sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

A nossa Ponte Romano/Medieval não é uma maravilha?

Dos 793 monumentos nacionais sete peritos seleccionaram os 77 mais bonitos e de maior significado segundo a organização deste evento - http://www.7maravilhas.pt/. Numa segunda fase um Conselho de Notáveis determinou quais são as 21 pré-maravilhas que estão a ser sujeitas ao voto popular para eleger as 7 maravilhas de Portugal.
A nossa Ponte Romano/Medieval resistiu à primeira peritagem, ao primeiro embate, à primeira selecção. Já quando o Conselho de Notáveis foi escolher as tais 21 pré-maravilhas deitou a nossa Ponte por água abaixo.
Protesto. Primeiro porque há um excesso de monumentos do mesmo tipo, de que seria fácil escolher menos quantidade para a selecção final. São sete monumentos do tipo castelo, fortaleza; Sete do tipo igreja, mosteiro ou convento; Quatro do tipo paço ou palácio; Duas ruínas romanas e a Universidade de Coimbra, de algum modo tipo mosteiro. Para haver tanto castelo e mosteiro não há uma ponte, um aqueduto, uma gruta, uma gravura de Foz Côa, um socalco do Sistelo.
Segundo pelo valor em si da Ponte. A parte romana tem velhice que chegue, arte e singularidade que baste. A parte medieval complementa uma obra que teria sido semi-destruída pelo tempo e talvez pelo desleixo humano, numa época de grande indefinição do poder e de grandes cuidados a ter com outros perigos, antes e nos primeiros tempos da nossa nacionalidade.
Terceiro porque, comparativamente e atendendo ao significado dos monumentos, a nossa Ponte representa um esforço sempre retomado durante séculos para, quase só com o trabalho humano e o seu engenho, lutar contra poderosas forças da natureza, para fazer e manter uma obra com evidente benefício para toda a população.
Contrariamente, há na grande maioria dos monumentos seleccionados uma manifestação de ostentação do poder, principalmente proporcionado pelas descobertas e pela exploração da escravatura e do ouro do Brasil. Mesmo que um terço deles sejam em glória de Deus.
Por isso também a minha dificuldade em escolher a minhas 7 maravilhas. Tive que duplicar escolhas de entre a mesma categoria de monumentos, o que era de todo dispensável.
Não estando a nossa Ponte, e se fosse para escolher uma só maravilha, restava-me o Palácio Nacional da Pena em Sintra, pelo seu ecletismo arquitectónico, pelo exotismo, pelo manifestação de romantismo, pelo seu carácter volúvel que representa o carácter volúvel da monarquia Maria/Fernandina.
Dir-se-á que este Palácio tem beleza, sumptuosidade, esplendor, que tem. Que o Castelo de Almourol ou de Óbidos têm imponência, que têm. Que o mosteiro de Alcobaça ou da Batalha têm religiosidade, que têm. Que as ruínas romanas de Évora ou Conímbriga têm por si a história, que têm.
A Ponte Romano/Medieval de Ponte de Lima tem história, imponência, beleza, trabalho, sacrifício feito com significado e objectivos válidos para todos, não é um objecto lúdico, balofo.
Só que, por erro de um grupo irresponsável de notáveis que não dão a cara, não podemos votar nela.