Esta afirmação tem sido expendida por vários e eminentes portugueses que as vicissitudes da vida levaram a outras paragens onde passaram parte significativa do seu tempo. Disse-o recentemente Luís Figo no seguimento de outros de quem em Portugal é posta em causa a honorabilidade a propósito de casos de contornos que não são da sua responsabilidade. Quem não terá acreditado foi Carlos Queiroz que, depois de vários sucessos lá fora, que lhe trouxeram admiração e notoriedade, acabou por vir para cá para sucumbir sem glória nas praias lusitanas.
Prometo não continuar no mundo do futebol, não porque tenha contra ele qualquer aversão, mas porque tão só é um mundo em que as ideias se trucidam umas às outras. As opiniões são limitadas, como em tudo que é tão fugaz, e os opinadores são mais do que muitos. O futebol é um mundo em que só os génios conseguem ser originais, tanto dentro do campo, como na teorização do jogo, e aí teríamos que nos vergar todos àquelas personagens que nos vão dando algum estímulo para continuar a pensar que há sempre algo em que podemos ser os melhores do mundo.
Do futebol podíamos passar para a política, até porque não faltará quem diga que este problema da nossa frustração por estarmos cá dentro e não fugirmos todos lá para fora é mesmo político. Concordamos que também aqui neste domínio acontece o mesmo fenómeno que no futebol. Pessoas cá vilipendiadas são lá fora enaltecidas. Se no futebol a culpa é nossa, também terá sido pelo nosso mau humor que personagens com o sucesso externo de Guterres e Barroso não foram cá aproveitadas e o foram lá fora após terem cá tido desempenhos a nosso ver medíocres ou mesmo maus.
Como no futebol o que cá se joga seria péssimo, não fora a contribuição dada por tantos estrangeiros que cá estão, também na política se pode presumir, para nossa desgraça, que os piores terão cá ficado, quando já tinham experiência e idade para se lançarem noutros voos. O problema é que ninguém os quis. Lá vamos nós ter de escolher entre aqueles que não nos largam porque, infelizmente, acham que este é o lugar deles, seja o Cavaco Silva, seja o Manuel Alegre.
Claro que na política as opiniões são mais do que no futebol e o produto posto à discussão do público é muito mais trabalhado, com maior complexidade. Mas lá estão José Sócrates, com a sua persistência razoável para nos acalmar sobre os desafios que nos esperam e Passos Coelho, com a sua truculência light para nos sossegar sobre as tragédias que Ferreira Leite nos havia prometido aleivosamente, mas que também ninguém pode negar de modo absoluto. Sucesso evidente, insofismável nenhum vai tendo, restando talvez esperar que algum falhe para que se lhes dê valor lá fora.
Esqueçamos também a política enquanto não aparece outro político que cá seja ultrajado e louvado lá fora. Vamos para o domínio do trivial em que a culpa não deixará de ser igualmente nossa. Muitos têm sucesso lá fora quando dizemos que para nada serviriam aqui. Infelizmente a maioria pode ser referida mas apenas esporadicamente na imprensa nacional. Mesmo assim todos sabemos que cá medra o bom e o ruim, mas temos de recorrer ao estrangeiro para criar os nossos Ídolos.
Só passando a fronteira se vê a qualidade da colheita que cada um dos cá nascidos pode proporcionar. Na nossa boca não deixamos passar nada, mas também não estamos muito convencidos da nossa razão. Estamos na disposição de condenar todos, mas também de os perdoar a seguir, convencidos que parecemos estar de que, com a nossa palavra o mal está feito e se não vai esvair. Ou será que o mal feito é o húmus da nossa vida?
Andamos todos sobre terreno minado no qual é impossível definir um rumo. Se não nos tivessem criado tantas dificuldades talvez fossemos mais ousados. Porém não nos deixaram rasto de uma caminho a seguir, capacidade para discernir. Deixaram-nos no mar alto, temos visões ondulantes que se não deixam fixar em objectivos tangíveis e visíveis para todos. Não nos afastamos do mais seguro e rotineiro, com receio de nos perdermos.
Quando estamos no estrangeiro trabalhamos para aquilo que esperam de nós. Cá trabalhamos para aquilo que de nós esperamos. Como não sabemos aquilo que podemos exigir a nós próprios, também não o sabemos definir para os outros. Lá fora queremos agradar a quem nos paga. Cá dentro queremos agradar a todos aqueles a quem não definimos como inimigos, o que é o caminho garantido para não agradar a ninguém.
