Uma das estratégias de venda de um produto é apontar para uma das suas possíveis qualidades, realçar o seu carácter decisivo na escolha a fazer. “Compre-me estas flores, olha como elas são belas, dificilmente encontra outras assim.” Se tanto chegar para que o comprador se decida tanto melhor.
Mas normalmente o vendedor preparado não pode ficar só por aí. Ele tem que destacar uma outra qualidade qualquer, por exemplo a robustez e durabilidade, para tornar mais consistente e apelativo o acto de comprar. Isto é, para tornar quase irresistível a intenção de trocar um bem pelo seu dinheiro.
Perante a resistência inesperada, quantas vezes o vendedor ainda tem necessidade de recorrer a mais um ou dois atributos que façam descambar definitivamente a balança para o seu lado. Até porque os anteriormente assinalados podem ter dito muito pouco ao comprador.
Por tudo isto ser vendedor não é tarefa fácil, exige estudo e conhecimentos diversos para seguir uma estratégia coerente e que permita que na hora se não revele qualquer sinal de improvisação. Se o vendedor não está seguro, como o há-de estar o comprador e este precisa de o estar.
Na transacção de bens culturais esta segurança é igualmente decisiva. De tal modo que muitos criadores, que isto de vendedores é para muitos pejorativo, para não correrem riscos desnecessários, se ficam pela primeira etapa do percurso que acima se apontou como necessário. Na verdade tudo tem justificação e não é sem razão que o criador fica por aqui.
Naquele caso a pessoa comprará porque o objecto é belo ou então não compra nada, por mais razões que pudesse vir a descobrir. O vendedor só conhece uma razão e na sua opinião não vale a pena estar a gastar tempo com um fraco comprador que não valoriza os atributos que lhe são propostos e está a menosprezar uma parte não desprezível da beleza universal.
Se o comprador não vê o mundo pelo mesmo prisma seu, também não vê como deveria ver o objecto que ele criou e neste caso a sua posse é pura estragação. Afinal é indigno de possuir um objecto de que não partilha a beleza que ele proporciona. O homem de cultura é arrastado para esta via por uma espécie de fundamentalismo que torna impuros os que olham com indiferença o que ele olha com paixão.
Quem trabalha em primeiro lugar para si é livre de pensar assim e os outros só aproveitam se quiserem. Quem trabalha para os outros tem que aceitar as suas opiniões. Mas mesmo este não aceita esta confusão entre ele e o vendedor normal. Este está disposto a tudo fazer para levar a sua missão avante e ele não tem pachorra para isso.
Sempre lhe parecerá que copiar-lhe os métodos é dar aos seus objectos o mesmo valor que todos os outros que ele vende têm. É rebaixar a sua “mercadoria”. A sua tem o valor que resulta de ele próprio ter ido buscar à beleza uma parte para nele colocar. Facilmente ele se convence ser dos poucos que tem acesso à beleza pura. Outra faceta do fundamentalismo.
Se virmos desapaixonadamente, retirada a parte do papel do vendedor que se refere a obter a maior margem de lucro possível, no restante se trata da mesma função de saber pôr ao dispor do comum das pessoas os bens de que estas necessitam para que a sua vida tenha qualidade em todos os aspectos.
Se o acto de criar foi mais ou menos doloroso, mais ou menos demorado, mais ou menos espontâneo, quem usufrui não está a pensar nisso. Pela criação cultural o homem desempenha um papel único no mundo. Mas se não tiver que “vender” esse produto, no sentido de o tornar útil para os outros, pode estar a “iludir-se somente com as suas capacidades criadoras”.
Analisando um produto sobre várias perspectivas, como o fazem os vendedores, pode chegar à conclusão que, acrescentando-lhe uma outra dimensão, pode obter um produto incomensuravelmente mais valioso, correndo embora o risco de concluir que construiu um castelo na areia.
Os compradores de cultura também se deixam levar em ondas e redemoinhos que permanentemente se formam e aceitam estatutos de criadores cuja consistência não avaliam. Também a cultura lhes deve fornecer armas para separar o trigo do joio.Cada vez mais as pessoas necessitam de estar munidas de meios que lhes permitam obstar à publicidade mais insidiosa e aos seus impulsos mais primários. Na cultura esses efeitos de certo que têm uma base mais secundária mas não deixam de poder ser descodificados. O mercado da cultura é cada vez mais difícil, por mais parecido com todos os outros.
