No nosso País a sociedade tem muito pouco peso e está permanentemente à espera que seja o Estado a resolver todos os problemas. E este lá vai tentando chegar a todo o lado, omnipresente, que não seja doutra maneira, pelo menos pela sua notada ausência.
O Estado moderno estruturou-se há pouco tempo e ainda estamos longe de uma correcta afectação de recursos. Vão-se fixando prioridades, aqui e ali, a educação é daquelas que, de tempos a tempos, salta para os primeiros lugares.
Só que quando assim é nem sempre as soluções encontradas encontram receptividade e as sondagens feitas com dados reais nem sempre correspondem à expectativa criada. Quando se não sabe bem aquilo que se quer, pedem-se e rejeitam-se as coisas quase aleatoriamente.
Analisando a nossa situação em relação à educação e em termos comparativos, têm-se chegado à conclusão de que estamos bem pior do que devíamos. E se admitirmos que o Estado algo tem feito para inverter esta situação, concluímos facilmente que as resistências são tais que a sua acção resulta ineficaz.
Há uma conjugação de interesses instalados com a falta de perspectivas para colocar estas questões, com visões unilaterais e restritas. Tais manipulações fazem com que aquilo que noutros lados foi reivindicado seja cá rejeitado.
E para cúmulo não se trata aqui de investir muito dinheiro mas, de modo principal, empenho, perseverança, disciplina, rigor. Conclui-se facilmente que o Estado não tem sabido o que fazer ou não tem poder para fazer o que se impõe.
Acresce que a educação é um assunto em que o papel do Estado é fundamental e o papel da sociedade passa por ter que ser exigente. Para esta a principal questão é a necessidade de se organizar para colocar exigências claras e saber reivindicar o seu cumprimento.
Longe vão os tempos em que os conhecimentos eram comunicados de pais a filhos e tanto chegava. Hoje em dia os pais já não têm tempo para isso e transmitir todos os seus conhecimentos obrigaria a um exagerado dispêndio de tempo e energia, necessários para garantir o sustento da família.
Acresce ainda que tal, de modo algum, garantiria que esses conhecimentos seriam aqueles de que os seus filhos precisarão quando forem “grandes”, isto é, quando precisarem de angariar os seus próprios rendimentos.
Então aqui sim tem de ser o Estado a definir quais os conhecimentos que devem ser administrados aos alunos e a preparar e pagar a quem lhos ministre. E aos alunos impõe-se que para os adquirir se tenham que juntar em escolas para que o preço do ensino não saia incomportável.
A responsabilidade do Estado é neste domínio de tal modo importante que não se coaduna com o deixa andar que lhe é característico, com o desleixo e com a sua entrega por renúncia a sindicatos ou a gestões “ditas” democráticas.
O Estado tem uma responsabilidade de carácter técnico, organizacional mas também de adequar o ensino às necessidades da economia, da formação humana, da convivência fraterna, da transmissão dos valores culturais mais apropriados às exigências do futuro com a manutenção das características essenciais do homem.
Ao Estado cabe fazer a selecção dos valores em que assenta o “seu” ensino e a preparação das pessoas para que todas elas tenham o seu devido lugar no futuro. Aos agentes do ensino tem que ser exigido o seu envolvimento nesta tarefa.
Ao Estado cabe fazer a agregação de gestores, professores e outros agentes para que nas escolas públicas se faça educação. Todos os profissionais envolvidos têm que ter sempre bem presente na sua mente que “aqui” quem tem direito a ter problemas são os alunos.
Estes, durante todo o tempo da sua escolaridade, e em grande parte dos dias, vêm-se bastante desligados do meio familiar e deparam-se com múltiplos problemas de que destacarei: a transferência de autoridade, a necessidade de contextualização da sua vivência escolar; a convivência dos múltiplos apelos que lhe surgem com um horizonte temporal passado, e possivelmente futuro, estratificado e orientado em sentido diferente do seu.
A escola como local hoje imprescindível para a socialização e transmissão de conhecimentos, se comporta por esta razão elementos altamente positivos, comporta também elementos cujos efeitos são deveras negativos.
Por exemplo a autoridade escolar, exercida por dirigentes, professores e outros agentes escolares, é vista pelos alunos como uma extensão da autoridade paternal e se esta se não exerce pacificamente não é de maneira nenhuma pacífica a sua transferência para a escola.
