Com certeza que a maioria de nós foi desde a infância bombardeada, se não massacrada, com exemplos de pessoas que eram assim e assado, se comportavam desta e daquela maneira, que tinham atingido estes ou aqueles objectivos perfeitamente ao nosso alcance e afirmações semelhantes cuja intenção era apontar-nos um exemplo a seguir para termos sucesso na vida.
Esses exemplos eram-nos apresentados pela família dentro dela própria, mas também fora quando nela não havia os elementos suficientes para nos definir um caminho que entendessem viável. Também pessoas exteriores à família ousavam muitas vezes participar nesse esforço de “educação”. Na nossa simplicidade e inocência raramente apontámos para que haja uma intenção subjacente de nos denegrir, de nos rebaixar, de propositadamente nos proporem um caminho impossível com o objectivo de falharmos.
A verdade é que só com a experiência descobrimos que nós nunca podemos confiar nas boas intenções de ninguém. Há cínicos que, quando vêm com essas conversas, é para realçarem o seu próprio sucesso, citando apenas por pudor não eles próprios, mas pessoas semelhantes a eles. Os próprios pais, por bem intencionados que sejam a princípio, quanto mais tomam essas atitudes mais pretendem rebaixar e às vezes até humilhar os próprios filhos.
Aqueles que definem para os filhos objectivos que não resistiriam a uma análise objectiva estão a transferir as suas próprias frustrações, castigando assim nos filhos a sua própria impotência. Nada pior para os filhos do que lhes quererem impor objectivos irrealizáveis por razões que escapam aos seus próprios pais, que estes não entendem. Os filhos não podem ser responsabilizados por certas obsessões que se criam em vez de se alimentarem expectativas razoáveis.
Mas na educação moderna as pessoas mais letradas já há muito abandonaram esta técnica mental do exemplo, própria para mentes de estrutura elementar. A técnica que ainda hoje é mais usada tem a ver com valores, mas acima de tudo com referências. Os valores em si são de difícil definição pelo que com as referências se pretende utilizar alguém que tenha dado execução a um ou mais valores comummente aceites ou que os educandos privilegiam.
Quando se usam referências, embora se utilizem pessoas que lhes dão vida, não é o exemplo que se pretende atingir. Essas pessoas são sempre colocadas num pedestal que se reconhece quase inacessível, que não é o objectivo fixado a atingir. Mais do que imitar pretende-se consagrar. Se num exemplo a comparação pretende ser feita com um igual num nível facilmente atingível, na referência trata-se de modelos completos mas no geral inacabados para respeitar, louvar, venerar.
Porém os educandos vão-se queixando cada vez mais com a falta de referências com que haveriam de educar os seus filhos e os seus alunos. O tempo vai causando uma natural erosão nas mais antigas referências e a velocidade a que vão aparecendo novas é cada vez menor. Perante a pluralidade e a dispersão dos pontos de interesse para cada um de nós torna-se cada vez mais difícil criar referências que tenham uma aceitação suficientemente vasta para lhe dar visibilidade e projecção.
Muitos educandos tentam retroceder, usar ainda exemplos mas estes só podem ser vistos em contextos estáveis, em circunstâncias semelhantes, com condicionalismos parecidos. Ora a realidade torna-se cada vez mais sujeitas a mudanças e o dilema intelectual se chega a existir, resolve-se facilmente, não há reversão possível. As referências já são construções mentais que procuram abstrair do meio circundante, das vivências particulares. Elas foram um avanço para a humanidade que, sendo intelectual, permitiu todos os outros.
A grande revolução operada a partir dos anos 60 consistiu na tentativa da juventude de, perante a apatia da restante sociedade, criar as suas próprias referências vivas, construir o seu próprio sistema mental, rejeitando de vez os exemplos, mas mantendo o paradigma referencial. Embora muitas dessas referências se pudessem ter mantido, tendo mesmo muitas passado a históricas, sem perca de muito do seu carácter, a verdade é que manter um sistema referencial vivo se revelou tarefa a que novas gerações tiveram dificuldade em dar continuidade e foram perdendo cada vez mais o seu vigor.
Ainda hoje se vêm alguns dos “velhos” a fazer apelos aos “novos”. Contrariamente ao passado, são eles a solicitar um esforço extra dos jovens para conseguir elaborar um quadro referencial mais adequado ao mundo de hoje. Primeiro porque o seu se desgastou, sentem o vazio. Depois, se apelam, é porque não vêm nas novas gerações a pujança que outrora se viu e que era necessária para estilhaçar os espartilhos em que estão eles próprios enredados.
À primeira vista imponha-se aqui um trabalho de conjunto, que aproveitasse o conhecimento adquirido, que o compilasse e que o aplicasse na abertura de novas vias de conhecimento, de vivência e relacionamento. Porque se uns estão demasiado agarrados a certezas cuja aquisição já foi dolorosa, outros, os jovens, estão demasiado afastados da complexidade, da conflituosidade, da perversidade de dois mundos que teimam em estar de costas, sendo que o interior tem por tendência desviar-se o máximo do mundo exterior.
