A palavra é a mais fantástica realização do homem. Ela permitiu a fixação do significado da “coisa” e o avanço para a definição de “coisas” cada vez mais complexas. Isto, na sua aparente simplicidade, não é nada de banal. Conseguir intelectualizar a realidade, mesmo que com o apoio da imagem, do som e da memória doutras sensações proporcionadas pelos outros orgãos humanos, é uma tarefa só possível com a palavra. Traduzir tudo pela palavra tem sido um trabalho árduo a que o homem se tem dedicado com perseverança há séculos.
O homem normal, se assim podemos dizer, e o intelectual, pressupondo que este é o homem que adquiriu a capacidade de trabalhar mais facilmente com a palavra, preocupam-se em que a sua palavra tenha uma correspondência inteligível com a realidade. No entanto o homem não tem, mesmo no seu delírio, a necessidade de criar palavras que não tenham correspondência na realidade. Os estados de espírito que pressupõem algum devaneio dão uma imagem distorcida da realidade, mas não se afastam dela. Só mesmo a palavra permitirá um reacerto, algum recentrar do homem nessa realidade.
Dominar a palavra é dominar a realidade, é conseguir a imagem intelectual mais aproximada, menos equívoca desta realidade. Sem dominar a palavra podemos ter a noção da tendência, o efeito da onda, a premunição do impacto, mas não compreendemos os fenómenos, nem conseguimos agir sobre eles. Com o domínio da palavra nós podemos chegar aonde nem a imaginação nos levaria, ficar aonde a sensatez não nos aconselharia parar sequer. Só a palavra nos permite uma visão da realidade imune à influência das próprias forças que a constituem. Só a palavra nos permite um caminhar sem sobressaltos e uma paragem num tempo que nos agrade mais.
Sem o domínio da palavra, o homem dá imensos saltos no seu pensamento, até se poderá tornar mais destemido, porém é um ser menos consistente. Ninguém terá conseguido preencher os interstícios existentes no domínio universal da palavra, nem sequer as lacunas existentes no seu próprio pensamento de modo a poder ter a garantia de que segue o seu caminho com segurança. Porém, na vida prática, poucos se podem estar a preocupar em cimentar intelectualmente esse caminho, é mais prático cimentá-lo financeiramente. Daí as falhas que podemos detectar no esforço discursivo da maioria.
Haverá muitas outras formas de realização, parecendo mesmo despiciendo, ou pelo menos excessiva para muitos, esta preocupação com a palavra. Ser médico, engenheiro, advogado, informático, humorista, cantor, empresário é para muitos de maior importância, embora seja cada vez mais evidente a preocupação com o domínio da linguagem apropriada à sua função, com o domínio das palavras que remetem para o seu universo, o que já revela alguma preocupação com a palavra na sua utilização mais genérica e participada. No entanto é sempre possível distinguir entre o uso mais interesseiro ou mais participativo da palavra.
A palavra permite o discurso que é uma forma de navegar sem remos, sem velas, sem correntes de qualquer espécie. Porém o discurso também se pode desenvolver sobre correntes e necessita então de descodificação. Podemos construir múltiplos discursos sobre a palavra. De certo modo podemos dizer que a palavra perdeu ou nunca chegou a ganhar precisão porque ela se não impõe por si só. Assim o discurso sofrerá sempre de um grau de imprecisão razoável. Põe-se o problema a quem caberá garantir a uniformidade significante da palavra.
O formalismo empregue na criação das palavras, tanto quanto o formalismo usado na criação do discurso permitem-nos alguma segurança com uma interpretação uniforme. No entanto a intenção é parte integrante do significado atribuído à palavra, pelo que estar de sobreaviso é a atitude mais acertada. Criam-se linguagens próprias para que com as palavras se atinjam efeitos determinados. Esta possibilidade de uma mesma palavra ser usada em diferentes linguagens reduz em muito a credibilidade dessa palavra, e por extensão da palavra em geral. Teremos que compreender, mas não aceitar que a diversidade dos caminhos crie interpretações diferentes.
A palavra adquiriu a capacidade de produzir em nós um efeito psicológico que nos prende à interpretação mais autêntica que lhe atribuímos. Porém não produz em todos e a todo o momento o mesmo efeito. A inteligibilidade da palavra pode exigir que se lhe retire a roupagem que lhe tenha sido posta. O rasto, a impressão que nós associamos a uma palavra é uma faca de dois gumes. Esta impressão pode mesmo ser vincada, causar uma sensação de alívio ou pelo contrário, constituir um elemento de pressão, uma carga psicológica que se vai acumulando.
A palavra não nos incomoda se conseguirmos que outrem a não aprisione. Porém, quando retida para uso em contextos pré-definidos e tendenciosos, a palavra pode mesmo dilacerar-nos. Isso pode acontecer se for manipulada por quem está no poder ou por quem o ambiciona e pensa estar perto de o atingir. Mas também quando as intenções de quem a profere são ingénuas, isto é, já não traduzem uma intenção declarada. Só que o uso inadequado da palavra também ajuda a revelar as lacunas da personalidade. Doutra forma não lhes teríamos acesso, pelo que é pela boca que “morre” o peixe. A palavra é a fonte e está no centro da nossa civilização.
