sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Combatamos a depressão que a crise nos traz!

Nos dias de hoje falar de crise é deprimente, aterrador, não falar de crise é leviano, dissimulador. Mas é obrigatório falar de crise porque efectivamente ela está cá, não podemos fugir a ela, chegou importada, avassaladora. Dizia-se que por cá já pairava outra, mas das duas, uma: Ou era simples bluff para ter efeito propagandístico ou foi uma premonição admirável. Porque castigo divino não acredito que seja, mesmo com tanto aleive.
O problema é que com crise ou sem ela, mesmo que se tenha indevidamente designado de crise uma mera questão de finanças públicas, quando se pensava que a sua fase mais difícil estava ultrapassada, caiu-nos em cima a verdadeira crise, a mãe de todas as crises, a crise do excesso de produção. Porque as pessoas não se sentem beliscadas, muitas até se sentem mais aliviadas, mas não podem ignorar que há quem já sofra ou ainda venha a sofrer da crise a sério.
As exportações diminuíram, a consumo arrefeceu, o dinheiro paralisou, os bens depreciaram-se, a economia asfixiou, o desemprego cresceu. E aqui estamos nós: Uns que eventualmente até podem beneficiar com a crise e dissimulam; Outros que são suas vitimas claras e indefesas e se deprimem. Falar hoje de crise é falar-se do real bem presente, do que está a acontecer debaixo dos nossos olhos, mesmo que não a nós. Todos sentem o arrefecimento da actividade económica, o afrouxamento da euforia, o refrear das expectativas.
A crise é o não saber o que se há-de fazer, se consumir, se poupar, se da maneira como agimos estamos a contribuir para agravar a crise ou para a debelar. Sentimo-nos impotentes, convencidos de que pouco ou nada podemos fazer. A crise comporta-se como um molho que custa a desenredar, um emaranhado que custa a destrinçar, uma confusão difícil de esclarecer. Todos precisamos de saber como vamos sair daqui. O difícil é pegar no fio à meada, encontrar a ponta por onde se lhe pegue, puxá-la de forma adequada para que não se criem mais nós.
Da crise só se sabe aquilo que é sabido de todas as crises. Há que produzir menos do que se produz, mas dar trabalho a quem dele necessita. Há que produzir mais daquilo que se terá que inventar. A crise tem um efeito desintegrador na economia. Aquilo que se pensava harmonioso é subitamente arrasado. É um sistema de produção, distribuição e consumo que abriu brechas e ameaça desmoronar-se. Há um desfasamento entre a produção de bens e serviços e uma procura cada vez mais minguada.
A economia vive de interligações, complementaridades, subsidiariedades e muita competição. E esta alimenta-se com aumento da capacidade de produção instalada, melhoria dos produtos, baixa de preço, luta pelos mercados, esticar de expectativas e de crédito sobre rendimentos cada vez mais longínquos. A competitividade afecta todos desde que nos integramos nesta economia mercantil. A competitividade exige de todos uma atitude activa. A passividade torna-nos mais vulneráveis. Como ter uma economia sã sem esta ânsia de crescer?
Da produção sabemos muito, da colocação dos produtos também, mas o mercado traiu-nos. (Isto não quer dizer que todos saibamos de tudo, mas que há gente suficiente que sabe destas coisas.) Foi dada demasiada voracidade ao mercado de modo que perdeu o seu efeito de regulação. O mercado auto regula-se, era verdade tida por inamovível para os liberais, mas que já foi. Confiou-se que o mercado distinguisse o bom do mau, fosse capaz de lançar alertas que refreassem a produção, que avisassem antes que um produto se tornasse obsoleto e, em relação aos financeiros, antes que se tornasse tóxico.
Confiou-se na honestidade dos agentes financeiros, da sua avaliação de risco e no seu controle sobre os produtos que lançavam no mercado. Se o sistema financeiro não foi capaz de se auto regular, também não se acredita na sua auto regeneração. No entanto os dirigentes mundiais tardam a actuar e as medidas sugeridas são demasiado benévolas. Não se pode acreditar mais naqueles a quem o simples manuseio do dinheiro parece transmitir a volúpia e a ganância. As regras têm que ser muito rígidas quando é a confiança pessoal que está em causa.