Mas normalmente o vendedor preparado não pode ficar só por aí. Ele tem que destacar uma outra qualidade qualquer, por exemplo a robustez e durabilidade, para tornar mais consistente e apelativo o acto de comprar. Isto é, para tornar quase irresistível a intenção de trocar um bem pelo seu dinheiro.
Perante a resistência inesperada, quantas vezes o vendedor ainda tem necessidade de recorrer a mais um ou dois atributos que façam descambar definitivamente a balança para o seu lado. Até porque os anteriormente assinalados podem ter dito muito pouco ao comprador.
Por tudo isto ser vendedor não é tarefa fácil, exige estudo e conhecimentos diversos para seguir uma estratégia coerente e que permita que na hora se não revele qualquer sinal de improvisação. Se o vendedor não está seguro, como o há-de estar o comprador e este precisa de o estar.
Na transacção de bens culturais esta segurança é igualmente decisiva. De tal modo que muitos criadores, que isto de vendedores é para muitos pejorativo, para não correrem riscos desnecessários, se ficam pela primeira etapa do percurso que acima se apontou como necessário. Na verdade tudo tem justificação e não é sem razão que o criador fica por aqui.
Naquele caso a pessoa comprará porque o objecto é belo ou então não compra nada, por mais razões que pudesse vir a descobrir. O vendedor só conhece uma razão e na sua opinião não vale a pena estar a gastar tempo com um fraco comprador que não valoriza os atributos que lhe são propostos e está a menosprezar uma parte não desprezível da beleza universal.
Se o comprador não vê o mundo pelo mesmo prisma seu, também não vê como deveria ver o objecto que ele criou e neste caso a sua posse é pura estragação. Afinal é indigno de possuir um objecto de que não partilha a beleza que ele proporciona. O homem de cultura é arrastado para esta via por uma espécie de fundamentalismo que torna impuros os que olham com indiferença o que ele olha com paixão.
Quem trabalha em primeiro lugar para si é livre de pensar assim e os outros só aproveitam se quiserem. Quem trabalha para os outros tem que aceitar as suas opiniões. Mas mesmo este não aceita esta confusão entre ele e o vendedor normal. Este está disposto a tudo fazer para levar a sua missão avante e ele não tem pachorra para isso.
Sempre lhe parecerá que copiar-lhe os métodos é dar aos seus objectos o mesmo valor que todos os outros que ele vende têm. É rebaixar a sua “mercadoria”. A sua tem o valor que resulta de ele próprio ter ido buscar à beleza uma parte para nele colocar. Facilmente ele se convence ser dos poucos que tem acesso à beleza pura. Outra faceta do fundamentalismo.
Se virmos desapaixonadamente, retirada a parte do papel do vendedor que se refere a obter a maior margem de lucro possível, no restante se trata da mesma função de saber pôr ao dispor do comum das pessoas os bens de que estas necessitam para que a sua vida tenha qualidade em todos os aspectos.
Se o acto de criar foi mais ou menos doloroso, mais ou menos demorado, mais ou menos espontâneo, quem usufrui não está a pensar nisso. Pela criação cultural o homem desempenha um papel único no mundo. Mas se não tiver que “vender” esse produto, no sentido de o tornar útil para os outros, pode estar a “iludir-se somente com as suas capacidades criadoras”.
Analisando um produto sobre várias perspectivas, como o fazem os vendedores, pode chegar à conclusão que, acrescentando-lhe uma outra dimensão, pode obter um produto incomensuravelmente mais valioso, correndo embora o risco de concluir que construiu um castelo na areia.
Os compradores de cultura também se deixam levar em ondas e redemoinhos que permanentemente se formam e aceitam estatutos de criadores cuja consistência não avaliam. Também a cultura lhes deve fornecer armas para separar o trigo do joio.Cada vez mais as pessoas necessitam de estar munidas de meios que lhes permitam obstar à publicidade mais insidiosa e aos seus impulsos mais primários. Na cultura esses efeitos de certo que têm uma base mais secundária mas não deixam de poder ser descodificados. O mercado da cultura é cada vez mais difícil, por mais parecido com todos os outros.