Hoje a economia pura e dura, sem barreiras, globalizada, tomou já conta de todos os sectores que lhe viviam um pouco à margem, imunes às suas consequências e influenciando-a muito pouco com os seus efeitos.
Mas a economia tem artes e a insídia bastante para que nada lhe fuja e para que faça valer as suas leis e razões. Aqueles sectores mais solidamente instalados no seu próprio território tornam-se afinal, por essa situação de aparente segurança, mais vulneráveis nos tempos de hoje.
De forma mais ou menos repentina a exclusividade vai-se perdendo, perde-se o mercado e até o auto-consumo. Quando um produto exterior se nos impõe pelo preço, prescinde-se da qualidade do nosso produto nem que se venha mais tarde a pagar por ela, mas já em relação a um produto exterior.
O vinho estava nesta categoria, tinha em tempos mercado exclusivo, era fundamental no auto-consumo por ser considerado um alimento, era, para todos os efeitos, parte integrante da economia familiar da maioria dos habitantes da região dos vinhos verdes.
Já antes vários produtos autóctones nos tinham abandonado como a galinha caseira (a sério), o porco malhado bízaro, e outros tiveram graves quebras na produção como o gado, em particular o de leite, o azeite, o milho, o feijão, o tremoço, a noz, a castanha.
A economia impõe-nos que deixemos cair o que é nosso. Se estamos demasiado agarrados a isso, depressa a economia arranja novos argumentos das áreas da ecologia, da saúde, até da ordem pública, para impor mudanças, para nos criar outros gostos e apetências.
Ao vinho verde atribuem-se alguns deméritos, como o excesso de acidez, a falta de teor alcoólico, o pouco tempo de vida. Este vinho é próprio desta zona de muita pluviosidade, muito nevoeiro, clima propício a tudo que são pragas, a muita vegetação rasteira, a muito custo com a mão-de-obra necessária para dar combate a todos os seus inimigos.
Ainda tem a desvantagem de nunca se ter imposto verdadeiramente para além da sua região, do seu mercado tradicional, dos emigrantes oriundos da região, daqueles que o consumiam por obrigação e dos seus apreciadores bem definidos.
O sector do vinho é, dentro do domínio agrícola, aquele que mais resistiu mas está hoje sujeito a sofrer o impacto violento mas esperado da economia global. Em particular o hemisfério sul aparece como um concorrente fortíssimo nesta área. O mais dramático é que em muitos lugares o vinho era o que restava na economia, mesmo que a mão-de-obra começasse a escassear.
Se no Douro essa exclusividade se foi criando de há três séculos para cá, na região dos vinhos verdes deu-se esse passo nas últimas décadas. Enquanto só existiam vinhas de bordadura a dependência do vinho era mitigada e só a extrema pulverização da propriedade permitia que tivesse um grande peso.
Tudo se desenvolvia um pouco anarquicamente, no sentido de não olhar senão aos interesses próprios de cada proprietário. A criação da vinha contínua veio alterar este estado de coisas, este equilíbrio da economia de auto-subsistência, de quem essencialmente não trabalhava para o mercado.
A luta pela qualidade e pelo mercado que já começou nessa fase vai-se acentuar agora. Por isso se vai impor aquilo que nunca foi feito senão esporadicamente: A selecção dos terrenos e das castas apropriadas em especial para o vinho tinto. Mas a um outro nível tem que se caminhar no sentido da imunização da vinha perante as pragas instaladas no ambiente.
Só assim haverá possibilidade de competir com os vinhos provenientes de outras regiões e do estrangeiro. A uma diminuição drástica da quantidade que não foi possível fazer voluntariamente, mas que agora se impôs por efeito da economia e a que o clima deu uma ajuda, tem que corresponder a melhoria substancial da qualidade.
Isto terá implicações inevitáveis no meio rural, na economia rural, na paisagem, no ecosistema. As terras fundeiras e mais planas ficarão em exclusivo para a produção de milho para ensilagem e de forragens para a produção animal.
As terras altas ficarão para o pastoreio e produção arbórea. As terras intermédias, ditas de meia encosta, ficarão para a vinha e forragens. Eventualmente poderá surgir alguma cultura destinada à produção de massa vegetal para a conversão em energia.
Já começou a haver, e haverá cada vez mais, terrenos em pousio, não se sabe para quê. Muitos sonham com a urbanização, com uma vaga de velhos que venha para cá viver os últimos dias. Que dinamizem a economia local e comprem umas ovelhas para apascentar no campo.
Formar-se-ão empresas de jardinagem que lhes tratarão do aspecto. Roçadoras, moto serras e fresadoras vão ser os instrumentos de trabalho mais vulgarizados. Este é o sonho de quem queria preservar artificialmente a paisagem, que já não os modos de vida.
Só que com o rendimento dos velhos a diminuir, ou pelo menos estagnar, só lhes restará retirarem-se para um asilo e deixarem o mato a lavrar livremente pelas suas terras. Já ninguém toma conta delas de graça, nem pelo vinho, quanto mais pagar renda!