Ataca-se muitos os especuladores que fazem da compra e venda de produtos financeiros a sua principal actividade. Mas só aqueles que pertencem ao circuito financeiro, que tem capacidade para criar os produtos financeiros, são responsáveis por fornecer ao mercado esses instrumentos especulativos. É a sua ganância e a sua vontade concorrencial de fornecer sempre novos elementos para alimentar o estado de euforia do mercado.
Os dirigentes mundiais balanceiam entre a fidelidade jurada à globalização e alguns laivos de proteccionismo que vão surgindo. Muitos acham ser necessária alguma regulamentação no comércio global, outros acreditam na resolução dos problemas mantendo o actual sistema. O caso do petróleo deu-nos alguma esperança de que o mercado se pode auto regular, mas criando-nos uns grandes sustos à mistura. O grande problema é o sistema financeiro em si e as suas intromissões no mercado de bens e serviços.
Muitos economistas acham que a resolução dos problemas passa pelo fomento do consumo porque só este pode criar emprego. Como País endividado, que não produz parte do que consome, fomentar o consumo é fomentar a importação de bens e serviços. Impõe-se uma alteração dos hábitos de consumo, a diminuição de gastos de energia, a redução do endividamento ao exterior. Todo o emprego a criar deve ser em áreas estratégicas.
Se a nível nacional as dificuldades de gestão são grandes a nível global são imensas. Mas seriam necessários alertas que permitissem salvaguardar a concorrência e a reconversão a tempo da produção para não produzir excedentes que entupam o mercado. Infelizmente também a evolução do sector produtivo tem sido no sentido da rigidez, da especialização, da perca de alguma maleabilidade que permitisse responder a alterações da concorrência e do mercado a tempo de não entrar em decadência.
A cena europeia e mundial permite-nos vislumbrar a manhosa apatia dos liberais, esperando que o seu edifício se não desmorone e que não seja possível mudá-lo muito, porque tem servido aos seus propósitos. Vimos uma candura exagerada dos socialistas, que tem estado de mãos atadas e que assim parece permanecerem. Vimos a verborreia inconsequente dos esquerdistas.
Mas de uma coisa podemos estar certos e seguros: O problema não se resolve como muitos resolvem as suas bebedeiras: Continuando logo pela manhã a beber do mesmo.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Quem me explica que crise é esta?

Que crise é esta? Pergunto-me. Uma crise como as outras, cada vez mais parecida. Respondem-me já quase unanimemente. Os seus caminhos foram complexos, ela meteu por atalhos e fez desvios inesperados, mas no fim redundou naquilo que é o fundamento de qualquer crise que se veja: Um excesso de produção que a economia não está disposta a absorver.
Senão vejamos, dizem-me: A primeira manifestação da crise foi a insolvência daqueles que, sem rendimentos garantidos, compraram casas caras, cada vez mais caras. A economia expulsou estes produtos, que naturalmente fazem falta noutras condições, mas o problema ficou no ramo financeiro. Este já pagou e tem compromissos a cumprir sem a ajuda dos compradores iniciais. A crise instalou-se no sistema financeiro.
Notava-se já uma escassez de meios financeiros mais ocupados em esquemas especulativos do que em fornecer o alimento de que a economia precisa para ser viva. O dinheiro é o “óleo” que faz com que a economia não emperre. O encarecimento do dinheiro tornou o recurso ao empréstimo demasiado oneroso e arriscado. Isto reflectiu-se em relação aos bens de consumo mas também aos bens de investimento.
Com poucos meios de pagamento, sem crédito fácil a que se habituara, a especulação virou-se para o petróleo, afinal um recurso sempre à mão para esse efeito. Em princípio os economistas até bateram palmas, pensaram que se ia pôr enfim racionalidade na economia. O petróleo é um bem escasso que, como tal, deve ser pago. Os ambientalistas agradeciam. O preço alto é o único incentivo à procura de alternativas que permitam a defesa do ambiente e o fornecimento futuro de energia a uma humanidade que já não sabe viver sem ela.
Só que a coisa a dada altura começou a ficar preta, o petróleo a aumentar de preço exageradamente, parece que se ia transitar de uma irracionalidade para outra. Felizmente esta especulação veio a revelar-se extemporânea. Enfim, de repente, o petróleo começou a jorrar de todos os lados, a abundância submergiu o mercado, os preços desceram a pique o que então sim veio dar um suplemento mais de alma à crise, à verdadeira crise, à mãe de todas as crises, a crise do excesso de produção.
