sexta-feira, 27 de julho de 2007

Como pode ocorrer a mudança na C.M. de Ponte de Lima

No panorama político limiano é comummente assumido que o futuro passa inevitavelmente por aqueles que já tem experiência no executivo autárquico e vá lá que alguma experiência, mesmo como vereadores a tempo inteiro, já a tem alguns elementos das três forças políticas mais representativas: o P.S., o P.S.D. e o C.D.S.
No P.S.D. tudo se encaminha para que o seu candidato seja o seu actual líder e ex-autarca João Barreto, que satisfaz aquela condição. Haverá poucos interessados em fazer frente a este potencial candidato, a não ser que António Martins, a eminência parda, desenterre alguma nova surpresa da sua cartola.
No fundo o P.S.D., a manterem-se as coisas como estão, vai resignar-se a esperar que um dia a direita se una e o C.D.S. lhe deite a mão. Entretanto procura sedimentar-se à volta de um núcleo duro de históricos que, embora tendo no geral dado fraca conta de si como políticos e gestores, salve-se o líder informal, procura agora ir juntando alguns novos trunfos.
No P.S. não parece nada viável que qualquer uma das pessoas que já exerceu lugares de vereação a tempo inteiro venha a assumir uma candidatura, estando porém o actual vereador sem pelouro Jorge Silva, mercê de um trabalho aturado e persistente, só lhe faltará a necessária visibilidade para ter óptimas condições para vir a ser um candidato a ter em contar.
Dizem que no P.S. há históricos que pretendem renascer, mas não lhes auguro grande futuro. Há sempre quem tenha a visão estreita da política como um fonte de benefícios e qualquer cor lhe sirva para atingir um objectivo. Há quem nunca tenha beneficiado do campelismo porque não lhe foi dada a importância que presumia ter e pode, pensando ter chegada a sua vez, chegar-se ao P.S.
Não há guardiães do templo e todos poderão aderir. Mas, a não haver uma renovação consistente, o P.S. corre o risco de ver perder todo o trabalho que está a ser feito e de ficar num dilema de ser tomado ou por anteriores derrotados ou por arrivistas ou por uma aliança dos dois.
O P.S. é um partido vulnerável, sem apoios regionais ou nacionais, com muita gente próxima, mas sem motivação para aderir e que só a custo se integrará. É necessário um corte com o passado em que desempenhou, quando lhe deixaram, o papel de acólito e de mestre-de-cerimónias de outra força política substancialmente diferente e chamar a si um papel afirmativo e bem demarcado.
Perdeu os votos a partir de 1989 quando do voto táctico em Fernando Calheiros e Daniel Campelo, perdeu a alma a partir de 2001 quando dos diabólicos acordos Campelo/Guterres. Não será fácil conseguir agregar um conjunto vasto de pessoas credíveis, capazes de defender um projecto perdurável que se saiba não estar dependente de conjunturas exteriores, nem de malabarismos interiores.
È que não falta gente, pronta a alinhar pelo P.S.D. ou pelo P.S. que queira agitar as águas, mas não o faz, nem sabe como o fazer. Este tipo de gente que exerce um efeito paralisante, porque espera sentada que factos menos correctos sejam trazidos à baila, não deixarão de pretender aparecer na primeira fila a querer reclamar alguma gratificação pelo nada que fizeram.
É necessário implantar na vida pública princípios de seriedade e rigor, fazer partilhar as ideias, oferecer colaboração institucional e ter lealdade para quem corresponder do mesmo modo. Mas a cultura que se instalou em Ponte de Lima é antes favorável ao chico-espertismo, o desenrasque de cada um, ao recurso aos amigos, aos conhecidos, aos favores políticos e outros.
Não é que esta cultura, por natureza situacionista, seja um exclusivo do C.D.S. de Ponte de Lima, porque tem defensores por esse País fora, mas em Ponte de Lima tem sido aproveitada com mãos de mestre e com a ajuda da televisão, para prosseguir uma política desconexa, festiva mas suicidária.
Este interesse televisivo é mesmo a manifestação clara que há aqui algo errado, que certo não vejo o quê, e as estrelas televisivas são o que são. Mas Daniel Campelo, como estrela com lugar assegurado no firmamento televisivo, corre sereno, consciente de que tem na mão o seu futuro, caia ou não Paulo Portas, suba ou não Abel Baptista.
As iniciativas que promove são todas patrocinadas pelo seu único e exclusivo critério, a que os seus vereadores se têm que sujeitar para terem algum lugar no palco mediático. Contidos na sua projecção própria, cirandam à volta do líder, louvam-lhe o gosto, despem-se de quaisquer ideias que os seus espíritos possam conceber, se é que ainda geram alguma.
Os seus papeis são diferenciados como convém a um bom líder que escolha a sua gente meticulosa e friamente, tratando de lhes podar os ímpetos de rebeldia. Quem lê o “Foi Assim” de Zita Seabra não encontra grandes diferenças com Álvaro Cunhal. Assim sendo não há a preparação de um sucessor, de alguém que agarre a “obra” e que a diga sua, porque isso nunca corresponderá à realidade.
Aliás nenhum líder tradicional se pretende clonar, não seja o clone melhor do que ele, sequer tão bom. E que se saiba até hoje Daniel Campelo só procurou caixas de ressonância, que se acha suficiente para o trabalho que tem. De herdeiros não vejo nem bons nem maus, vejo vereadores funcionalizados sem qualquer peso político, que não vá além do tradicional caciquismo.