O que torna as campanhas eleitorais quase pacíficas é o facto de que as tensões se vão descarregando durante o período de uma legislatura e chegados ao fim já pouco mais há a dizer, está praticamente tudo dito. Isto tem as suas vantagens de que se realça este aspecto mas tem evidentes desvantagens principalmente em criar um estado de campanha eleitoral permanente.
Outra desvantagem nítida é que, entrados no período propriamente dito de campanha eleitoral, muitas das questões que poderiam ser abordadas, por o terem já sido exaustivamente durante o período anterior, ficam esquecidas, não são facilmente reavivadas. Não haveria mal maior se a discussão feita a quente não fosse muitas vezes enviesado e levasse assim a conclusões erróneas, conclusões cuja veracidade os factos consequentes se encarregam de desmentir.
Efectivamente não há praticamente medida que não tenha contestação imediata, mas os resultados de muitas só se vêem a prazo e, mesmo que se vejam até à campanha eleitoral subsequente, vai faltar a reanálise, a reavaliação que eventualmente poderiam diferir das conclusões tiradas à altura. Passa por mais importante o debate teórico, feito na ocasião do lançamento de uma medida, que o debate que se poderia fazer estando já na posse de dados da sua aplicação.
Dir-se-á que vai depender da força que as forças políticas interessadas conseguirem imprimir aos assuntos que mais lhe são favoráveis de modo a inclui-los na agenda política. Força que a razão decerto reforçará mas que se terá que dispersar contra muitos temas, muitos adversários, no meio de muita controvérsia inútil criada pela manha e engenho dos mesmos. As condições para o debate nunca mais serão as mesmas.
Outra desvantagem da campanha permanente é o desgaste que provoca na capacidade de acção e de inovação. Não só pode ter efeito negativo na acção em concreto, quando esta poderia vir a ser benéfica, como tal efeito se pode repercutir noutras acções e iniciativas a tomar. A oposição agarra-se à ideia de que é melhor ganhar agora que esperar ganhar a prazo e que é necessário perturbar a eficácia alheia. A situação tenta junto da população que tenha validade a máxima “deixem-nos trabalhar” e deixem a avaliação para depois.
Na verdade são as medidas mais radicais, que implicam mudanças irreversíveis, que são mais difíceis de implementar, que sofrem mais contestação, que têm resultados a mais longo prazo. A fragilidade do sistema democrático permite que haja armas de que a oposição, mesmo em minoria, se pode munir para embaraçar, atrasar, ir diferindo essas medidas para que nunca se consiga a sua plena execução. E muitas vezes pior que nada fazer é implementar uma medida só parcialmente.
Isto torna difícil, senão impossível, fazer do Estado um edifício coerente, há retalhos de medidas que ficam aplicados aqui e acolá e outros que nunca se chegam a aplicar, há sectores evoluídos e outros que não conseguem sair de uma organização artesanal. Também isto tem um efeito directo na criação de injustiças relativas, de desequilíbrios internos e externos às organizações, de desigualdades funcionais, nos meios, nos rendimentos, no pleno dos factores sociais.
Como fortalecer a democracia, impedir bloqueios extemporâneos, conseguir cumprir até ao fim e mantendo a mesma força mandatos expressivos? Suspender durante um tempo a democracia, seja por via da ditadura do proletariado ou duma ultraliberal, não é solução. Acreditar que as coisas acabarão bem após este jogo de forças que de algum modo vai permitindo avançar parece ser o mais lógico.
Mas para quem não vê lógica na crença vejamos: A maioria dos avanços, feitos em particular nos últimos cinquenta anos, não se deve à política mas a outros factores de natureza social e muitos deles desenvolveram-se mesmo contra a política. Resistências ao desenvolvimento sempre se manifestaram e principalmente quando este tem repercussões nas estruturas sociais.
Em primeiro lugar temos a ciência no seu ramo físico, a ciência dita experimental e a sua ramificação utilitária que é a tecnologia. Será despiciendo destacar alguns dos seus ramos ou realizações, mas, quanto aos seus efeitos derivados da conjugação de muitos factores, pode-se realçar aqueles que se referem à alimentação, à saúde e à comunicação.