Não quer dizer que a humanidade não seja capaz de consumir muito mais, de estragar bens e destruir recursos. Mas existe um bloqueamento, um desmoronar de expectativas, qualquer factor que nos indispõe a manter um tal desgaste de recursos e nos leva a rejeitar o que nos é proposto para consumo e a ansiar por outros bens. Como se de repente enjoássemos de consumir o óbvio e queiramos inovar.
De repente tudo o que existe vale menos. Além das coisas mensuráveis com critérios objectivos temos que organizações, empresas, bens intangíveis, tudo vale menos. A sociedade no seu conjunto vale menos, a economia vale menos. Os cérebros que a manipulavam valem menos, mas é bom de ver que deveriam valer ainda menos. Há gente que nada vale e continua a ter um poder imenso.
A crise agudizar-se-á se persistirmos em pagar a preços da abundância a quem tenta salvar aquilo que já nada vale. Os Estados tentam salvar a situação colocando o dinheiro sem rentabilidade própria. Cada vez se caminha mais para a taxa zero e por aí nos vamos ter que manter por uns anos. Mas também já não é a diminuição do custo do dinheiro que resolve a crise. O primeiro passo seria pôr os magos da finança a ter que se limitar a receber aquilo que os próprios produzem e a pagar o que receberam a mais.
Felizmente, quando nós não temos juízo há nos sistemas como que a procura instintiva de um equilíbrio interno. São alertas oportunos mas a nossa capacidade de alteração e adaptação às exigências da economia é limitada, não é eficaz perante a rapidez que hoje se exige às respostas. Sabemos como reagir de imediato ao aumento da procura, mas não sabemos responder à situação contrária, a uma diminuição das compras, a uma asfixia da capacidade de pagamento.
Um facto que só dizia respeito aos economistas mas que cada vez mais tem de ser do conhecimento de todos é que o problema não é produzir mas produzir coisas úteis e vender. O que se não produz cá produz-se lá fora onde há melhores condições, uma escala mais apropriada à produção em questão. Só podemos produzir o que tivermos condições para tal e tivermos mercado para escoar.
Existe uma discrepância entre quem produz e quem consome, mas também entre quem tem o dinheiro e quem tem falta dele. Se agora o custo do dinheiro é pouco os produtores não podem correr o risco de produzir para stocks à espera que os seus produtos se vendam mais tarde quando até podem perder valor, ou é problemático vir a vender-se. Produz-se mais na certa, o que já está vendido.
Já estamos numa economia em que uma sua grande parte se refere a serviços, não armazenáveis, portanto. O produtor do serviço tem que estar disponível para o seu fornecimento quando não sabe se ele vai ser utilizado. Por isso tem que ter capacidade produtiva, mas não em excesso, isto é, para manter viável o negócio não pode ter empregados em demasia.
Depois há o grande problema da acumulação capitalista. Enquanto uns são incentivados a consumir há outros que se dedicam a acumular. Uns endividam-se cada vez mais e outros juntam valores incalculáveis que aplicam na especulação porque não sabem aplicá-lo noutro lado. Será necessário que uns se não endividam tanto e outros que não acumulem tanto. A mobilidade pretendida para o dinheiro não é alcançada.
Quanto ao Estado a grande tarefa é adaptar o sistema de segurança social dentro desta economia tão instável. O sistema não se pode sustentar em rendimentos virtuais, como os economistas liberais pensavam, mas no valor produzido em cada momento, como é o caso de Portugal.
As dificuldades não serão decerto de quem têm emprego e rendimentos garantidos que possivelmente beneficiarão do afrouxamento dos preços por efeito do excesso de oferta pelo que devem continuar a pagar impostos. Novas respostas precisam-se para os desempregados, incluindo quem vê o seu pequeno negócio tornar-se inviável.

Porque vos colocais em bicos de pé?

Quando se faz uma entrevista, o entrevistador deve evitar fazer juízos morais sobre o entrevistado, sob pena de estar a fugir ao objectivo da entrevista que é esclarecer o pensamento de alguém com algum interesse para a opinião pública. O Sr. PS publicou uma pretensa entrevista que começou por um trocadilho de palavras que terá respigado de algum lado, porque até não lhe vejo capacidade para o criar.