Raramente os alunos reconhecem aos agentes escolares a autoridade que não reconhecem aos pais. E se estes pais não conseguem exercer a autoridade mínima que se imponha na educação dos filhos também raramente o reconhecem
Quando os alunos deixam de ver a autoridade escolar como um extensão da autoridade paternal são tentados a tentar explorar em seu favor essa dissonância. À escola é imposto que mantenha esse vínculo nem que ele já só seja virtual ou mesmo que a família tente transferir para a escola a “culpa” dos problemas de sociabilidade dos filhos e não assuma a sua “culpa” original.
Seria necessário um esforço comum para que a escola e a família conseguissem ultrapassar os problemas sem curar de procurar essas “culpas” mas tão só responsabilidades da situação, para que fosse possível estudar soluções.
Quando a escola é incapaz de estabelecer esta cooperação e por si só não tem os meios para reencaminhar os alunos com problemas, estes criam entre si uma contextualização em que é preponderante uma cultura grupal anti-social, anti-disciplina, anti-qualquer ordem que não seja a definida pela estrutura que consigam dar ao seu grupo ou por qualquer outro que seja tido como exemplo a seguir.
Então, se não é possível que os membros desses grupos reformulem os valores em que eles os assentam, a única maneira de tentar resolver o problema é a sua desagregação “física” e o impedimento da sua nefasta acção.
Mas não só os “insurrectos” formam grupos. Na contextualização que é feita pelos alunos em relação à sua vida escolar, quase todos integram grupos, mas quanto a vida escolar dos seus membros mais desligada estiver da sua vida familiar mais dá origem às tais formações grupais problemáticas.
Embora “os filhos da mamã” não estejam de todo “isentos” de criar o seu próprio contexto diferenciado mas integrável, ou seja de natureza grupal, são muitas vezes vítimas do isolamento, outro grave problema de socialização.
Por todas estas razões, também é função da escola contribuir para a formação de grupos (não para a selecção de pessoas) com culturas positivas, de modo que estes, sem roturas e até sequer sem ressentimentos, possam assumir a liderança em detrimento doutros com culturas negativas, que têm tendência a assumir a preponderância na cultura da escola.
O Estado moderno estruturou-se há pouco tempo e ainda estamos longe de uma correcta afectação de recursos. Vão-se fixando prioridades, aqui e ali, a educação é daquelas que, de tempos a tempos, salta para os primeiros lugares.
Só que quando assim é nem sempre as soluções encontradas encontram receptividade e as sondagens feitas com dados reais nem sempre correspondem à expectativa criada. Quando se não sabe bem aquilo que se quer, pedem-se e rejeitam-se as coisas quase aleatoriamente.
Analisando a nossa situação em relação à educação e em termos comparativos, têm-se chegado à conclusão de que estamos bem pior do que devíamos. E se admitirmos que o Estado algo tem feito para inverter esta situação, concluímos facilmente que as resistências são tais que a sua acção resulta ineficaz.
Há uma conjugação de interesses instalados com a falta de perspectivas para colocar estas questões, com visões unilaterais e restritas. Tais manipulações fazem com que aquilo que noutros lados foi reivindicado seja cá rejeitado.
E para cúmulo não se trata aqui de investir muito dinheiro mas, de modo principal, empenho, perseverança, disciplina, rigor. Conclui-se facilmente que o Estado não tem sabido o que fazer ou não tem poder para fazer o que se impõe.
Acresce que a educação é um assunto em que o papel do Estado é fundamental e o papel da sociedade passa por ter que ser exigente. Para esta a principal questão é a necessidade de se organizar para colocar exigências claras e saber reivindicar o seu cumprimento.
Longe vão os tempos em que os conhecimentos eram comunicados de pais a filhos e tanto chegava. Hoje em dia os pais já não têm tempo para isso e transmitir todos os seus conhecimentos obrigaria a um exagerado dispêndio de tempo e energia, necessários para garantir o sustento da família.
Acresce ainda que tal, de modo algum, garantiria que esses conhecimentos seriam aqueles de que os seus filhos precisarão quando forem “grandes”, isto é, quando precisarem de angariar os seus próprios rendimentos.