Mas a economia tem artes e a insídia bastante para que nada lhe fuja e para que faça valer as suas leis e razões. Aqueles sectores mais solidamente instalados no seu próprio território tornam-se afinal, por essa situação de aparente segurança, mais vulneráveis nos tempos de hoje.
De forma mais ou menos repentina a exclusividade vai-se perdendo, perde-se o mercado e até o auto-consumo. Quando um produto exterior se nos impõe pelo preço, prescinde-se da qualidade do nosso produto nem que se venha mais tarde a pagar por ela, mas já em relação a um produto exterior.
O vinho estava nesta categoria, tinha em tempos mercado exclusivo, era fundamental no auto-consumo por ser considerado um alimento, era, para todos os efeitos, parte integrante da economia familiar da maioria dos habitantes da região dos vinhos verdes.
Já antes vários produtos autóctones nos tinham abandonado como a galinha caseira (a sério), o porco malhado bízaro, e outros tiveram graves quebras na produção como o gado, em particular o de leite, o azeite, o milho, o feijão, o tremoço, a noz, a castanha.
A economia impõe-nos que deixemos cair o que é nosso. Se estamos demasiado agarrados a isso, depressa a economia arranja novos argumentos das áreas da ecologia, da saúde, até da ordem pública, para impor mudanças, para nos criar outros gostos e apetências.
Ao vinho verde atribuem-se alguns deméritos, como o excesso de acidez, a falta de teor alcoólico, o pouco tempo de vida. Este vinho é próprio desta zona de muita pluviosidade, muito nevoeiro, clima propício a tudo que são pragas, a muita vegetação rasteira, a muito custo com a mão-de-obra necessária para dar combate a todos os seus inimigos.
Ainda tem a desvantagem de nunca se ter imposto verdadeiramente para além da sua região, do seu mercado tradicional, dos emigrantes oriundos da região, daqueles que o consumiam por obrigação e dos seus apreciadores bem definidos.
O sector do vinho é, dentro do domínio agrícola, aquele que mais resistiu mas está hoje sujeito a sofrer o impacto violento mas esperado da economia global. Em particular o hemisfério sul aparece como um concorrente fortíssimo nesta área. O mais dramático é que em muitos lugares o vinho era o que restava na economia, mesmo que a mão-de-obra começasse a escassear.
Se no Douro essa exclusividade se foi criando de há três séculos para cá, na região dos vinhos verdes deu-se esse passo nas últimas décadas. Enquanto só existiam vinhas de bordadura a dependência do vinho era mitigada e só a extrema pulverização da propriedade permitia que tivesse um grande peso.
Tudo se desenvolvia um pouco anarquicamente, no sentido de não olhar senão aos interesses próprios de cada proprietário. A criação da vinha contínua veio alterar este estado de coisas, este equilíbrio da economia de auto-subsistência, de quem essencialmente não trabalhava para o mercado.
A luta pela qualidade e pelo mercado que já começou nessa fase vai-se acentuar agora. Por isso se vai impor aquilo que nunca foi feito senão esporadicamente: A selecção dos terrenos e das castas apropriadas em especial para o vinho tinto. Mas a um outro nível tem que se caminhar no sentido da imunização da vinha perante as pragas instaladas no ambiente.
Só assim haverá possibilidade de competir com os vinhos provenientes de outras regiões e do estrangeiro. A uma diminuição drástica da quantidade que não foi possível fazer voluntariamente, mas que agora se impôs por efeito da economia e a que o clima deu uma ajuda, tem que corresponder a melhoria substancial da qualidade.
Isto terá implicações inevitáveis no meio rural, na economia rural, na paisagem, no ecosistema. As terras fundeiras e mais planas ficarão em exclusivo para a produção de milho para ensilagem e de forragens para a produção animal.
As terras altas ficarão para o pastoreio e produção arbórea. As terras intermédias, ditas de meia encosta, ficarão para a vinha e forragens. Eventualmente poderá surgir alguma cultura destinada à produção de massa vegetal para a conversão em energia.
Já começou a haver, e haverá cada vez mais, terrenos em pousio, não se sabe para quê. Muitos sonham com a urbanização, com uma vaga de velhos que venha para cá viver os últimos dias. Que dinamizem a economia local e comprem umas ovelhas para apascentar no campo.
Formar-se-ão empresas de jardinagem que lhes tratarão do aspecto. Roçadoras, moto serras e fresadoras vão ser os instrumentos de trabalho mais vulgarizados. Este é o sonho de quem queria preservar artificialmente a paisagem, que já não os modos de vida.
Só que com o rendimento dos velhos a diminuir, ou pelo menos estagnar, só lhes restará retirarem-se para um asilo e deixarem o mato a lavrar livremente pelas suas terras. Já ninguém toma conta delas de graça, nem pelo vinho, quanto mais pagar renda!