Somos levados por vezes a pensar que há conceitos que já não são aplicáveis nos dias de hoje. No caso da dignidade é um conceito tão em desuso, parece-nos tão gasto e sem valor, com tão pouca gente a reclamar ser merecedora do seu conteúdo, que nos esquecemos que existe. A dignidade talvez ainda pulse com o mesmo vigor doutros tempos e nós não estaremos actualizados sobre a sua caracterização? A dignidade será já pouco e teremos direito a reclamar muito mais? Alguns casos recentes de apelo à defesa da dignidade humana fizeram-nos pensar que não.
Habituamo-nos a apelar à dignidade somente em casos extremos. Aparentemente a dignidade só é posta em causa esporadicamente, o que leva a que nos esqueçamos dela e a perdermos a noção da sua importância. Somos mesmos levados a questionar o benefício em termos da estreiteza ou largueza dessa noção basilar em termos civilizacionais. Temos um conceito mais vasto da dignidade, sem que achemos que ela deva ser invocada a propósito de tudo ou nada. Dar dignidade à dignidade é o nosso propósito.
Porém é manifesto aos nossos olhos que muita gente vive sem uma defesa eficaz da sua dignidade A fuga de muitos é para a defesa de uma espécie de dignidade grupal que foge à noção mais elementar de dignidade e permite que elementos isolados se não preocupem com a sua defesa, mas queiram beneficiar dela. Essa intenção de esconder o indivíduo não é correcta. Por outro lado o pertencermos a um grupo é às vezes uma condenação, não um handicap. Nesse caso contribuir para a dignidade do grupo também é virmos a beneficiar com isso.
A dignidade faz parte do nosso património intelectual. Há muito que sentimos a necessidade de defendermos uma série de direitos que nos emprestam essa qualidade. A dignidade é uma qualidade atribuída e, na sua pureza é uma qualidade pessoal que preservamos, mas que certos grupos desvalorizam. Só a sociedade na sua asserção mais vasta é capaz de aferir os valores que façam parte integrante da dignidade do indivíduo, beneficiário ou não da sua integração social.
Todos, mesmo sem a reclamarem, aceitam a dignidade como um atributo insubstituível na vida em sociedade. Não se confirma que a dignidade natural exista. Sem estruturas sociais a dignidade esvai-se. A dignidade convive mal com a selvajaria. A dignidade pertence ao domínio do social, do civilizacional. Porém à dignidade só podemos atribuir um valor absoluto se houvesse consenso social sobre a sua caracterização mínima.
Sabemos distinguir aqueles que têm dignidade face àqueles que a não têm e mais ainda sabemos distinguir as pessoas que possuem mais dignidade de outras que só fazem o mínimo por a merecer. Afinal a dignidade pesa-se ou não? Presunção e água benta cada qual toma a que quer, dirá quem não dá real valor a conceitos que se referem à afirmação pessoal, mesmo que concedidos pelos outros. Será que este conceito já não nos faz falta? Aceitar um sim seria aceitar a indignidade.
Todos queríamos um mínimo de dignidade respeitada nos países mais miseráveis e nas situações mais degradantes. Será que as pessoas vivendo essas situações são incapazes de definir uma dignidade básica que façam respeitar por todos? Estas situações dão-nos a noção da relatividade do conceito, mas não nos podem fazer depender a relatividade das circunstâncias e da condição social de cada um. Todos mereceríamos à partida uma dignidade que não seria mínima nem máxima mas igual. Para garantir essa dignidade seria necessário garantir condições em que as pessoas seriam incentivadas a fazer o quanto baste para o merecer.
Aparentemente a sociedade em geral não está hoje em situação de poder facultar as condições mínimas que garantam a dignidade, mesmo a que dependa do merecimento de cada um. Se a indignidade se reduzisse somente àqueles que rejeitam aquelas condições já não estaríamos mal e colocar-se-ia então à sociedade a sua dificuldade em dar ao conceito um carácter cada vez mais absoluto.
Partindo do princípio que as condições estejam criadas, será mais fácil definir pela negativa. A indignidade seria então a recusa a ter um comportamento humano, seria o aviltamento da condição humana, a perfídia constante e perseverante, a reiterada perversão. Mas se este conceito satisfaz, as formas de indignidade que mais nos apoquentam não se reduzem àquelas atitudes que vitimizam pessoas determinadas escolhidas intencional ou ocasionalmente.
Os comportamentos indignos são hoje maioritariamente de outra natureza e criam vítimas aleatórias, à distância, indeterminadas. As vítimas não vemos olhos nos olhos aqueles que ferem a sua dignidade. A indignidade campeia-se assim com a liberdade de quem sabe que pode agir impunemente. As pessoas desistem de procurar as razões do seu aviltamento.
