A democracia tem variantes, e estas por sua vez têm diferentes méritos. A mais meritória democracia é a política, porque só esta pode ser o sustentáculo de todas as outras. Porém a democracia política tem um senão: É organicista na forma. Nunca se conseguiu uma democracia directa. No organicismo ganha-se eficácia mas perde-se genuinidade. O órgão adquire uma lógica própria que suplanta a pessoal.
A maioria de nós fez uma clara opção pela intervenção dentro dos condicionalismos que a democracia nos impõe. Para essa democracia concorrem os partidos políticos, associações de estrutura diversa. A sua constituição e funcionamento mesmo em democracia não têm que ser livres. Escasseiam as regras para o seu funcionamento, estão mal definidas as suas formas de intervenção. No fundo a sua imprescindibilidade mais faz realçar os seus defeitos. Isto torna-os sujeitos à crítica permanente da população.
Os partidos funcionam a várias escalas, com diferentes formas de representação e problemas específicos aos seus distintos níveis. Às escalas mais elevadas os partidos assumem um carácter exclusivo. Assim a maioria da população é excluída da participação política a esses níveis e vê-a dificultada a níveis mais baixos. Aqueles que acham que deveriam poder dar uma colaboração de valor acrescido à vida pública do País, sem necessitar de para isso estarem enquadrados em partidos, sentem-se frustrados.
Além de todos os outros defeitos os partidos só recorrem aos chamados independentes em última instância. Os poucos que conseguem furar todas as barreiras à entrada são mal vistos, marginalizados, o seu trabalho chega a ser sabotado, minimizado, ridicularizado mesmo. Aos políticos profissionais nada é exigido, aos independentes têm que ser os melhores. A sua participação cívica depende da maior ou menor mesquinhez dos aparelhos partidários.
A maioria dos independentes desconhece muitas das regras dos partidos, têm uma sensibilidade “imatura” para responder ao cinismo prevalecente nos meios políticos. Quem não prescindir de ser genuíno, de ter uma satisfação própria naquilo que faz, não tem lugar. Os poucos aceites acabam por soçobrar à mão daqueles que parasitam os aparelhos partidários. Os partidos estão cheios de “sargentos” à espera da sua vez de se promoverem a “oficiais”. E estes, os que têm “estatuto” são arrogantes e mesquinhos.
A política, como trituradora da personalidade individual, ataca menos os profissionais, mais preparados para o efeito. E estes atacam os não filiados por terem excessiva independência. Abrigam-se no facto de eles mesmos serem obrigados a aceitar opiniões diferentes das suas, a defenderem perante outros aquilo que muitas vezes é contrário à sua sensibilidade. Os independentes são uns privilegiados neste aspecto. Só que normalmente já provaram noutros fóruns a sabedoria que os profissionais nunca são obrigados a provar.
Os independentes não estão obrigados a tantas cedências, não se deixam arrastar pela militância tantas vezes acéfala e seguidista, nem se deixam ficar pela apatia de muitos dos que um dia se filiaram num partido com objectivos menos sérios. Claro que também há falsos independentes, há aqueles que querem apanhar a boleia e querem ficar de vez com um lugar na carruagem. Quem se quer manter independente cultiva-se, desenvolve ideias, métodos próprios, porque os partidos ainda não descobriram nada de infalível.
Há uma clara diferença entre quem procura ter uma satisfação pessoal naquilo que faz politicamente e quem tudo faz por obrigação, a contragosto às vezes. O verdadeiro independente não prescinde da sua sensibilidade, não deixa que se esmaguem os seus sentimentos pessoais. Nunca esquece o que era matricial em si. O independente empenha-se se se sente enquadrado, sentimental e intelectualmente, num plano estratégico mesmo que definido por outrem.
Parece pois existir, e as pessoas concluem-no, haver perversão na política. O mundo em que os políticos mergulham é artificial, tem regras próprias embora retiradas de velhos princípios comummente aceites. Mas princípios criados noutros contextos não conseguem integrar facilmente o actual. Honra, dignidade, frontalidade, seriedade e outros perderam o significado quando transferidos para um mundo diferente daquele em que tais termos ganharam significado.
Há valores que eram próprios de um mundo de hierarquias rígidas e, por anulação das regras próprias, o seu significado perdeu-se. Ainda se não encontraram regras eficazes que se apliquem à vida de hoje. De alguma forma falta uma autoridade exterior à política, alguém capaz de dirimir conflitos entre os vários agentes políticos, de impor alguma lisura e clareza à luta política. É tanta a confusão que em cada momento até falta saber o que está em causa, seja a curto ou longo prazo, seja ao mais pequeno nível, seja ao mais vasto.
Os políticos movimentam-se hoje em quadros mentais para os quais a sua contribuição é muitas vezes mínima. Não os tendo elaborado, não sendo seus proprietários, seus gestores, quando muito são seus defensores, mas chegam facilmente a ser seus escravos, prisioneiros da sua lógica própria. Muitos políticos atiram-se a discutir assuntos para os quais não estão preparados e não estão convictos daquilo que defendem. Por vezes só deles têm uma noção vaga.
Embora não haja liberdade absoluta e haja valores sociais a respeitar, podemos manter a nossa liberdade enquanto conseguirmos manter a alma, estivermos convencidos da bondade do que fazemos, seguirmos um caminho solidário escolhido com entusiasmo e vivido com satisfação pessoal. Só a espontaneidade, a naturalidade são demonstrativas da nossa liberdade. O falso verniz dos políticos é a capa que esconde caracteres de duvidosa índole.
