Nos dias de hoje falar de crise é deprimente, aterrador, não falar de crise é leviano, dissimulador. Mas é obrigatório falar de crise porque efectivamente ela está cá, não podemos fugir a ela, chegou importada, avassaladora. Dizia-se que por cá já pairava outra, mas das duas, uma: Ou era simples bluff para ter efeito propagandístico ou foi uma premonição admirável. Porque castigo divino não acredito que seja, mesmo com tanto aleive.
O problema é que com crise ou sem ela, mesmo que se tenha indevidamente designado de crise uma mera questão de finanças públicas, quando se pensava que a sua fase mais difícil estava ultrapassada, caiu-nos em cima a verdadeira crise, a mãe de todas as crises, a crise do excesso de produção. Porque as pessoas não se sentem beliscadas, muitas até se sentem mais aliviadas, mas não podem ignorar que há quem já sofra ou ainda venha a sofrer da crise a sério.
As exportações diminuíram, a consumo arrefeceu, o dinheiro paralisou, os bens depreciaram-se, a economia asfixiou, o desemprego cresceu. E aqui estamos nós: Uns que eventualmente até podem beneficiar com a crise e dissimulam; Outros que são suas vitimas claras e indefesas e se deprimem. Falar hoje de crise é falar-se do real bem presente, do que está a acontecer debaixo dos nossos olhos, mesmo que não a nós. Todos sentem o arrefecimento da actividade económica, o afrouxamento da euforia, o refrear das expectativas.
A crise é o não saber o que se há-de fazer, se consumir, se poupar, se da maneira como agimos estamos a contribuir para agravar a crise ou para a debelar. Sentimo-nos impotentes, convencidos de que pouco ou nada podemos fazer. A crise comporta-se como um molho que custa a desenredar, um emaranhado que custa a destrinçar, uma confusão difícil de esclarecer. Todos precisamos de saber como vamos sair daqui. O difícil é pegar no fio à meada, encontrar a ponta por onde se lhe pegue, puxá-la de forma adequada para que não se criem mais nós.
Da crise só se sabe aquilo que é sabido de todas as crises. Há que produzir menos do que se produz, mas dar trabalho a quem dele necessita. Há que produzir mais daquilo que se terá que inventar. A crise tem um efeito desintegrador na economia. Aquilo que se pensava harmonioso é subitamente arrasado. É um sistema de produção, distribuição e consumo que abriu brechas e ameaça desmoronar-se. Há um desfasamento entre a produção de bens e serviços e uma procura cada vez mais minguada.
A economia vive de interligações, complementaridades, subsidiariedades e muita competição. E esta alimenta-se com aumento da capacidade de produção instalada, melhoria dos produtos, baixa de preço, luta pelos mercados, esticar de expectativas e de crédito sobre rendimentos cada vez mais longínquos. A competitividade afecta todos desde que nos integramos nesta economia mercantil. A competitividade exige de todos uma atitude activa. A passividade torna-nos mais vulneráveis. Como ter uma economia sã sem esta ânsia de crescer?
Da produção sabemos muito, da colocação dos produtos também, mas o mercado traiu-nos. (Isto não quer dizer que todos saibamos de tudo, mas que há gente suficiente que sabe destas coisas.) Foi dada demasiada voracidade ao mercado de modo que perdeu o seu efeito de regulação. O mercado auto regula-se, era verdade tida por inamovível para os liberais, mas que já foi. Confiou-se que o mercado distinguisse o bom do mau, fosse capaz de lançar alertas que refreassem a produção, que avisassem antes que um produto se tornasse obsoleto e, em relação aos financeiros, antes que se tornasse tóxico.
Confiou-se na honestidade dos agentes financeiros, da sua avaliação de risco e no seu controle sobre os produtos que lançavam no mercado. Se o sistema financeiro não foi capaz de se auto regular, também não se acredita na sua auto regeneração. No entanto os dirigentes mundiais tardam a actuar e as medidas sugeridas são demasiado benévolas. Não se pode acreditar mais naqueles a quem o simples manuseio do dinheiro parece transmitir a volúpia e a ganância. As regras têm que ser muito rígidas quando é a confiança pessoal que está em causa.