A dignidade das pessoas é um assunto íntimo, uma questão pessoal, uma qualidade intransmissível. A dignidade foge às nossas convicções, vai para além das razões que possamos encontrar para o nosso comportamento. Não haverá dúvidas que temos dificuldade em não lhe deixar distorcer os contornos. Sabemos que temos a nossa, que tudo fazemos para a preservar e fortalecer. Mas quem pode ser hoje o fiel depositário de um valor tão importante na nossa sociedade?
Habituamo-nos a apelar à dignidade somente em casos extremos. Aparentemente a dignidade só é posta em causa esporadicamente, o que leva a que nos esqueçamos dela e a perdermos a noção da sua importância. Somos mesmos levados a questionar o benefício em termos da estreiteza ou largueza dessa noção basilar em termos civilizacionais. Temos um conceito mais vasto da dignidade, sem que achemos que ela deva ser invocada a propósito de tudo ou nada. Dar dignidade à dignidade é o nosso propósito.
Porém é manifesto aos nossos olhos que muita gente vive sem uma defesa eficaz da sua dignidade A fuga de muitos é para a defesa de uma espécie de dignidade grupal que foge à noção mais elementar de dignidade e permite que elementos isolados se não preocupem com a sua defesa, mas queiram beneficiar dela. Essa intenção de esconder o indivíduo não é correcta. Por outro lado o pertencermos a um grupo é às vezes uma condenação, não um handicap. Nesse caso contribuir para a dignidade do grupo também é virmos a beneficiar com isso.
A dignidade faz parte do nosso património intelectual. Há muito que sentimos a necessidade de defendermos uma série de direitos que nos emprestam essa qualidade. A dignidade é uma qualidade atribuída e, na sua pureza é uma qualidade pessoal que preservamos, mas que certos grupos desvalorizam. Só a sociedade na sua asserção mais vasta é capaz de aferir os valores que façam parte integrante da dignidade do indivíduo, beneficiário ou não da sua integração social.
Todos, mesmo sem a reclamarem, aceitam a dignidade como um atributo insubstituível na vida em sociedade. Não se confirma que a dignidade natural exista. Sem estruturas sociais a dignidade esvai-se. A dignidade convive mal com a selvajaria. A dignidade pertence ao domínio do social, do civilizacional. Porém à dignidade só podemos atribuir um valor absoluto se houvesse consenso social sobre a sua caracterização mínima.
Sabemos distinguir aqueles que têm dignidade face àqueles que a não têm e mais ainda sabemos distinguir as pessoas que possuem mais dignidade de outras que só fazem o mínimo por a merecer. Afinal a dignidade pesa-se ou não? Presunção e água benta cada qual toma a que quer, dirá quem não dá real valor a conceitos que se referem à afirmação pessoal, mesmo que concedidos pelos outros. Será que este conceito já não nos faz falta? Aceitar um sim seria aceitar a indignidade.
Todos queríamos um mínimo de dignidade respeitada nos países mais miseráveis e nas situações mais degradantes. Será que as pessoas vivendo essas situações são incapazes de definir uma dignidade básica que façam respeitar por todos? Estas situações dão-nos a noção da relatividade do conceito, mas não nos podem fazer depender a relatividade das circunstâncias e da condição social de cada um. Todos mereceríamos à partida uma dignidade que não seria mínima nem máxima mas igual. Para garantir essa dignidade seria necessário garantir condições em que as pessoas seriam incentivadas a fazer o quanto baste para o merecer.
Aparentemente a sociedade em geral não está hoje em situação de poder facultar as condições mínimas que garantam a dignidade, mesmo a que dependa do merecimento de cada um. Se a indignidade se reduzisse somente àqueles que rejeitam aquelas condições já não estaríamos mal e colocar-se-ia então à sociedade a sua dificuldade em dar ao conceito um carácter cada vez mais absoluto.
Partindo do princípio que as condições estejam criadas, será mais fácil definir pela negativa. A indignidade seria então a recusa a ter um comportamento humano, seria o aviltamento da condição humana, a perfídia constante e perseverante, a reiterada perversão. Mas se este conceito satisfaz, as formas de indignidade que mais nos apoquentam não se reduzem àquelas atitudes que vitimizam pessoas determinadas escolhidas intencional ou ocasionalmente.
Os comportamentos indignos são hoje maioritariamente de outra natureza e criam vítimas aleatórias, à distância, indeterminadas. As vítimas não vemos olhos nos olhos aqueles que ferem a sua dignidade. A indignidade campeia-se assim com a liberdade de quem sabe que pode agir impunemente. As pessoas desistem de procurar as razões do seu aviltamento.
A dignidade das pessoas é um assunto íntimo, uma questão pessoal, uma qualidade intransmissível. A dignidade foge às nossas convicções, vai para além das razões que possamos encontrar para o nosso comportamento. Não haverá dúvidas que temos dificuldade em não lhe deixar distorcer os contornos. Sabemos que temos a nossa, que tudo fazemos para a preservar e fortalecer. Mas quem pode ser hoje o fiel depositário de um valor tão importante na nossa sociedade?
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