Então aqui sim tem de ser o Estado a definir quais os conhecimentos que devem ser administrados aos alunos e a preparar e pagar a quem lhos ministre. E aos alunos impõe-se que para os adquirir se tenham que juntar em escolas para que o preço do ensino não saia incomportável.
A responsabilidade do Estado é neste domínio de tal modo importante que não se coaduna com o deixa andar que lhe é característico, com o desleixo e com a sua entrega por renúncia a sindicatos ou a gestões “ditas” democráticas.
O Estado tem uma responsabilidade de carácter técnico, organizacional mas também de adequar o ensino às necessidades da economia, da formação humana, da convivência fraterna, da transmissão dos valores culturais mais apropriados às exigências do futuro com a manutenção das características essenciais do homem.
Ao Estado cabe fazer a selecção dos valores em que assenta o “seu” ensino e a preparação das pessoas para que todas elas tenham o seu devido lugar no futuro. Aos agentes do ensino tem que ser exigido o seu envolvimento nesta tarefa.
Ao Estado cabe fazer a agregação de gestores, professores e outros agentes para que nas escolas públicas se faça educação. Todos os profissionais envolvidos têm que ter sempre bem presente na sua mente que “aqui” quem tem direito a ter problemas são os alunos.
Estes, durante todo o tempo da sua escolaridade, e em grande parte dos dias, vêm-se bastante desligados do meio familiar e deparam-se com múltiplos problemas de que destacarei: a transferência de autoridade, a necessidade de contextualização da sua vivência escolar; a convivência dos múltiplos apelos que lhe surgem com um horizonte temporal passado, e possivelmente futuro, estratificado e orientado em sentido diferente do seu.
A escola como local hoje imprescindível para a socialização e transmissão de conhecimentos, se comporta por esta razão elementos altamente positivos, comporta também elementos cujos efeitos são deveras negativos.
Por exemplo a autoridade escolar, exercida por dirigentes, professores e outros agentes escolares, é vista pelos alunos como uma extensão da autoridade paternal e se esta se não exerce pacificamente não é de maneira nenhuma pacífica a sua transferência para a escola.
Raramente os alunos reconhecem aos agentes escolares a autoridade que não reconhecem aos pais. E se estes pais não conseguem exercer a autoridade mínima que se imponha na educação dos filhos também raramente o reconhecem
Quando os alunos deixam de ver a autoridade escolar como um extensão da autoridade paternal são tentados a tentar explorar em seu favor essa dissonância. À escola é imposto que mantenha esse vínculo nem que ele já só seja virtual ou mesmo que a família tente transferir para a escola a “culpa” dos problemas de sociabilidade dos filhos e não assuma a sua “culpa” original.
Seria necessário um esforço comum para que a escola e a família conseguissem ultrapassar os problemas sem curar de procurar essas “culpas” mas tão só responsabilidades da situação, para que fosse possível estudar soluções.
Quando a escola é incapaz de estabelecer esta cooperação e por si só não tem os meios para reencaminhar os alunos com problemas, estes criam entre si uma contextualização em que é preponderante uma cultura grupal anti-social, anti-disciplina, anti-qualquer ordem que não seja a definida pela estrutura que consigam dar ao seu grupo ou por qualquer outro que seja tido como exemplo a seguir.
Então, se não é possível que os membros desses grupos reformulem os valores em que eles os assentam, a única maneira de tentar resolver o problema é a sua desagregação “física” e o impedimento da sua nefasta acção.
Mas não só os “insurrectos” formam grupos. Na contextualização que é feita pelos alunos em relação à sua vida escolar, quase todos integram grupos, mas quanto a vida escolar dos seus membros mais desligada estiver da sua vida familiar mais dá origem às tais formações grupais problemáticas.
Embora “os filhos da mamã” não estejam de todo “isentos” de criar o seu próprio contexto diferenciado mas integrável, ou seja de natureza grupal, são muitas vezes vítimas do isolamento, outro grave problema de socialização.
Por todas estas razões, também é função da escola contribuir para a formação de grupos (não para a selecção de pessoas) com culturas positivas, de modo que estes, sem roturas e até sequer sem ressentimentos, possam assumir a liderança em detrimento doutros com culturas negativas, que têm tendência a assumir a preponderância na cultura da escola.