O homem normal, se assim podemos dizer, e o intelectual, pressupondo que este é o homem que adquiriu a capacidade de trabalhar mais facilmente com a palavra, preocupam-se em que a sua palavra tenha uma correspondência inteligível com a realidade. No entanto o homem não tem, mesmo no seu delírio, a necessidade de criar palavras que não tenham correspondência na realidade. Os estados de espírito que pressupõem algum devaneio dão uma imagem distorcida da realidade, mas não se afastam dela. Só mesmo a palavra permitirá um reacerto, algum recentrar do homem nessa realidade.
Dominar a palavra é dominar a realidade, é conseguir a imagem intelectual mais aproximada, menos equívoca desta realidade. Sem dominar a palavra podemos ter a noção da tendência, o efeito da onda, a premunição do impacto, mas não compreendemos os fenómenos, nem conseguimos agir sobre eles. Com o domínio da palavra nós podemos chegar aonde nem a imaginação nos levaria, ficar aonde a sensatez não nos aconselharia parar sequer. Só a palavra nos permite uma visão da realidade imune à influência das próprias forças que a constituem. Só a palavra nos permite um caminhar sem sobressaltos e uma paragem num tempo que nos agrade mais.
Sem o domínio da palavra, o homem dá imensos saltos no seu pensamento, até se poderá tornar mais destemido, porém é um ser menos consistente. Ninguém terá conseguido preencher os interstícios existentes no domínio universal da palavra, nem sequer as lacunas existentes no seu próprio pensamento de modo a poder ter a garantia de que segue o seu caminho com segurança. Porém, na vida prática, poucos se podem estar a preocupar em cimentar intelectualmente esse caminho, é mais prático cimentá-lo financeiramente. Daí as falhas que podemos detectar no esforço discursivo da maioria.
Haverá muitas outras formas de realização, parecendo mesmo despiciendo, ou pelo menos excessiva para muitos, esta preocupação com a palavra. Ser médico, engenheiro, advogado, informático, humorista, cantor, empresário é para muitos de maior importância, embora seja cada vez mais evidente a preocupação com o domínio da linguagem apropriada à sua função, com o domínio das palavras que remetem para o seu universo, o que já revela alguma preocupação com a palavra na sua utilização mais genérica e participada. No entanto é sempre possível distinguir entre o uso mais interesseiro ou mais participativo da palavra.
A palavra permite o discurso que é uma forma de navegar sem remos, sem velas, sem correntes de qualquer espécie. Porém o discurso também se pode desenvolver sobre correntes e necessita então de descodificação. Podemos construir múltiplos discursos sobre a palavra. De certo modo podemos dizer que a palavra perdeu ou nunca chegou a ganhar precisão porque ela se não impõe por si só. Assim o discurso sofrerá sempre de um grau de imprecisão razoável. Põe-se o problema a quem caberá garantir a uniformidade significante da palavra.
O formalismo empregue na criação das palavras, tanto quanto o formalismo usado na criação do discurso permitem-nos alguma segurança com uma interpretação uniforme. No entanto a intenção é parte integrante do significado atribuído à palavra, pelo que estar de sobreaviso é a atitude mais acertada. Criam-se linguagens próprias para que com as palavras se atinjam efeitos determinados. Esta possibilidade de uma mesma palavra ser usada em diferentes linguagens reduz em muito a credibilidade dessa palavra, e por extensão da palavra em geral. Teremos que compreender, mas não aceitar que a diversidade dos caminhos crie interpretações diferentes.
A palavra adquiriu a capacidade de produzir em nós um efeito psicológico que nos prende à interpretação mais autêntica que lhe atribuímos. Porém não produz em todos e a todo o momento o mesmo efeito. A inteligibilidade da palavra pode exigir que se lhe retire a roupagem que lhe tenha sido posta. O rasto, a impressão que nós associamos a uma palavra é uma faca de dois gumes. Esta impressão pode mesmo ser vincada, causar uma sensação de alívio ou pelo contrário, constituir um elemento de pressão, uma carga psicológica que se vai acumulando.
A palavra não nos incomoda se conseguirmos que outrem a não aprisione. Porém, quando retida para uso em contextos pré-definidos e tendenciosos, a palavra pode mesmo dilacerar-nos. Isso pode acontecer se for manipulada por quem está no poder ou por quem o ambiciona e pensa estar perto de o atingir. Mas também quando as intenções de quem a profere são ingénuas, isto é, já não traduzem uma intenção declarada. Só que o uso inadequado da palavra também ajuda a revelar as lacunas da personalidade. Doutra forma não lhes teríamos acesso, pelo que é pela boca que “morre” o peixe. A palavra é a fonte e está no centro da nossa civilização.
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