Vamos continuar pendurados da obtenção de uma energia limpa e inesgotável. É a miragem desta salvação que nos pode alimentar mais um ano de percurso rumo ao abismo que, à falta dela, nos está garantido. Mas mesmo que um dia acordemos, quem cá estiver, com a notícia mais importante de toda a história humana, nem assim todos os problemas ficarão resolvidos.
O efeito de estufa, o aumento de temperatura e a desregulação climática aí estão para nos atormentar com a ténue conforto dos ex-presidentes e responsáveis hoje sem responsabilidades. A já velha esperança na energia termonuclear pode não vir a tempo.
A energia nuclear suja obtida de materiais radioactivos, que tem sido o nosso pesadelo há mais de sessenta anos, não é a solução e os seus problemas reavivam-se na Coreia do Norte e no Irão. Para alguns volta a existir a visão do mal, que não absoluto, suficientemente tenebroso.
A manipulação das consciências vai continuar criando monstros onde seria presumível florescerem jardins. Cada vez haverá mais pessoas com ideias “límpidas” e certezas “absolutas” que quererão impor-se pela lei da fornalha, suprema lei dos tiranos mais perversa que a guilhotina, a bala, ou a cadeira eléctrica. O fogo purificador vai continuar a ser o alimento de todos os cultivadores de mistérios, que transformam em gases invisíveis todas as mazelas do universo.
Mas haja esperança que ainda há gente boa. Os monstros de há uns anos tornaram-se anjos protectores da humanidade. Alguns regimes árabes aparentemente passaram a tormenta do fundamentalismo. A China e a Índia ambicionam tão só tornarem-se potências económicas pacíficas. Outros países mais pequenos lutam pelo seu lugar na economia global.
Malgrado, o estertor de alguns fósseis, resistentes de um passado decrépito, produz algumas fracas imitações. Alguns países latino-americanos tardam a ter juízo e tornam-se fomentadores do narcotráfico. A África há-de continuar a ingloriamente alimentar régulos ditadores.
As mesmas aberrações, sociedades sem norte resultam de antigas influências tanto soviéticas como ocidentais. Os resquícios tanto do socialismo real como da ideologia liberal adaptaram-se à exploração dos recursos, ao seu cortejo de corrupções e distorções sociais.
A própria sociedade industrial se vê confrontada com o exagero da acumulação capitalista. Economias paralelas, dinheiro sujo, esquemas enleantes, permissividades sedutoras, informações de privilégio, decisões gizadas fora dos locais apropriados e dos contextos legais.
A sociedade do espectáculo que leva o homem público a ser uma marioneta nas mãos dos adoradores de imagens, dos malabaristas da palavra, dos ficcionistas dos destinos pré-concebidos, define regras pretensamente iguais, justas e universais.
O homem público num primeiro movimento cola-se ao lugar, ao tacho, à função, sem curar do seu desempenho, da sua substância, da sua caducidade. Se tem mais ambição transita entre eles, sem passos em falso, sem cair do patamar a que se pôde alcandorar. Até poderia ter tido mérito um dia, um só dia até, mas a sociedade paga toda a vida.
O homem público tornou-se sinónimo de parasita, que só o permanente enfoque da comunicação social na classe e a alternada atenção nos indivíduos permite dar algum brilho e esconder o cinzentismo. O homem comum é sempre dispensável de qualquer serviço em que trabalhe enquanto o público é essencial em qualquer poleiro em que se encontre.
Mas o homem público não exerce sozinho o poder, normalmente refugia-se em estruturas de assalto e conservação do poder e mesmo que nem o chegue a exercer efectivamente, contribuiu para o corpo que o exerce.
A corporização do poder que muitos idealistas imaginaram no começo do século XX como a solução para uma política justa e um mundo de paz faliu. O regresso a um passado idílico ou a um igualitarismo primitivo redundou em fracassos rotundos. As contradições internas enredaram estes sistemas.
Depois do estouro de tantos regimes, por dentro de si mesmos, resta ao homem ambicionar algo mais impessoal e inclusivo, com menos tendências e dispersão. Depois de um aparente abandono a que o homem foi sujeito pela implosão de sistemas artificiais assentes na rigorosa divisão do trabalho e de classes, grupos ou categorias, dêem-lhe hipocritamente o nome que queiram dar, o homem está condenado a procurar o seu caminho, a sua dignidade, o seu impreciso “lugar” no meio de uma anarquia que resta institucionalizada.
Com o declínio do poder das corporações os grupos foram perdendo a credibilidade, o respeito de outros grupos, a honorabilidade que era atribuída a alguns. Não faltarão as tentativas de recuperar o passado, criar uniões ocasionais, artificialismos regulamentados, racionalismos rígidos e impróprios da natureza humana. Não faltarão os perigosos iluminados, que não iluministas, prontos a levar à arreata os cegos de espírito e estes a quererem mandar para o fogo os que conservam alguma lucidez.A incerteza transferida da economia para a política vai ser agora o lugar em que o homem pode despontar, em que todos e não só os desfavorecidos vão ter que lutar e dar à sociedade mais do que o seu egoísmo permite. A dignidade perdida por muitos, porque assente em princípios erróneos, vai ter que, enfim, ser conquistada a pulso e defendida pela prática de cada um.
