Constatamos que num longo período desde a Idade Média houve uma evolução linear na maneira de encararmos a nossa inserção na actividade económica. Com o progresso da liberdade em geral também houve progressos na possibilidade de escolha do nosso lugar na economia. Claro que houve em períodos curtos retrocessos à mistura, que há sempre umas almas retrógradas que pretendem puxar a história para trás.
Até à Idade Média sedimentou-se um sistema de corporações no qual aos filhos quase só restava seguir o mesmo caminho dos pais. Lentamente e por força da satisfação de novas necessidades principalmente nas cidades burguesas, por força do desenvolvimento do comércio e da indústria artesanal lá se foram diversificando os caminhos dos filhos, sem fugir muito do figurino dos pais.
O comércio a longa distância, a indústria manufactureira, o desenvolvimento no domínio da arte e dos saberes permitiu novos rumos, novas perspectivas, sem que ao grosso da população se deixasse de aplicar muitas limitações na mobilidade, no acesso profissional, na liberdade de escolha. Só com o liberalismo muitas das velhas amarras se estilhaçariam.
Portugal seguiu nos séculos dezoito e dezanove, nuns casos com avanço noutros com manifesto atraso, a evolução dos países europeus. Mas devido ao fraco desenvolvimento industrial muitos modos de vida ancestrais permaneceram, e até, uma vez terminada a servidão, surgiu um sistema tipicamente português assente na subserviência.
Com Salazar houve um retrocesso evidente, mas com o 25 de Abril todas as forças se libertaram. Enquanto uns pugnaram pelo colectivismo, não faltaram aqueles que ambicionavam dedicar-se a actividades independentes e que lutaram pelo fortalecimento da iniciativa individual. Mas também estes se não libertaram do pecado original da dependência do Estado.
A ideia de que o Estado deve dar o empurrão inicial, deve apoiar quem quer ser independente e ter iniciativa tem-se vindo a fortalecer proveniente de outros modelos mas que em Portugal adquiriu laivos de fanatismo. O problema é que a tendência da estruturação da economia não caminha neste sentido. O Estado não nos pode garantir o lugar que desejamos, até porque há mais.
Porque entusiasma qualquer um, difundiu-se a ideia de não sermos empregados de ninguém. Não aturar toda a vida patrões e encarregados, não se conformar o nosso comportamento a maneiras de ser invasivas, não condicionar demasiado o nosso tempo a interesses alheios parece ser vantajoso para nós. Haverá melhores perspectivas de gratificação e valorização humana e profissional, panoramas mais aliciantes e promissores?
Os exemplos de sucesso vão surgindo um pouco por todo o lado, uns mais espectaculares que outros, sendo que algum deles se enquadrará melhor no nosso caso particular. E não faltará, para dar fluidez à imaginação, a explanação de todos os processos ilícitos, marginais que podem ser usados, e será estúpido não aproveitar, para garantir o sucesso. As pessoas parecem aceitar levianamente que os empresários não tenham obrigações similares aos empregados
Hoje na escola, um pouco a destempo, procura-se incentivar a expansão de uma cultura de iniciativa. Só que falta o enquadramento numa cultura cívica que tenha a ver com limitações éticas, objectivos pessoais conjugados com objectivos sociais, respeito pelos direitos alheios e não comprometimento do futuro. Não chega uma Lei punitiva ou orientadora se prevalece uma cultura de desenrascanço.
E quando se passa da escola para a realidade, para a política, vemos os políticos da oposição a falar de empreendorismo, iniciativa e risco mas a exigir do Governo ajudas e mais ajudas e pelo contrário os políticos do Governo a defender que todas as iniciativas a apoiar têm que ter só por si uma garantia quase absoluta de sucesso até porque o dinheiro não chega para todos.
Provavelmente ninguém tem toda a razão e andamos nós a ser empurrados de um lado para outro de modo, a ficarmos tontos. A um jovem não lhe restará outra alternativa se não procurar emprego. Se teoricamente um mundo de possibilidades se encontra aberto, são cada vez menores as condições económicas, sociais, profissionais para que um jovem sem experiência vença sozinho. Um empresário falhado arrastará esse anátema toda a vida.
A actividade económica é cada vez mais complexa, mais exigente em conhecimentos, capital, organização e mercado. Competir com quem já está instalado exige uma grande dose de inovação, uma visão apurada das oportunidades, uma determinação consistente. Muitos obstáculos são de tal ordem que sem uma grande conjugação de esforços é inútil lutar. Mas precisamente a obtenção de aliados é uma das qualidades para os empreendedores.
De uma coisa nos temos que convencer sem que isso deva constituir para nós uma derrota. As proporções de empregados, de trabalhadores por conta de outrem, são no conjunto do trabalho cada vez maiores. Em muitos ramos só as grandes organizações vencem, há sempre uma dimensão adequada em função do domínio, do local e do momento, mas que está sempre em crescimento.