Temos depois a ciência computacional cujas realizações já hoje abarcam quase todos os domínios da actividade humana. Sobressai ainda a ciência das organizações que se foram tornando autónomas da ciência do poder. Por fim, mas não menos importantes, temos todas as outras ciências humanas, cuja evolução tem sido mais lenta, mas cujos efeitos se tem feito sentir em toda a vida quotidiana das pessoas.
Também a ciência política tem sofrido avanços mas também aqui há resistência da parte das velhas estruturas e protagonistas. A incomodidade é grande ao faltar saber para lidar com novas realidades. A política vê-se agora sob pressão não já para criar ou dar origem a fenómenos novos, mas para acompanhar e enquadrar a evolução desencadeada a partir doutros centros de poder.
A introdução de novas tecnologias, de novos procedimentos computacionais e organizacionais, de novos comportamentos pessoais e colectivos faz-se em muitos casos sem pedir o “agreement” dos políticos e de muitos sectores sociais que se lhe oporiam se tal lhes fosse possível. Fazem-se muitas vezes sem Leis que enquadrem esses novos fenómenos, colocando os políticos numa corrida louca para irem atrás, suficientemente perto para não perderem o controlo total.
Estamos numa sociedade em que existe uma ânsia medonha de que haja Leis sobre tudo. Mesmo que em muitas situações se pudessem aplicar Leis já existentes pela verosimilhança com outras, exige-se a descrição pormenorizada de todo o contexto invocável, a referência explícita a cada um dos seus elementos particulares. Só isto já coloca o governo sob pressão máxima e a oposição ajuda e até se ri enquanto está nessa posição. A população incrédula exaspera.Isto é também um dos factores que leva a oposição, a imprensa e o público em geral a criar uma espécie de tribunal permanente, um julgamento em que os argumentos esvoaçam ao sabor do vento dominante no momento. Colocar o governo a trabalhar mais e melhor, dar à oposição menos poderes de interferência, não será só por si qualquer remédio para a questão. Só uma maior cultura política da generalidade das pessoas permitirá melhorar este ambiente por vezes infernal.
Outra desvantagem nítida é que, entrados no período propriamente dito de campanha eleitoral, muitas das questões que poderiam ser abordadas, por o terem já sido exaustivamente durante o período anterior, ficam esquecidas, não são facilmente reavivadas. Não haveria mal maior se a discussão feita a quente não fosse muitas vezes enviesado e levasse assim a conclusões erróneas, conclusões cuja veracidade os factos consequentes se encarregam de desmentir.
Efectivamente não há praticamente medida que não tenha contestação imediata, mas os resultados de muitas só se vêem a prazo e, mesmo que se vejam até à campanha eleitoral subsequente, vai faltar a reanálise, a reavaliação que eventualmente poderiam diferir das conclusões tiradas à altura. Passa por mais importante o debate teórico, feito na ocasião do lançamento de uma medida, que o debate que se poderia fazer estando já na posse de dados da sua aplicação.
Dir-se-á que vai depender da força que as forças políticas interessadas conseguirem imprimir aos assuntos que mais lhe são favoráveis de modo a inclui-los na agenda política. Força que a razão decerto reforçará mas que se terá que dispersar contra muitos temas, muitos adversários, no meio de muita controvérsia inútil criada pela manha e engenho dos mesmos. As condições para o debate nunca mais serão as mesmas.
Outra desvantagem da campanha permanente é o desgaste que provoca na capacidade de acção e de inovação. Não só pode ter efeito negativo na acção em concreto, quando esta poderia vir a ser benéfica, como tal efeito se pode repercutir noutras acções e iniciativas a tomar. A oposição agarra-se à ideia de que é melhor ganhar agora que esperar ganhar a prazo e que é necessário perturbar a eficácia alheia. A situação tenta junto da população que tenha validade a máxima “deixem-nos trabalhar” e deixem a avaliação para depois.
