sexta-feira, 2 de junho de 2006

O transporte escolar em questão

Para além da localização, do dimensionamento e do equipamento mais elementar das escolas do ensino básico, o problema maior com que os órgãos autárquicos se deparam na questão escolar é o transporte dos alunos.
O transporte é o elemento que falta para ligar fisicamente a rede escolar à realidade circundante. E este problema é tanto mais grave quanto achamos que tem condicionado sobremaneira as opções tomadas.
A incompreensão das populações em relação ao chamado problema do fecho das escolas, mas que é um problema muito mais complexo do que isso, deriva em muito de não verem o problema dos transportes resolvido.
Porque as pessoas não querem, e bem, as suas crianças deixadas ao abandono e transportadas segundo a lógica dos transportes normais em condições e horários anormais.
Os “transportes públicos” privados estão há muito tempo em falência técnica. As condições estipuladas para o transporte das crianças tornam impossível a reconversão das frotas e impraticável o transporte simultâneo de crianças e outros utentes.
A não ser que se continue a fechar os olhos às ilegalidades, a Câmara Municipal de Ponte de Lima tem de assumir por inteiro essa responsabilidade.
A solução para o transporte de crianças parece passar por autocarros médios, talvez entre 15 e 30 lugares, geridos a nível de cada escola de modo a que quem os conduza possa, no restante tempo de serviço, prestar outro tipo de colaboração nas actividades ligadas à educação.
A visão da Câmara passa pela macrocefalia da vila e das freguesias circunvizinhas a nela englobar. Esta situação permitir-lhe-ia continuar a usar os transportes públicos, centralizando os destinos dos alunos.
Esta visão é contrária a um desenvolvimento harmonioso do concelho. Somos contrários aos centralistas que perfilham as ambições megalómanas e defendem o abandono do campo. Somos contra a desertificação que, não sendo assustadora, e já bem visível.
Se há pessoas para as quais é mais cómodo, em função do seu local de trabalho e dos seus horários, trazer os filhos com elas, temos de criar incentivos para que os ponham a frequentar a escola mais próxima da sua casa e para que também elas não contribuam para a desertificação.
O transporte tem de ser encarado como parte integrante e fundamental da solução. A compreensão da reconversão em curso depende também da solução deste problema. Com este problema resolvido, não só as pessoas se não oporiam ao redimensionamento da rede escolar como até adeririam entusiasticamente.
Não chega dizer que “temos é que desapertar os cadeados das mentes de algumas pessoas e temos de afastar algumas nuvens pretas dessas pessoas que teimam em não perceber que o caminho é por aqui”, como disse o chefe do Executivo Camarário.
Estaria bem se tudo tivesse sido explicado e se o caminho fosse claro e perfeitamente delineado com uma suficiente racionalidade que não seja só económica. O Executivo está, também ele, demasiado preso aos pressupostos económicos e aos seus condicionalismos programáticos.
Usaram-se no passado demasiados cadeados e nuvens de fumo. O nosso desejo seria que todas as nuvens se viessem a dissipar. Que pudéssemos contribuir para que as pessoas discutam estes assuntos, se não calem, se libertem e falem, não tenham medo de dizer “asneiras”.
A população têm de saber em que mundo está e para tal exigir ser devidamente esclarecida. Numa altura em que nos meios de comunicação se dissecam tantos assuntos complexos as nuvens negras já não têm razão de existir. Elas tapam a visão das pessoas que precisam de clareza e lucidez.
Mas não é só a escuridão que tapa a visão. O mesmo efeito pode ser provocado pelo encandeamento. Há mitos, pessoas que tudo sabem, cujo excesso de “luz”, em vez de iluminar, ofusca a visão de muita gente.
Uma atitude de “pé atrás”, a convivência permanente com os preconceitos, a aversão à mudança leva a que se só ouçam as vozes que as trombetas proclamam. Ponhamos a inteligência a trabalhar, escutemos os seus ensinamentos, olhemos o futuro que as crianças agradecem.