O que eu sei disse-o, se não com todas as letras, pelo menos de forma que toda a gente entende: Não quero ver o Sr. Pedro Saraiva a candidato a coisa nenhuma, muito menos à Câmara Municipal de Ponte de Lima, e mais sei e talvez diga. O facto de ser gordo ou magro não diminuiu nem acrescenta nada à questão. Não me envergonha de ter sido comunista, o que me envergonha são muitos comunistas e muita outra gente armada em político, de esquerda e de direita.
Como simples politólogo, palavra agora em voga e de que me arrogo por ter algo a ver com a minha postura, estou longe de ser político, coisa evidentemente mais séria, só ao alcance do PS-pessoa e pouco mais. O político é aquele que exerce o poder ou então tem pretensões de o exercer e conheço muitos, entre os quais não me incluo. E estão no seu pleno direito e cumprem mesmo um dever. Depois há aqueles que queriam, mas não podem.
O facto de querermos ter alguma influência, de manifestarmos as nossas opiniões põe-me no patamar cívico que o Sr. não alcança. E a referência à AM diz bem onde o Sr. se coloca. As tentativas de aniquilar vozes livres até o faz identificar-se com as vozes alarves que se possam manifestar na AM. Mas informo-o que quem me calou foi gente do seu partido adepta de Daniel Campelo e que tem tão pouca vergonha como o Sr. manifestou na entrevista publicada há tempos.
Quanto ao Manuel Alegre deixe-o versejar á sua maneira, que não é a minha. Quanto ao partido de que diz ser militante com gente como o Sr., invisível e quando visível o é pelas piores razões, não vai a lado nenhum. O partido precisa de gente jovem, sem rabos de palha, sem vícios, mas acima de tudo com ideias que apresente abertamente ao povo e que este possa perceber.
O Sr. não tem a mínima noção do que é fazer oposição ao executivo camarário e não se lhe conhecem quaisquer ideias sobre gestão autárquica. Só se sabe que, habituado como advogado a exigir dinheiro adiantado para preparos, exigiu gorda quantia ao PS-partido quando foi Presidente da Concelhia do partido para avançar como candidato. Mas não avançou.
Este aparentemente voluntarioso político afinal é um refinado calculista que não pretende entrar no bolso próprio ‘para defender as suas ideias, que não as tem. Mas também não lhe recomendo mais nada porque as suas qualidades ainda estão por descobrir. Vá se dedicando á sua profissão que sempre lhe vai dando algum.
De pobre, reformas e de comer bem e de graça, não vá por aí porque dizer aleivosias é fácil, ser uma pessoa vertical é muito mais difícil. Afinal faltou dizer quem o convidou para quê, porque quem tem poder para o convidar sabe que se o fizesse teria que levar o cheque bem preenchido para os tais preparos e o PS-partido não anda a nadar em dinheiro.
Porque vos colocais em bicos de pé?

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Um aplauso ao “Cardeal” e um louvor a Alcides Pereira

Um Jornal que percorre três gerações, quatro regimes políticos e as vicissitudes várias destes, é decerto uma Fortaleza. Tal como um ser humano, sofreu incompreensões, ingratidões, talvez agressões, poucas ajudas e resistiu. Sensível ao tempo, como se impõe a um órgão de imprensa, manteve a espinha dorsal desde a génese pela mão de Avelino Guimarães até aos dias de hoje sob a direcção do seu neto.
O Cardeal Saraiva, nome invulgar para um jornal, mas homenagem a um grande vulto do liberalismo, é a afirmação semanal de uma pujança, de uma perseverança mas também de uma temperança que a idade lhe faculta. Semanalmente o jornal fala por si, dá sinal do seu tempo, ecoa nos vales do Minho e em terras de emigração, liga elementos dispersos com raízes comuns.
Sendo um Jornal Regional não é um jornal regionalista, característica que o distingue de um outro tipo de tradição. Abordando sempre a temática local com uma visão actual permite-se olhar outros temas, aquilo que, sendo de todos, também é nosso, aquilo que é nacional, internacional ou que não tem mesmo local determinado porque acontece em todo o lado.
