sexta-feira, 2 de novembro de 2007

O imperativo ecológico: Na ecologia eu sou mais decisivo!

A ecologia atingiu uma gravidade tal que tem que ser levada em consideração mesmo que, de forma deliberada ou ingénua, se queira analisar um problema apenas pelo prisma da economia, da demografia, da sociologia, da política ou de qualquer outra ciência exacta ou menos.
A ecologia veio prestar um grande contributo para uma visão global do nosso planeta e para que todas as questões relacionadas com o nosso futuro sejam vistas com o equilíbrio e a ponderação de todos os factores que há uns anos ainda nos era difícil equacionar.
Há muito tempo se sabe que a grande maioria dos bens terrenos mais úteis existem em quantidades limitadas, que para muitos se não encontrará substituição, que na delapidação e na transformação dos produtos naturais se dá origem a subprodutos prejudiciais e, o que é mais grave ainda, mesmo os produtos obtidos podem constituir um perigo para o mundo tal como o conhecemos.
A ecologia tem vindo a entrar lentamente nas preocupações quotidianas mas tem encontrado muita resistência nos negócios, no equacionar pelos políticos dos problemas mundiais. Há mesmo quem feche os olhos aos problemas de tanta gravidade que, como o aquecimento global, já nos entram pela pele dentro.
Com as agressões ambientais a progredirem no ritmo a que se vão exercendo, corremos o risco de romper os ténues equilíbrios que a custo se têm vindo a estabelecer no mundo. Nesse sentido há que prevenir: O desastre que se avizinha pode não tocar da mesma maneira a todos e ninguém se vai conformar em ser mártir quando outros, embora temporários, são beneficiários das suas próprias agressões.
Os factores desencadeadores de conflitos e guerras do futuro podem estar no domínio ecológico, como hoje estão no domínio energético. Por isso a humanidade quer integrar plenamente a ecologia quanto trata de diplomacia económica, dos negócios mundiais, da política planetária. Na ecologia pode estar a diferença entre a guerra e a paz.
Todas as pressões são legítimas para a incorporação séria da questão ecológica no diário político, no mundo diplomático, das negociações e dos negócios, nas leis nacionais e internacionais, nas preocupações locais, nacionais e transnacionais. Todas as oportunidades de ganhar visibilidade, como o oportuno Prémio Nobel da Paz, são de aplaudir.
Como o tempo escasseia, não chega dizer às crianças que tomem este problema como seu. Nem aos adolescentes, que no folclore mediático muitos o tomam tão só como maneira de obter umas fantásticas fotografias e fazer umas sortidas esporádicas à natureza. E mesmo que a consciência ecológica entre nas suas preocupações só chegarão ao poder dentro de trinta anos.
A ecologia também é o problema dos peixes que se matam no Rio Labruja, das garças que são alvejadas no Lima, do lixo que se abandona nas encostas, das leis permissivas e das outras, as correctas que as entidades públicas não fazem cumprir, dos maus exemplos que vêem de baixo e de cima, do desleixo reinante.
Foi sem qualquer sentido crítico que se incorporaram processos e substâncias nocivas na nossa vida económica, no nosso quotidiano, desde o início da era industrial. A ecologia é um problema civilizacional muito mais recente. Entretanto já se criaram situações irreversíveis.
Hoje é irrealista fazer uma guerra contra qualquer bem ou objecto ecologicamente impuro quando entranhado no nosso consumo. Os hábitos são de tal maneira poderosos que as pessoas os assumem como direitos. Só pela via da contestação destes direitos é possível formar uma consciência ecológica.
O realismo leva-nos a pugnar pela criação de um sentido crítico que obste à criação de hábitos novos ecologicamente não recomendáveis, mas também vá pondo em causa aqueles que estão arreigados e que não podem constituir qualquer direito adquirido.
O ideal seria que a humanidade alterasse os seus modos de vida para formas mais saudáveis e ecológicas. Infelizmente a competição é muita e todos estão mais preocupados com o vizinho do que com a humanidade no seu conjunto. As pessoas vão resolvendo os seus problemas de consciência de forma casuística.
Alguns pensam que não consumindo isto ou aquilo referido por pouco ecológico já resolvem a sua parte do problema. Outros pensam que se todos, a não ser ele, contribuem para o problema, porque se há-de ele preocupar e não consumir o que deseja?
Uma atitude colectiva, que não é somente o somatório das atitudes individuais, só é tomada quando um problema atinge uma dimensão crítica. Nós podemos dar uma ajuda para diminuir essa dimensão. Individualmente impõe-se-nos que tenhamos em vista aquela atitude, mesmo quando nos parece improvável que possamos contribuir para ela.
A vertente ecológica, por exemplo a preocupação com a qualidade do ar, tem que ser incorporada na nossa vida pessoal e profissional com a naturalidade com que nós o respiramos. É um imperativo de sobrevivência e da paz.
È necessário que na questão ecológica atribuamos a nós próprios uma importância superior a quaisquer outra que tenhamos obtido noutro qualquer domínio do nosso interesse. Uma máxima pode ser:Na ecologia eu sou mais decisivo!