sexta-feira, 7 de março de 2008

PC-Ponte de Lima mantém-se no limiar da representação

O Partido Comunista foi o único que atravessou a ditadura de Salazar, clandestino e debilitado com imensas dificuldades mas mantendo sempre alguma presença. Já em ditadura seria durante a Segunda Guerra Mundial que se assinala essa presença em Ponte de Lima. O fim da guerra e a vitória dos aliados abriu uma réstia de esperança à vida democrática, infelizmente de pouca duração.
Por ocasião da candidatura de Norton de Matos à Presidência da República o Partido revigorou-se em todo o País e houve um aumento de apoio em Ponte de Lima. Mesmo sem tecido industrial significativo que pudesse constituir a base de um movimento eficaz, Ponte de Lima passou a ser considerado pelo regime um local perigoso, o que o levou a cá instalar quatro forças policiais (PSP, GNR, GF, PVT) com frequentes visitas da PIDE.
Mesmo assim o jornal clandestino AVANTE chegava cá e circulava com alguma fluidez num grupo alargado de apoiantes que, mantendo a chama do republicanismo, aceitavam uma política mais avançada. Jaime Campos era o pivot, com a sua família, desta movimentação. Porém alguns erros cometidos por alguns haveriam de levar a algumas prisões e a uma diminuição da actividade na década de sessenta.
Nessa ocasião e devido à guerra colonial também o PC mudou os seus processos de luta, apostando numa mudança mais suave de regime, chamada de revolução democrática e nacional. O PC quis deixar que os militares, sustentáculo do regime, se apercebessem de quão exauridos estavam os recursos económicos e morais do País de modo a serem eles a dar a reviravolta, o famoso “reviralho”.
Eles assim fizeram. Numa primeira fase, logo após o 25 de Abril de 1974, mas no seguimento de uma política que já vinha do antecedente, o PC renunciou deliberadamente a ter uma intervenção directa nesta zona mais ao Norte do País, deixando ao MDP (Movimento Democrático Português) o papel de captar os votos do eleitorado que lhe estava mais próximo.
Esta estratégia falhou redondamente nas eleições de 1975, mas estas comprovaram a grande influência do PC noutras zonas do País o que criou ilusões de um prolongamento da revolução a partir daí. As clivagens vieram ao de cima em todo o País. O assumir-se em Ponte de Lima com a cara descoberta no Verão de 1975 levou à queima da sua sede em Agosto de 1975. Em 25 de Novembro de 1975 o PC haveria de renunciar em definitivo à tomada do poder pela força.
A partir de 1976 o Partido Comunista haveria de concorrer sempre às eleições, tanto legislativas como autárquicas, tendo no fundo acompanhado os altos e baixos da sua evolução a nível nacional. As suas candidaturas à vereação da Câmara Municipal foram sempre um rotundo falhanço mas é da sua natureza ser persistente e não querer dar os votos a ninguém.
Já quanto à sua candidatura à Assembleia Municipal tem sempre eleito alguém para intervir em seu nome naquele órgão. Tendo concorrido quase sempre em coligação às vezes não se soube propriamente qual a natureza da filiação politica dos elementos que fez eleger para aquele órgão.
A nível concelhio o PC já elegeu um Presidente da Junta da maior freguesia do concelho, Arcozelo. Na candidatura seguinte porém não apresentou o mesmo nome, o que daria origem a perder progressivamente tal apoio. A candidatura da mesma pessoa à vereação municipal seria um fracasso notório.
As perspectivas do Partido Comunista não mudarão significativamente. Marcar a sua presença, contribuir para as votações nacionais, manter a chama acesa. A sua presença, embora em declínio, mantém-se na sede do concelho e em algumas freguesias limítrofes. A sua influência sindical também se faz sentir cada vez menos, já que o poder reivindicativo, também por sua culpa, hoje só reside nas classes poderosas, como juízes, médicos e professores.
O discurso comunista está hoje a nível nacional na posse do Bloco de Esquerda e é conjunturalmente utilizado pela direita. No entanto o Bloco não se consegue implantar em Ponte de Lima, dado o seu carácter de fenómeno citadino, de uma classe média verborreica, dos novos proletários de papel e esferográfica sem nada para dar, dos burocratas pendurados no OE com problemas de consciência mas sem meios de produção próprios.
Em Ponte de Lima o discurso comunista está apropriado pela direita. Veja-se os professores da direita mais radical usarem os argumentos comunistas. Os comunistas não estão ao lado dos pobres e dos proletários reais. Por isso só conseguem o voto de alguns idealistas que pouco se importam com a realidade, quando ela não é aquilo que eles imaginaram um dia.
O lugar que detém na Assembleia Municipal dá-lhe para fazer o discurso anti-governamental mas não tem servido para contestar a política municipal.