Sempre tenho dito que a “coisa” mais relativa que há é o gosto e que é o gosto que nos liberta, nos dá personalidade e valor. Mas não adiro à teoria do bom gosto, qualquer que seja o entendimento que sobre isso se tenha, muito menos quando se entende por tal algo bem definido e intocável.
Sendo humano tenho o meu gosto, nem bom nem mau, relativo como o dos outros humanos, e, nestas lides “croniqueiras” de comentarista, para simplificar, como convém, associei o meu gosto ao espírito leve mas não leviano da garça.
Uns queriam que eu fosse uma águia, voando triunfante sobre a presa, capaz de repentinamente picar sobre a triste vítima que assim acabaria morta e dilacerada. E, qual parvalhão eu fosse, aparecia com mais uns tantos pilantras que me acompanhassem a gritar bem alto: vitória!...vitória!
Outros queriam que eu tivesse a espírito do abutre, tivesse a calma de um monge e a paciência de um pajem, suficientes para esperar que alguém se encarregasse de matar a vítima e, prostrada que ela fosse no chão, já meio esventrada que estivesse, cairia calmo e pachorrento sobre ela, só tendo então que me preocupar com que os outros abutrezinhos me não tirassem o meu quinhão.
Outros ainda quereriam que eu não existisse, que a existir estive quedo e calado, que o jogo corre o risco de ficar baralhado e a vida correria bem sem mim. A esses pouco interessa o saber, antes interessa o poder, o comer e outras coisas mais, com certeza. Mas a estes eu não ligo patavina.
Eu sei que, infelizmente, a maioria das pessoas têm espírito de abutre, que a experiência diz, por exemplo, que o poder autárquico não se ganha, perde-se, que é preciso esperar. Mas eu não estou aqui para fazer politiquice barata e acho que até já é tarde para muita gente perceber isso.
Aqueles que têm ambições a águias, que são muitos, e que se preocupam fundamentalmente em ganhar posição à partida, que tem imensa dificuldade em lançar o seu voo, no geral vão desprezando os outros, mas se aparece um mais destemido, porque acham que alguém tem de fazer o trabalho duro, que seja esse a fazê-lo.
Para não gastar energias, que a águia gosta de atacar pelo seguro, nada como alguém que faça o trabalho de sapador, levante a caça, faça estardalhaço onde o bom repasto possa surgir. O problema é que muitos daqueles abutres que se querem passar por águias, poucos têm arcabouço para o virem a ser e nem conseguem sequer convencer os amigos.
Não é águia quem quer e se vemos o repasto aparecer abocanhado por alguns é porque esses tiveram a arte de se colocarem no local exacto, no momento exacto, para que as ditas presas, fugindo às águias-reais, lhes possam vir a entrar pela boca dentro. Já algum mérito terão porque os abutres, esses que não fazem um esforço para se levantarem, só lá chegam pelo cheiro das vísceras.
No meio deste panorama avícola que prazer imenso em me identificar com a postura inteligente, com os pés bem assentes em terra, vigilante e pacífica da garça. O rio chega para todos e a garça tem o seu espaço, não gosta de peixes mortos e não está à espera que qualquer outra garça escorrace os vivos para a sua beira, para os apanhar.
Discutir gostos é muito difícil e prometo não os discutir mais. Sinceramente espero que não ponham em causa os meus gostos com estafados argumentos do género: Não tens envergadura para isto, isto não é do teu domínio, precisas de umas penas maiores, mais vistosas e atractivas para voares como deve ser.
Por sorte, ou por falta dela, o nosso rio é pequeno, os nossos assuntos parecem caber todos na palma de uma mão e por isso os inaptos cedo chegam a conclusão conclusivas, passe a redundância, daquelas de que não vale a pena mexer mais no assunto. Então há imensa gente que diz que tudo já está discutido.
Então a “criatividade” dessas pessoas vira-se para outro lado, para o nacional, para o internacional mesmo, e enchem-nos de sentenças sem recurso que as instâncias que elas congeminam nos seus cérebros já estão todas ultrapassadas.
A garça não se coíbe de fazer alguma referência ao nacional, convencida que está que os maus exemplos sempre proliferam e que os bons dificilmente cá chegam. Mas reconhece que falar destes assuntos é falar de algo bastante distante para muita gente e que se pode aprender também com assuntos que nos tocam de mais perto, mesmo que estejamos alheados deles e os não vejamos.
A garça está convencida que há beleza na areia, na água do rio, no azul do céu, no sorriso, tanto como no ar compenetrado de quem pensa. A garça está convencida que há atracções e aversões epidérmicas que podem provir da educação ou da imitação mas não são racionais e é necessário fugir a elas.
