O socialismo pode não estar na onda, mas mantém-se uma forte corrente de opinião. Uma parte significativa do eleitorado apoia-a, uma parcela ainda expressiva defende-a. No entanto, se virmos a questão somente pelo prisma da ocupação do poder, é inglória esta luta de pôr e repor o socialismo na onda quando se vê que há vendavais que põem tudo em questão e levam quase tudo por água abaixo. Quase tudo, porque alguma coisa fica e se vai acumulando como património que já não dispensamos. Infelizmente até pessoas ditas socialista põe em cauda o exercício do poder socialista Não haverá fortes raízes no terreno que perdurem, uma linha de pensamento esclarecido que se transmita, haverá muita desilusão, mas as alternativas são piores.
Iludimo-nos com a tempestade que assolou o capitalismo nos últimos três anos. As primeiras borrascas desacreditaram o sistema, este tremeu. Subitamente o dinheiro pelava nas mãos de quem o detinha. No entanto os que saíram imunes deste afundanço redobraram energias e tudo fazem para rentabilizar ainda mais as suas economias. O capitalismo parece ter recuperado o domínio do mundo com juros a pagar por quem ousou pô-lo em causa. Por seu lado o socialismo não soube aproveitar esta desavergonhada rapina e está a ser vítima disso.
Se quiséssemos aferir da vitalidade do socialismo chegávamos a conclusões contraditórias conforme os países analisados. Ondas de esquerda varrem territórios há pouco tempo indefectivelmente de direita. Noutros lados, infelizmente na maioria dos casos, ocorre o contrário. Estaremos nós sujeitos a este saltitar ao sabor da onda, sem um objectivo que não seja somente defensivo, firmando-nos apenas na força de uma corrente de opinião que ora é maioritária e logo minoritária?
Ao nos deixarmos arrastar pela procura de soluções pontuais ou mesmo pela busca do aproveitamento de oportunidades que a direita vai proporcionando pela sua ineficiência, a esquerda descura o aspecto ideológico e age mesmo, por força das circunstâncias, em contradição com princípios que diz advogar. Falta à esquerda uma linha de pensamento capaz de se demarcar do caduco marxismo e de fazer frente ao radicalismo dito de esquerda e ao liberalismo dito ”neo”, mas que não é mais que o refinamento do velho capitalismo de sempre.
Não é suficiente à esquerda haver uma corrente de opinião favorável aos governos socialistas, haver capacidade para promover ou pelo menos aproveitar ondas favoráveis a esses governos. Além de não haver uma clara noção do objectivo mais importante a atingir, não há uma linha de rumo que permita ponderar os desvios sofridos e os avanços alcançados. Terminada a época dos muros, das barreiras dentro das quais se construía uma fortaleza, afinal expugnável, o combate é agora frontal. A esquerda monolítica, irredutível em posições já ultrapassadas, tem que repensar estratégias. Mas também a esquerda tem que ser capaz de se orientar no meio da confusão que se lança entre projectos pessoais e políticos.
Terminada a época em que se lutava para que o Estado garantisse tudo a todos, é tempo de resistir à sedução do dinheiro e ao seu carácter corruptivo porque vamos ter que continuar a lidar com ele até ao fim dos tempos. A esquerda já não pode apostar no Estado como distribuidor dos bens e recursos, mas com a função essencial de criar e fazer cumprir as regras que permitam o acesso de todos ao maior número de benefícios. É imperioso garantir a todos alguma fonte de rendimentos, sendo que só o trabalho faz acrescer valor a tudo que existe, inclusive ao dinheiro. O Estado não pode repartir dinheiro a troco de nada.
Já hoje, mercê do avanço científico e tecnológico, não é possível garantir trabalho a todos. Com o aumento da produtividade e uma aparente abundância de alguns bens, inclusive de trabalhadores, o trabalho é cada vez mais desvalorizado a nível de retribuição. Neste contexto o papel da esquerda é a defesa dos trabalhadores e do Estado do saque a que estão sujeitos por aqueles que detém o poder que a posse dos meios de produção confere. Essa defesa também passa pela defesa do dinheiro sujeito a depreciação devido às actividades especulativas. Porém não é possível separar o dinheiro bom, bem aplicado, do mau, mal aplicado.
À esquerda já se impõe entretanto uma nova tarefa derivada dos conflitos entre trabalhadores Efectivamente já existe, e tenderá a existir cada vez mais, uma competição entre trabalhadores com a criação de feudos em que a especialização favorece certos grupos profissionais. A distinção entre trabalhadores é cada vez maior e, se hoje ainda só leva a invejas mal disfarçadas, levará no futuro a conflitos abertos e bem mais graves. A esquerda já não pode definir o seu espaço à velha maneira da luta de classes. A linha de separação está cada vez mais diluída.
Se em tempos o leque de rendimentos do trabalho era no máximo de um para três, hoje já quintuplicou e tem tendência para se agravar, criando assim uma desigualdade social insustentável. A esquerda tem que se manifestar sobre se quer uma sociedade assente de novo em classes sociais rebaptizadas ou se quer cumprir a sua disposição mais elementar de combater a diferenciação social. A certeza de que a maioria de nós terá que ser empregada de alguém ou do Estado deve impor um tratamento igual para todos.
