Cada comunidade tem uma realidade própria que vive mais ou menos intensamente, transforma em memória e passa a seu património. Esta realidade que é património vivido, um bem moral, não se confunde com património material. Neste aspecto o património material é de todos e não é de ninguém, cada um tem a sua forma particular de o viver.
A consistência que cada um dá à realidade depende muito da forma mais ou menos arreigada como a vive. Dessa forma depende a eternidade que cada um lhe empresta. Também neste aspecto a realidade é um bem imaterial, que cada um preserva à sua maneira.
Mas a realidade material existe e está aí, criando-nos problemas e desajustamentos. Essa realidade é o resultado de múltiplas influências das quais o exercício do poder estruturante pelo Estado representa a mais importante.
Quando o Estado entende haver novas exigências que o justifiquem, faz uma nova estrutura ou uma reestruturação em determinado domínio submetido a esse seu poder. Tais alterações só ocorrem normalmente de gerações a gerações e perante nós assumem um carácter quase definitivo. Mesmo sendo feitas sobre uma estrutura já existente, representam um grande esforço para o Estado.
Qual a nossa atitude perante estes factos?
Raramente nos abstemos. Ou aceitamos ou rejeitamos. Também raramente nos é permitido negociar. E a realidade, no domínio das escolas que temos, já é um bem moral. Nós não queremos perder aquilo de que gostamos.
Não sendo adoptada a negociação só nos resta a reacção primitiva, aquela que é normalmente causada pelo choque imprevisto. Se não nos convencem que o que vem é melhor do que o que está, nós não aceitamos a troca.
Perante uma nova estruturação que implica uma nova rede ou uma reestruturação que implica um alargamento da rede existente e o bem a distribuir é a educação, a saúde ou qualquer outro bem considerado benéfico, a reacção é positiva e de adesão. Se eventualmente se tratar de um bem que é considerado prejudicial claro que a reacção é negativa e de rejeição.
Perante a eliminação de uma rede ou uma reestruturação que implica um atrofiamento ou diminuição da rede existente, as reacções são inversas. Se o bem a fornecer é, pela sua natureza, considerado benéfico, como a educação, a reacção é negativa, de repúdio. Se eventualmente se tratar de um bem que é considerado prejudicial, claro que a reacção é positiva, de regozijo.
Na ausência de considerações de outra natureza, o normal é ficarmos por aqui. Como as reestruturações desta natureza se não fazem todos os dias, o saber de experiência feito também não vem ajudar muito à questão. E o homem fica agarrado ao seu património.
A reestruturação global que está a ser feita no sistema educativo e em particular na rede escolar do ensino básico é de fortalecimento da rede, mas de redução dos seus pontos nevrálgicos, as escolas. Há um atrofiamento da rede, vista sob este ponto de vista, mas um reforço na medida em que são inseridos outros benefícios como transporte, alimentação, desporto, actividades extra curriculares, equipamentos média, melhor acompanhamento, etc., etc..
Como as pessoas se não apercebem daquela faceta primordial de fortalecimento da rede, olham quase somente para o segundo aspecto, a redução das escolas. Isto despoleta a reacção primitiva, original, mas convenhamos, apropriada e legítima. Em primeiro lugar defende-se a bondade de manter tudo como está.
Já a bondade da solução encontrada tem de ser racionalmente aceite pelos destinatários. Para isso há que vencer muitas barreiras, aduzir muitos saberes de aceitação problemática. Mesmo quando os argumentos parecem irrefutáveis surgem sempre novas recusas, novos obstáculos. Não é um problema fácil.
O processo de adaptação das pessoas à ideia é quase sempre mais difícil e complexo do que o processo de adaptação à sua prática. Daí a tentação de fazer agora e justificar depois.
Esta é a tentação dos políticos e dos promotores da presente reestruturação. Independentemente da benignidade dos resultados que se poderiam obter desta forma, este procedimento é grave porque cria iguais tentações noutros domínios, incentiva a prepotência e o autoritarismo.