O Cardeal Saraiva não é um jornal de grandes arrebatamentos. Afinal a realidade local também não foge muito da normalidade, desenvolve-se com lentidão. Além disso os fenómenos a quente iludem-nos muitas vezes. Não é fácil agradar a todos e quase todos nós estamos habituados e ver as coisas com um certo distanciamento e a participar pouco no dia a dia da comunidade.
Era possível um jornal mais empenhado, mais interveniente. Mas afinal os pregões no deserto não são a melhor maneira de trazer as pessoas e participar, a envolver-se mais nas coisas do mundo próximo e distante. Já são muitos os órgãos de comunicação social que nos trazem diariamente essa realidade. Agora que já sabemos que tudo isso nos diz respeito a todos, um olhar mais calmo transmitido por quem vive na “aldeia” pode ser vantajoso.
Neste aspecto é fundamental a tolerância e este Jornal é disso exemplo ao permitir a contribuição de colaboradores de diversa índole. Mas há um outro aspecto que estou habituado a admirar no Cardeal Saraiva, desde logo que o comecei a ler. Permita-se-me que realce esse tempo em que o seu Director era o Dr. Alcides Pereira, meu Professor de Português, e pessoa com uma larga intervenção sob várias formas na vida local de Ponte de Lima.
Que eu saiba o Dr. Alcides nunca se meteu a escrever obra de folgo, mas era aquilo que se pode chamar um excelente periodista, sempre pronto a, no seu editorial, abordar as questões que lhe pareciam mais salientes. Aliava a isto uma escrita de grande qualidade, sem deixar de ser simples e legível por quem fosse portador de uma média literacia.
Mas o que mais me apraz registar é a afabilidade com que tratava toda a gente e a nós seus alunos em particular, com quem se relacionava como se universitários fossemos. Esse seu carácter benevolente trespassava mesmo no distanciamento que sempre manifestava, mas que era fruto da vivência própria de cada um e não do seu coração ou do seu intelecto. Porque a sua superioridade intelectual tinha outras formas de se manifestar sem ser pela afirmação gratuita de diferenças.
Hoje que procuro permanentemente novas formas de me exprimir dou a este aspecto do relacionamento humano a maior importância, que então estava longe de dar. Na ocasião em que foi seu aluno eu tinha-me por mais inclinado para as ciências exactas, subvalorizando o aspecto da comunicabilidade tão necessário para nos entendermos. Não pensava viver num mundo tão deficitário neste aspecto. Muito menos entendia a importância que a escrita tem em todos os aspectos da actividade humana.
Do que hoje não duvido é que, ao passarmos para escrito alguns que sejam dos nossos pensamentos, estamos a contribuir para a estruturação geral da nossa mente. A pessoa que se exprime só pela oralidade e principalmente quando quer ter voz activa sobre todos os assuntos, dispersa-se e normalmente não consegue elaborar um discurso fluente e coerente, mas tão só repetitivo e obscuro. Uma pessoa que não escreva dificilmente está apta a abordar mais de um ou dois assuntos com alguma profundidade e tirando todas as consequências.
Ao nos atrevermos a colocar no Jornal aquilo que escrevemos há uma preocupação extra, a que eu sinceramente não consigo atender. Não escrevemos para uma pessoa determinada. Perante tantos graus possíveis de erudição, perante tão diferentes níveis de conhecimento que os nossos leitores podem ter, o ideal seria conseguirmos escrever para a mediana dos mesmos. E não me restam dúvidas que o Dr. Alcides conseguia-o de forma sublime.
Quando se prestam homenagens a actores menores da nossa vida cultural, quando se sobrevalorizam pessoas com uma dimensão intelectual mais do que banal, quando se atacam uns porque são distantes e outros se desprezam porque são demasiado próximos, nós destacaremos o Dr. Alcides Pereira como um dos homens mais bem intencionados, mais afáveis, verticais e dignos que por este mundo passou neste último meio século, afinal só metade da longa vida do Cardeal Saraiva. O Dr. Alcides era um dos nossos. O Cardeal faz parte de nós.
A minha homenagem aos dois.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Do exemplo à referência e a um novo paradigma

Com certeza que a maioria de nós foi desde a infância bombardeada, se não massacrada, com exemplos de pessoas que eram assim e assado, se comportavam desta e daquela maneira, que tinham atingido estes ou aqueles objectivos perfeitamente ao nosso alcance e afirmações semelhantes cuja intenção era apontar-nos um exemplo a seguir para termos sucesso na vida.