A garça está convencida que não é a natureza do assunto que faz a diferença, mas a maneira como ele é abordado. A garça está convencida que o afecto, a emoção e a inteligência são a trilogia de cuja concordância resultam os seres mais valiosos. Quem se banha com água e não ama a água é um ser incompleto.
Sendo humano tenho o meu gosto, nem bom nem mau, relativo como o dos outros humanos, e, nestas lides “croniqueiras” de comentarista, para simplificar, como convém, associei o meu gosto ao espírito leve mas não leviano da garça.
Uns queriam que eu fosse uma águia, voando triunfante sobre a presa, capaz de repentinamente picar sobre a triste vítima que assim acabaria morta e dilacerada. E, qual parvalhão eu fosse, aparecia com mais uns tantos pilantras que me acompanhassem a gritar bem alto: vitória!...vitória!
Outros queriam que eu tivesse a espírito do abutre, tivesse a calma de um monge e a paciência de um pajem, suficientes para esperar que alguém se encarregasse de matar a vítima e, prostrada que ela fosse no chão, já meio esventrada que estivesse, cairia calmo e pachorrento sobre ela, só tendo então que me preocupar com que os outros abutrezinhos me não tirassem o meu quinhão.
Outros ainda quereriam que eu não existisse, que a existir estive quedo e calado, que o jogo corre o risco de ficar baralhado e a vida correria bem sem mim. A esses pouco interessa o saber, antes interessa o poder, o comer e outras coisas mais, com certeza. Mas a estes eu não ligo patavina.
Eu sei que, infelizmente, a maioria das pessoas têm espírito de abutre, que a experiência diz, por exemplo, que o poder autárquico não se ganha, perde-se, que é preciso esperar. Mas eu não estou aqui para fazer politiquice barata e acho que até já é tarde para muita gente perceber isso.
Aqueles que têm ambições a águias, que são muitos, e que se preocupam fundamentalmente em ganhar posição à partida, que tem imensa dificuldade em lançar o seu voo, no geral vão desprezando os outros, mas se aparece um mais destemido, porque acham que alguém tem de fazer o trabalho duro, que seja esse a fazê-lo.
Para não gastar energias, que a águia gosta de atacar pelo seguro, nada como alguém que faça o trabalho de sapador, levante a caça, faça estardalhaço onde o bom repasto possa surgir. O problema é que muitos daqueles abutres que se querem passar por águias, poucos têm arcabouço para o virem a ser e nem conseguem sequer convencer os amigos.
Não é águia quem quer e se vemos o repasto aparecer abocanhado por alguns é porque esses tiveram a arte de se colocarem no local exacto, no momento exacto, para que as ditas presas, fugindo às águias-reais, lhes possam vir a entrar pela boca dentro. Já algum mérito terão porque os abutres, esses que não fazem um esforço para se levantarem, só lá chegam pelo cheiro das vísceras.
No meio deste panorama avícola que prazer imenso em me identificar com a postura inteligente, com os pés bem assentes em terra, vigilante e pacífica da garça. O rio chega para todos e a garça tem o seu espaço, não gosta de peixes mortos e não está à espera que qualquer outra garça escorrace os vivos para a sua beira, para os apanhar.
Discutir gostos é muito difícil e prometo não os discutir mais. Sinceramente espero que não ponham em causa os meus gostos com estafados argumentos do género: Não tens envergadura para isto, isto não é do teu domínio, precisas de umas penas maiores, mais vistosas e atractivas para voares como deve ser.
Por sorte, ou por falta dela, o nosso rio é pequeno, os nossos assuntos parecem caber todos na palma de uma mão e por isso os inaptos cedo chegam a conclusão conclusivas, passe a redundância, daquelas de que não vale a pena mexer mais no assunto. Então há imensa gente que diz que tudo já está discutido.
Então a “criatividade” dessas pessoas vira-se para outro lado, para o nacional, para o internacional mesmo, e enchem-nos de sentenças sem recurso que as instâncias que elas congeminam nos seus cérebros já estão todas ultrapassadas.
A garça não se coíbe de fazer alguma referência ao nacional, convencida que está que os maus exemplos sempre proliferam e que os bons dificilmente cá chegam. Mas reconhece que falar destes assuntos é falar de algo bastante distante para muita gente e que se pode aprender também com assuntos que nos tocam de mais perto, mesmo que estejamos alheados deles e os não vejamos.
A garça está convencida que há beleza na areia, na água do rio, no azul do céu, no sorriso, tanto como no ar compenetrado de quem pensa. A garça está convencida que há atracções e aversões epidérmicas que podem provir da educação ou da imitação mas não são racionais e é necessário fugir a elas.
A garça está convencida que não é a natureza do assunto que faz a diferença, mas a maneira como ele é abordado. A garça está convencida que o afecto, a emoção e a inteligência são a trilogia de cuja concordância resultam os seres mais valiosos. Quem se banha com água e não ama a água é um ser incompleto.