O efeito de estufa, o aumento de temperatura e a desregulação climática aí estão para nos atormentar com a ténue conforto dos ex-presidentes e responsáveis hoje sem responsabilidades. A já velha esperança na energia termonuclear pode não vir a tempo.
A energia nuclear suja obtida de materiais radioactivos, que tem sido o nosso pesadelo há mais de sessenta anos, não é a solução e os seus problemas reavivam-se na Coreia do Norte e no Irão. Para alguns volta a existir a visão do mal, que não absoluto, suficientemente tenebroso.
A manipulação das consciências vai continuar criando monstros onde seria presumível florescerem jardins. Cada vez haverá mais pessoas com ideias “límpidas” e certezas “absolutas” que quererão impor-se pela lei da fornalha, suprema lei dos tiranos mais perversa que a guilhotina, a bala, ou a cadeira eléctrica. O fogo purificador vai continuar a ser o alimento de todos os cultivadores de mistérios, que transformam em gases invisíveis todas as mazelas do universo.
Mas haja esperança que ainda há gente boa. Os monstros de há uns anos tornaram-se anjos protectores da humanidade. Alguns regimes árabes aparentemente passaram a tormenta do fundamentalismo. A China e a Índia ambicionam tão só tornarem-se potências económicas pacíficas. Outros países mais pequenos lutam pelo seu lugar na economia global.
Malgrado, o estertor de alguns fósseis, resistentes de um passado decrépito, produz algumas fracas imitações. Alguns países latino-americanos tardam a ter juízo e tornam-se fomentadores do narcotráfico. A África há-de continuar a ingloriamente alimentar régulos ditadores.
As mesmas aberrações, sociedades sem norte resultam de antigas influências tanto soviéticas como ocidentais. Os resquícios tanto do socialismo real como da ideologia liberal adaptaram-se à exploração dos recursos, ao seu cortejo de corrupções e distorções sociais.
A própria sociedade industrial se vê confrontada com o exagero da acumulação capitalista. Economias paralelas, dinheiro sujo, esquemas enleantes, permissividades sedutoras, informações de privilégio, decisões gizadas fora dos locais apropriados e dos contextos legais.
A sociedade do espectáculo que leva o homem público a ser uma marioneta nas mãos dos adoradores de imagens, dos malabaristas da palavra, dos ficcionistas dos destinos pré-concebidos, define regras pretensamente iguais, justas e universais.
O homem público num primeiro movimento cola-se ao lugar, ao tacho, à função, sem curar do seu desempenho, da sua substância, da sua caducidade. Se tem mais ambição transita entre eles, sem passos em falso, sem cair do patamar a que se pôde alcandorar. Até poderia ter tido mérito um dia, um só dia até, mas a sociedade paga toda a vida.
O homem público tornou-se sinónimo de parasita, que só o permanente enfoque da comunicação social na classe e a alternada atenção nos indivíduos permite dar algum brilho e esconder o cinzentismo. O homem comum é sempre dispensável de qualquer serviço em que trabalhe enquanto o público é essencial em qualquer poleiro em que se encontre.
Mas o homem público não exerce sozinho o poder, normalmente refugia-se em estruturas de assalto e conservação do poder e mesmo que nem o chegue a exercer efectivamente, contribuiu para o corpo que o exerce.
A corporização do poder que muitos idealistas imaginaram no começo do século XX como a solução para uma política justa e um mundo de paz faliu. O regresso a um passado idílico ou a um igualitarismo primitivo redundou em fracassos rotundos. As contradições internas enredaram estes sistemas.
Depois do estouro de tantos regimes, por dentro de si mesmos, resta ao homem ambicionar algo mais impessoal e inclusivo, com menos tendências e dispersão. Depois de um aparente abandono a que o homem foi sujeito pela implosão de sistemas artificiais assentes na rigorosa divisão do trabalho e de classes, grupos ou categorias, dêem-lhe hipocritamente o nome que queiram dar, o homem está condenado a procurar o seu caminho, a sua dignidade, o seu impreciso “lugar” no meio de uma anarquia que resta institucionalizada.
Com o declínio do poder das corporações os grupos foram perdendo a credibilidade, o respeito de outros grupos, a honorabilidade que era atribuída a alguns. Não faltarão as tentativas de recuperar o passado, criar uniões ocasionais, artificialismos regulamentados, racionalismos rígidos e impróprios da natureza humana. Não faltarão os perigosos iluminados, que não iluministas, prontos a levar à arreata os cegos de espírito e estes a quererem mandar para o fogo os que conservam alguma lucidez.A incerteza transferida da economia para a política vai ser agora o lugar em que o homem pode despontar, em que todos e não só os desfavorecidos vão ter que lutar e dar à sociedade mais do que o seu egoísmo permite. A dignidade perdida por muitos, porque assente em princípios erróneos, vai ter que, enfim, ser conquistada a pulso e defendida pela prática de cada um.