Não há governo que não seja contestado logo que é constituído. O normal é que na sua acção o governo belisque alguns interesses que não estariam à espera de o ser e que venha a ser mais contestado porque a sua base sociológica deixou de corresponder à sua base política.
Num País como a Inglaterra o partido do governo escolhe a ocasião para ir a votos, de modo que estas situações se não arrastem penosamente. Em Portugal só o Presidente da República pode fazer isso e naturalmente só o fará quando o governo se porta mal, não quando se porta bem e é necessário clarificar situações.
A não haver eleições já, estamos naquele pântano em que se viram Cavaco e Guterres sem proveito para o País. Um governo a querer mudar e toda a espécie de forças a tentar torpedear, nem que seja só pelo ruído de fundo, que desvia as atenções daquilo que é importante para nós.
O actual governo é posto em causa pelos seus naturais adversários a propósito de tudo e de nada, como é normal em Portugal. Mas também é posto em causa por alguns dos que é pressuposto terem sido seus apoiantes. Para complicar é muito apoiado por pessoas que estão longe de se agradarem com as ideias mais comuns do partido que lhe serve de suporte.
Em termos simplistas teremos um governo de esquerda a fazer uma política de direita e em consequência uma base sociológica de direita a dar apoio à manutenção no poder de uma força de esquerda. E teremos muitos adeptos desta força a sentirem-se órfãos, sem partido que defenda as suas ideias, que eles entendem ser as da verdadeira esquerda.
Mas o mais dramático é que teremos muitos adeptos das forças de direita a terem que ficar gratos ao partido do governo por conseguir fazer aquilo que os seus “pais” da direita nunca conseguiram fazer. Não são ainda enteados, mas enquanto filhos acham não terão tido de seus pais aquilo que mereciam.
Há uma forte base sociológica que quer reformas, que acha que o caminho de melhoria da situação passa pela reorganização do aparelho do Estado, como base para outras reorganizações na economia e na sociedade, que só é possível combater as actuais desigualdades se for possível alterar o sistema em que elas se desenvolveram.
Contrariamente há uma forte base política que não quer reformas, todos porque lhes restringirá as margens da sua acção política, uns a caminho da revolução, a extrema-esquerda e a esquerda folclórica do PS, outros a caminho do liberalismo total em que a acção do Estado se reduziria a um espaço cada vez menor de intervenção.
As eleições permitiriam que se refizessem, revigorassem ou cortassem os laços que ligam os dirigentes políticos ao País. Naturalmente que estes teriam que previamente clarificar a relação de forças dentro dos seus próprios partidos para que os perdedores não viessem a sabotar permanentemente o trabalho dos eleitos.
Teoricamente impõe-se, pelo menos a prazo, uma reconfiguração do espectro político, uma alteração que faça corresponder a base sociológica à base política. Mas em simultâneo, e para permitir que haja um vencedor, um condutor, tem que ser abandonada a ideia peregrina que um partido tenha que ser a representação equitativa do espectro político que em teoria abrange.
A solução para não haver um défice político permanente de representação seria a formação do velho partido sempre adiado, o “Partido Verdadeiramente Socialista”. Tendo hoje uma base potencial bastante alargada, tem uma cúpula caracterizada pela senilidade, a inoperância, o medo e a indecisão e a orfandade permaneceria. Em pouco tempo estaria dividido entre o regresso timorato à casa mãe e o empenho militante no esquerdismo diletante, inconsequente.
O que sobejasse, e seria muito, do Partido Socialista atrairia a si muitos dos sectores sociológicos que até aqui acreditaram no PSD e os seus dirigentes económicos e políticos mais esclarecidos que adeririam de vez à social-democracia e demarcar-se-iam definitivamente das pretensões liberais dos sectores mais fundamentalistas do PSD.
Formar-se-ia assim um Partido Socialista mais coerente, mais consequente, mais estável. O PSD estouraria como o conhecemos, cortaria os seus laços com o passado e tornar-se-ia um partido liberal de pleno, defendendo uma intervenção minimalista do Estado na economia.
Aquele PS restante e resultante, reformador e reorganizador, conspurcado na sua “pureza”, mas revigorado pelo fortalecimento da sua base e atractivo em relação a novos quadros poderia enfim levar por diante as reformas que falta implementar, a organização que falta ter para que a política social se desenvolva e o sistema não gere marginalidade e exclusão.
Teoricamente seria assim, mas na prática é previsível que fique por fazer a clarificação que se imponha a nível do PS. Os sectores esquerdistas que exercem uma acção paralisante sabem que não têm outro lugar, nem outro estatuto melhor para o fazer e para manter alguma visibilidade.
Acham-se com direito à herança e não querem permitir que outros interesses sociais e políticos se manifestem no partido. Encontram-se melhor posicionados como contestatários do que se tivessem que ser executantes. É-lhes indiferente o desaire eminente e que a oposição saiba aproveitar a indisponibilidade natural do eleitorado para votar num partido assim, num PS suicidário.
As clarificações que se fazem no PSD são sempre surpreendentes e dificilmente se poderá esperar que vão para além daquelas que se operam por simples mudanças de estilo. Também os que sentem gratidão pelo papel do PS nesta fase dificilmente se converterão em apoiantes definitivos.
