A maioria dos mais velhos de nós acha que tem muita dificuldade em transmitir os seus Ideais que não estariam de todos ultrapassados. Na verdade essa situação depara-se a todas as gerações a partir do momento em que o decurso da história acelerou definitivamente. Em momentos de rotura em que o passado perde importância como referencial público, mais se acentuam os obstáculos à transmigração dos Ideais. Na nossa sociedade em que os grupos sociais com os seus valores específicos perderam muito da sua relevância as dificuldades são gerais. O afrouxamento dos laços familiares acentuou esse problema.
Podemos achar os nossos Ideais muito consistentes, mas há que conceder que, tendo sido fruto de uma vida de muito sacrifício e de muitas dificuldades e estando estas já bem longe da imaginação dos mais novos, não poderão tais Ideais ser “servidos” com o enquadramento com que nasceram. As gerações mais novas não compreendem, somente com uma descrição factual, a importância dada por nós a certos factos e certos temas. Mas também temos de reconhecer que é um erro dar valor absoluto àqueles valores obtidos por reacção, com pouca criatividade própria. Mesmo assim há quem desejasse que os mais novos vivessem os mesmos dramas e vicissitudes que nos afectaram a vida para partilharem valores passados.
Se o nosso passado nos impôs limitações temos de as suplantar apresentando ideias que as tenham em conta. Aqueles que não vivem já as nossas contingências também terão as suas. Não podemos pretender que um Ideal deles tenha as mesmas limitações que nos impomos, terá outras. Ninguém dá importância aos seus temas preferidos sem sacrificar outros, mas não os deve ignorar. Teremos que nos impor disciplina e ter em atenção que os vários aspectos que a vida comporta necessitam de equilíbrio, e neles necessariamente incluiremos aquele com que contactamos só de forma deficiente.
Corre a ideia que o Ideal terá que ser um espartilho, um colete-de-forças que condicione toda a vida de quem o abraçar. E haverá ainda quem reforce esta ideia e pense que um Ideal terá que conduzir necessariamente a um sacrifício. São-nos apresentados exemplos que pretendem demonstrar que um Ideal terá de ser de um exigência extrema. Na verdade qualquer Ideal tem algo de disciplinador, mas, se colocarmos à frente aquilo que pretendemos com ele, teremos uma imagem positiva, obteremos mais satisfação, seremos mais optimistas.
Por outro lado não podemos pretender que um Ideal só vise aquilo que almejamos ter e nunca tivemos. Dessa forma arriscamo-nos a continuar a não obter qualquer satisfação, o que dará da nossa vida um deserto inóspito, improdutivo. Quando se consegue fazer da pura negação do que existe um Ideal e se consegue transmitir esse Ideal a quem poderia facilmente ter outras oportunidades, estamos a ser retrógrados, embirrentos, ressabiadas. Um Ideal tem que abrir perspectivas e não fechar caminhos com base em experiências mal sucedidas.
O que também nunca podemos pretender é que um Ideal que achamos dever transmitir seja limitado àquilo que nós tivemos, como se isso fosse suficiente para vir a constituir um Ideal das gerações seguintes. Nós podemos e devemos dar testemunho daquilo que vivemos, mas a pretensão de sermos exemplares é sempre excessiva. Devemos partir do princípio e contribuir para que para às novas gerações todas as possibilidades estejam abertas. Se nós estivemos limitados por factos que foram superiores às nossas forças, os jovens têm que perspectivar o futuro partindo do princípio que as forças contra quem terão que lutar não serão invencíveis.
Também se pode dizer que nós tivemos Ideais, mas deixamos por herança o desregramento e a confusão. Talvez tenhamos sido vítimas de equívocos, apostamos mais em antíteses que em teses. Não tivemos tempo para a acção, a todo o tempo tivemos que reagir. A afirmação pela negativa é manifestamente mais fácil que pela positiva e por isso o pouco valor que nos dão. Normalmente são as forças mais poderosas que podem tomar a iniciativa. Quem sofre condições tão adversas já não tem força para os actos de criação. Muitos dos mais fracos tomam essas condições como motivo de desculpabilização, mas a realidade é mesmo muitas vezes essa.
Se não deve ser nosso propósito que um Ideal leve ao sacrifício pessoal ou colectivo, temos que assumir que ele levará inevitavelmente a muito sofrimento. Mas deste nunca nos livraremos. E mesmo, quanto mais depressa assumirmos o sofrimento que é criar, mais depressa nos libertaremos do sofrimento que tem origem nas contingências, na sorte ou na sua falta. A criação permite manter o Ideal. Se o Ideal poder ir sendo realizado mais arreigado ele se torna.
A nossa impotência tem-nos levado a que deixemos que alguns Ideais apenas assumam uma forma idealizada e no extremo um carácter religioso. Abdicamos do sacrifício e de certa maneira do sofrimento pelo sacrifício prévio de outrem. A obediência a princípios e valores que estarão na base desse sacrifício alheio ilibar-nos-ão de outros esforços pessoais para tornar o mundo mais próximo de um Ideal de partilha. No entanto a aposta em esforços que implicam sofrimento pessoal pode ser necessária para levar o mundo a um caminho de paz e solidariedade.