Por fora o mundo abre-se-nos gracioso, brilhante, atractivo. Por cá o mundo tem sempre uma sombria nebulosa de maledicência, de inveja, de desfaçatez. Avançamos para o mar alto com decisão, audácia, destemor, para longe dos olhos que nos tolhem. Conformamo-nos a construir castelos na areia quando antevemos o mar bravo e o nosso ânimo esmorece. Mesmo sem serem grandes, entretemo-nos a destruir à socapa os castelos dos outros. Até nas brincadeiras privilegiamos o jogo sujo.
Prometo não continuar no mundo do futebol, não porque tenha contra ele qualquer aversão, mas porque tão só é um mundo em que as ideias se trucidam umas às outras. As opiniões são limitadas, como em tudo que é tão fugaz, e os opinadores são mais do que muitos. O futebol é um mundo em que só os génios conseguem ser originais, tanto dentro do campo, como na teorização do jogo, e aí teríamos que nos vergar todos àquelas personagens que nos vão dando algum estímulo para continuar a pensar que há sempre algo em que podemos ser os melhores do mundo.
Do futebol podíamos passar para a política, até porque não faltará quem diga que este problema da nossa frustração por estarmos cá dentro e não fugirmos todos lá para fora é mesmo político. Concordamos que também aqui neste domínio acontece o mesmo fenómeno que no futebol. Pessoas cá vilipendiadas são lá fora enaltecidas. Se no futebol a culpa é nossa, também terá sido pelo nosso mau humor que personagens com o sucesso externo de Guterres e Barroso não foram cá aproveitadas e o foram lá fora após terem cá tido desempenhos a nosso ver medíocres ou mesmo maus.
Como no futebol o que cá se joga seria péssimo, não fora a contribuição dada por tantos estrangeiros que cá estão, também na política se pode presumir, para nossa desgraça, que os piores terão cá ficado, quando já tinham experiência e idade para se lançarem noutros voos. O problema é que ninguém os quis. Lá vamos nós ter de escolher entre aqueles que não nos largam porque, infelizmente, acham que este é o lugar deles, seja o Cavaco Silva, seja o Manuel Alegre.
Claro que na política as opiniões são mais do que no futebol e o produto posto à discussão do público é muito mais trabalhado, com maior complexidade. Mas lá estão José Sócrates, com a sua persistência razoável para nos acalmar sobre os desafios que nos esperam e Passos Coelho, com a sua truculência light para nos sossegar sobre as tragédias que Ferreira Leite nos havia prometido aleivosamente, mas que também ninguém pode negar de modo absoluto. Sucesso evidente, insofismável nenhum vai tendo, restando talvez esperar que algum falhe para que se lhes dê valor lá fora.
Esqueçamos também a política enquanto não aparece outro político que cá seja ultrajado e louvado lá fora. Vamos para o domínio do trivial em que a culpa não deixará de ser igualmente nossa. Muitos têm sucesso lá fora quando dizemos que para nada serviriam aqui. Infelizmente a maioria pode ser referida mas apenas esporadicamente na imprensa nacional. Mesmo assim todos sabemos que cá medra o bom e o ruim, mas temos de recorrer ao estrangeiro para criar os nossos Ídolos.
Só passando a fronteira se vê a qualidade da colheita que cada um dos cá nascidos pode proporcionar. Na nossa boca não deixamos passar nada, mas também não estamos muito convencidos da nossa razão. Estamos na disposição de condenar todos, mas também de os perdoar a seguir, convencidos que parecemos estar de que, com a nossa palavra o mal está feito e se não vai esvair. Ou será que o mal feito é o húmus da nossa vida?
Andamos todos sobre terreno minado no qual é impossível definir um rumo. Se não nos tivessem criado tantas dificuldades talvez fossemos mais ousados. Porém não nos deixaram rasto de uma caminho a seguir, capacidade para discernir. Deixaram-nos no mar alto, temos visões ondulantes que se não deixam fixar em objectivos tangíveis e visíveis para todos. Não nos afastamos do mais seguro e rotineiro, com receio de nos perdermos.
Quando estamos no estrangeiro trabalhamos para aquilo que esperam de nós. Cá trabalhamos para aquilo que de nós esperamos. Como não sabemos aquilo que podemos exigir a nós próprios, também não o sabemos definir para os outros. Lá fora queremos agradar a quem nos paga. Cá dentro queremos agradar a todos aqueles a quem não definimos como inimigos, o que é o caminho garantido para não agradar a ninguém.
Por fora o mundo abre-se-nos gracioso, brilhante, atractivo. Por cá o mundo tem sempre uma sombria nebulosa de maledicência, de inveja, de desfaçatez. Avançamos para o mar alto com decisão, audácia, destemor, para longe dos olhos que nos tolhem. Conformamo-nos a construir castelos na areia quando antevemos o mar bravo e o nosso ânimo esmorece. Mesmo sem serem grandes, entretemo-nos a destruir à socapa os castelos dos outros. Até nas brincadeiras privilegiamos o jogo sujo.
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