Se não devemos patrocinar posições de intransigência de um lado também as não devemos patrocinar do outro. Para isso muito contribui a ausência de perfilamentos partidários nesta questão. Há sempre aqueles que acham que a sua sabedoria é imensa e nunca querem perder. Quem perde somos todos nós.
A complexidade deste problema de reestruturação aconselharia a que se não adoptassem visões restritivas porque elas são originadas pela falta de atenção ao problema na sua globalidade e possivelmente dos conhecimentos correlativos.
Esta falta é mais saliente derivado à ausência de um processo negocial, o que dificultou muito a ultrapassagem destes obstáculos. A negociação contribui sempre para abrir os olhos a muita gente e a assumir responsabilidades na solução encontrada.
Como seria possível uma negociação que só se faz entre quem tem poder? Quando o poder está disperso é impossível concretizar qualquer acordo negociado. Os interessados têm que se unir e criar poder.
Depois da tentação de fazer agora e justificar depois, o perigo é agora o de deixar que as coisas se arrastem até se tornarem inevitáveis. Parece ser este o único processo “negocial” que se conhece nesta terra.
Também tem sido o único processo “negocial” aplicado ao longo dos tempos. A nossa máxima, aplicada ao governo do país, tem sido deixá-lo cair de “podre” e só então dar consistência a uma alternativa. É que a alternativa apresentada em eleições tem de ser sempre reformulada, porque, sobre a podridão deixada, raramente é possível construir qualquer coisa com os mesmos pressupostos.
Na problemática escolar o fecho das escolas é um processo que se vem arrastando e já muitas fecharam. Mas os governos entenderam enfim que o problema não era só esse e que para resolver esse e outros problemas havia que sistematizar princípios e soluções de modo a adequar o ensino às exigências dos tempos modernos.
A fruta não se deve deixar cair de podre mas deve cuidar dela do nascimento até à boa colheita, fazendo as correcções de tratamento necessárias. Não podemos deixar-nos chegar a becos sem saída. Devemos procurar soluções antes que as coisas estejam irremediavelmente perdidas, o que muito tem acontecido. Na educação já se tinha chegado a situações extremas.
A consistência que cada um dá à realidade depende muito da forma mais ou menos arreigada como a vive. Dessa forma depende a eternidade que cada um lhe empresta. Também neste aspecto a realidade é um bem imaterial, que cada um preserva à sua maneira.
Mas a realidade material existe e está aí, criando-nos problemas e desajustamentos. Essa realidade é o resultado de múltiplas influências das quais o exercício do poder estruturante pelo Estado representa a mais importante.
Quando o Estado entende haver novas exigências que o justifiquem, faz uma nova estrutura ou uma reestruturação em determinado domínio submetido a esse seu poder. Tais alterações só ocorrem normalmente de gerações a gerações e perante nós assumem um carácter quase definitivo. Mesmo sendo feitas sobre uma estrutura já existente, representam um grande esforço para o Estado.
Qual a nossa atitude perante estes factos?
Raramente nos abstemos. Ou aceitamos ou rejeitamos. Também raramente nos é permitido negociar. E a realidade, no domínio das escolas que temos, já é um bem moral. Nós não queremos perder aquilo de que gostamos.
Não sendo adoptada a negociação só nos resta a reacção primitiva, aquela que é normalmente causada pelo choque imprevisto. Se não nos convencem que o que vem é melhor do que o que está, nós não aceitamos a troca.
Perante uma nova estruturação que implica uma nova rede ou uma reestruturação que implica um alargamento da rede existente e o bem a distribuir é a educação, a saúde ou qualquer outro bem considerado benéfico, a reacção é positiva e de adesão. Se eventualmente se tratar de um bem que é considerado prejudicial claro que a reacção é negativa e de rejeição.
Perante a eliminação de uma rede ou uma reestruturação que implica um atrofiamento ou diminuição da rede existente, as reacções são inversas. Se o bem a fornecer é, pela sua natureza, considerado benéfico, como a educação, a reacção é negativa, de repúdio. Se eventualmente se tratar de um bem que é considerado prejudicial, claro que a reacção é positiva, de regozijo.