Num País como a Inglaterra o partido do governo escolhe a ocasião para ir a votos, de modo que estas situações se não arrastem penosamente. Em Portugal só o Presidente da República pode fazer isso e naturalmente só o fará quando o governo se porta mal, não quando se porta bem e é necessário clarificar situações.
A não haver eleições já, estamos naquele pântano em que se viram Cavaco e Guterres sem proveito para o País. Um governo a querer mudar e toda a espécie de forças a tentar torpedear, nem que seja só pelo ruído de fundo, que desvia as atenções daquilo que é importante para nós.
O actual governo é posto em causa pelos seus naturais adversários a propósito de tudo e de nada, como é normal em Portugal. Mas também é posto em causa por alguns dos que é pressuposto terem sido seus apoiantes. Para complicar é muito apoiado por pessoas que estão longe de se agradarem com as ideias mais comuns do partido que lhe serve de suporte.
Em termos simplistas teremos um governo de esquerda a fazer uma política de direita e em consequência uma base sociológica de direita a dar apoio à manutenção no poder de uma força de esquerda. E teremos muitos adeptos desta força a sentirem-se órfãos, sem partido que defenda as suas ideias, que eles entendem ser as da verdadeira esquerda.
Mas o mais dramático é que teremos muitos adeptos das forças de direita a terem que ficar gratos ao partido do governo por conseguir fazer aquilo que os seus “pais” da direita nunca conseguiram fazer. Não são ainda enteados, mas enquanto filhos acham não terão tido de seus pais aquilo que mereciam.
Há uma forte base sociológica que quer reformas, que acha que o caminho de melhoria da situação passa pela reorganização do aparelho do Estado, como base para outras reorganizações na economia e na sociedade, que só é possível combater as actuais desigualdades se for possível alterar o sistema em que elas se desenvolveram.
Contrariamente há uma forte base política que não quer reformas, todos porque lhes restringirá as margens da sua acção política, uns a caminho da revolução, a extrema-esquerda e a esquerda folclórica do PS, outros a caminho do liberalismo total em que a acção do Estado se reduziria a um espaço cada vez menor de intervenção.
As eleições permitiriam que se refizessem, revigorassem ou cortassem os laços que ligam os dirigentes políticos ao País. Naturalmente que estes teriam que previamente clarificar a relação de forças dentro dos seus próprios partidos para que os perdedores não viessem a sabotar permanentemente o trabalho dos eleitos.
Teoricamente impõe-se, pelo menos a prazo, uma reconfiguração do espectro político, uma alteração que faça corresponder a base sociológica à base política. Mas em simultâneo, e para permitir que haja um vencedor, um condutor, tem que ser abandonada a ideia peregrina que um partido tenha que ser a representação equitativa do espectro político que em teoria abrange.
A solução para não haver um défice político permanente de representação seria a formação do velho partido sempre adiado, o “Partido Verdadeiramente Socialista”. Tendo hoje uma base potencial bastante alargada, tem uma cúpula caracterizada pela senilidade, a inoperância, o medo e a indecisão e a orfandade permaneceria. Em pouco tempo estaria dividido entre o regresso timorato à casa mãe e o empenho militante no esquerdismo diletante, inconsequente.
O que sobejasse, e seria muito, do Partido Socialista atrairia a si muitos dos sectores sociológicos que até aqui acreditaram no PSD e os seus dirigentes económicos e políticos mais esclarecidos que adeririam de vez à social-democracia e demarcar-se-iam definitivamente das pretensões liberais dos sectores mais fundamentalistas do PSD.
Formar-se-ia assim um Partido Socialista mais coerente, mais consequente, mais estável. O PSD estouraria como o conhecemos, cortaria os seus laços com o passado e tornar-se-ia um partido liberal de pleno, defendendo uma intervenção minimalista do Estado na economia.
Aquele PS restante e resultante, reformador e reorganizador, conspurcado na sua “pureza”, mas revigorado pelo fortalecimento da sua base e atractivo em relação a novos quadros poderia enfim levar por diante as reformas que falta implementar, a organização que falta ter para que a política social se desenvolva e o sistema não gere marginalidade e exclusão.
Teoricamente seria assim, mas na prática é previsível que fique por fazer a clarificação que se imponha a nível do PS. Os sectores esquerdistas que exercem uma acção paralisante sabem que não têm outro lugar, nem outro estatuto melhor para o fazer e para manter alguma visibilidade.
Acham-se com direito à herança e não querem permitir que outros interesses sociais e políticos se manifestem no partido. Encontram-se melhor posicionados como contestatários do que se tivessem que ser executantes. É-lhes indiferente o desaire eminente e que a oposição saiba aproveitar a indisponibilidade natural do eleitorado para votar num partido assim, num PS suicidário.
As clarificações que se fazem no PSD são sempre surpreendentes e dificilmente se poderá esperar que vão para além daquelas que se operam por simples mudanças de estilo. Também os que sentem gratidão pelo papel do PS nesta fase dificilmente se converterão em apoiantes definitivos.