terça-feira, 16 de maio de 2006

A saúde não pode ser moeda de troca

A nossa máxima aplicada ao sistema de saúde em Ponte de Lima tem sido deixá-lo ir caindo de “podre” e só então gritar “Aqui d’el Rei”. Nem sempre nos surge a consciência das deficientes condições instrumentais e humanas em que vão sendo prestados os serviços de saúde. Mas é bom que tomemos conhecimento delas.
È bom nós reivindicarmos mais e melhor e temos tanto a reivindicar. Não podemos é iludirmo-nos e fazer finca-pé na defesa daquilo que não temos. Independentemente daquilo que temos, temos que exigir a posse e a partilha daquilo que nos é devido.
O governo procura sistematizar princípios e soluções de modo a, com as disponibilidades existentes, tornar os cuidados de saúde condizentes com as exigências de hoje. Isto não está ainda feito, mas há muito tempo o deveria estar.
O governo terá que definir, com a ajuda dos técnicos mais avalizados, quais os parâmetros a se aplicarem por serem os mais adequados à actual fase de conhecimento e às necessidades sentidas pelas populações.
Mas não há verdades absolutas e nós poderemos sempre pôr em causa os princípios que o governo venha a defender. Principalmente se esses princípios levarem ao atrofiamento da rede de cuidados de saúde.
Não é de qualquer maneira que nós vamos acreditar que tudo melhora com o fortalecimento duma rede menos vasta. A centralização nem sempre é sinónimo de melhoria. Se os nós da rede são fracos e se nada se fizer para darem melhor resposta só pioramos as coisas.
O nosso hospital já teve nomes pomposos, quadros com algum significado, mas nunca conseguiu prestar um serviço que satisfizesse a população. Se houve falta de investimento em equipamentos e edifícios, houve também falta de pessoal médico e técnico que quisesse cá trabalhar.
Mas o passado não nos alivia as dores do futuro. Nós queremos que o Estado tenha uma forte intervenção na prestação dos cuidados de saúde. Nós não queremos que tudo seja privatizado. Nem sequer queremos que o fundamental seja entregue à responsabilidade de qualquer instituição particular.
Nós queremos que o lobby da saúde participe e contribua de modo positivo para a solução dos nossos problemas nesta área. Os médicos do Centro de Saúde já há mais de um ano se demitiram de prestar serviço na dita “urgência” de Ponte de Lima. Agora é necessário que assumam as suas responsabilidades.
Nós queremos um serviço de verdadeira “urgência” prestado no hospital ou através de um veículo de emergência devidamente dotado de meios.
Ponte de Lima nunca teve uma equipa cirúrgica residente e não é agora que a podemos reivindicar. Ponte de Lima só fugazmente vai tendo algumas consultas de especialidade nos serviços públicos mas temos de exigir mais e melhor.
Ponte de Lima pode e deve reivindicar os meios de diagnóstico necessários às situações de emergência de que a radiologia é apenas um. Nós devemos reivindicar que esses meios estejam ao dispor de todos os serviços públicos de saúde durante todo o tempo do seu funcionamento.
Ponte de Lima precisa de uma assistência médica com horário alargado e ao fim de semana, chamam-lhe o que lhe quiserem chamar, para satisfazer as situações que, podendo não ter essa designação oficial, são para as pessoas normais, de carne e osso, de urgência.
Ponte de Lima tem de ter a garantia de assistência de emergência em casa, na estrada, ou em qualquer outro local durante 24 horas por dia porque infelizmente há doenças súbitas e acidentes a qualquer hora.
Ponte de Lima tem de estar unida nestes propósitos chamando todos os intervenientes à participação, mas tem de haver alguém que, além da definição dos objectivos, coordene os esforços que há a fazer.
A Assembleia Municipal de Ponte de Lima foi chamada a essa função e a imprensa não pode estar alheia. Por isso o meu contributo.