresceram no meio de tanta vulgaridade. Mas com o nosso futuro podemos e devemos ter bons professores.

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