Esses exemplos eram-nos apresentados pela família dentro dela própria, mas também fora quando nela não havia os elementos suficientes para nos definir um caminho que entendessem viável. Também pessoas exteriores à família ousavam muitas vezes participar nesse esforço de “educação”. Na nossa simplicidade e inocência raramente apontámos para que haja uma intenção subjacente de nos denegrir, de nos rebaixar, de propositadamente nos proporem um caminho impossível com o objectivo de falharmos.
A verdade é que só com a experiência descobrimos que nós nunca podemos confiar nas boas intenções de ninguém. Há cínicos que, quando vêm com essas conversas, é para realçarem o seu próprio sucesso, citando apenas por pudor não eles próprios, mas pessoas semelhantes a eles. Os próprios pais, por bem intencionados que sejam a princípio, quanto mais tomam essas atitudes mais pretendem rebaixar e às vezes até humilhar os próprios filhos.
Aqueles que definem para os filhos objectivos que não resistiriam a uma análise objectiva estão a transferir as suas próprias frustrações, castigando assim nos filhos a sua própria impotência. Nada pior para os filhos do que lhes quererem impor objectivos irrealizáveis por razões que escapam aos seus próprios pais, que estes não entendem. Os filhos não podem ser responsabilizados por certas obsessões que se criam em vez de se alimentarem expectativas razoáveis.
Mas na educação moderna as pessoas mais letradas já há muito abandonaram esta técnica mental do exemplo, própria para mentes de estrutura elementar. A técnica que ainda hoje é mais usada tem a ver com valores, mas acima de tudo com referências. Os valores em si são de difícil definição pelo que com as referências se pretende utilizar alguém que tenha dado execução a um ou mais valores comummente aceites ou que os educandos privilegiam.
Quando se usam referências, embora se utilizem pessoas que lhes dão vida, não é o exemplo que se pretende atingir. Essas pessoas são sempre colocadas num pedestal que se reconhece quase inacessível, que não é o objectivo fixado a atingir. Mais do que imitar pretende-se consagrar. Se num exemplo a comparação pretende ser feita com um igual num nível facilmente atingível, na referência trata-se de modelos completos mas no geral inacabados para respeitar, louvar, venerar.
Porém os educandos vão-se queixando cada vez mais com a falta de referências com que haveriam de educar os seus filhos e os seus alunos. O tempo vai causando uma natural erosão nas mais antigas referências e a velocidade a que vão aparecendo novas é cada vez menor. Perante a pluralidade e a dispersão dos pontos de interesse para cada um de nós torna-se cada vez mais difícil criar referências que tenham uma aceitação suficientemente vasta para lhe dar visibilidade e projecção.
Muitos educandos tentam retroceder, usar ainda exemplos mas estes só podem ser vistos em contextos estáveis, em circunstâncias semelhantes, com condicionalismos parecidos. Ora a realidade torna-se cada vez mais sujeitas a mudanças e o dilema intelectual se chega a existir, resolve-se facilmente, não há reversão possível. As referências já são construções mentais que procuram abstrair do meio circundante, das vivências particulares. Elas foram um avanço para a humanidade que, sendo intelectual, permitiu todos os outros.
A grande revolução operada a partir dos anos 60 consistiu na tentativa da juventude de, perante a apatia da restante sociedade, criar as suas próprias referências vivas, construir o seu próprio sistema mental, rejeitando de vez os exemplos, mas mantendo o paradigma referencial. Embora muitas dessas referências se pudessem ter mantido, tendo mesmo muitas passado a históricas, sem perca de muito do seu carácter, a verdade é que manter um sistema referencial vivo se revelou tarefa a que novas gerações tiveram dificuldade em dar continuidade e foram perdendo cada vez mais o seu vigor.
Ainda hoje se vêm alguns dos “velhos” a fazer apelos aos “novos”. Contrariamente ao passado, são eles a solicitar um esforço extra dos jovens para conseguir elaborar um quadro referencial mais adequado ao mundo de hoje. Primeiro porque o seu se desgastou, sentem o vazio. Depois, se apelam, é porque não vêm nas novas gerações a pujança que outrora se viu e que era necessária para estilhaçar os espartilhos em que estão eles próprios enredados.
