sábado, 4 de março de 2006

O mundo das evidências

O bem público é perseguido por várias organizações das quais havemos que destacar, para o bem e para o mal, os partidos políticos. A sua interpretação do bem público é, no entanto, condicionada, no tempo e no lugar, por aqueles que se fazem depositários fiéis das suas ideias.
Como os líderes partidários mudam, ganham e perdem eleições, destacam-se ou apagam-se, tem ou não blogs, ficamos sem saber, em dado momento e neste específico lugar, quem é que representa efectivamente a vontade de uma dada formação política.
Serão os mais aguerridos, os mais fervorosos?
Aceitemos que sim.
Estes analisam melhor a opinião pública, Estão em constante contacto com ela. Apalpam-lhe o pulso e medem-lhe constantemente as pulsações. A propósito da questão da P.S.P. em Ponte de Lima ficamos a saber que 99,9 % têm as pulsações dentro dos parâmetros correctos e presume-se 0,1 % são uns tontos que se andam a matar pela sua cabeça.
Não é mais necessário apresentar argumentos. O “parece evidente”, o “estou seguro”, o “deveria, normalmente, merecer a adesão e concordância de todos” não são o que parecem. São sentenças definitivas, sem apelo, de quem está seguríssimo das suas razões.
Mas não revelam inteligência política, nem capacidade de persuasão. Esta maneira grotesca de fazer política, cheia de afirmações categóricas e definitivas, não abona nada em favor de quem a pratica.
O mundo não anda à roda de ninguém e é necessário abrir bem os olhos em redor. Em política opiniões consistentes não são populismos primários de quem quer dividendos imediatos.
Opiniões consistentes são as de quem, levando em conta as opiniões de todos os actores políticos, pessoas, instituições, Assembleia, Câmara, Governo, aprofunda a questão “a seu modo” e não se deixa levar pela primeira moda que lhe aparece.
O facto de todas as opiniões serem admissíveis não deve levar ninguém a fazer interpretações abusivas das posições dos outros. Isso não é correcto. Reduzir tudo a “zelo”, a “dignidade dos eleitos”, “desagrado”, ao “seu”, a sentimentos e afectos, a categorias mentais que só são discutíveis noutros fóruns, diminui em muito a elevação de qualquer debate.
Ninguém como nós pôs a questão de modo tão claro.
Ninguém como nós chamou a Câmara, como interveniente activo na questão, a tomar posição de modo a obter ou não a tal “unanimidade do concelho”, para que todos os outros intervenientes saibam com o que devem contar. Depois admitimos que as pessoas e em particular as instituições mudem de posição mas justificadamente.
Nós quisemos saber quem está ao lado de quem. Ninguém, a Câmara ou outros partidos políticos, ousarão cair na tentação de nos tentar rebocar. Isso acabou.
Nós manifestamos respeito pelas iniciativas dos outros, mas exigimos respeito pelas nossas iniciativas e opiniões. Não corram para ser os primeiros na praça pública ou os últimos nas instituições. Deixem-se de minudências e utilizem a cortesia.
Nós temos convicções mas estamos sempre abertos a aprender e, o que é fundamental em política, a negociar. Sem truques, sem passes de mágica, sem falsas indignações. Com o intelecto somente.
Quem não pode negociar é o Senhor Presidente da Junta do Bárrio. Não porque lhe falte inteligência mas porque lhe falta poder.
Interpelou-me durante a fase de negociação sobre se não deveria ser tomada em conta a opinião dos Presidentes da Junta independentes. Pelo regimento da Assembleia Municipal não lhes assiste esse poder. Mas porquê esta questão?
Há muitos Presidentes de Junta que, aqui sou eu que presumo, não quiseram concorrer pela sigla C.D.S.. Então mantiveram “A Nossa Terra” do queijo limiano. Será somente “faz de conta”. Mesmo sendo é politicamente desprezível este facto?
Não deveria ser. Mas, em termos regimentais, cabe-lhes a eles formarem ou não um grupo municipal. Este é assunto que manifestamente nos não diz respeito. Existindo entre eles motivações e interesses divergentes só temos de saber se alguns são ou não convergentes com os nossos.
Pedagogia política estamos prontos a partilhar com todos. E a este propósito quem somos nós para dizer que as suas posições servem ou “não servem” à freguesia ou ao concelho?
Seria a despropósito, mas o voto de abstenção deste membro da Assembleia é um claro alerta para quem ignora a sua situação. E a manifestação de estarmos necessitados de diálogo, de mais vozes.
Quem quer atrofiar o pensamento, a manifestação dos vários pontos de vista, quem quer que a política seja feita por quem faz floreados e se calem as vozes discordantes revela bem os seus propósitos.