A maioria de nós fez uma clara opção pela intervenção dentro dos condicionalismos que a democracia nos impõe. Para essa democracia concorrem os partidos políticos, associações de estrutura diversa. A sua constituição e funcionamento mesmo em democracia não têm que ser livres. Escasseiam as regras para o seu funcionamento, estão mal definidas as suas formas de intervenção. No fundo a sua imprescindibilidade mais faz realçar os seus defeitos. Isto torna-os sujeitos à crítica permanente da população.
Os partidos funcionam a várias escalas, com diferentes formas de representação e problemas específicos aos seus distintos níveis. Às escalas mais elevadas os partidos assumem um carácter exclusivo. Assim a maioria da população é excluída da participação política a esses níveis e vê-a dificultada a níveis mais baixos. Aqueles que acham que deveriam poder dar uma colaboração de valor acrescido à vida pública do País, sem necessitar de para isso estarem enquadrados em partidos, sentem-se frustrados.
Além de todos os outros defeitos os partidos só recorrem aos chamados independentes em última instância. Os poucos que conseguem furar todas as barreiras à entrada são mal vistos, marginalizados, o seu trabalho chega a ser sabotado, minimizado, ridicularizado mesmo. Aos políticos profissionais nada é exigido, aos independentes têm que ser os melhores. A sua participação cívica depende da maior ou menor mesquinhez dos aparelhos partidários.
A maioria dos independentes desconhece muitas das regras dos partidos, têm uma sensibilidade “imatura” para responder ao cinismo prevalecente nos meios políticos. Quem não prescindir de ser genuíno, de ter uma satisfação própria naquilo que faz, não tem lugar. Os poucos aceites acabam por soçobrar à mão daqueles que parasitam os aparelhos partidários. Os partidos estão cheios de “sargentos” à espera da sua vez de se promoverem a “oficiais”. E estes, os que têm “estatuto” são arrogantes e mesquinhos.
A política, como trituradora da personalidade individual, ataca menos os profissionais, mais preparados para o efeito. E estes atacam os não filiados por terem excessiva independência. Abrigam-se no facto de eles mesmos serem obrigados a aceitar opiniões diferentes das suas, a defenderem perante outros aquilo que muitas vezes é contrário à sua sensibilidade. Os independentes são uns privilegiados neste aspecto. Só que normalmente já provaram noutros fóruns a sabedoria que os profissionais nunca são obrigados a provar.
Os independentes não estão obrigados a tantas cedências, não se deixam arrastar pela militância tantas vezes acéfala e seguidista, nem se deixam ficar pela apatia de muitos dos que um dia se filiaram num partido com objectivos menos sérios. Claro que também há falsos independentes, há aqueles que querem apanhar a boleia e querem ficar de vez com um lugar na carruagem. Quem se quer manter independente cultiva-se, desenvolve ideias, métodos próprios, porque os partidos ainda não descobriram nada de infalível.
Há uma clara diferença entre quem procura ter uma satisfação pessoal naquilo que faz politicamente e quem tudo faz por obrigação, a contragosto às vezes. O verdadeiro independente não prescinde da sua sensibilidade, não deixa que se esmaguem os seus sentimentos pessoais. Nunca esquece o que era matricial em si. O independente empenha-se se se sente enquadrado, sentimental e intelectualmente, num plano estratégico mesmo que definido por outrem.
Parece pois existir, e as pessoas concluem-no, haver perversão na política. O mundo em que os políticos mergulham é artificial, tem regras próprias embora retiradas de velhos princípios comummente aceites. Mas princípios criados noutros contextos não conseguem integrar facilmente o actual. Honra, dignidade, frontalidade, seriedade e outros perderam o significado quando transferidos para um mundo diferente daquele em que tais termos ganharam significado.
Há valores que eram próprios de um mundo de hierarquias rígidas e, por anulação das regras próprias, o seu significado perdeu-se. Ainda se não encontraram regras eficazes que se apliquem à vida de hoje. De alguma forma falta uma autoridade exterior à política, alguém capaz de dirimir conflitos entre os vários agentes políticos, de impor alguma lisura e clareza à luta política. É tanta a confusão que em cada momento até falta saber o que está em causa, seja a curto ou longo prazo, seja ao mais pequeno nível, seja ao mais vasto.
Os políticos movimentam-se hoje em quadros mentais para os quais a sua contribuição é muitas vezes mínima. Não os tendo elaborado, não sendo seus proprietários, seus gestores, quando muito são seus defensores, mas chegam facilmente a ser seus escravos, prisioneiros da sua lógica própria. Muitos políticos atiram-se a discutir assuntos para os quais não estão preparados e não estão convictos daquilo que defendem. Por vezes só deles têm uma noção vaga.
Embora não haja liberdade absoluta e haja valores sociais a respeitar, podemos manter a nossa liberdade enquanto conseguirmos manter a alma, estivermos convencidos da bondade do que fazemos, seguirmos um caminho solidário escolhido com entusiasmo e vivido com satisfação pessoal. Só a espontaneidade, a naturalidade são demonstrativas da nossa liberdade. O falso verniz dos políticos é a capa que esconde caracteres de duvidosa índole.
Qualquer submissão absoluta à lógica da luta política é contraproducente. Também o é suplantar a ignorância por meios artificiosos. Dada a necessidade de existirem políticos profissionais só resta pedir-lhes que não tornem artificial a sua sensibilidade e recorram a quem sabe sempre que não estejam seguros. Este mundo em que se não toleram uns cornos e se suportam todos os insultos tem algo de podre. Hoje os políticos procuram munir-se de instrumentos intelectuais perfeitamente perversos. A nível da palavra parece ser tudo permitido.
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