Impõe-se a refundação do pensamento de esquerda em que não caibam oportunismos e facilitismos. O Estado não pode ser sobrevalorizado, mas também não pode ser descurado o seu papel na condução da sociedade. Também não é de maneira alguma a simples criação teórica de igualdades como a de oportunidades, também cada vez mais posta em causa, que chega de programa de esquerda. Sem apostar em igualdade inatingíveis pode apostar-se em equilíbrios felizes. Só a formação de uma corrente de pensamento articulado e consistente pode ajudar a que se defina um caminho, um objectivo, uma força perdurável a que a humanidade possa recorrer mesmo em tempos tão instáveis como os de hoje.
Iludimo-nos com a tempestade que assolou o capitalismo nos últimos três anos. As primeiras borrascas desacreditaram o sistema, este tremeu. Subitamente o dinheiro pelava nas mãos de quem o detinha. No entanto os que saíram imunes deste afundanço redobraram energias e tudo fazem para rentabilizar ainda mais as suas economias. O capitalismo parece ter recuperado o domínio do mundo com juros a pagar por quem ousou pô-lo em causa. Por seu lado o socialismo não soube aproveitar esta desavergonhada rapina e está a ser vítima disso.
Se quiséssemos aferir da vitalidade do socialismo chegávamos a conclusões contraditórias conforme os países analisados. Ondas de esquerda varrem territórios há pouco tempo indefectivelmente de direita. Noutros lados, infelizmente na maioria dos casos, ocorre o contrário. Estaremos nós sujeitos a este saltitar ao sabor da onda, sem um objectivo que não seja somente defensivo, firmando-nos apenas na força de uma corrente de opinião que ora é maioritária e logo minoritária?
Ao nos deixarmos arrastar pela procura de soluções pontuais ou mesmo pela busca do aproveitamento de oportunidades que a direita vai proporcionando pela sua ineficiência, a esquerda descura o aspecto ideológico e age mesmo, por força das circunstâncias, em contradição com princípios que diz advogar. Falta à esquerda uma linha de pensamento capaz de se demarcar do caduco marxismo e de fazer frente ao radicalismo dito de esquerda e ao liberalismo dito ”neo”, mas que não é mais que o refinamento do velho capitalismo de sempre.
Não é suficiente à esquerda haver uma corrente de opinião favorável aos governos socialistas, haver capacidade para promover ou pelo menos aproveitar ondas favoráveis a esses governos. Além de não haver uma clara noção do objectivo mais importante a atingir, não há uma linha de rumo que permita ponderar os desvios sofridos e os avanços alcançados. Terminada a época dos muros, das barreiras dentro das quais se construía uma fortaleza, afinal expugnável, o combate é agora frontal. A esquerda monolítica, irredutível em posições já ultrapassadas, tem que repensar estratégias. Mas também a esquerda tem que ser capaz de se orientar no meio da confusão que se lança entre projectos pessoais e políticos.
Terminada a época em que se lutava para que o Estado garantisse tudo a todos, é tempo de resistir à sedução do dinheiro e ao seu carácter corruptivo porque vamos ter que continuar a lidar com ele até ao fim dos tempos. A esquerda já não pode apostar no Estado como distribuidor dos bens e recursos, mas com a função essencial de criar e fazer cumprir as regras que permitam o acesso de todos ao maior número de benefícios. É imperioso garantir a todos alguma fonte de rendimentos, sendo que só o trabalho faz acrescer valor a tudo que existe, inclusive ao dinheiro. O Estado não pode repartir dinheiro a troco de nada.
Já hoje, mercê do avanço científico e tecnológico, não é possível garantir trabalho a todos. Com o aumento da produtividade e uma aparente abundância de alguns bens, inclusive de trabalhadores, o trabalho é cada vez mais desvalorizado a nível de retribuição. Neste contexto o papel da esquerda é a defesa dos trabalhadores e do Estado do saque a que estão sujeitos por aqueles que detém o poder que a posse dos meios de produção confere. Essa defesa também passa pela defesa do dinheiro sujeito a depreciação devido às actividades especulativas. Porém não é possível separar o dinheiro bom, bem aplicado, do mau, mal aplicado.
À esquerda já se impõe entretanto uma nova tarefa derivada dos conflitos entre trabalhadores Efectivamente já existe, e tenderá a existir cada vez mais, uma competição entre trabalhadores com a criação de feudos em que a especialização favorece certos grupos profissionais. A distinção entre trabalhadores é cada vez maior e, se hoje ainda só leva a invejas mal disfarçadas, levará no futuro a conflitos abertos e bem mais graves. A esquerda já não pode definir o seu espaço à velha maneira da luta de classes. A linha de separação está cada vez mais diluída.
Se em tempos o leque de rendimentos do trabalho era no máximo de um para três, hoje já quintuplicou e tem tendência para se agravar, criando assim uma desigualdade social insustentável. A esquerda tem que se manifestar sobre se quer uma sociedade assente de novo em classes sociais rebaptizadas ou se quer cumprir a sua disposição mais elementar de combater a diferenciação social. A certeza de que a maioria de nós terá que ser empregada de alguém ou do Estado deve impor um tratamento igual para todos.
Impõe-se a refundação do pensamento de esquerda em que não caibam oportunismos e facilitismos. O Estado não pode ser sobrevalorizado, mas também não pode ser descurado o seu papel na condução da sociedade. Também não é de maneira alguma a simples criação teórica de igualdades como a de oportunidades, também cada vez mais posta em causa, que chega de programa de esquerda. Sem apostar em igualdade inatingíveis pode apostar-se em equilíbrios felizes. Só a formação de uma corrente de pensamento articulado e consistente pode ajudar a que se defina um caminho, um objectivo, uma força perdurável a que a humanidade possa recorrer mesmo em tempos tão instáveis como os de hoje.
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