Na ausência de considerações de outra natureza, o normal é ficarmos por aqui. Como as reestruturações desta natureza se não fazem todos os dias, o saber de experiência feito também não vem ajudar muito à questão. E o homem fica agarrado ao seu património.
A reestruturação global que está a ser feita no sistema educativo e em particular na rede escolar do ensino básico é de fortalecimento da rede, mas de redução dos seus pontos nevrálgicos, as escolas. Há um atrofiamento da rede, vista sob este ponto de vista, mas um reforço na medida em que são inseridos outros benefícios como transporte, alimentação, desporto, actividades extra curriculares, equipamentos média, melhor acompanhamento, etc., etc..
Como as pessoas se não apercebem daquela faceta primordial de fortalecimento da rede, olham quase somente para o segundo aspecto, a redução das escolas. Isto despoleta a reacção primitiva, original, mas convenhamos, apropriada e legítima. Em primeiro lugar defende-se a bondade de manter tudo como está.
Já a bondade da solução encontrada tem de ser racionalmente aceite pelos destinatários. Para isso há que vencer muitas barreiras, aduzir muitos saberes de aceitação problemática. Mesmo quando os argumentos parecem irrefutáveis surgem sempre novas recusas, novos obstáculos. Não é um problema fácil.
O processo de adaptação das pessoas à ideia é quase sempre mais difícil e complexo do que o processo de adaptação à sua prática. Daí a tentação de fazer agora e justificar depois.
Esta é a tentação dos políticos e dos promotores da presente reestruturação. Independentemente da benignidade dos resultados que se poderiam obter desta forma, este procedimento é grave porque cria iguais tentações noutros domínios, incentiva a prepotência e o autoritarismo.
Se não devemos patrocinar posições de intransigência de um lado também as não devemos patrocinar do outro. Para isso muito contribui a ausência de perfilamentos partidários nesta questão. Há sempre aqueles que acham que a sua sabedoria é imensa e nunca querem perder. Quem perde somos todos nós.
A complexidade deste problema de reestruturação aconselharia a que se não adoptassem visões restritivas porque elas são originadas pela falta de atenção ao problema na sua globalidade e possivelmente dos conhecimentos correlativos.
Esta falta é mais saliente derivado à ausência de um processo negocial, o que dificultou muito a ultrapassagem destes obstáculos. A negociação contribui sempre para abrir os olhos a muita gente e a assumir responsabilidades na solução encontrada.
Como seria possível uma negociação que só se faz entre quem tem poder? Quando o poder está disperso é impossível concretizar qualquer acordo negociado. Os interessados têm que se unir e criar poder.
Depois da tentação de fazer agora e justificar depois, o perigo é agora o de deixar que as coisas se arrastem até se tornarem inevitáveis. Parece ser este o único processo “negocial” que se conhece nesta terra.
Também tem sido o único processo “negocial” aplicado ao longo dos tempos. A nossa máxima, aplicada ao governo do país, tem sido deixá-lo cair de “podre” e só então dar consistência a uma alternativa. É que a alternativa apresentada em eleições tem de ser sempre reformulada, porque, sobre a podridão deixada, raramente é possível construir qualquer coisa com os mesmos pressupostos.
Na problemática escolar o fecho das escolas é um processo que se vem arrastando e já muitas fecharam. Mas os governos entenderam enfim que o problema não era só esse e que para resolver esse e outros problemas havia que sistematizar princípios e soluções de modo a adequar o ensino às exigências dos tempos modernos.
A fruta não se deve deixar cair de podre mas deve cuidar dela do nascimento até à boa colheita, fazendo as correcções de tratamento necessárias. Não podemos deixar-nos chegar a becos sem saída. Devemos procurar soluções antes que as coisas estejam irremediavelmente perdidas, o que muito tem acontecido. Na educação já se tinha chegado a situações extremas.