À primeira vista imponha-se aqui um trabalho de conjunto, que aproveitasse o conhecimento adquirido, que o compilasse e que o aplicasse na abertura de novas vias de conhecimento, de vivência e relacionamento. Porque se uns estão demasiado agarrados a certezas cuja aquisição já foi dolorosa, outros, os jovens, estão demasiado afastados da complexidade, da conflituosidade, da perversidade de dois mundos que teimam em estar de costas, sendo que o interior tem por tendência desviar-se o máximo do mundo exterior.
O novo paradigma a implementar passa por vencermos este hiato sem nos expormos em demasia, por não vermos no outro um inimigo e conseguirmos assim aceder ao mesmo horizonte. Mas quão difícil é lá chegar, muito mais difícil do que carregar os outros com uma chuva de floreadas mensagens, de solidários abraços, de suaves afectos, de sublimes ósculos.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Reduzir a uma Suma sim, a uma Numa não

Que eu tenho muitos amigos, mas também muitos inimigos, já sabia. Uns mais previsíveis do que outros, de uma coisa estou há muito seguro: Não faltam na área partidária social-democrata quem esteja sempre disposto a manifestar-me a sua animosidade. Tratá-los-ei à letra.
Uma certa rapaziada social-democrata, de que os mais velhos se servem, gostam de insultar todas as pessoas que querem contribuir para os manter bem afastados do poder. Eles gostam da guerra total, atacam em todas as frentes, servem-se de todos os aliados de ocasião. Acusam sumariamente.
O Sr. Nuno Matos resolveu alinhar com a sua gente e acho que fez bem, diz bem com o seu carácter e está ao nível da sua inteligência. Fez no AltoMinho uma referência a um meu artigo publicado no Cardeal Saraiva e que fala da maneira como os funcionários públicos são tratados conforme a conveniência política, mas também que eles próprios não podem confundir direito à indignação com direito à ingratidão. E os professores genericamente têm sido uns ingratos.
O Sr. Nuno Matos acha que os professores têm sido uns bons aliados das suas hostes e vá de sumarissimamente insultar-me de ignorante. Não sei se isto é a sério ou se corresponde à dificuldade de ele me englobar num qualquer dos seus estereótipos. Para mim ignorante é o insulto mais grave que me podem dirigir porque é o último grupo em que eu meteria alguém se pretendesse manter alguma forma de diálogo com essa pessoa.
Vou-lhe lembrar que não é a experiência que cria saber e que este não estará ao dispor de mentes que se formatem de modo que não lhe é receptivo. Mas tenho experiência que chegue de 16 anos de escolaridade, alguns anos perdidos, cursos e mais cursos de índole profissional. E se os cinco anos de estudo no Externato Cardeal Saraiva e os quatro na Universidade Fernando Pessoa foram pagos pela minha família e por mim, os outros sete agradeço-os ao Estado por me ter dado a possibilidade de os frequentar.
Ao Estado se deve a formação da maioria dos médicos, professores e todos os que têm formação em Portugal e chegados a um lugar cimeiro, a um pedestal qualquer, só se vê ingratidão, menosprezo pela restante população a que não foi dada essa possibilidade. Muitos, se tivessem que pagar a formação que têm, teriam que trabalhar muito mais, mais barato e com mais empenho.
O Sr. Nuno já sei que não sabe escrever, mas ao menos aprenda a ler. O meu artigo só tem por objectivo dar a minha opinião sobre a falta de razão com que muitos falam do direito à indignação e admito que entre os professores haja quem tenha esse direito, mas serão decerto poucos.
Depois o ter direito à indignação não quer dizer que a sua dignidade tenha sido atingida, porque a luta política não pode deixar de fora as excepções, como se vê pela maneira achincalhante como os professores mais dignos são tratados, todos são levados pela vaga de lama em que a mediana dos professores navega. Os Papas, quando exerceram poder temporal, tiveram esse dilema ao envolverem-se em guerras que matavam inocentes: No céu eles seriam separados.
O meu artigo queria chamar a atenção para os inocentes e as vítimas e consequentemente para os manipuladores que conduzem estas lutas e para aquela ingratidão das pessoas que tudo obtiveram do Estado e agora o tratam como um malfeitor. Aquela ingratidão é como o seu pecado original.