O carácter definitivo do sacrifício dá a um Ideal um brilho que o torna atractivo. No entanto não podemos estar alheios ao sofrimento de muitos, muito menos podemos apelidar de fútil ou gratuito o sofrimento que visa atingir a nossa libertação de forças nefastas e cruéis. Em vez de subestimar devemos realçar os esforços positivos conforme as possibilidades de cada um. Cada um só pode dar o que tem. Se cada qual carrega a sua cruz, não podemos esquecer que a de uns tem mais peso que a de outros.
Podemos achar os nossos Ideais muito consistentes, mas há que conceder que, tendo sido fruto de uma vida de muito sacrifício e de muitas dificuldades e estando estas já bem longe da imaginação dos mais novos, não poderão tais Ideais ser “servidos” com o enquadramento com que nasceram. As gerações mais novas não compreendem, somente com uma descrição factual, a importância dada por nós a certos factos e certos temas. Mas também temos de reconhecer que é um erro dar valor absoluto àqueles valores obtidos por reacção, com pouca criatividade própria. Mesmo assim há quem desejasse que os mais novos vivessem os mesmos dramas e vicissitudes que nos afectaram a vida para partilharem valores passados.
Se o nosso passado nos impôs limitações temos de as suplantar apresentando ideias que as tenham em conta. Aqueles que não vivem já as nossas contingências também terão as suas. Não podemos pretender que um Ideal deles tenha as mesmas limitações que nos impomos, terá outras. Ninguém dá importância aos seus temas preferidos sem sacrificar outros, mas não os deve ignorar. Teremos que nos impor disciplina e ter em atenção que os vários aspectos que a vida comporta necessitam de equilíbrio, e neles necessariamente incluiremos aquele com que contactamos só de forma deficiente.
Corre a ideia que o Ideal terá que ser um espartilho, um colete-de-forças que condicione toda a vida de quem o abraçar. E haverá ainda quem reforce esta ideia e pense que um Ideal terá que conduzir necessariamente a um sacrifício. São-nos apresentados exemplos que pretendem demonstrar que um Ideal terá de ser de um exigência extrema. Na verdade qualquer Ideal tem algo de disciplinador, mas, se colocarmos à frente aquilo que pretendemos com ele, teremos uma imagem positiva, obteremos mais satisfação, seremos mais optimistas.
Por outro lado não podemos pretender que um Ideal só vise aquilo que almejamos ter e nunca tivemos. Dessa forma arriscamo-nos a continuar a não obter qualquer satisfação, o que dará da nossa vida um deserto inóspito, improdutivo. Quando se consegue fazer da pura negação do que existe um Ideal e se consegue transmitir esse Ideal a quem poderia facilmente ter outras oportunidades, estamos a ser retrógrados, embirrentos, ressabiadas. Um Ideal tem que abrir perspectivas e não fechar caminhos com base em experiências mal sucedidas.
O que também nunca podemos pretender é que um Ideal que achamos dever transmitir seja limitado àquilo que nós tivemos, como se isso fosse suficiente para vir a constituir um Ideal das gerações seguintes. Nós podemos e devemos dar testemunho daquilo que vivemos, mas a pretensão de sermos exemplares é sempre excessiva. Devemos partir do princípio e contribuir para que para às novas gerações todas as possibilidades estejam abertas. Se nós estivemos limitados por factos que foram superiores às nossas forças, os jovens têm que perspectivar o futuro partindo do princípio que as forças contra quem terão que lutar não serão invencíveis.
Também se pode dizer que nós tivemos Ideais, mas deixamos por herança o desregramento e a confusão. Talvez tenhamos sido vítimas de equívocos, apostamos mais em antíteses que em teses. Não tivemos tempo para a acção, a todo o tempo tivemos que reagir. A afirmação pela negativa é manifestamente mais fácil que pela positiva e por isso o pouco valor que nos dão. Normalmente são as forças mais poderosas que podem tomar a iniciativa. Quem sofre condições tão adversas já não tem força para os actos de criação. Muitos dos mais fracos tomam essas condições como motivo de desculpabilização, mas a realidade é mesmo muitas vezes essa.
Se não deve ser nosso propósito que um Ideal leve ao sacrifício pessoal ou colectivo, temos que assumir que ele levará inevitavelmente a muito sofrimento. Mas deste nunca nos livraremos. E mesmo, quanto mais depressa assumirmos o sofrimento que é criar, mais depressa nos libertaremos do sofrimento que tem origem nas contingências, na sorte ou na sua falta. A criação permite manter o Ideal. Se o Ideal poder ir sendo realizado mais arreigado ele se torna.
A nossa impotência tem-nos levado a que deixemos que alguns Ideais apenas assumam uma forma idealizada e no extremo um carácter religioso. Abdicamos do sacrifício e de certa maneira do sofrimento pelo sacrifício prévio de outrem. A obediência a princípios e valores que estarão na base desse sacrifício alheio ilibar-nos-ão de outros esforços pessoais para tornar o mundo mais próximo de um Ideal de partilha. No entanto a aposta em esforços que implicam sofrimento pessoal pode ser necessária para levar o mundo a um caminho de paz e solidariedade.
O carácter definitivo do sacrifício dá a um Ideal um brilho que o torna atractivo. No entanto não podemos estar alheios ao sofrimento de muitos, muito menos podemos apelidar de fútil ou gratuito o sofrimento que visa atingir a nossa libertação de forças nefastas e cruéis. Em vez de subestimar devemos realçar os esforços positivos conforme as possibilidades de cada um. Cada um só pode dar o que tem. Se cada qual carrega a sua cruz, não podemos esquecer que a de uns tem mais peso que a de outros.
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