Na verdade são as medidas mais radicais, que implicam mudanças irreversíveis, que são mais difíceis de implementar, que sofrem mais contestação, que têm resultados a mais longo prazo. A fragilidade do sistema democrático permite que haja armas de que a oposição, mesmo em minoria, se pode munir para embaraçar, atrasar, ir diferindo essas medidas para que nunca se consiga a sua plena execução. E muitas vezes pior que nada fazer é implementar uma medida só parcialmente.
Isto torna difícil, senão impossível, fazer do Estado um edifício coerente, há retalhos de medidas que ficam aplicados aqui e acolá e outros que nunca se chegam a aplicar, há sectores evoluídos e outros que não conseguem sair de uma organização artesanal. Também isto tem um efeito directo na criação de injustiças relativas, de desequilíbrios internos e externos às organizações, de desigualdades funcionais, nos meios, nos rendimentos, no pleno dos factores sociais.
Como fortalecer a democracia, impedir bloqueios extemporâneos, conseguir cumprir até ao fim e mantendo a mesma força mandatos expressivos? Suspender durante um tempo a democracia, seja por via da ditadura do proletariado ou duma ultraliberal, não é solução. Acreditar que as coisas acabarão bem após este jogo de forças que de algum modo vai permitindo avançar parece ser o mais lógico.
Mas para quem não vê lógica na crença vejamos: A maioria dos avanços, feitos em particular nos últimos cinquenta anos, não se deve à política mas a outros factores de natureza social e muitos deles desenvolveram-se mesmo contra a política. Resistências ao desenvolvimento sempre se manifestaram e principalmente quando este tem repercussões nas estruturas sociais.
Em primeiro lugar temos a ciência no seu ramo físico, a ciência dita experimental e a sua ramificação utilitária que é a tecnologia. Será despiciendo destacar alguns dos seus ramos ou realizações, mas, quanto aos seus efeitos derivados da conjugação de muitos factores, pode-se realçar aqueles que se referem à alimentação, à saúde e à comunicação.
Temos depois a ciência computacional cujas realizações já hoje abarcam quase todos os domínios da actividade humana. Sobressai ainda a ciência das organizações que se foram tornando autónomas da ciência do poder. Por fim, mas não menos importantes, temos todas as outras ciências humanas, cuja evolução tem sido mais lenta, mas cujos efeitos se tem feito sentir em toda a vida quotidiana das pessoas.
Também a ciência política tem sofrido avanços mas também aqui há resistência da parte das velhas estruturas e protagonistas. A incomodidade é grande ao faltar saber para lidar com novas realidades. A política vê-se agora sob pressão não já para criar ou dar origem a fenómenos novos, mas para acompanhar e enquadrar a evolução desencadeada a partir doutros centros de poder.
A introdução de novas tecnologias, de novos procedimentos computacionais e organizacionais, de novos comportamentos pessoais e colectivos faz-se em muitos casos sem pedir o “agreement” dos políticos e de muitos sectores sociais que se lhe oporiam se tal lhes fosse possível. Fazem-se muitas vezes sem Leis que enquadrem esses novos fenómenos, colocando os políticos numa corrida louca para irem atrás, suficientemente perto para não perderem o controlo total.
Estamos numa sociedade em que existe uma ânsia medonha de que haja Leis sobre tudo. Mesmo que em muitas situações se pudessem aplicar Leis já existentes pela verosimilhança com outras, exige-se a descrição pormenorizada de todo o contexto invocável, a referência explícita a cada um dos seus elementos particulares. Só isto já coloca o governo sob pressão máxima e a oposição ajuda e até se ri enquanto está nessa posição. A população incrédula exaspera.Isto é também um dos factores que leva a oposição, a imprensa e o público em geral a criar uma espécie de tribunal permanente, um julgamento em que os argumentos esvoaçam ao sabor do vento dominante no momento. Colocar o governo a trabalhar mais e melhor, dar à oposição menos poderes de interferência, não será só por si qualquer remédio para a questão. Só uma maior cultura política da generalidade das pessoas permitirá melhorar este ambiente por vezes infernal.
Sem comentários:
Enviar um comentário