terça-feira, 30 de maio de 2006

Da indignação à humildade

As manifestações de indignação estão por demais legitimadas pela opinião pública e pela opinião publicada para que lhes possamos atribuir por isso um estatuto de menoridade.
O Sr. Fernando Pereira, laborioso e dedicado Director deste Jornal (dispensar-me-á de lhe atribuir mais atributos que com certeza tem) manifestou essa indignação a propósito de que se dizia do Hospital Conde de Bertiandos e da forma que a sua liberdade de pensar e escrever lhe permite.
Por meu lado sou um livre-pensador que entendi ter uma intervenção dita política na medida em que de política sempre ”bebi” quase desde que me conheço, alinhando no que havia para alinhar, fazendo travessias do deserto, olhando o mundo e procurando captar a sua sabedoria com as armas do conhecimento de que me fui munindo.
Mas o que para aqui interessa é o presente. Aqui estou eu, na minha modéstia, também empenhado em desmontar, para já a nível da Assembleia Municipal, a “polémica necessidade de encerrar o” dito “Hospital Distrital de Ponte de Lima”
Para mim “culpa” não me pode ser atribuída. A culpa que tenho e aceito é a de querer viver em democracia e de não levantar processos de intenção. Afinal acho que nenhum de nós quer contribuir com o que quer que seja para acabar com a democracia, nem para atribuir culpas a quem não as tem.
O que eu, com sinceridade, não posso dizer é que não haja por aí, quase diria por todo o lado, gente empenhada em gerir processos de intenção. Pessoas pródigas em arranjar culpados, por tudo e por nada não faltam. Mas, à frente que aí vem gente.
Uma coisa que não faço, à certa, é proferir sentenças. As minhas frases são achegas para uma interpretação “sólida” dos acontecimentos, que tenha na devida conta a realidade objectiva, sempre difícil de atingir e interpretar.
Modestamente pretendo contribuir para a formação de alguma “massa crítica” de intelectuais desalinhados, mas não parados. Neste aspecto os partidos são um “mal menor” mas democraticamente necessário. Haverá outras formas de participação, mas direi, para já, delas que algumas, sendo importantes, no geral não fazem o meu estilo.
Mas neste universo quanto é custoso ser pequeno, num concelho pequeno, numa região pequena, num país pequeno, numa Europa vulnerável a ventos e contra ventos, num mundo em permanente ebulição.
A actuação de todos nós, daqueles que têm e dos que não têm a pachorra de ler estas linhas, é irrelevante neste universo “pesado”. Mas, como humanos que somos, há uma força que nos move e não nos deixa estar parados à sombra da bananeira.
Nem toda esta força será sadia, como sabemos, mas dos políticos, digo eu, muitos há neste país que, derrota atrás de derrota, persistem em aparecer a encher as nossas televisões de tristes figuras. Não será doentio aconselhá-los a dedicarem a sua força a outra vida.
O nosso desejo era que tudo fosse claro e luminoso. Que não houvesse quem utilizasse os partidos políticos como cobertores, agasalhos ou simples capas de interesses ilegitimamente defendidos. Que não houvesse partidos que utilizassem tachos, vantagens, favores para conquistarem apoiantes.
Mas não é de todo possível dissociar o homem político do homem económico, que tem necessidades e desejos a satisfazer. Possível é tornar claro o que é uso de influências, o que é tráfico de influências, o que é compra de influências, o que são vantagens injustas e indevidas, o que são vantagens compradas via persuasão, via aliciamento ou via corrupção.
Ao homem dispenso a minha máxima condescendência que, espero, recíproca. Ao político, onde o houver há que ser duro e implacável, sem ser acintoso ou ressentido. Ao opinante direi que nem tudo verei pela sua perspectiva mas acho que deveríamos ter sempre presente que “há razões que a razão desconhece”.
Deveríamos ter a humildade de aceitarmos que podemos estar a não ver bem o problema. Mas para além disto há uma verdade insofismável: estes assuntos da política são, por vezes, de uma insalubridade tal que, sem alguma pimenta, dificilmente são digeríveis.
Também era importante que não fosse só para nosso eventual gozo. O pior que há para nós é falar em circuito fechado. Que a imprensa vá fazendo o seu papel.