Os professores dão um espectáculo de uma angustiante incultura cívica, de um egoísmo atroz num País cheio de dificuldades. O Sr. Nuno Matos para me atingir tem que se munir de armas morais que o seu diletantismo lhe não fornece.
O Sr. Numa, como cretino que é, vai ficar a falar só.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Uma prateleira dourada para Defensor Moura?

Quando alguém se torna incómodo para um partido político é vulgar que o coloquem em sítio que se não exponha muito, isto é, ganhe bom dinheiro, mas não apareça muito em público. No Partido Socialista temos Ferro Rodrigues, João Cravinho, Fernando Gomes, Manuel Maria Carrilho e outros que envolvidos em questões problemáticas acharam melhor pôr-se a recato, embora às vezes a contra gosto. José Maria Costa n.º 2 do PS de Viana do Castelo assim quer fazer com Defensor Moura, sugerindo a sua ida para a Assembleia da República.
Não sei se isto será um prémio ou um castigo, se será ao seu gosto, se está dentro das suas ambições. Mas, vindo a sugestão de quem vem, é natural que se trate duma encomenda. Porém este estratagema tanto é usado para defender alguém dum imbróglio em que se tenha ou tenha sido metido, bem como para o afastar com o objectivo de deixar o caminho aberto a alguém ou não criar mais prejuízo ao partido. O objectivo “natural” deste n.º 2 é ser n.º 1 e este conselho que quer dar ao seu partido é pois suspeito.
No entanto acho que José Maria Costa está a sofrer dos mesmos males, da mesma incapacidade mental, que o seu protector. Para os dois parece só existir Viana do Castelo e o resto do distrito são mentecaptos que habitam uma espécie de reservas. Estas só lhes interessam enquanto lhes permitem beber uns tintos em Ponte de Lima, desopilar os fígados no Gerez e como ponto de passagem para Espanha. Já chega de ofensas ao Alto Minho.
O restante distrito, que não Viana do Castelo, não é tido nem achado e falam dos seus interesses como se estes já tivessem delegado na sua capital todos os seus direitos. Ora o restante distrito já deveria ter sido chamado a manifestar-se sobre se da sua parte existe uma aceitação da presença de Viana do Castelo nesta Comunidade. Mas como isto não foi feito manifestemo-nos agora contra o facto de Defensor Moura poder vir a apanhar a boleia do Partido Socialista para ir representar na Assembleia da República um distrito que o abomina.
Nem José Maria Costa, nem ninguém do Partido Socialista, está habilitado a atirar para cima do distrito um candidato que tudo fez para pôr o distrito a ferro e fogo. Por sorte ninguém lhe passou cartão para lá da fronteira concelhia, deixaram-no a falar para o boneco que é bem o que o Senhor Defensor merece. Por esta proposta também o Senhor Defensor teria que ser candidato pelo distrito, aquilo que a ser levado à prática seria mais uma manifestação da desfaçatez com que esse Senhor navega na política.
A bota tem que ser descalça pelos vianenses, mas não venham sacrificar mais o distrito com este tipo de atitude. Se o problema é um emprego para o Defensor Moura ele ainda não teria esquecido tudo da medicina mas também deve estar com boa idade para ir para a reforma. Ele que se dedique à escrita que vai ver que lhe ajudará a pôr algum discernimento na sua cabeça. Descobrirá que as grandes decisões não têm origem em cabeças tão iluminadas como a sua.
O ar vanguardista de Defensor Moura não lhe permitiria nunca submeter-nos a experiências que não levam a lado nenhum. As decisões políticas têm que ser colectivas e os políticos devem ter a sensibilidade suficiente para auscultar a opinião pública e, se não concorda com ela, tentar alterá-la com argumentos que a população aceite. Se tal não conseguir haja bom senso.
O Senhor José Maria Costa foi conivente com Defensor Moura, talvez com medo de que este o marginalizasse, mas agora não se coíbe de tentar ser o seu herdeiro e atraiçoá-lo no seu propósito de não adesão à Comunidade Intermunicipal. Mas o que se salienta mais na sua atitude é a pressa com que apresenta a sua candidatura à Câmara de Viana do Castelo sob a capa da candidatura de Defensor Moura à Assembleia da República.