sexta-feira, 27 de julho de 2007

Porque fazer da matemática um drama?

Não precisamos de ir muito para além do conhecimento empírico mas estes Americanos são uns desconfiados e vai de fazer estudos e mais estudos que eles queriam saber porque raio de razão hão-de ficar atrás dos Japoneses nesta questão das matemáticas.
E vai de chegar à conclusão que do talhado para a dança dos números até ao mentecapto, perfeitamente incapaz de fazer algo a dois números, seja qual for o sinal que os ligue, vai uma gradação contínua, pelo menos enquanto não houver correcções genéticas e inseminação artificial generalizada.
Não era coisa que não soubéssemos, que em teoria assim seria, mas na prática há países que apresentam melhores resultados no ensino e em particular o Japão, sem tal se dever a razões genéticas. Foi um descanso para a consciência americana quando, pelos estudos realizados, se chegou à conclusão que os Japoneses só conseguiram distorcer a sua performance matemática durante o período de ensino e com reflexos cada vez menores nos cinco anos seguintes.
Recomecemos para melhor percepção: As capacidades das pessoas são muitos semelhantes em quase todos os países com características parecidas em certos vectores, como o desenvolvimento médio e outros que aqui não interessará especificar. Grosso modo há uma norma de 20 % de pessoas predispostas, 20 % de tolerantes, 20 % de resignados, 20 % de renitentes e 20 % de relapsos.
Os adjectivos que eu utilizo dão bem a ideia do sentimento estritamente pessoal que cada pessoa assume nesta relação com a dita. Este sentimento pode, nos extractos médios, ser objecto de alguma intervenção das condições ambientais de modo a fazer tender a balança para um dos lados. Melhorando no caminho da excelência ou piorando no caminho da mediocridade.
Os Americanos queixavam-se de não sair da reles mediania. Os Portugueses queixam-se de não sair da pior mediocridade. Os Japoneses esses conseguiram, com uma grande dose de empenho e espírito de sacrifício, distorcer para melhor o seu panorama matemático, reduzindo drasticamente o número de péssimos e fracos e aumentando significativamente os excelentes e bons.
Como prémio de consolação os Americanos ficaram a saber que este resultado não é eterno e que aquela norma dos 20 % é para durar, na medida em que os alunos que conseguem melhorar a sua performance no ensino se não derem a devida prática aos conhecimentos adquiridos nos cinco anos seguintes, voltam ao nível médio que os Americanos com menos esforço conseguiram obter.
Como os conhecimentos adquiridos não o devem ser só para efeito documental, do dito canudo, mas para habilitar as pessoas ao exercício de uma qualquer actividade exigente, essas pessoas, utilizando-os, preservam-nos ou melhoram-nos mesmo com o tempo. A nós, como pior não podemos estar, restar-nos-á esperar também que as coisas não piorem depois do ingresso no mundo do trabalho e aí se consiga evitar a erosão natural dos conhecimentos ou na melhor das hipóteses alguma melhoria.
A melhor preparação matemática tem resultados económicos evidentes, maugrado a economia ter muitas outras linhas a cozê-la. Todos em Portugal acham que seria provável que um esforço determinado nesta área poderia ser determinante no acesso a outro patamar de desenvolvimento. A questão está em saber onde se deve aplicar esse esforço: se nos alunos, se nos professores ou será nos políticos?
As explicações para os nossos resultados medíocres estão ao nível das explicações para o nosso abandono escolar. Este, em grande percentagem, deve-se à criação de aversões enigmáticas e parece irreversíveis a algumas disciplinas, entre as quais o lugar de topo é ocupado pela dita.
Haverá pois que prevenir atempadamente o surgimento dessas rejeições, tarefa que, a não ser desempenhada pelos pais, tem que ser desempenhada pelos professores. Porque, se os pais não incentivam, só em certos casos, com graves anomalias familiares, atrapalham.
Pelo contrário existe uma grande percentagem de professores que atrapalham e não é pouco: Aqueles que foram alunos medíocres, aqueles que exercem outras profissões, sendo a de professor um part-time, aqueles a quem só lhes resta a vontade de dizer mal do Estado que lhes paga de modo principesco, entre outros.
Assim como o aluno não pode ser incentivado a abandonar o sistema de ensino prematuramente, antes de ter conseguido atingir um mínimo ao alcance das suas capacidades, também não deve ser estimulado a achar-se incapaz de progredir no conhecimento matemático a níveis razoáveis, o que os professores fazem, declarando-se incapazes de inverter a situação dentro do sistema.
A dificuldade inerente à matemática está provado ser ultrapassável, dependendo tão só do esforço que cada um possa despender no seu ensino. Se só está ao alcance fácil de um em cada cinco alunos está provado. Mas também o está que muitos outros têm capacidade com um pouco mais de esforço de chegar a bons e mesmo excelentes níveis. Haverá uma minoria que digamos “nem a martelo” mas convenhamos que isso em nada diminui essas pessoas.
Entre o excelente, o bom, o razoável, o mínimo e o péssimo, nem todas as pessoas vão ter necessidade durante a sua vida de utilizar sequer os conhecimentos que têm. Depois a sociedade tem lugar para todas essas pessoas. Além disso uma pessoa nunca está só numa sociedade em que, pelo menos teoricamente, haverá sempre funções complementares.
O papel da matemática é uma parcela no todo do saber e só será nefasto se, atrás de si, forem negligenciados outros saberes que da mesma só partilham uma dose muito reduzida. Pode ser contraproducente tanto empenho num só ramo por poder fazer tombar toda a árvore ingloriamente, antes mesmo de dar frutos.
O melhor seria um esforço global que nos alcandorasse acima da nossa proverbial displicência, abaixo da qual estão alunos e professores. Restará aos políticos formularem teorias coerentes assentes em organizações capazes.