Se nos prepararmos bem para sermos bons empregados e podermos ser bons empreendedores teremos vantagens evidentes. Se nos convencermos que temos de ser empreendedores a qualquer custo e não encontrarmos lugar adequado na organização económica, sofreremos uma grande desilusão e viveremos sempre decepcionados. E as vagas são cada vez menores.
Até à Idade Média sedimentou-se um sistema de corporações no qual aos filhos quase só restava seguir o mesmo caminho dos pais. Lentamente e por força da satisfação de novas necessidades principalmente nas cidades burguesas, por força do desenvolvimento do comércio e da indústria artesanal lá se foram diversificando os caminhos dos filhos, sem fugir muito do figurino dos pais.
O comércio a longa distância, a indústria manufactureira, o desenvolvimento no domínio da arte e dos saberes permitiu novos rumos, novas perspectivas, sem que ao grosso da população se deixasse de aplicar muitas limitações na mobilidade, no acesso profissional, na liberdade de escolha. Só com o liberalismo muitas das velhas amarras se estilhaçariam.
Portugal seguiu nos séculos dezoito e dezanove, nuns casos com avanço noutros com manifesto atraso, a evolução dos países europeus. Mas devido ao fraco desenvolvimento industrial muitos modos de vida ancestrais permaneceram, e até, uma vez terminada a servidão, surgiu um sistema tipicamente português assente na subserviência.
Com Salazar houve um retrocesso evidente, mas com o 25 de Abril todas as forças se libertaram. Enquanto uns pugnaram pelo colectivismo, não faltaram aqueles que ambicionavam dedicar-se a actividades independentes e que lutaram pelo fortalecimento da iniciativa individual. Mas também estes se não libertaram do pecado original da dependência do Estado.
A ideia de que o Estado deve dar o empurrão inicial, deve apoiar quem quer ser independente e ter iniciativa tem-se vindo a fortalecer proveniente de outros modelos mas que em Portugal adquiriu laivos de fanatismo. O problema é que a tendência da estruturação da economia não caminha neste sentido. O Estado não nos pode garantir o lugar que desejamos, até porque há mais.
Porque entusiasma qualquer um, difundiu-se a ideia de não sermos empregados de ninguém. Não aturar toda a vida patrões e encarregados, não se conformar o nosso comportamento a maneiras de ser invasivas, não condicionar demasiado o nosso tempo a interesses alheios parece ser vantajoso para nós. Haverá melhores perspectivas de gratificação e valorização humana e profissional, panoramas mais aliciantes e promissores?
Os exemplos de sucesso vão surgindo um pouco por todo o lado, uns mais espectaculares que outros, sendo que algum deles se enquadrará melhor no nosso caso particular. E não faltará, para dar fluidez à imaginação, a explanação de todos os processos ilícitos, marginais que podem ser usados, e será estúpido não aproveitar, para garantir o sucesso. As pessoas parecem aceitar levianamente que os empresários não tenham obrigações similares aos empregados
Hoje na escola, um pouco a destempo, procura-se incentivar a expansão de uma cultura de iniciativa. Só que falta o enquadramento numa cultura cívica que tenha a ver com limitações éticas, objectivos pessoais conjugados com objectivos sociais, respeito pelos direitos alheios e não comprometimento do futuro. Não chega uma Lei punitiva ou orientadora se prevalece uma cultura de desenrascanço.
E quando se passa da escola para a realidade, para a política, vemos os políticos da oposição a falar de empreendorismo, iniciativa e risco mas a exigir do Governo ajudas e mais ajudas e pelo contrário os políticos do Governo a defender que todas as iniciativas a apoiar têm que ter só por si uma garantia quase absoluta de sucesso até porque o dinheiro não chega para todos.
Provavelmente ninguém tem toda a razão e andamos nós a ser empurrados de um lado para outro de modo, a ficarmos tontos. A um jovem não lhe restará outra alternativa se não procurar emprego. Se teoricamente um mundo de possibilidades se encontra aberto, são cada vez menores as condições económicas, sociais, profissionais para que um jovem sem experiência vença sozinho. Um empresário falhado arrastará esse anátema toda a vida.
A actividade económica é cada vez mais complexa, mais exigente em conhecimentos, capital, organização e mercado. Competir com quem já está instalado exige uma grande dose de inovação, uma visão apurada das oportunidades, uma determinação consistente. Muitos obstáculos são de tal ordem que sem uma grande conjugação de esforços é inútil lutar. Mas precisamente a obtenção de aliados é uma das qualidades para os empreendedores.
De uma coisa nos temos que convencer sem que isso deva constituir para nós uma derrota. As proporções de empregados, de trabalhadores por conta de outrem, são no conjunto do trabalho cada vez maiores. Em muitos ramos só as grandes organizações vencem, há sempre uma dimensão adequada em função do domínio, do local e do momento, mas que está sempre em crescimento.
Se nos prepararmos bem para sermos bons empregados e podermos ser bons empreendedores teremos vantagens evidentes. Se nos convencermos que temos de ser empreendedores a qualquer custo e não encontrarmos lugar adequado na organização económica, sofreremos uma grande desilusão e viveremos sempre decepcionados. E as vagas são cada vez menores.
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