O novo paradigma a implementar passa por vencermos este hiato sem nos expormos em demasia, por não vermos no outro um inimigo e conseguirmos assim aceder ao mesmo horizonte. Mas quão difícil é lá chegar, muito mais difícil do que carregar os outros com uma chuva de floreadas mensagens, de solidários abraços, de suaves afectos, de sublimes ósculos.
Esses exemplos eram-nos apresentados pela família dentro dela própria, mas também fora quando nela não havia os elementos suficientes para nos definir um caminho que entendessem viável. Também pessoas exteriores à família ousavam muitas vezes participar nesse esforço de “educação”. Na nossa simplicidade e inocência raramente apontámos para que haja uma intenção subjacente de nos denegrir, de nos rebaixar, de propositadamente nos proporem um caminho impossível com o objectivo de falharmos.
A verdade é que só com a experiência descobrimos que nós nunca podemos confiar nas boas intenções de ninguém. Há cínicos que, quando vêm com essas conversas, é para realçarem o seu próprio sucesso, citando apenas por pudor não eles próprios, mas pessoas semelhantes a eles. Os próprios pais, por bem intencionados que sejam a princípio, quanto mais tomam essas atitudes mais pretendem rebaixar e às vezes até humilhar os próprios filhos.
Aqueles que definem para os filhos objectivos que não resistiriam a uma análise objectiva estão a transferir as suas próprias frustrações, castigando assim nos filhos a sua própria impotência. Nada pior para os filhos do que lhes quererem impor objectivos irrealizáveis por razões que escapam aos seus próprios pais, que estes não entendem. Os filhos não podem ser responsabilizados por certas obsessões que se criam em vez de se alimentarem expectativas razoáveis.
Mas na educação moderna as pessoas mais letradas já há muito abandonaram esta técnica mental do exemplo, própria para mentes de estrutura elementar. A técnica que ainda hoje é mais usada tem a ver com valores, mas acima de tudo com referências. Os valores em si são de difícil definição pelo que com as referências se pretende utilizar alguém que tenha dado execução a um ou mais valores comummente aceites ou que os educandos privilegiam.
Quando se usam referências, embora se utilizem pessoas que lhes dão vida, não é o exemplo que se pretende atingir. Essas pessoas são sempre colocadas num pedestal que se reconhece quase inacessível, que não é o objectivo fixado a atingir. Mais do que imitar pretende-se consagrar. Se num exemplo a comparação pretende ser feita com um igual num nível facilmente atingível, na referência trata-se de modelos completos mas no geral inacabados para respeitar, louvar, venerar.
Porém os educandos vão-se queixando cada vez mais com a falta de referências com que haveriam de educar os seus filhos e os seus alunos. O tempo vai causando uma natural erosão nas mais antigas referências e a velocidade a que vão aparecendo novas é cada vez menor. Perante a pluralidade e a dispersão dos pontos de interesse para cada um de nós torna-se cada vez mais difícil criar referências que tenham uma aceitação suficientemente vasta para lhe dar visibilidade e projecção.
Muitos educandos tentam retroceder, usar ainda exemplos mas estes só podem ser vistos em contextos estáveis, em circunstâncias semelhantes, com condicionalismos parecidos. Ora a realidade torna-se cada vez mais sujeitas a mudanças e o dilema intelectual se chega a existir, resolve-se facilmente, não há reversão possível. As referências já são construções mentais que procuram abstrair do meio circundante, das vivências particulares. Elas foram um avanço para a humanidade que, sendo intelectual, permitiu todos os outros.
A grande revolução operada a partir dos anos 60 consistiu na tentativa da juventude de, perante a apatia da restante sociedade, criar as suas próprias referências vivas, construir o seu próprio sistema mental, rejeitando de vez os exemplos, mas mantendo o paradigma referencial. Embora muitas dessas referências se pudessem ter mantido, tendo mesmo muitas passado a históricas, sem perca de muito do seu carácter, a verdade é que manter um sistema referencial vivo se revelou tarefa a que novas gerações tiveram dificuldade em dar continuidade e foram perdendo cada vez mais o seu vigor.
Ainda hoje se vêm alguns dos “velhos” a fazer apelos aos “novos”. Contrariamente ao passado, são eles a solicitar um esforço extra dos jovens para conseguir elaborar um quadro referencial mais adequado ao mundo de hoje. Primeiro porque o seu se desgastou, sentem o vazio. Depois, se apelam, é porque não vêm nas novas gerações a pujança que outrora se viu e que era necessária para estilhaçar os espartilhos em que estão eles próprios enredados.
À primeira vista imponha-se aqui um trabalho de conjunto, que aproveitasse o conhecimento adquirido, que o compilasse e que o aplicasse na abertura de novas vias de conhecimento, de vivência e relacionamento. Porque se uns estão demasiado agarrados a certezas cuja aquisição já foi dolorosa, outros, os jovens, estão demasiado afastados da complexidade, da conflituosidade, da perversidade de dois mundos que teimam em estar de costas, sendo que o interior tem por tendência desviar-se o máximo do mundo exterior.
O novo paradigma a implementar passa por vencermos este hiato sem nos expormos em demasia, por não vermos no outro um inimigo e conseguirmos assim aceder ao mesmo horizonte. Mas quão difícil é lá chegar, muito mais difícil do que carregar os outros com uma chuva de floreadas mensagens, de solidários abraços, de suaves afectos, de sublimes ósculos.
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