Ataca-se muitos os especuladores que fazem da compra e venda de produtos financeiros a sua principal actividade. Mas só aqueles que pertencem ao circuito financeiro, que tem capacidade para criar os produtos financeiros, são responsáveis por fornecer ao mercado esses instrumentos especulativos. É a sua ganância e a sua vontade concorrencial de fornecer sempre novos elementos para alimentar o estado de euforia do mercado.
Os dirigentes mundiais balanceiam entre a fidelidade jurada à globalização e alguns laivos de proteccionismo que vão surgindo. Muitos acham ser necessária alguma regulamentação no comércio global, outros acreditam na resolução dos problemas mantendo o actual sistema. O caso do petróleo deu-nos alguma esperança de que o mercado se pode auto regular, mas criando-nos uns grandes sustos à mistura. O grande problema é o sistema financeiro em si e as suas intromissões no mercado de bens e serviços.
Muitos economistas acham que a resolução dos problemas passa pelo fomento do consumo porque só este pode criar emprego. Como País endividado, que não produz parte do que consome, fomentar o consumo é fomentar a importação de bens e serviços. Impõe-se uma alteração dos hábitos de consumo, a diminuição de gastos de energia, a redução do endividamento ao exterior. Todo o emprego a criar deve ser em áreas estratégicas.
Se a nível nacional as dificuldades de gestão são grandes a nível global são imensas. Mas seriam necessários alertas que permitissem salvaguardar a concorrência e a reconversão a tempo da produção para não produzir excedentes que entupam o mercado. Infelizmente também a evolução do sector produtivo tem sido no sentido da rigidez, da especialização, da perca de alguma maleabilidade que permitisse responder a alterações da concorrência e do mercado a tempo de não entrar em decadência.
A cena europeia e mundial permite-nos vislumbrar a manhosa apatia dos liberais, esperando que o seu edifício se não desmorone e que não seja possível mudá-lo muito, porque tem servido aos seus propósitos. Vimos uma candura exagerada dos socialistas, que tem estado de mãos atadas e que assim parece permanecerem. Vimos a verborreia inconsequente dos esquerdistas.
Mas de uma coisa podemos estar certos e seguros: O problema não se resolve como muitos resolvem as suas bebedeiras: Continuando logo pela manhã a beber do mesmo.
O problema é que com crise ou sem ela, mesmo que se tenha indevidamente designado de crise uma mera questão de finanças públicas, quando se pensava que a sua fase mais difícil estava ultrapassada, caiu-nos em cima a verdadeira crise, a mãe de todas as crises, a crise do excesso de produção. Porque as pessoas não se sentem beliscadas, muitas até se sentem mais aliviadas, mas não podem ignorar que há quem já sofra ou ainda venha a sofrer da crise a sério.
As exportações diminuíram, a consumo arrefeceu, o dinheiro paralisou, os bens depreciaram-se, a economia asfixiou, o desemprego cresceu. E aqui estamos nós: Uns que eventualmente até podem beneficiar com a crise e dissimulam; Outros que são suas vitimas claras e indefesas e se deprimem. Falar hoje de crise é falar-se do real bem presente, do que está a acontecer debaixo dos nossos olhos, mesmo que não a nós. Todos sentem o arrefecimento da actividade económica, o afrouxamento da euforia, o refrear das expectativas.
A crise é o não saber o que se há-de fazer, se consumir, se poupar, se da maneira como agimos estamos a contribuir para agravar a crise ou para a debelar. Sentimo-nos impotentes, convencidos de que pouco ou nada podemos fazer. A crise comporta-se como um molho que custa a desenredar, um emaranhado que custa a destrinçar, uma confusão difícil de esclarecer. Todos precisamos de saber como vamos sair daqui. O difícil é pegar no fio à meada, encontrar a ponta por onde se lhe pegue, puxá-la de forma adequada para que não se criem mais nós.
Da crise só se sabe aquilo que é sabido de todas as crises. Há que produzir menos do que se produz, mas dar trabalho a quem dele necessita. Há que produzir mais daquilo que se terá que inventar. A crise tem um efeito desintegrador na economia. Aquilo que se pensava harmonioso é subitamente arrasado. É um sistema de produção, distribuição e consumo que abriu brechas e ameaça desmoronar-se. Há um desfasamento entre a produção de bens e serviços e uma procura cada vez mais minguada.
A economia vive de interligações, complementaridades, subsidiariedades e muita competição. E esta alimenta-se com aumento da capacidade de produção instalada, melhoria dos produtos, baixa de preço, luta pelos mercados, esticar de expectativas e de crédito sobre rendimentos cada vez mais longínquos. A competitividade afecta todos desde que nos integramos nesta economia mercantil. A competitividade exige de todos uma atitude activa. A passividade torna-nos mais vulneráveis. Como ter uma economia sã sem esta ânsia de crescer?
Da produção sabemos muito, da colocação dos produtos também, mas o mercado traiu-nos. (Isto não quer dizer que todos saibamos de tudo, mas que há gente suficiente que sabe destas coisas.) Foi dada demasiada voracidade ao mercado de modo que perdeu o seu efeito de regulação. O mercado auto regula-se, era verdade tida por inamovível para os liberais, mas que já foi. Confiou-se que o mercado distinguisse o bom do mau, fosse capaz de lançar alertas que refreassem a produção, que avisassem antes que um produto se tornasse obsoleto e, em relação aos financeiros, antes que se tornasse tóxico.
Confiou-se na honestidade dos agentes financeiros, da sua avaliação de risco e no seu controle sobre os produtos que lançavam no mercado. Se o sistema financeiro não foi capaz de se auto regular, também não se acredita na sua auto regeneração. No entanto os dirigentes mundiais tardam a actuar e as medidas sugeridas são demasiado benévolas. Não se pode acreditar mais naqueles a quem o simples manuseio do dinheiro parece transmitir a volúpia e a ganância. As regras têm que ser muito rígidas quando é a confiança pessoal que está em causa.
Ataca-se muitos os especuladores que fazem da compra e venda de produtos financeiros a sua principal actividade. Mas só aqueles que pertencem ao circuito financeiro, que tem capacidade para criar os produtos financeiros, são responsáveis por fornecer ao mercado esses instrumentos especulativos. É a sua ganância e a sua vontade concorrencial de fornecer sempre novos elementos para alimentar o estado de euforia do mercado.
Os dirigentes mundiais balanceiam entre a fidelidade jurada à globalização e alguns laivos de proteccionismo que vão surgindo. Muitos acham ser necessária alguma regulamentação no comércio global, outros acreditam na resolução dos problemas mantendo o actual sistema. O caso do petróleo deu-nos alguma esperança de que o mercado se pode auto regular, mas criando-nos uns grandes sustos à mistura. O grande problema é o sistema financeiro em si e as suas intromissões no mercado de bens e serviços.
Muitos economistas acham que a resolução dos problemas passa pelo fomento do consumo porque só este pode criar emprego. Como País endividado, que não produz parte do que consome, fomentar o consumo é fomentar a importação de bens e serviços. Impõe-se uma alteração dos hábitos de consumo, a diminuição de gastos de energia, a redução do endividamento ao exterior. Todo o emprego a criar deve ser em áreas estratégicas.
Se a nível nacional as dificuldades de gestão são grandes a nível global são imensas. Mas seriam necessários alertas que permitissem salvaguardar a concorrência e a reconversão a tempo da produção para não produzir excedentes que entupam o mercado. Infelizmente também a evolução do sector produtivo tem sido no sentido da rigidez, da especialização, da perca de alguma maleabilidade que permitisse responder a alterações da concorrência e do mercado a tempo de não entrar em decadência.
A cena europeia e mundial permite-nos vislumbrar a manhosa apatia dos liberais, esperando que o seu edifício se não desmorone e que não seja possível mudá-lo muito, porque tem servido aos seus propósitos. Vimos uma candura exagerada dos socialistas, que tem estado de mãos atadas e que assim parece permanecerem. Vimos a verborreia inconsequente dos esquerdistas.
Mas de uma coisa podemos estar certos e seguros: O problema não se resolve como muitos resolvem as suas bebedeiras: Continuando logo pela manhã a beber do mesmo.
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